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Tag: rock alternativo americano

Rufus Wainwright – Poses (+ 2 faixas bônus) [download: mp3]

Em seu segundo álbum, Rufus Wainwright já vinha demonstrando todo o requinte da poética de suas letras e de suas composições fartas de instrumentação. O álbum do genial cantor, pianista e compositor canadense começa com a irônica e divertida “Cigarettes And Chocolate Milk”, que cita os vícios do cantor, dos mais ingenuamente nocivos, como os itens que entitulam a música, aos mais pesados, que, deliciosamente, Rufus diz em sua canção que por diversas razões não citaria. A melodia tem tremanda docilidade, utilizando, como é comum na musicografia do artista, boas dosagens de piano, orquestração em cordas e teclados suaves. O vocal do cantor brinca com a ironia da letra, deixando-a ainda mais sarcástica – a música é tão irresistível quantos os vícios que ela cita. “Greek Song” é intensamente lírica: a melodia é uma verdadeira orgia orquestral, utilizando uma imensa variedade de instrumentos que constroem uma melodia de sutiliezas orientais e de espetacular grandeza sonora, e a letra é de uma poética impressionante, sobre um homem que fala como seu amante o excita e o seduz e propõe à este uma vida de liberdade e paixão. “Poses”, faixa título do álbum que inicia com um piano tão triste quanto o vocal do artista, acompanhando melodia melancólica e vagarosa, ganha tonalidades mais grandiosas, mas ainda tristes, à medida que a letra, novamente de uma beleza poética esfusiante, avança. E esta trata do mundo das poses, das grifes, das aparências e também, de decadência. “Shadows” tem tecitura melódica pop mais animada, com guitarra, baixo, bateria e programação eletrônica que iluminam a melodia – claro, as orquestrações, soberbamente deliciosas, não faltam aqui. A letra, feita de versos de delírio pop-romântico, tem mais simplicidade do que a das canções anteriores. Na faixa seguinte, “California”, Rufus ironiza todo o glamour da terra das estrelas americanas, mostrando que seus fascínios são tão pueris e falsos que prefere ficar dormindo à viver isso. A melodia, assim como na faixa anterior, envereda por um pop bem animado, recheado de violões de acordes rápidos, bateria cadenciada, backing vocals e de um Rufus aproveitando cada verso de sua música em um cantar vívido. “The Tower Of Learning” é uma das canções mais lindas de Rufus: sua melodia melancólica é construída em um crescendo esplendoroso, baseado em piano de acordes dramáticos, vocais sobrepostos e programação eletrônica lindíssima, que surge espetacular na metade final da canção. A letra é simplesmente uma obra-prima lírica, que utiliza as belezes de Paris como constrate com a profundo sofrimento afetivo do eu lírico da canção – difícil não chorar diante de tamanha beleza. “Grey Gardens” começa com uma fala feminina, logo sobreposta pela melodia viogrosamente pop, com farto uso de acordes de piano e teclado e complementação sonora de bateria, guitarra e baixo. Assim como em “Shadows”, a letra é mais simples, uma canção de amor sem tristezas, apenas exposição de desejos e delírios amorosos. “Rebel Prince” é mais um dos primores dee Rufus: a melodia inicia-se algo quieta e introspectiva, para logo surgir mais vistosa e apaixonada, combinando com o vocal doce e repleto de amor do cantor. A letra combina versos em inglês com trechos em francês, e fala sobre um “príncipe rebelde” que é o pretenso e algo ilusório objeto de amor de quem canta – é uma canção elegantissimamente soberba. “The Consort” tem piano, violões e vocais pesarosos e um pouco sorumbáticos, ganhando metais regenciais na sua sequência final. Na letra, o fiel, solícito e resignado companheiro de uma jovem rainha tenta incentivar-lhe em sua dura caminhada. A faixa seguinte, “One Man Guy”, tem melodia triste baseada apenas em vocais e violão, ambos totalmente dentro do estilo country. A canção, originalmente composta pelo pai de Rufus – que é um artista da música country – é feita de versos de um homem que revela o quão solitária sua vida é – a versão de Rufus é fantástica. “Evil Angel”, em cujas letras alguém revela a sua paixão e seu amor ferido, tem melodia grandiosa, em mais um crescendo vigorosíssimo, produzido pelas orquestração de cordas algo sinistras a lá trilha de suspense e que explodem épicamente com os metais, a primorosa programação eletrônica e o vocal gritante, sem medo, de Rufus – mais uma canção espetacular do artista canadense. A penúltima faixa do disco é “In a Graveyard”. Com melodia simples e delicada, produzida apenas pelos acordes doces e tristes do piano e o cantar emotivo de Rufus, a letra fala sobre as divagações filosófico poéticas de alguém que já se encontra morto mas que conclui feliz, sabendo que um dia voltará à vida. Fechando o disco, temos uma versão alternativa, com uma programção eletrônica mais pop, da primeira faixa do álbum, “Cigarettes And Chocolate Milk”.
Poses” não pode ser considerado uma “evolução” ou “aprimoramento” na discografia de Rufus Wainwright simplesmente porque em seu disco de estréia o cantor e compositor já tinha composto um trabalho feito de melodias sofisticadas, de clara inspiração erudita e operística, e letras de poética abundante. Na verdade, Poses foi mais um álbum em que Rufus trouxe à tona mais músicas de esbanjante qualidade, todas transbordando enorme elegância e erudição. Na mundo da música pop, sem dúvidas, não há ninguém que chegue perto da fabulosa qualidade de Rufus Wainwright. É um disco pelo menos uma vez de uma maneira mais estudada e cuidadosa, destrinchando cada sutileza melódica e lírica que o artista arquitetou.
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Tori Amos – Strange Little Girls. [download: mp3]

Tori Amos - Strange Little GirlsDepois de ter presenteado os fãs com o álbum duplo de canções originais e registros ao vivo, o disco to venus and back, boatos de que o novo trabalho de Tori Amos seria um álbum de covers surgiram na net. Como de costume com a cantora, os detalhes foram revelados muito lentamente, e os fãs se surpreenderam ao descobrirem, aos poucos, que o disco estava mesmo tomando esta forma. Apesar do desânimo de alguns, ao constatarem que se trataria de um disco sem sequer uma canção nova, de autoria da própria compositora, outros mostraram-se muito animados, pois a cantora é reconhecidamente uma artista que apresenta covers fantásticos, completamente renovados de sua forma original. E, em se tratando de Tori Amos, este não seria mesmo um simples álbum de covers.
Strange Little Girls vai mais muito mais longe do que apresentar regravações de canções: o disco traz reinvenções e reinterpretações de cada uma de suas 12 músicas, todas compostas por homens, sob o ponto de vista feminino. Para incrementar o projeto e melhor delinear a reinterpretação das músicas, Tori Amos criou um personagem feminino para cada canção e, desta forma, cantou cada verso da música interpretando tal personagem. Os personagens também foram criados visualmente, pois cada um deles apresenta-se no encarte do disco – todos encarnados pela própria Tori -, obtendo, na caracterização de cada um deles, a ajuda do maquiador Kevyn Aucoin. O resultado são 13 personagens, um para cada canção, dentre eles dois – irmãs gêmeas – para uma das músicas.
O disco abre com um clássico da banda Velvet Underground: “New Age”. A versão de Tori, ao mesmo tempo que é moderna, remete à época em que a música foi composta – os anos 70 – devido a presença de acordes de guitarra deliciosamente espaçados, bem ao estilo da trip altenativa daquela década, mas que ganham corpo com o avançar da melodia. Nos vocais, a cantora também não deixa pedra sobre pedra: do início ao fim da música, quando entoa o verso, Tori emposta a voz, como uma mulher apaixonada e cheia de desejo pelo que vive no momento. O verso final da canção, “it’s the beginning of a new age”, torna-se um mantra orgásmico tão intenso que consegue levar qualquer um a berrar junto com ela. Em “’97 Bonnie and Clyde” Tori Amos decidiu liquidir o ritmo da canção original de Eminem – se é que seria possível retirar alguma melodia dali – e o recriou em algo que lembra uma trilha sonora digna de um filme clássico de terror. A melodia inicia com uma sonoridade propositalmente estranha repetida à cada vez que Tori Amos entoa “just the two of us”, o refrão da canção. Quando não se encontra nesse momento, a música tem ao fundo sopros em tom grave e de sonoridade minimalista e cíclica e cordas de acordes que sugerem um suspense contínuo, que parecem antever com temor o horror do acontecido – o trecho melódico que estes intrumentos constroem se repete continuamente pela música toda. Aos poucos também surge uma percussão sincopada em tom marcial, ampliando uma certa sensação de claustrofobia claudicante. Os vocais de Tori são repletos de um sentimento de dor e impotência diante do destino e são susurrados como num esforço repremido em alguns trechos – é, sem dúvidas, uma melodia incomum até mesmo dentro que Tori apresentou até hoje em sua carreira.
Na sua versão da canção do Stranglers, “Strange Little Girl”, é deliciosamente a mais pop do álbúm:guitarra gingadíssima, bateria esperta e vocais charmosamente raivosos. A letra não foi sequer tocada, mas a personagem que Tori Amos criou para a canção consegue modificá-la totalmente: a mulher da canção é, na verdade, a criança que inadverditamente participou do despojo do corpo de sua mãe junto com seu pai – o assassino desta – na canção anterior à esta, “97 Bonnie and Clyde”. e a garota, evidentemente, vive um eterno conflito do qual não consegue escapar – essa é a canção que melhor mostra a maneira absolutamente fenomenal como Tori Amos conseguiu tornar completamente sua uma canção que não foi por ela composta, sem mexer em uma letra sequer da composição. Preparando a ambientação da música cuja personagem é uma showgirl de um cassino qualquer em Las Vegas, que testemunha diariamente os abusos sofridos pelas suas jovens colegas de trabalho, Tori Amos despiu “Enjoy The Silence” de seus trajes tecnopop, e resolveu aplicar-lhe um traço de simplicidade, fazendo-o até mesmo quando colocou violinos e violoncelos ao fundo para acompanhar o piano. O vocal que segue o mesmo tom da instrumentação, com Tori cantando os versos com resignado sofrimento. “I’m not in love”, canção da personagem algo dark que se encontra envolvida com um homem casado é, junto com “’97 Bonnie and Clyde” uma das canções que foi mais alteradas de sua melodia original. Aqui, Tori arremessou a quilômetros de distância a famosíssima melodia pop-anos-80 dessa música e concebeu uma melodia com um pé no trip-hop mais soturno e silencioso, baseando-se em acordes e tons minimalistas de bateria e programação eletrônica. Os vocais são tentam ironizar o amante apaixonadao, mas ao mesmo tempo deixam transparecer exatamento o oposto daquilo que é cantado, ou seja, ela também está apaixonada, apesar de não admiti-lo – é uma das canções mais maravilhosamente viciantes do disco. Em “Rattlesnakes”, Tori Amos recompõem a melodia com todos os instrumentos a que tem direito, com farto uso de violões como fundo para os acordes adocicados do teclado, tudo acompanhado por uma bateria e percussão tranquilas. Para melhor personificar na melodia a personalidade impetuosa, fascinante e independente da “girl” desta música, ela utilizou um chocalho, ou algo que o valha, mimetizando o som que o rabo de uma cobra faz ao chacoalhar – charmosíssimo. A versão de Tori Amos para “Time”, de Tom Waits, é profundamente emocionante: o piano Bösendorfer, enfim, dá o ar de sua graça com peso semelhante ao das canções clássicas da cantora, acompanhando com sensibilidade e complacência as notas que compõe esta música e p vocal entristecido de Tori. “Time” é interpretada do ponto de vista de um personagem fascinante: a Morte. Através dela, são cantados os versos de uma canção extremamente triste, que desfila a rotina de alguns personagens com uma vida bastante infeliz, que parecem fazer nada mais do que esperar o seu dia final. Para a canção que apresenta irmãs gêmeas como personagens, criminosas de altíssimo gabarito que trabalham com espionagem econômica, Tori abandonou o sorumbatismo da faixa anterior e sacode o ouvinte com uma melodia rock de sonoridade cinematográfica, altamente hollywoodiana, que serviria com perfeição como tema dos melhores filmes de James Bond – guitarras absurdamente enlouquecidas, gingadíssimas e baterias ritmadas em um dia pra lá de inspirado fazem a base de toda a canção e duelam com a voz duplicada de Tori Amos, que faz frente à toda essa chacoalhante energia rock. Eu não estou exagerando, a mulher arrebentou: a versão de “Heart of Gold” de Tori Amos, com sua melodia gritante, funciona como um hino hedonista, despertando no ouvinte uma vontade irrefreável de levantar-se para dançar como nunca na vida ou, bem no estilo das personagens da canção, pegar uma reluzente pistola automática cromada e sair pela noite invadindo o escritório de uma importante multinacional, sem pensar nas consequências do fato. Ouça: é garantia de gozo múltiplo total. “I Don’t like Mondays” volta à uma temática menos feliz, apresentando como personagem uma policial que vive um drama típico de sua profissão: ela é uma das oficiais que chega à uma escola, depois de ocorrido um daqueles inexplicáveis massacres que só algum norte-americano armado até os dentes, e sem qualquer sinal de sanidade, seria capaz de produzir. A melodia e o vocal da Tori Amos procuram não atrapalhar a atenção do ouvinte à letra canção, sendo utilizados como instrumentos apenas baixo e teclado de acordes suaves e o vocal sendo guiado de forma delicada, conferindo-lhe à canção uma atmosfera de inocência e ingenuidade, o que se contrapõe à violência da realidade ali apresentada. Em “Happiness is a Warm Gun”, Tori Amos ignorou a letra da canção composta por John Lennon e Paul McCartney, à exceção de alguns poucos versos, repetidos como um mantra de intenções políticas, e mergulhou numa instropecção sonora que tranformou a canção numa elegia ao desarmamento mundial. Isso já fica claro quando a faixa se inicia, trazendo falas de personalidades da política americana, como o atual presidente George Bush e seu pai, o ex-presidente Bush, sobre a venda legalizada de armas no país. Melodicamente a musica já começa ritmada, com guitarras, baixos, bateria e um teclado nostálgico. A música proseegue desta forma, enquanto as falas dos políticos dão lugar aos poucos versos entoados por Tori. De repente, a melodia dá uma guinada – algo que lembra muito “Dàtura”, do álbum to venus and back, mas é algo mais no estilo eletro-blues -, e segue diminuindo o ritmo cada vez mais, numa lógica inversa à da maior parte das canções, concluindo de maneira esplêndida. A personagem aqui tem tudo a ver com os compositores da música: ela é a prostituta que esteve com o assassino de Lennon, horas antes de seu assassinato. “Raining Blood”, com sua melodia soturna e mórbida, trazendo um Bösendorfer dark e apoiado por ruídos eletrônicos fatalistas, apresenta como personagem uma artista de clube parisiense assistindo, horrorizada, seu clube ser invadido por soldados da alamanha nazista. Nos vocais, o tom é equivalente ao da melodia dos instrumentos: Tori entoa os versos em tonalidade sofrida e algo etérea, enchendo a melodia de terror e suspense ainda maior. O suspiro de total desfalecimento perpretado pela cantora ao final da canção atesta ao ovinte a certeza de que se não soubesse se tratar de um álbum de regravações, podería-se afirmar de pés juntos que essa canção foi composta pela própria Tori. Trazendo como personagem uma figura andrógina, que questiona ironicamente nos versos que canta a maneira de ser e de agir socialmente imposta para o homem, “Real Men”, mais uma vez, ludibria o ouvinte com uma música que foi totalmente transformada para o estilo próprio de Tori Amos: a melodia, baseada na grandiosidade do piano, além de discretíssimas participações de baixo e guitarra, é suave e delicada, mas ganha um toque de sarcasmo e ironia devido ao vocal certeiro de Tori Amos. Foi a escolha perfeita para fechar esse projeto denso e indispensável, que surpreendeu até mesmo os menos animados à primeira hora e que mostrou o quanto a cantora e compositora americana é uma artista complexa, de fabulosa genialidade.
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Tori Amos – To Venus And Back. [download: mp3]

Tori Amos - To Venus And BackNo período das sessões de from the choirgirl hotel, disco soturno e intimista, e da turnê Plugged ’98, que teve enorme sucesso, Tori Amos resolveu colocar um fim na vida de solteira, casando-se com seu engenheiro de som, e conseguiu ter uma filha. Em uma artista cujo trabalho é altamente influenciado por acontecimentos de sua vida pessoal e de sua visão de mundo, isso não iria passar sem ter reflexos em sua música. Como a cantora americana entrou definitivamente em um período de tranquilidade e ausência de conflitos, esta calma e plenitude se refletiu na trabalho como um todo: os dramas pessoais, que antes envolviam cada disco tematicamente, agora cedem lugar a uma variação maior de temas mais universais e menos relativos tão somente à realidade de Tori.
O primeiro disco, entitulado “Venus: Orbiting”, traz músicas novas, enquanto o segundo disco, chamado “Venus: Still Orbiting”, traz as perfomances ao vivo mais esfuziantes da turnê de 1998. E é com “Bliss” (lançado como o primeiro single) que Tori Amos abre o disco de música inéditas. Com um piano bem menos retumbante e clássico, que disputa lugar na melodia em pé de igualdade com os outros instrumentos, também encontramos frugalidades eletrônicas que encorpam as cores opressivas de algumas canções do álbum, “Bliss” sendo uma delas. A letra, de dífícil compreensão literal até mesmo em inglês – uma das marcas da genialidade de Tori -, fala sobre como lutamos, muitas vezes sem sucesso, para superar as influências daqueles à quem descendemos – no caso específico da música, a figura paterna. “Juárez” amplia ainda mais a variedade temática do álbum, tratando do drama da exploração sexual, violência e assassinato de jovens mulheres na cidade mexican que dá nome a canção. A inspiração para a música surgiu quando Tori fez shows de sua turnê próximo à fronteira com o México. A melodia amplia a macabrez, medo e claustrofobia da letra ao aplicar um filtro no vocal da cantora, tornando-o mais sôfrego e perturbador. O piano, de um minimalismo excruciante, repete acordes curtos e breves durante toda a música, o que amplia muito mais o seu efeito do que se tivesse sido utilizada uma harmonia mais variada. A bateria e percussão são construídas em uma mistura de eletrônico e acústica, conferindo um ritmo fanstático à canção. A letra da belíssima “Concertina” fala de como, as vezes, podemos nos revelar diferentes de como normalmente somos, como se fossemos feitos de diferentes personalidades. A melodia investe em uma orquestração sintetizada de cordas e na mistura da acusticidade do piano com uma bateria de aroma eletrônico, fechando-a de maneira perfeita com o cantar extremamente doce de Tori na canção. “Glory of the 80s” é uma ode às cafonices da miscelânea cultural, bem como à ingenuidade que ainda sobrevivia na década de 1980. Figuras das mais exóticas e simbólicas habitam uma típica festa oitentista na letra da música. A melodia é sincopadamente pop, cheia de frugalidades eletrônicas que soam nostálgicas. Em seguida temos a beleza introvertida de “Lust”, cuja melodia é de uma espetacular sensualidade contida, mais uma vez misturando o som acústico do piano com uma bateria eletrônica extremamente minimalista – é nesta canção que sentimos mais a força do piano de Tori na música, fugindo da sonoridade mais contemporânea da cantora. A letra fala de como o amor nos transcende, misturando paixão e sexo, carne e espírito – é, no disco, o sinal mais claro da influência do casamento sobre o trabalho musical de Tori. Com melodia que segue o mesmo caminho trilhado na faixa anterior, apenas com o diferencial de construir uma sensualidade menos latente, mais sutil, “Suede” fala sobre o poder que as pessoas tem – particularmente as mulheres – ao construírem jogos de sedução. “Josephine”, uma das canções mais lindas já compostas por Tori, é de fazer chorar de emoção qualquer fã da bárbara compositora americana. A melodia da canção foi separada em dois canais: uma para a bateria – em delicado tom marcial – e outro para todo o restante. O resultado disso são duas versões para a mesma canção: a oficial, com a instrumentação completa, e outra sem a bateria – que mais tarde surgiu na internet como versão alternativa. Na canção, Tori explora sua voz com suavidade, deliciando o ouvinte com a beleza dos versos que falam sobre a primeira esposa de Napoleão Bonaparte – a música é explêndida, chegando a dar pena por ser tão curtinha. “Riot Poof” surpreende os fãs de Tori com sua sonoridade esquisita, que lembra um reggae eletronizado – e o mais próximo que consigo chegar de uma definição para melodia, cheia de eletronismos do teclado de Tori e nenhum Bösendorfer – para os leigos em Tori Amos, o piano retumbante da cantora. A letra preserva a esquesitice da melodia, sendo constituída por inspiradíssimos versos indecifráveis que falam sobre uma fictícia explosão da homossexualidade – especialmente a masculina – e o modo como os homens heterossexuais normalmente a recriminam. Mas nada no disco consegue ser tão experimentalista quanto a canção “Dátura”. A letra da música mistura uma lista enorme de nomes de plantas – Dátura sendo uma delas -, recitadas à esmo, com versos cantados em um tonalidade algo mântrica sobre Canaã. A melodia não é menos viajante, sendo dividida em dois momentos distintos, um onde vocais múltiplos de Tori se fundem à acordes cíclicos de piano e à bateria eletrônica e acústica compassadas, e outro, quase sem conexão melódica com o momento anterior, leva a melodia construída com sonoridades do teclado e bateria acústica para algo ainda mais transcendental, ampliando a encriptação de significados da canção. “Spring Haze” abandona as experimentações, voltando-se para uma construção melódica mais tradicional, e não por isso menos bela. O piano, assim como em “Lust”, ganha destaque novamente, tendo presença elevada na harmonia da canção, algo etérea e diáfana, como sugere o título. A letra fala exatamente disto, sobre como as coisas tendem a acontecer sem que percebamos que elas lentamente estão se formando e definindo nosso destino. E o primeiro disco fecha com a fantástica “1,000 oceans”, outra balada espetacular composta por Tori, com um piano arrepiantemente hiper-emocional. A compositora já explicou que a gestação da canção foi das mais difíceis, onde a melodia e certos trechos da letra surgiram em um sonho, pela madrugada, cantada por uma anciã africana. Ela levantou, gravou o que lembrava da música e ficou semanas tentando transforma-la em algo que não sabia ao certo o que era. A forma final da melodia e letras só surgiu quando seu marido, Mark Hawley, se sentiu profundamente ligado à canção, que de alguma forma amenizava o sofrimento pela perda recente de seu pai. E foi aí que Tori entendeu sobre o que era a música: a dor de perder alguém. É uma das canções mais acessíveis de Tori Amos, e certamente a música “mais fácil” do álbum de estúdio.
O segundo disco, “Venus: Still Orbiting”, composto de rendições ao vivo de canções de Tori na turnê do disco from the choirgirl hotel, inicia com um dos maiores clássicos da cantora, sempre presente nos seus shows: a poderosa “Precious Things”. E o Böse revela todo o seu poderio na gravação ao vivo, repleto de emotividade. A bateria, guitarra e baixos também estão perfeitos e acompanham com perfeição as loucuras improvisacionais de Tori nos vocais e nos acordes de piano. Em seguida temos “Cruel”, que é uma das faixas mais simbólicas da mudança de sonoridade na música de Tori Amos, iniciada em from the choirgirl hotel. Ao contrário da versão mais eletrônico-gótica feita em estúdio, “Cruel” ganhou dançante esplendor eletro-rock, particularmente na delirante sequência de improviso da performance ao vivo – e Tori improvisa como ninguém em seus shows. A terceira faixa leva o público ao delírio, pois é uma das canções mais adoradas de Tori, “Cornflake Girl”. E, como normalmente faz, é nesta faixa que Tori se mostra mais relaxada com o público, brincando desprentensiosamente com seus vocais. “Bells for Her” ganha, ao vivo, um piano mais sorumbático e pesado do que no álbum Under The Pink. “Girl”, por sua vez, preserva muito de sua identidade original, da forma como a conhecemos em Little Earthquakes, preservando a eletricidade dos acordes da guitarra e a presença inconfundível do piano. Na faixa seguinte, Tori toca um de seus esplendorosos B-sides, “Cooling”, explicando para o público, no seu típico informalismo, como ela “não quis” entrar em nenhum dos álbuns e preferiu sempre ser executada ao vivo. E é assim que ela mostra toda o seu apelo emocional, com voz e Bösendorfer tão somente. A próxima faixa capta o deslumbramento do público ao perceber, depois da introdução algo lúdica que Tori faz, que a canção executada seria a pequena mas sempre marcante “Mr. Zebra”. “Cloud on my Tongue” também é fiel à sua versão no disco, resumindo sua melodia aos belos acordes de piano. E mais um B-side revela toda a sua plenitude em uma versão ao vivo, retratada durante a passagem de som. “Sugar” ganha aqui uma sonoridade muito mais marcante do que a gravada em estúdio, com bateria e piano encorpados e inesquecívies vocais gritantes – amamos Tori mais ainda quando ela solta a voz com vontade. Depois desse delírio todo, ouvimos “Little Earthquakes” e “Space Dog”, ambas bastante parecidas com suas originais, ainda que adaptadas para execução ao vivo. A penúltima faixa é (The) Waitress, surgindo como uma perfomance “turbinada” da versão de estúdio, intercalando, à imagem daquela, momentos de calma com sequências de absoluta ira rock. É nesta faixa que Tori dá vazão total à sua habilidade improvisacional, construindo uma sequência final espetaculosa, explosiva e orgásmica – sim, ou aquele delírio vocal no final não é praticamente um orgasmo? Fechando este fantástico registro ao vivo, temos o último B-side gravado na passagem de som, “Purple People” (Christmas in Space). O que impressiona neste registro ao vivo da música é a forma como, mesmo preservando a maior parte da estrutura da música gravada em estúdio, Tori consegue conceber uma versão ainda mais plena de emoção e sensibilidade. Mais uma vez, o disco é fechado de maneira genial.
to venus and back foi o último trabalho de Tori com composições inéditas de sua autoria na gravadora Atlantic Records. E foi um presente e tanto de Tori para os seus fãs. Na sua primeira parte tivemos o ampliamento da pesquisa melódica iniciada em from the choirgirl hotel, e que foi aprofundada ainda mais em to venus and back: Orbiting. Aqui, o piano volta a emparelhar sua sonoridade com os outros instrumentos, sendo que até mesmo os vocais, algumas vezes distorcidos, cedem lugar para experimentalismos com frugalidades eletrônicas, criando uma atmosfera algo opressiva em algumas canções e compassivo-melancólica em outras. As letras da canções são tão audaciosas quanto a melodia que as completa, fazendo deste disco um dos mais liricamente complexos da cantora americana. A segunda parte do trabalho, por sua vez, faz o registro definitivo da energia da performance ao vivo desta esplêndida artista que, percebe-se, sente-se mesmo realizada neste momento de contato tão íntimo e emocional com aqueles que a idolatram. É uma obra fenomenalmente completa e imperdível. Baixe já o álbum duplo através dos links abaixo.

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Disco 1: Venus: Orbiting
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http://rapidshare.de/files/29927288/tvab_venus_orbiting_03.zip.html

Disco 2: Venus: Still Orbiting
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http://rapidshare.de/files/29932884/tvab_venus_still_orbiting_02.zip.html
http://rapidshare.de/files/29934686/tvab_venus_still_orbiting_03.zip.html
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Death Cab for Cutie – Plans. [download: mp3]

Death Cab for Cutie - PlansO mundo da chamada música “independente” está repleto de bandas com uma sonoridade semelhante, algo que as identifica de forma imediata ao ouvinte por lhe sugerir uma sonoridade mais reflexiva, bem como suas letras, verdadeiramente poéticas. A banda americana Death Cab for Cutie é considerada um dos maiores expoentes desta vertente do gênero rock.
Plans, álbum de 2005, é o primeiro lançado por uma grande gravadora, a Atlantic Records, uma das subsidiárias do grupo Warner. Os fãs, ao descobrirem a assinatura do contrato com um gigante da indústria da música, temeram que a banda sofresse alterações na produção de sua obra musical. O medo não se justificou, já que Plans mantém a identidade da banda e qualidade de sua música.
O álbum inicia-se com a sutileza que é marca da banda: teclados, bateria, baixos e guitarra trabalham juntos como vocal de Ben Gibbard para dar suporte às letras inspiradíssimas de “Marching Bands of Manhattan”, onde cenários da metrópole mais famosa do mundo servem de fundo para belos versos românticos. “Soul Meets Body” tem uso espetacular de violões e uma poética delicada e muito bem construída em suas letras, que cantam sobre o poder de uma paixão que intensifica os sentidos. “Summer Skin” reflete, com beleza e serenidade, sobre um amor que teve a intensidade e longevidade de uma estação do ano. Em “Different Names for the Same Thing”, acompanhamos um viajante com um sentimento de deslocamento e perda de identidade tão grandes que já nem mais importa qual será sua próxima parada. As inevitabilidades da vida também são tematizadas em canções do álbum: “I Will Follow You into the Dark” mostra a intensidade do amor que sobrevive mesmo depois da morte de quem se ama; “Stable Song” aborda a resignação de alguém que envelhece e sente a proximidade do encerramento. Como não poderia deixar de ser, já que estamos falando de Death Cab for Cutie, ambas as canções tratam destes temas com suavidade e encantamento, tanto nas letras irretocáveis quanto nas melodias silenciosas que trazem ao ouvinte. A faixa “What Sarah Said”, que tem melodia um pouco mais intensa e um piano emotivo, também tematiza as adversidades, mas de maneira diferente, retratando personagens em uma sala de espera de hospital, aguardando as notícias de alguém que não está tendo um destino feliz no interior de uma UTI. As amarguras do viver parecem ser mesmo singularidades temáticas da banda: com melodia dramática, porém enxuta, temos em “Someday You Will Be Loved” a representação da eterna ilusão de que todos encontrarão sua alma gêmea. Não resta dúvidas de que a banda sabe ser impiedosamente tocante.
Contrastando com as bandas mais populares do cenário rock, como o adorado U2, bandas alternativo/indies como o Death Cab for Cutie conseguem obter o mesmo efeito de arrebatamento sonoro com melodias mais contidas e econômicas, porém sem nunca perder a profundidade emotiva. As letras das composições também conseguem, muitas vezes, mostrar-se ainda mais repletas de beleza e poesia do que aquelas compostas pelos grandes nomes da música mundial. É uma pena que tais bandas sejam promovidas de forma tão limitada, já que, costumeiramente, são lançadas por pequenos selos. No entanto, para nossa felicidade, a internet está aí para trazer ao conhecimento de quem quiser algo além do que normalmente obtemos nas lojas de discos. Link para download abaixo.

http://rapidshare.de/files/19813354/Plans.rar

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Fiona Apple – Extraordinary Machine (versões 2003 e 2005). [download: mp3]

Fiona Apple - Extraordinary MachineDepois de um hiato de quatro anos, Fiona entrou em estúdio para gravar, junto com o então parceiro Jon Brion, o álbum que planejava lançar em 2003 – mas percalços mudaram a estória de seu terceiro disco. Reza a lenda que a gravadora apresentou boa dose de má vontade em lançar o disco na versão que se apresentou primeiramente e “sugeriu” mudanças. Com toda a problemática que surgia, a artista acabou se desestimulando – e abandonou o projeto por algum tempo. No entanto, como o disco foi produzido sob a égide da era digital, o inevitável aconteceu: o disco vazou inteiro na internet. Os fãs da cantora ensadeceram, deliraram, gritaram, protestaram. A gravadora, observando o interesse gerado pelo acontecimento, chamou Fiona e decidiu por não tolher sua liberdade de criação. E a cantora, surpreendentemente, decidiu reconstruir praticamente todo o disco, contando com nova produção de Mike Elizondo e Brian Kehew, e compor uma nova canção que integraria a forma da segunda versão do álbum.
O primeiro nascimento do disco, em 2003, foi dramático e pomposo. Muitas músicas possuem orquestração e metais presencialmente nostálgicos, que remetem às trilhas de filmes clássicos – caso de “Not about love” – canção com fantástico andamento que brinca entre o lento e o ligeiro e letras irônicas e cheias de ressentimento, reforçadas pelo vocal primoroso da cantora que reflete sobre um relacionamento fracassado -, “Red, Red, Red” – com orquestração magistral e piano suntuoso, onde a cantora se utiliza de cores para demonstrar a confusão e dor amorosa em que se encontra -, “Waltz” – onde, como numa valsa, Fiona canta a sua impaciência com rodeios afetivos, que quase sempre levam a nada – “Oh, Well” – melancólica e rancorosa, onde a cantora complementa o coloramento triste da espetacular melodia com um cantar sofrido e arrependido sobre um amor no qual ela que se oferece por inteiro mas onde só recebe intolerância e dor. Além disso, o piano apresenta-se frequentemente em tons graves, ligeiros e as vezes ansiosos com reverberação fugaz – como em “Please, Please, Please”, onde o piano se sobressai em uma melodia equilibrada, com letras que protestam contra o comportamento repetitivo e previsível de alguém que não falha em cometer erros -, acompanhando algumas vezes sonoridades sintetizadas ou arranjadas em instrumento artesanal que lembram sinos – assim é “Used to love him”, onde a cantora revela, com boa dose de humor tanto na melodia quanto na letra, o inconformismo de render-se imoderadamente à uma paixão. A bateria e percussão tem muitas vezes a vivacidade e energia já apresentadas por Matt Chamberlain no segundo disco da cantora – “Window”, com melodia e vocal opressivos e rancorosos, soa aqui como um grito de revolta, ira e inconformismo contra a traição e abandono afetivo. Por sua vez, a versão lançada em 2005 é bem menos vistosa e mais retraída, ressaltando mais a voz grave de Fiona Apple. Onde havia bateria e percussão suntuosas, melodias de sinos e metais, entram bateria acústica e metais mais planos e equilibrados, breves e sutis sintetizações eletrônicas e guitarras, por vezes, rascantes – como na igualmente deliciosa segunda versão de “Not about love”. Além disso, os vocais de Fiona apresentam-se refeitos em algumas canções, e mesmo em toda sua perfomance dramática, surgem mais seguros, limpos e certos – como na nova versão de “Used to love him”, agora chamada de “Tymps” e menos ambiciosa e mais balanceada e enxuta. Curiosamente, apesar de todo o apreço pela reconstrução das canções, duas faixas permaneceram irretocadas – a faixa-título do disco e “Waltz”, que ganhou um título sobressalente (“Better than fine”). E, talvez para não sentir-se como que apenas lustrando os móveis antigos da casa, Fiona compôs uma nova canção para o disco, a elegantemente revoltosa “Parting Gift” – onde a compositora disseca o comportamento de seu companheiro, “estripando” sua personalidade verso à verso.
Raramente os fãs de qualquer ídolo rock tiveram a oportunidade de ter contato com dois estados diversos de uma mesma obra artística, tendo a chance de comparar, criticar, elogiar ou apenas acompanhar a mutação sofrida na obra daqueles que adora tanto. E os fãs de Fiona se esbaldaram quando a sua vez chegou – se foram privados por anos de poder apreciar um novo trabalho de Fiona, por sua vez foram premiados, pela luta incessante que travaram, não com um álbum, mas com duas versões bastante distintas deste. E, podem ter certeza, apaixonados estes que são – muitos vão ouvir incessantemente uma versão em seguida da outra.

senha: seteventos

Extraordinary Machine 2003: mediafire.com/?4gl88vr5oed8rtr

Extraordinary Machine 2005: mediafire.com/?j2xk20ahm48oyp1

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Fiona Apple – When The Pawn. [download: mp3]

Fiona Apple - When The PawnEm 1999, Fiona Apple retornou com seu segundo álbum, When the pawn… – disco vigoroso já no seu título, composto por 90 (!) palavras -, onde novamente demonstra composições cujas letras prosseguem cheias de rancor e estórias de conflito afetivo. No entanto, diferentemente de Tidal, When the pawn… é sonoramente mais vigoroso e forte, adequando-se muito mais ao gênero rock, já que as músicas apresentam-se melodicamente mais sincopadas pela influência do gênero. É o que acontece em “On the bound” – canção despida de qualquer esperança, com acordes curtos, secos e cortantes de piano, acompanhado de bateria e metais fortes -, “To your love” – com letras que falam sobre um amor que causa, simultaneamente, dependência e repulsa, sonorizadas por um piano minimalisticamente ritmado e fundo composto por percussão pontual e bateria que salta aos ouvidos – “A mistake” – melodicamente mais equilibrada, onde a cantora tece letras que pretendem justificar, ou ao menos mostrar indiferença, à sua tendência de cometer erros – e “The way things are” – balada com radiantes acordes de piano, onde Fiona solta a voz no refrão que canta lindamente o desestímulo e a lamentação de um amor sem muito futuro.
Mas há duas canções que conseguem impor ritmo ainda mais ligeiro e enérgico, e que foram melodicamente construídas meio que uma ao inverso da outra: enquanto “Limp” – onde Fiona responde ao cansaço de um amor tempestuoso, e em cuja melodia a bateria e percussão frenéticas de Matt Chamberlain são um espetáculo adornado pelos acordes breves do piano – inicia vagarosa, saltando bruscamente para uma sonoridade rápida, “Fast as you can” – outra canção de amor conflituoso, onde a compositora volta a ressaltar sua auto-suficiência e orgulho – surge cheia de vontade, para logo construir uma sequência mais tranquila.
Reminiscências da sonoridade de coloração mais preponderantemente blues/jazz também surgem durante a audição do disco, especialmente na delicadeza e frescor da harmonia triste de “Love Ridden” – com letras sofridas sobre uma mulher que desiste de um amor que sempre acabava lhe causando mágoas – e na beleza intensa da melodia deprimida que ecoa do piano, cordas e da própria voz grave e confessional de Fiona em “I know” – que versa sobre uma mulher que aceita, por amor, os erros e traições de seu amado, aguardando silenciosa e resignada obter um pouco de sua atenção.
Artista primorosa, Fiona mostrou neste seu segundo álbum ser uma compositora muito mais versátil e completa do que as atuais estrelas do pop/jazz, que vendem milhões de cópias e são celebradas pelos críticos musicais, mesmo repetindo-se infinitamente a cada novo lançamento. Fiona não se deixou levar pelo comodismo artístico: When the pawn… mostrou que a artista preferia arriscar um redesenho de suas composições do que lucrar com as facilidades do que já foi trilhado. Link para download do disco depois da lista de faixas.

http://rapidshare.de/files/19185707/2–When_The_Pawn.zip

E, para aqueles que ficaram curiosos, este é o título completo do disco: “When The Pawn Hits The Conflicts He Thinks Like A King What He Knows Throws The Blows When He Goes To The Fight And He’ll Win The Whole Thing ‘Fore He Enters The Ring There’s No Body To Batter When Your Mind Is Your Might So When You Go Solo, You Hold Your Own Hand And Remember That Death Is The Greatest Of Heights And If You Know Where You Stand, Then You Know Where To Land And If You Fall It Won’t Matter, Cuz You’ll Know That You’re Right”

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Fiona Apple – Tidal. [download: mp3]

Fiona Apple - TidalA cantora e compositora Fiona Apple tinha apenas 18 anos quando lançou seu álbum de estréia, Tidal. Para alguém que tem constante contato com os adolescentes de hoje, ainda causa surpresa tal lembrança – já que mais da metade destes jovens, hoje, estão insuflados por um imenso vazio cultural. o trabalho da garota é de uma profundidade e complexidade inimaginável para alguém de sua idade. Melodias sofisticadas e repletas de sutilezas jazzisticas, letras que tratam de temas como amor e culpa com elegante ironia e um vocal em estilizadíssimo tom grave são coisas que fazem este disco soar estranhamente atraente para qualquer ouvido disposto a iniciar uma imensa evolução sonora em sua cultura musical.
Fiona não é uma artista de meios-termos: suas composições são intensas – até barrocas – na sua maneira desmedida de expressar emoções e atitudes. Assim é “Criminal”, que fala de uma mulher cheia de culpa que implora perdão ao seu amante, enquanto os acordes do piano assumem um belíssimo duelo com ons tons charmosamente graves da voz de Fiona e a bateria assume o papel de impor ritmo forte à canção. Em suas “baladas”, por sua vez, Fiona consegue compor melodias esplêndidas, sendo uma das únicas compositoras que conheci até hoje que emoldura letras cheias de rancor e sofrimento amoroso em harmonias que são um híbrido de melancolia e sensualidade. É o caso das canções “Sullen Girl” – que revela, com ironia, uma mulher melancólica e afetivamente amargurada que aguarda, com certo desespero, que algo a tire de sua criogenia – e “Slow Like Honey” – delírio irresístivel que transforma o flerte em uma verdadeira ode à arte da sedução. Em “The First Taste”, Fiona mostra ainda que uma música pop pode ser enriquecida com harmonias finas e elegantes, sem perder seu apelo imediato. “Carrion”, canção que fecha o CD, tem em suas letras um misto de desejo de resgate e fuga de uma relação amorosa, tudo embebido em uma melodia que inicia-se silenciosa e sutil, para arrebentar em uma harmonia luminosa e fulgurante. No entanto, é mesmo “Sleep to dream, faixa que abre o disco que resume o tom da composição lírica da cantora. Nos vocais desta canção, vemos uma mulher que se dispõe a abandonar uma relação, muito segura de si e completamente enfastiada com a fato de que aquele que amava não estava à sua altura. É justo. Não é qualquer um mesmo que pode com essa mulher. Baixe o disco utilizando os links a seguir.

http://rapidshare.de/files/15457981/Xile-Tidal-Apple.part1.rar

http://rapidshare.de/files/15459457/Xile-Tidal-Apple.part2.rar

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Rufus Wainwright – Want Two (+ 5 faixas bônus) [download: mp3]

No segundo volume de seu projeto Want, Rufus Wainwright deixou os ares barrocos da primeira parte, no qual compôs canções mais operísticas e rebuscadas, para trabalhar a complexidade de suas músicas de uma forma mais contida e concisa. Tanto é assim que nota-se facilmente que a maior parte dos cantos de Want Two são mais acústicos, reflexivos e equilibrados.
A faixa que abre o disco, “Agnus Dei”, possui toda a pompa e circunstância já conhecidas em Rufus – é uma versão em latim da prace “Cordeiro de deus” -, mas desenvolve sua melodia com sutil inspiração oriental, e baseada em instrumentação de cordas, com delicadeza e lentidão. “The One You Love” tem uma levada pop/rock irresistívelmente sincopada, e letras que retratam um amante arrependido tentando reaver a confiança perdida. A belíssima “Little Sister”, que já era conhecida em apresentações ao vivo do cantor, emociona o ouvinte com sua melodia com algo de renascentismo e versos que mostram a rivalidade e os pequenos desentendimentos típicos entre dois irmãos que, no final das contas, se amam muito. “The Art teacher”, grava ao vivo, tem melodia simples, baseada apenas em piano, e revela a paixão de uma jovem por seu professor de Arte ao fazer uma visita com sua turma ao Museu Metropolitano de New York – e mostra que esta paixão adolescente lhe deixou marcas para o resto da vida. “This Love Affair” é uma balada de melodia belissimamente simples e absolutamente desesperançada sobre um homem que abandona uma relação amorosa, sem qualquer rumo e completamente desnorteado – é uma das canções mais tristes já compostas por Rufus. No entanto, a canção mais polêmica do disco é mesmo “Gay Messiah”. Nesta música Rufus despe-se de quaisquer tabus ao construir uma ironia pesada sobre a figura maior do cristianismo – sim, Jesus – e o estilo de vida dos gays mais despojados e materialistas – no sentido sexual: o messias aqui é um verdadeiro adônis gay que renasce de uma das famosas revistas pornôs dos anos 70. A canção choca um pouco no início, mas entende-se a crítica do cantor à vida desregrada de alguns homossexuais mais levianos. A única canção que reverbera a concepção melódica mais ostensiva de Want One é “Old Whore’s Diet”, que apresenta o cantor Antony junto com Rufus. Com letras que só podem ser entendidas como um mantra ensandecido repetidas “ad eternum”, a longa melodia repleta de cordas e violões é vívida, apresentando mudanças feitas suavemente e também de maneira brusca e repentina. Depois da orgia sonora apresentada em Want One é surpreendente que o cantor nos traga em sua segunda parte um álbum cheio de sonoridades plácidas e contemplativas, ainda que em boa parte continue sendo um retrato do sofrimento amoroso. Faz sentido: me parece que em Want One temos um homem que sofre sem saber, já que esta mergulhado na euforia de vícios e prazeres momentâneos. Em Want Two esta euforia se foi, e resta agora aprender a conviver e superar o inevitável sofrimento posterior.

Baixe: http://www.mediafire.com/file/jgvo3c4rbjqb5iv/rufus-wtwo.zip

Ouça:

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Rufus Wainwright – Want One (+ 4 faixas bônus) [download: mp3]

Em 2003, Rufus Wainwright anunciou o lançamento de um projeto entitulado Want que, originalmente, tinha sido planejado como um álbum duplo e que logo foi transformado em um álbum dividido em duas diferentes partes: Want One (lançado em 2003) e Want Two (lançado no ano seguinte, 2004). Decisão acertadíssima. Ao invés de afogar os fãs em um pacote massivo de canções, no qual muitas poderiamn perder o seu poder de atração e sua força, Rufus dividiu sua criação em dois volumes para que o ouvinte fosse mergulhado com cautela em sua criação mais ambiciosa e, assim, desfrutasse da maneira correta de sua profundidade melódica e lírica.
Want One é mesmo o introdutor desta obra épica: esta primeira parte pode ser considerada como uma dos melhores representantes do estilo barroco nas melodias de suas quatorze faixas: requinte, sofisticação e virtuosismo composicional são a tônica desre disco. No caráter temático desta sua obra, Rufus também exarceba seu gênio artístico: Want One explode em uma profusão de contos sobre relações afetivas malfadadas, conflitos familiares, abandonos, abusos e vícios. “Want”, por exemplo, é o retrato cortante de uma separação, versando sobre um amante que perambula por um aeroporto depois do fim de seu romance, implorando para que qualquer adversidade o impeça de embarcar no seu vôo e concretizar o fim de tudo. Com o mesmo sentimento de fracasso, a emocionamente “Dinner at eight” retrata o desejo de um filho de romper a barreira de orgulho no difícil relacionamento com seu pai. Já “Oh What a World” tem belíssima inspiração e adaptção melódica em fanfarra do famoso “Bolero” de Ravel, com versos simples que se repetem e que falam sobre a inversão de papéis, particularmente os masculinos. “Go or Go Ahead”, por sua vez, é mais uma daquelas canções em que Rufus Wainwright exibe toda a potencialidade de sua habilidade de composição melódica: construída vagarosamente num crescendo absoluto, a canção é uma orgia sonora de sofrimento e abandono, com direito a vocais de fundo trabalhadíssimos e infinitamente sobrepostos. É lirismo no ápice absoluto. A maravilhosamente lúdica “Beautiful Child” consegue ser ainda mais primorosa e variada em seus arranjos – se é que isso é possível (!) -, conjugando orquestrações de metais, percussões de sortimentos diversos, instrumentação rock tradicional e, novamente, vocais de fundo sobrepostos uns aos outros, formando um coro interminável da voz de Rufus – o que se tornou praticamente um símbolo do projeto de Want One. Apesar do espaço reservado para tantas músicas complexas, o cantor também foi sensato ao compor algumas músicas menos pretensiosas. “Movies of Myself”, por exemplo, inicia com uma introdução eletrônica minimalista e logo promove a quebra desta através de uma melodia rock básica, animadíssima. Mais agitada do que normalmente são suas canções, com refrão gostosíssimo, Rufus solta a voz com vontade (algo que ele faz com tranquilidade) transmitindo animação e energia para o ouvinte num tom que traz a mente o álbum Humming, de Duncan Sheik. Composta por uma melodia pop mais clássica e tradicional, “I Don’t Know What It Is” tem cara de single, com letras no seu já conhecido lirismo incandescente. Com sonoridade que lembra Beatles ou The Verve, a faixa luminosa suscita mentalmente, na sua audição, um passeio altamente descompromissado por um ambiente urbano.
Apesar da tempestade de derramamento lírico que foi Want One, Rufus ainda guardava muito para o segundo volume de seu épico confessional – para o deleite orgásmico de seu público. Link para dowload abaixo.

Baixe: http://www.mediafire.com/file/2rqc7eq3n39q569/rufus-wone.zip

Ouça:

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Tori Amos – From The Choirgirl Hotel. [download: vídeo]

Tori Amos - From The Choirgirl HotelComo a própria Tori afirmou, lá se foi uma trilogia formada – obviamente – por Little Earthquakes, Under The Pink e Boys for Pele. Em 1998 ela surpreende os fãs novamente com um álbum que introduz novas nuances em seu estilo musical. Já de começo, Tori Amos decide chamar músicos para formar uma banda que, além de gravar o álbum com ela acompanhe-a pela turnê do mesmo. Isso acabou tendo efeito definitivo de mudança sobre seu método de composição musical: pela primeira vez ela trata seu piano de igual para igual com os outros instrumentos, sem fazê-lo sobrepujar todas as outras sonoridades presentes na música.
Não bastasse esse caráter coletivo das melodias do álbum de 1998, em from the choirgirl hotel Tori flerta abertamente com a sonoridade eletrônica – sempre com o devido balanceamento com os outros instrumentos que marcam presença na melodia. Exemplos de músicas que tem “um pé” na música eletrônica são “Cruel” – deliciosamente inovadora para o estilo de Tori, surpreende pela total e absoluta ausência do piano – e “Raspberry Swirl” – com um Bösendorfer frenético que insiste em uma competição ensandecida com as sonoridades usurpantes do teclado.
Pouco depois de lançar o álbum Tori revelou que sua inspiração principal ao compô-lo foi um aborto que sofreu no decorrer da tour “Dew Drop Inn”, que promoveu o álbum Boys for Pele. Esse fato é insinuado em muitos momentos de from the choirgirl hotel, como na canção “Playboy Mommy” e também em “Spark”. Por ter como fato gerador um acontecimento que causou à Tori tamanha dor, o álbum acaba por apresentar no seu todo uma identidade soturna, estranha, melancólica e mórbida. As baladas, como sempre, são repletas de confusão sentimental, ironia, ódio e confessionalismo caleidoscópico – exemplos de canções do álbum neste estilo são “iieee” – com uma melodia que nos incita um ritual ocultista -, “Northern Lad” e “Liquid Diamonds” – ambas canções extraordinárias. Poucos artistas hoje fazem o que Tori Amos decidiu arriscar fazer naquele momento, dando uma guinada em sentido contrário no trabalho que vinha desenvolvendo até então. Apesar de ter sofrido críticas desde o lançamenteo deste disco – críticas irrelevantes, na minha opinião – , não se pode deixar de concordar que é muito mais difícil procurar novos caminhos, tentando promover uma evolução (não exatamente no sentido qualitativo do termo) do seu trabalho do que “deitar-se confortavelmente em berço explêndido”, aproveitando o sucesso fácil daquilo que já está mais do que trilhado e dissecado. Atitudes como estas são cada vez mais raras, infelizmente. Link para download abaixo.

http://rapidshare.de/files/11835786/fromthechoirgirlhotel.zip.html

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