De certo modo ignorado, Pierrot do Brasil permanece como um dos maiores êxitos autorais recentes de Marina devido à qualidade de seus arranjos e as letras que versam, claro, sobre amor e paixão de forma aberta. “Pierrot”, bem ao modo “comissão de frente”, apresenta um resumo das faixas mais swingadas que vem pela frente: com direito a introdução que cita “Delicado” de Waldir Azevedo e epílogo com um piano solo bem boêmio, a música tem melodia moderna, com uma programação eletrônica sincopada e dançante ocupando todo o fundo da faixa enquanto uma guitarra de acordes agudos faz frente ao vocal sempre sedutor da cantora. Aliás, sedutores são os versos de “Na Minha Mão” e “Leva (Esse Samba, Esse Amor)”. Na primeira, em cuja melodia a guitarra divide-se em uma face mais sensual e aflitiva e outra mais plácida e a bateria entre uma rítmica sexy e inquisidora e outra mais reflexiva, ouvimos Marina concluir na letra que comenta sobre feridas de amor que “se todo mundo é mesmo gay, o mundo está na minha mão”. Na segunda, cujo dueto com Sérgio Britto mais atrapalha do que ajuda, escutamos ao som de um loop de constante tilintar, bateria eletrônica bem marcada e orquestração de metais adicional, versos em que a cantora questiona algúem sobre seu modo de agir e encarar o amor.
Contudo, logo o ouvinte descobre que a verdadeira beleza deste disco está escondida nas baladas “Deixa Estar”, “Uma Antiga Manhã” e “Portos e Vinhos”, confissões tocantes da cantora sobre seus insucessos afetivos e excelentes amostras da simbiose bem-acabada entre melodia e letra: a música doce da triste “Deixe Estar”, com destaque para a bela comunhão melódica entre piano e bateria, fecha com perfeição com a letra cheia de metáforas muito bem colocadas sobre amantes que sofrem com o rompimento de um amor que, apesar de tão intenso e apaixonado, não iria para frente; a bateria suave que dá o andamento de “Uma Antiga Manhã” e abre terreno para sutis frugalidades do teclado e um solo melancólico de clarinete é a parceira ideal da letra em que a cantora comenta sobre a beleza traiçoeira de um amor que já acabou; e para os versos amargurados de “Portos E Vinhos” a melodia silenciosa, com pouca coisa mais do que o ecoar de alguns excassos acordes de guitarra, teclado e piano, abre terreno para que atentemos às letras, guiadas pela interpretação sem resvalos de Marina.
Em Pierrot do Brasil a malícia orgulhosa, a petulância sensual e as segundas intenções das canções mais agitadas são o que mais agrada o ouvinte no seu primeiro contato com o álbum, mas é a sentimentalidade sincera das baladas, nas quais Marina mergulha fundo em seus próprios conflitos e dramas, que faz este disco despontar como poucos na discografia da artista – não é à toa que a própria compositora diz que o disco, na realidade, era um modo de trabalhar o eterno remoer dos amores desfeitos.
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