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Tag: philip seymour hoffman

“A Família Savage”, de Tamara Jenkins. [download: filme]

The SavagesOs irmãos Wendy e Jon, ele um professor universitário às voltas com a produção de seu livro sobre Bertolt Brecht e ela ocupada com sua constante tentativa de obter financiamento para lançar sua peça de teatro, tem que repentinamente arranjar uma forma de lidar com o pai idoso com o qual pouco contato tiveram depois de uma infância de abusos.
O trama de “A Família Savage”, em teoria, preencheria todos os pré-requisitos necessários para que a maior parte dos cineastas lhe concedesse tratamento tipicamente ordinário, encobrindo o argumento com megatons de pieguice e sentimentalismo pegajosos. Felizmente essa não foi a idéia que a diretora, que também se encarrega do roteiro, teve de sua história. Sob a ótica de Tamara Jenkins, os dramas dos irmãos Savage, que tem que arranjar abrigo para o pai que demonstra repentinos sinais de demência e que muito pouco de felicidade lhes trouxe na infância, ao mesmo tempo que lidam com seus próprios problemas e reativam a sua relação um tanto competitiva, ganham apenas contornos sutis, passando ao largo de qualquer possibilidade de que estas mazelas sejam tingidas com a coloração folhetinesca para angariar da maneira fácil a empatia do espectador pelos seus personagens e pela história que carregam consigo. A diretora, ao contrário disso, estende esta abordagem sóbria por todo o longa-metragem, filtrando prontamente todas as situações potencialmente dramáticas para que soem o mais natural possível, inclusive temperando-lhe com doses homeopáticas de humor. Ao contrário do que se possa esperar, esta atitude de restringir a maior parte do trabalho em si e nos atores, despojando a encenação da trama de artifícios típicos do gênero, como trilhas sonoras e planos de câmera estudados, não só a aproxima muito mais da realidade e, portanto, do espectador, como a diferencia de outras histórias do gênero. Este podia ser apenas mais um filme sobre pessoas que por força da situação reencontram o senso de família, porém, diferentemente dos dramas badalados que acabam ganhando o foco dos holofotes e o apreço de premiações do cinema, não é através de sequências escandalosamente sentimentais e de um desfecho catártico ou que organiza estes personagens em uma idéia pré-concebida do que é uma família na qual as pessoas se amam e se preocupam uns com os outros que o público é conquistado – forçosamente. É paulatina e sorrateiramente, com economia e discrição, sem pressa e sem muitas surpresas, que Jenkins e seus atores arrebatam de modo efetivo e duradouro o espectador, que só ao final da história se dá conta de estar completamente rendido aos Savage e sua condição sempre imperfeita de família – e assim, as lágrimas, que com certeza surgem na brilhante cena carregada de simbologia que fecha “A Família Savage”, apesar de rolarem e secarem como todas as outras, tem um efeito muito mais profundo do que aquelas que nascem da pirotecnia sentimental de outros longa-metragens do gênero.

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“Capote”, de Bennet Miller.

CapoteAo tomar conhecimento do assassinato de toda uma família em Holcomb, uma cidadezinha interiorana dos Estados Unidos, o jornalista e escritor Truman Capote parte para o local para escrever um artigo sobre o acontecido para a famosa revista The New Yorker. Ao chegar na cidade o seu interesse sobre o ocorrido se amplia, e ao invés de um simples artigo Capote sente que deve escrever um livro. Assim, ele passa a dedicar alguns anos da sua vida envolvendo-se intensamente com a estória, fazendo pesquisas e entrevistas com os amigos da família e seus assassinos, produzindo aquilo que viria a ser considerado uma obra-prima, o livro “À sangue frio”.
Bennet Miller foi sábio e astuto ao decidir sobre a estrutura de sua cine-biografia de Capote: ao invés de se utilizar de todo o material disponível no livro de Gerald Clark resolveu retratar apenas o breve período que descreve a gênese do livro mais famoso do jornalista americano. Com essa decisão, Miller evitou uma enxurrada de sequências desnecessárias e tornou “Capote” uma das melhores biografias filmadas por Hollywood nos últimos anos, afastando do seu filme o traço mais comum em obras do gênero: a pieguice e apelação ao sentimentalismo fácil produzidos em cima de momentos dramáticos da vida do biografado. Porém, o longa metragem de Bennet Miller não se contenta apenas com a função de retratar o figura de Capote, formando ainda um discurso notadamente contrário à pena de morte ao explorar o sofrimento do jornalista durante o longo processo de sucessivas apelações para cancelamento da pena concedida aos crimininosos. O diretor também foi inteligente ao escolher o tom de seu longa-metragem, construindo um silêncio inquietante e seco durante todo o filme, o que torna ainda mais brutal a chocante sequência que retrata os assassinatos. Nada mais sensato: o silencio que percorre a maior parte de “Capote” é análogo àquele encontrado nas comunidades mais tradicionais dos Estados Unidos, que sempre tem algo de soturno e mórbido escondido sob sua atmosfera de aparente tranquilidade – quem conhece o trabalho de David Lynch sabe muito bem disso.
A atuação de Phillip Seymor Hoffman é, de fato, excelente: o ator soube incorporar o tom certo para não retratar de forma caricata um intelectual homossexual, construindo um Truman Capote que é sim egocêntrico e afetado, mas nunca é fresco e arrogante. Deve-se dar o devido mérito ao ator por conseguir atrair a simpatia do público ao compor um personagem que poderia facilmente ser mal compreendido por um ator menos atento. Mas Hoffman soube captar as sutis nuances do personagem: apesar de acreditar ser insensível à situação e pensar estar apenas usando os criminosos com o intuito de produzir seu livro, Capote se descobre sensibilizado com a estória dos assassinos e do crime em si, e acaba profundamente deprimido pelo misto de carinho e horror que nutre pelos homens reponsáveis pelo crime que queria retratar. É por compor um trabalho tão complexo que Hoffman merece o Oscar de melhor intepretação que ganhou este ano. E já que estou falando de Oscar, é bom informar que Miller consegue deixar para trás o celebrado – com justiça, admito – filme de Ang Lee, conseguindo fazer de seu sutil e brutal “Capote” o maior merecedor dos prêmios da Academia. No entanto, mais uma vez, Hollywood se recusou à ser sensata.

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