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Portishead – Third. [download: mp3]

Portishead - ThirdDepois de um longo hiato de dez anos, a mais emblemática banda de trip-hop, o Portishead, retoma a sua carreira lançando o seu terceiro disco de estúdio, apropriadamente entitulado Third. O disco, que vazou na web no início deste mês, tem sido avaliado pelos fãs como fruto de um Portishead bem mais experimental, cujas letras e melodias soam menos melancólicas e sofridas do que nos dois álbuns anteriormente lançados. Depois de ter cautelosamente apreciado o disco um número razoável de vezes, posso afirmar com toda a tranquilidade que esta não é a minha impressão de Third. Canções como “Plastic”, programada sobre um loop em que bateria e demais ruídos apresentam um crescendo breve e firme e finalizado por uma bateria esmurrada de modo esquizofrênico, e “Threads”, que sustenta, ao fundo, uma nota aguda de violinos do início ao fim, apresentando também uma bateria e baixo que alternam uma cadência exausta com outra que, no refrão, transforma a exaustão em vigorosa ira, ajudam a desfazer tal impressão, pois trazem as mesmas letras um tanto depressivas, a mesma morbidez obscura e o mesmo vocal amargurado que os fãs da banda já mapearam, nos seus mínimos detalhes, nos dois registros anteriores da banda. Mas há sim alguns elementos novos neste Portishead dez anos envelhecido.
A diferença que se mostra mais visível no primeiro contato com o disco é a influência do trabalho mais famoso da vocalista Beth Gibbons fora do Portishead, lançado na exata metade do hiato da carreira da banda: “Deep Water”, com seu banjo country-folk, seu coro de tom grave, porém de tonalidade doce e plácida, e “The Rip”, que na sua metade inicial baseia sua melodia em um violão gentilíssimo, acompanhado por um vocal distante, algo atemporal, tem os traços inconfundíveis do folk sereno e nostálgico de “Out of Season”, parceira de Beth Gibbons com Paul Webb.
Mas é só depois de algumas apreciações mais atentas que o elemento distintivo que foi classificado como “experimentalismo” pelos que se apressaram a comentar o disco mostra contornos mais definidos: de algum modo, a essência sonora de algumas canções compostas pelo Portishead em Third tem bem menos densidade do que aquela presente em Dummy, disco de 1994, e em Portishead, de 1997. Em faixas como “Machine Gun” e “We Carry On” prevalece uma programação que focaliza-se em uma gama menor de fontes sonoras, que tende a trabalhá-lhas em samplers e loops de variação menor, mais curta e mais repetitiva, o que acaba por produzir uma monotonia melódica um tanto cansativa, algo um tanto distante das bases mais elaboradas, estudadas, rebuscadas e de instrumental mais moderadamente variado das composições dos dois primeiros discos – e ambas as canções só se sustentam mesmo pela interferência de programações adicionais: na primeira, pela introdução ocasional de uma programação com uma guitarra de riffs matadores e uma bateria mais encorpada e sólida; na segunda, pela sintetização mais intensa que surge sobre a base seca e suja, bem no minuto final da faixa. No entanto, em uma música esta abordagem mostrou que pode mesmo resultar em algo que agrade mais os sentidos: a base sonora de “Nylon Smile” tem mais apelo aos ouvidos, produzindo uma cadência hipnótica e homogênea, parceira ideal dos acordes leves, lentos e esporádicos da guitarra e das vocalizações macias, levemente sensuais de Gibbons no fundo da melodia.
Apesar de um ou outro equívoco na concepção de algumas faixas, Third tem músicas suficientemente boas para recolocar o Portishead no mundo da música, um lugar bem diferente daquele em que a banda lançou o seu segundo e, até então, último álbum de inéditas. Nesta realidade que se apresenta, na qual bandas modestas, muitas vezes quase “caseiras”, ganham notoriedade cada vez mais rapidamente, mesmo bandas consagradas como o Portishead, um ícone incontestável do estilo que ocupa, tem que mostrar serviço e um interesse sincero pelo seu público e pelo seu próprio trabalho. Afinal de contas, há sempre o risco – hoje mais do que nunca – de ser colocado em segundo plano até mesmo pelos fãs mais fiéis, seduzidos por artistas um tanto mais prolíficos e menos displicentes com sua produção musical.
Baixe o disco utilizando o link a seguir e a senha para descompactar.

senha: seteventos.org

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7 Comentários

  1. Camila G.S. Camila G.S.

    Oi! Muito obrigada por disponibilizar o cd!
    Fez meu ano também.

  2. Ganhei o ano com esse álbum :B
    Portishead é amor…

  3. Ih, paguei micão. Vou dar uma lida na crítica de Goldfrapp! Eu indo com a farinha e você voltando com o bolo.
    Enfim! Esqueci de comentar sobre Jonas Sulzbach. Uau, hein?
    Quanto a Third, Machine Gun se tornou minha favorita logo de cara.

    – Então é isso!

    Abraços,

  4. É Zé, por isso eu não postei a resenha logo “de varde”, quando o disco caiu na rede. Eu não sabia o que pensar e dizer logo no primeiro contato, daí que preferi deixar a música “fermentar” nos ouvidos para “sentir” Third adequadamente.
    E, sim, também adoro “Nylon Smile”!

  5. Oi, Pelvini!

    Seventh Tree, o mais recente disco da dupla Goldfrapp, já foi resenhado aqui no blog, no início do mês de Dezembro, pouco depois de ter “vazado” na web.
    E, claro, adoro a dupla britânica! Dá uma espiada nos textos – também resenhei Supernature – que você vai logo confirmar que gosto mesmo deles!

    abrações, como sempre!

  6. Zé

    Olha, eu tive que ouvir muitas vezes esse álbum pra começar a gostar das músicas. Tinha assistido ao show que eles fizeram no ATP Festival e, pela péssima qualidade do som, músicas como Machine Gun não passavam de barulhos irritantes. Agora já me acostumei – e consigo entender as lyrics depois que o pessoal postou no fórum do site deles.
    Nylon Smile é a minha preferida:
    I don’t know what I’ve done to deserve you
    And I dont know what I’ll (I’d) do without you

  7. Sou fã confesso de Portishead e foi bastante oportuno o link surgir aqui no seteventos! Todos os links que eu encontrei estavam falhos. Mal vejo a hora de ouvir, então!
    Mas ei, Giovane, sugestão: porque você não resenha sobre o novo cd do Goldfrapp? Já que está no assunto trip hop… Eu, pelo menos, adoro a voz da Alison! E seria ótimo ler a sua opinião, como sempre.
    Enfim. Fico por aqui!
    Abraços.

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