Pular para o conteúdo

seteventos Posts

“Lands Of Steel”, de Cyril Vrancken. [vídeo, curta-metragem]

Em um futuro onde a civilização pereceu, um robô defronta-se com criaturas perigosas (e familiares) nas ruínas de um subúrbio.
Totalmente produzido utilizando o popular aplicativo de código-aberto Blender, assim como o premiado longa-metragem letoniano “Flow”, este curta de 2024 escrito e dirigido pelo belga Cyril Vrancken utiliza-se de uma temática há décadas incansavelmente explorada pelas produções audiovisuais – a extinção dos alicerces da civilização devido a contaminação em massa de seres humanos que os converteu em alguma monstruosidade irracional. Apesar de ter nitidamente se inspirado em aspectos essenciais do enredo do clássico livro “Eu Sou a Lenda” (mais popularmente conhecido pela adaptação cinematográfica de 2007 estrelada por Will Smith), Vrancken dá sua pequena e singular contribuição ao subverter o ponto de vista da trama para um robô em sua rotina de vigilância através do mundo arruinado, decisão que afasta a produção de ser apenas mais uma entre as inúmeras que acumulam-se tratando do tão batido “apocalipse zumbi”: ao invés de enxergarmos esta realidade sombria através dos olhos destroçados e dessensibilizados de um homem emocionalmente abalado pelo declínio da sua espécie, temos o inusitado e inesperado aturdimento emocional de um andróide que normalmente teria um olhar frio e indiferente ao realizar sua rotineira eliminação de ameaças biológicas – uma decisão inteligente que assegura o impacto do pequeno filme no espectador.

Deixe um comentário

White Lies – “Nothing On Me” (single) [download: mp3]

white lies - nothing on me (single)

Liberado esta semana nas plataformas digitais pela banda britânica White Lies, o single “Nothing On Me” é breve, mas intenso: logo após sintetizadores ondulantes abrirem a canção num rápido crescendo, a melodia é tomada de assalto por uma súcia de eletronismos transbordantes, confessadamente inspirados no rock progressivo dos anos 70, seguido de uma onda de guitarras exuberantes e de uma bateria frenética que faz referência ao motorik beat, cuja origem encontra-se nos anos 60, em bandas da Alemanha Oriental como Kraftwerk e Can. Sobre essa melodia ruidosamente hiperbólica, que só consigo descrever como ser conduzido em alta velocidade em um veículo desgovernado dentro de um túnel intensamente iluminado, a voz sutilmente rouca do vocalista Harry McVeigh reflete o efêmero e abstrato estado de confusão após uma discussão com alguém querido – o que coincide com o frenesi melódico da faixa.

Baixe:
White Lies – “Nothing On Me” (single) [mp3]

Ouça:

Deixe um comentário

Ane Brun – “Two In This Story” (single) [download: mp3]

ane brun - two in this story single

Cinco anos depois de lançar dois discos em sequência em 2020, After The Great Storm e How Beauty Holds The Hand Of Sorrow, a cantora norueguesa Ane Brun prepara um novo álbum, do qual já temos o primeiro single, “Two In This Story”. Contando com a ajuda dos jovens produtores Anton Engdahl e Christian Nilsson, a artista construiu uma canção graciosa e melancólica para refletir sobre uma experiência pessoal recente: guiada pela cadência serena da drum machine e enfeitada por uma afável programação de teclados e sintetizações inspirada nas melodias refinadas de Bryan Ferry na década de 80, Ane entoa um canto suave e meigo sobre uma amizade de longos anos que descobriu ser uma farsa – uma grande frustração da qual resultou esta faixa encantadora.

Baixe:
Ane Brun – “Two In This Story” (single) [mp3]

Ouça:

Deixe um comentário

Tanita Tikaram – “This Perfect Friend” (single) [download: mp3]

tanita tikaram - this perfect friend single

Depois de 9 anos que foi lançado seu último disco, Closer To The People, a britânica the origem filipina Tanita Tikaram retorna em outubro deste ano com um novo álbum chamado Lair: Love Isn’t a Right, cujo primeiro single, “This Perfect Friend” foi liberado esta semana: sobre uma música doce e algo triste, que é introduzida por um piano delicado, bateria sutil e acompanhado por violoncelo que preenche a melodia de expectativa, Tanita se pergunta quem seria este “amigo perfeito” que seria capaz de ao mesmo tempo acalmar e perturbar seu espírito? A música prossegue, com os instrumentos unindo-se a um auspicioso violino para compor uma ponte melódica fulgurante que conclui com um piano repleto de suspense.

Baixe:
Tanita Tikaram – “This Perfect Friend” (single) [mp3]

Ouça:

Deixe um comentário

Abstract Crimewave (feat. Lykke Li) – “The Gambler” versão do album e Yttling Jazz Remix [single] [download: mp3]

abstract crimewave lykke li - the gambler yttling jazz remix

Colaborando com Joakim Åhlund e Björn Yttling (produtor dos seus três primeiros discos e mais conhecido por sua banda Peter, Björn & John) no projeto Abstract Crimewave em 2024, a cantora sueca Lykke Li cedeu sua voz ao vibrante single “The Gambler”, faixa do disco The Longest Night. A canção descaradamente dançante, originalmente calcada nos esfuziantes sintetizadores e teclados e nos riffs ecoantes de uma guitarra que desejaria ser um piano, teve nos últimos dias liberada uma versão alternativa que se despoja inteiramente de suas vestes radiantes e recobre-se em trajes bem mais intimistas: introduzida por toques adocicados ao piano e conduzida por uma percussão delicada sobre a qual o timbre cálido e aveludado da voz de Lykke Li pode ser apreciado em sua completitude, a melodia ganha uma estrela inesperada quando o xilofone, que se continha discretamente ao fundo, revela-se em incontida destreza, roubando inteiramente o cartaz da canção em uma jam session delirante, o que faz jus inteiramente ao “jazz” incluído no título do remix.

Baixe:
Abstract Crimewave – “The Gambler” (feat. Lykke Li) (versão do álbum e Yttling Jazz Remix) [mp3]

Ouça:

Ouça:

Deixe um comentário

Noel – “Silent Morning” (single) [download: mp3]

noel silent morning single

Entre os hits populares que tomaram as rádios FMs no final da década de 80 e inícios dos anos 90 com certeza se encontra “Silent Morning”, o único single de sucesso do cantor americano Noel Pagan, conhecido apenas como Noel, e que foi lançado em 1987. O artista de origem latina, mas nascido em New York e criado num dos distritos mais pobres e conturbados da metrópole, o Bronx, é um dos precursores do gênero chamado na época de “freestyle”, que na verdade se tratava de um pop dançante com batida viciante e fartura de sintetizadores. Apesar de não se tratarem de composições que se destacavam pela inovação, é inegável que eram dotadas de melodias infectantes e irresistíveis. Além do inconfundível synth pulsante que introduz a canção e se tornou sua assinatura mais evidante, a vibrante batida sincopada que compõem sua base e a fartura de iluminuras eletrônicas que a pontuam manifestam com clareza as inspirações do gênero, entre as quais inegavelmente estão as eufóricas composições dos britânicos do Depeche Mode na época.

Baixe: Noel – “Silent Morning” (single) [mp3]

Ouça:

Deixe um comentário

“Le Gouffre”, de Carl Beauchemin, Thomas Chrétien e David Forest [vídeo, curta-metragem]

Ao se depararem com um imenso cânion, dois amigos viajantes decidem enfrentar o que é aparentemente impossível.
Lançado há dez anos e financiado em parte com uma campanha de crowdfunding no Kickstarter, o curta-metragem de dez minutos de autoria desse trio de artistas franceses é impecável em todos os seus aspectos. Artisticamente, o vídeo esbanja beleza visual com uma textura e fotografia primorosas que lembram uma pintura; com relação a trilha sonora, o filme também é um deleite sonoro ao trazer uma fantástica composição original do casal de músicos Dan Cullen e Deryn Cullen; no que tange aos personagens, que dividem-se entre a dupla de amigos protagonistas e uma vila de camponeses que acompanha de perto o desafio dos dois rapazes, todos conseguem cativar a simpatia do espectador mesmo com toda a brevidade da obra; e com relação ao enredo, simples e praticamente sem recorrer a falas, apoiando-se tão somente na expressão do personagens para transmitir emoção, é um conto encantador sobre a força da amizade e a importância da fraternidade diante de obstáculos aparentemente insuperáveis – o final, que ilustra o sacrifício muitas vezes necessário para que a jornada não se interrompa, é de partir o coração, mas profundamente tocante.

Deixe um comentário

The Edge & Sinéad O’Connor – “Heroine (Theme From Captive)” (Single) [download: mp3]

the edge and sinead o'connor - heroine single

No agora distante ano de 1986, em sua primeira empreitada profissional relevante, a irlandesa Sinéad O’Connor uniu-se brevemente a um conterrâneo seu para ajudar a compor e dar voz a canção tema de um filme até hoje pouco conhecido: Captive, longa-metragem dirigido por Paul Mayersberg que o também irlândes The Edge, então já reconhecido como o guitarrista da banda U2, escreveu em co-autoria com o compositor Michael Brook. Introduzida por uma perseverante harmonia de cordas ao teclado e sobreposta por um vocal mais contido e precoce da cantora, que aparentemente ainda não havia amadurecido o canto marcante e ousado que surgiu já no seu primeiro disco, a faixa é pontuada pelos característicos acordes atmosféricos e reverberantes da guitarra de The Edge, que formaram a identidade de sua banda naquela década, e claro, uma bateria que se avoluma na sequência final da melodia, produzindo a sonoridade tão singular da musicalidade pop e rock dos saudosos e excepcionais anos 80. Apesar do obscuro filme sobre o sequestro da filha de um magnata não ter obtido êxito de público e crítica, ao menos serviu para registrar a gênese musical da cantora cujo talento e voz excepcionais, infelizmente, perdemos em 2023.

Baixe: The Edge & Sinéad O’Connor – “Heroine (Theme From Captive)” (Single) [mp3]

Ouça:

Deixe um comentário

“Flow”, de Gints Zilbalodis [download: filme]

flow straume 2024

Um gato, em meio a um catastrófico dilúvio, ganha a companhia de animais de outras espécies na jornada da sobrevivência.
Em seu segundo longa-metragem, o diretor letoniano Gints Zilbalodis, se utilizando de uma trupe de carismáticos animais que descobrem a força da amizade e da união para a superação de uma catástrofe, recupera em “Flow” aspectos essenciais do cinema, em grande parte esquecidos ou até mesmo rejeitados pelas produções norte-americanas (e até mesmo europeias) que ocupam telas de cinemas e TVs pelo menos nos últimos dez anos.
O primeiro aspecto é a parcimônia na utilização de recursos: por ter sido gestado na Letônia, e portanto sem um grande produtor e estúdio para financiar seu projeto, o diretor Gints Zilbalodis se viu obrigado a assumir a responsabilidade criativa de vários aspectos do longa. Além da direção, Zilbalodis também encarregou-se por parte da criação do argumento, da trilha sonora e da produção, e inteiramente pela edição e direção de fotografia. As ferramentas utilizadas também refletem a escassez de recursos disponíveis: o grosso da composição da animação e de sua renderização foi realizado na casa do diretor fazendo uso do seu computador pessoal, um laptop Macbook, utilizando um tradicional programa gratuito de código aberto, o Blender – apesar da imensa beleza estilística da animação, que remete a uma pintura, inexistiram as centenas de artistas agrupados e encarregados das diferentes partes da produção e trabalhando em uma fartura de equipamentos de última geração, como é comum em grandes estúdios de animação como a Pixar. O que se vê no filme é tudo o que foi concebido por Gints e sua diminuta equipe: não há cenas extras, pois o diretor não dispunha de tempo nem recursos para explorar cenas e tramas alternativas. Do mesmo modo não foram utilizados storyboards, artifício tradicional do cinema, e nem mesmo o roteiro teve uma segunda leitura ou manuseio pelo diretor, sendo todo recuperado de memória ao conceber as sequências de animação.
O segundo aspecto é consequência direta do primeiro: a prevalência autoral na produção. Justamente por assumir a maior parte dos aspectos criativos do longa-metragem, Zilbalodis preservou a completa integridade de sua visão artística da obra, obtendo deste modo um filme que reverbera a mesma atmosfera na composição das cenas, na música, na ambientação e no ritmo da história, obtendo-se assim uma propriedade algo idílica que permeia e recobre por inteiro o longa-metragem.
O terceiro aspecto é a não utilização de recursos e sequências expositivas para o desenvolvimento do enredo do longa-metragem. Tanto o dilúvio quanto o desaparecimento dos seres humanos são apresentados sem explicação da origem e razão, pois isso se faz desnecessário para a evolução da história que, pela total ausência de um narrador e pelo fato de os animais preservarem grande parte da sua conduta natural, tem seus aspectos narrativos construídos puramente através da linguagem visual ou sonora – não há utilização nem indícios de qualquer simbologia linguística, mesmo havendo sinais de que o ser humano habitou em algum momento este mundo tomado pela vida animal. Ao invés disso, confiando na inteligência do seu espectador, o diretor lituano pontua a trama com elementos visuais e narrativos que podem ter interpretações mitológicas e até mesmo religiosas: estamos falando de um filme cujo argumento básico traz um grupo de animais de diferentes espécies se refugiando num barco para se salvarem de um dilúvio colossal – assim, não seria despropositada uma leitura bíblica da trama de Flow.
Em meio a saída ou perda de grandes mestres da história do cinema, é um alento perceber que ainda surgem pelo mundo nomes promissores que demonstram capacidade criativa suficiente para trazer inovação ao mesmo tempo que constroem personagens cativantes e histórias comoventes, resgatando a alma da sétima arte, tão desgastada e maltratada por cineastas, produtores e estúdios americanos e europeus. Felizmente, para Gints, após vencer o prêmio de melhor filme de animação na cerimônia do Oscar deste ano, seu futuro como cineasta parece bem menos tomado por obstáculos. Sim, eu sei: as premiações do entretenimento há muito tempo perderam a relevância pelo hábito de seguidamente ignorarem o caráter técnico e artístico das obras em detrimento de aspectos políticos e ideológicos com o objetivo claro de promoverem as suas agendas que estão em voga há mais de uma década. Contudo, para um cineasta iniciante, o prêmio ainda tem serventia pela capacidade de projetar seu nome para o público e para a própria indústria do cinema – e é esta última, na verdade, a que mais merece prestar atenção nele.

Baixe e assista “Flow”: [mp4 – 1080p].

Deixe um comentário

HotKid – “Rip It Into Pieces” (single) [vídeo, download: mp3]

hotkid rip it into pieces single

Inicialmente uma dupla, agora um trio, a banda canadense HotKid costuma centrar suas composições ao redor das cordas de guitarras – muito por influência da adoração da líder do grupo, Shiloh Harrison, por elas. E é por isso que no seu single “Rip Into Pieces”, lançado em 2011, o instrumento se apresenta de modo tão proeminente, em riffs fartos e alucinantes que são heroicamente acompanhados por uma bateria igualmente frenética e densa. Shiloh também não se envergonha de colocar toda a potência do seu vocal, externado a plenos pulmões e pontuado por berros desvairados de pura energia rockeira, para coroar a extravagante melodia. O videoclipe que acompanha o single segue a mesma toada insana, com uma cornucópia de sobreposições de imagens e cores, luzes estroboscópicas, câmeras lentas e aceleradas, explosões e muita fumaça cenográfica – moderação e comedimento, definitivamente, são conceitos inexistentes para esta banda!

Baixe: HotKid – “Rip It Into Pieces” (single) [mp3]

Ouça:

Vídeo:

Deixe um comentário