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Tag: caio junqueira

“Tropa de Elite”, de José Padilha. [download: filme]

Tropa de EliteEm 1997, com o nascimento para breve de seu primeiro filho, Nascimento, capitão do BOPE do Rio de Janeiro, pretende arranjar um oficial a altura de substituí-lo no seu posto o mais breve possível. Mas antes disso é preciso colocar em prática a exigência do governo de tornar uma das favelas da cidade segura o bastante para que o Papa se instale por uma noite na comunidade vizinha à ela.
Antes de comentar qualquer polêmica, “Tropa de Elite” é um excelente longa-metragem de ação, mais um exemplo de que o Brasil está se especializando no cinema contemporâneo do gênero. A direção é competente e merece o devido crédito, mas a alma do filme reside mesmo no roteiro muito bem escrito, que amarra diversas subtramas no todo central sem causar confusão, sem cansar o espectador e sem nunca perder o seu caráter tenso e o seu ritmo eletrizante, e no elenco afinadíssimo, em especial Wagner Moura, que está soberbo no papel do controverso protagonista, expondo com impressionante precisão o pânico medonho de seu personagem de morrer e deixar sua mulher grávida desamparada – pânico este que se torna tão perigoso para os outros, quando revertido em stress quase sociopático nas suas missões nas favelas cariocas, quanto para ele próprio, quando desencadeia reações físicas intoleráveis.
Mas o diretor José Padilha não parece muito feliz com a repercussão de seu longa-metragem. Em uma entrevista no programa Roda Viva da TV Cultura, o diretor declarou estar sendo injustiçado, perseguido e incompreendido. Injustiçado porque a imprensa dita intelectualizada, a seu ver, escolhe arbitrariamente filmes para celebrar como obras-primas estabelecedoras de um novo paradigma no cinema brasileiro, e o seu filme, claro, não foi agraciado com tal unanimidade, chegando mesmo a confessar que não entende porque “Cidade de Deus” ganhou tal status, dando a entender que seu filme seria superior a este; perseguido porque essa mesma imprensa acusa “Tropa de Elite” de apologia fascista e, finalmente, incompreendido porque, segundo ele, o protagonista do seu longa está sendo confundido com um herói e seu filme está sendo mal-compreendido como defensor da truculência da polícia carioca. Sem parar para questionar a possibilidade de ele estar sendo injustiçado frente à algo como “Cidade de Deus” e ainda perseguido – o que não seria nada difícil -, enxergo como o verdadeiro problema a sua confessa sensação de estar sendo incompreendido. Segundo ele, capitão Nascimento, o protagonista, é um manipulador astuto, capaz de se utilizar dos sentimentos e dos pontos fracos alheios para obter o que quer e seu filme, por sua vez, condena tanto os exageros colossais da tropa de elite carioca quanto as ações condenáveis dos traficantes e dos consumidores de drogas ilícitas que, com isso, sustentam o mercado das drogas e, consequentemente, toda a desgraça desencadeada por ele. Que os consumidores de drogas, quer sejam usuários esporádicos ou viciados, sustentam a existência do tráfico, não há como eu discordar – pode não ser a única razão, e provavelmente não é, mas isso sozinho já responde por metade da culpa. Quanto ao seu filme fazer uma apologia da violência da tropa de elite do Rio de Janeiro, eu diria que pior seria fazer apologia da violência dos criminosos, também muito bem exposta em sequências do próprio longa-metragem de Padilha – entre os criminosos e os policias, com licença: eu fico com os últimos, por mais violentos que sejam seus métodos. Agora, sobre o filme conseguir criar, no espectador, um sentimento de identificação com o capitão Nascimento, assim como com os outros integrantes da tropa, quer ele goste ou não, isso é um fato – e não vejo problema algum quanto a isso. Mas o diretor vê. E é fácil perceber o porquê logo que você assista a qualquer entrevista de Padilha: o maior e único problema de “Tropa de Elite” é a febre de egolatria que se abateu sobre o seu diretor. A meu ver, a origem do conflito é que Padilha parece não querer entender que, apesar de a intenção do autor contar para o sentido de uma obra, quando esta encontra-se acabada ela fica livre para ser interpretada pelo seu público e o sentido dado pela maioria do público não deve nunca ser ignorado – e Padilha não apenas está o ignorando como está o rechaçando e depreciando, o que é, no mínimo, uma imensa falta de respeito com o seu público e, na pior das hipóteses, considerá-lo em boa parte ignorante. Não passa pela cabeça do diretor que existe a possibilidade de que ele próprio pode não ter se dado conta de que este sentido existe no seu filme, sendo devidamente captado pelo seu público. Pra mim parece óbvio que uma obra pode ter mais de uma interpretação adequada, e uma interpretação só se torna irrelevante e deslocada quando não há dados na referida obra que a suportem – dados que, no caso de “Tropa de Elite”, são de fácil observação e coleta até mesmo por conta da narração em off do protagonista, que não tem qualquer pudor de revelar para o público suas intenções e emoções – ou quando os dados de uma outra interpretação se mostram mais qualificados. E a interpretação que o diretor quer dar à “Tropa de Elite” em nenhum momento se torna muito mais relevante ou qualificada que a do público e crítica, que vê com satisfação as ações violentas do BOPE porque entende que o grupo não conseguiria agir de outra forma dada a realidade estúpida e caótica que é obrigado a enfrentar, e se mostra capaz de simpatizar com o capitão Nascimento porque, dada a situação em que se encontra, entende ele muito mais como alguém humano do que um sujeito frio, manipulador e aproveitador.
Padilha parece ter se afobado um pouco demais com o sucesso. Como jamais esperou receber tanta atenção de tão diferentes holofotes – os da imprensa, os dos intelectuais, os do público qualificado e os do “povão” – o diretor parece ter se arrependido do discurso categórico de seu filme e de seu fenômeno comercial, e resolveu amainar o peso destas duas coisas aproveitando toda e qualquer oportunidade para, aparentemente, posar de cineasta intelectualizado, e profundamente autoral ao dizer “vocês não entenderam nada” – ele chegou mesmo ao ponto de discordar das conclusões do maior contribuidor do argumento de seu filme que, para mim, seria, muito antes do diretor, o grande responsável pelo seu sentido e sua essência hiper-realista. Ao invés de demonstrar arrependimento das dimensões e da identidade que sua obra tomou o diretor devia assumi-la fervorosamente, afirmando-a como cinema comercial de excelência capaz de retratar a realidade caótica, dilacerante e selvagem de uma das maiores e mais famosas regiões urbanas do mundo. Mas, talvez isso seja só uma loucura temporária: acabo de ler neste site que Padilha foi bastante cordial ao responder o comentário gratuitamente grosseiro de Hector Babenco sobre o porquê do filme não ter sido selecionado como candidato brasileiro ao Oscar. Tomara mesmo que esses rompantes de egocentrismo confuso deste diretor tão promissor sejam apenas fruto de uma repentina febre “Lux Luxo” (ou, para quem não entendeu: “Sou uma Diva!”)
Utilize os links a seguir (na surdina porque sou capaz de ser perseguido pelo capitão Nascimento por conta disso – que meda!)

OBS: links funcionais mas não testados.

em 4 partes e bem menor:

Um

Dois

Três

Quatro

ou um desses maiores:

Opção Um

ou

Opção Dois

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