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Tag: tori amos

Tori Amos – Abnormally Attracted to Sin (+ 1 faixa bônus). [download: mp3]

Tori Amos - Abnormally Attracted to SinDesde que abandonou a gravadora Atlantic, a cantora americana Tori Amos lança discos que pecam pelo exagero, em mais de um sentido. Primeiro, pela insistência em arquitetar um conceito ou temática que unifique ou englobe todas as canções. Segundo, pela criação de um personagem – ou bem mais de um – que “assume” a interpretação das canções ou que incorpore o conceito destas ou da narrativa composta no disco. Terceiro, pelo número excessivo de faixas, que dilui e tira a força das melhores canções. Quarto, por um excesso de ornamentos e backing vocals adocicados de alto teor lírico. O primeiro álbum que reuniu estes elementos, Scarlet’s Walk – já que Strange Little Girls, a priori, não é um trabalho de composição da cantora e contou com apenas doze faixas, a mesma média dos primeiros lançamentos da artista -, foi o que teve melhores resultados ao utilizar-se destes recursos. Desde então, a insistência neste modelo de criação tem trazido aos fãs da cantora discos que não conseguem sintetizar toda a beleza, força e capacidade de Tori Amos em compor canções ao mesmo tempo tocantes e eletrizantes. Infelizmente, Abnormally Attracted to Sin, seu novo disco lançado há pouco, também sofre um pouco deste mesmo mal, ainda que ele seja o menos rigoroso na temática e conceito desde Scarlet’s Walk e sua utilização de personagens não seja tão efetiva – mas no que tange à algumas melodias o problema foi reiterado. Faixas como o single “Welcome To England”, cujo refrão está cercado de alguns acordes graves e dramáticos de piano típicos do estilo da artista, “Fire To Your Plain”, que tem arranjo leve e harmonioso de bateria, guitarrra e teclado, e “500 Miles”, com seu refrão liricamente equilibrado e sua sequência final com bateria, guitarras, piano e vocal absolutamente empolgantes como há muito não se via em uma canção de Tori, poderiam ter outro resultado, muito mais elegante, emocionante e encantador, não fosse os excessos melódicos glicosados, cuja herança imediata é proveniente de The Beekeeper.
Porém, é preciso dizer que Abnormally Attracted to Sin é o disco que tem um punhado de canções que são as mais bem resolvidas em sua atmosfera melódica desde o álbum lançado em 2002. Algumas delas recuperam o viço e sonoridade de trabalhos de Tori anteriores ao início deste século, outras até mesmo captam vibrações de outros artistas ou bandas. Este é o caso específico da primeira faixa do disco, “Give”. A melodia da canção que claramente trata de prostituição tem algo da perversa morbidez do Portishead nos toques fortes mas exaustos da bateria e na presença distante de uma guitarra que vibra em acordes soturnos e arrepiantes – o piano e as sintetizações também contribuem para a construção desta atmosfera, mas o fazem ao modo da cantora. Já “Flavor” resgata toda a beleza de baladas compostas em discos como To Venus and Back: há reminescências de “Lust” na programação que é base da canção, bem como no vocal distante e difuso e nos toques suaves e esparsos no piano – há alguns discos que não se via uma balada tão perfeita da cantora, que extrai tanta força e emoção de uma melodia tão simples. A faixa-título do álbum também se apóia sem medo na programação eletrônica, e o faz muito bem: banhada por uma hemorragia ocasional de acordes de guitarra e vocais etéreos no refrão, o conjunto de sintetizações que preenche o fundo da canção com a bateria hipnótica cria uma música sensual e sedutora como um ritual ocultista. “Curtain Call” é outra que evoca o clima nebuloso do álbum duplo de Tori lançado em 1999: as notas suaves, curtas e contínuas no piano, a reverberação dos toques da bateria, a ambiência dos acordes da guitarra e o vocal algo arrastado concedem a melodia triste o mesmo sabor elétrico de “Bliss”.
Algumas faixas específicas deste novo disco trazem uma Tori Amos que se aventura a fugir de suas próprias convenções mergulhando em uma certa formalidade melódica, seja lidando tão somente com seu velho e admirável piano Bösendorfer ou colocando-o na penumbra para trabalhar com instrumentação mais farta. No primeiro caso, “Mary Jane”, revela-se absolutamente encantadora devido ao incomum rigor tradicional de seus acordes no piano, ainda que esta melodia seja pontuada por pausas e desvios tão emblemáticos no repertório da cantora americana. Os versos, porém, não enganariam seus fãs: a dramatização do diálogo entre uma mãe e seu filho adolescente sobre o efeito que Mary Jane tem na vida do garoto se mantém fiel ao estilo de composição da cantora até mesmo pelo simbolismo da personagem que nomeia a canção. Já “That Guy” responde ao segundo caso com sua melodia idílica congestionada de orquestrações, cuja teatralidade mostra imediato parentesco com trilhas de musicais. Nas letras, Tori dá voz ao inconformismo de uma mulher que confessa não compreender como um homem que lhe dá tanto amor e conforto na cama possa perder todo seu encanto quando está fora dela.
Mas ainda não foi desta vez – e sabe lá se isso voltará a acontecer – que Tori Amos conseguiu transgredir a condição da sua própria musicalidade e voltar a surpreender com um disco que não sofra engasgos nem contenha vácuos criativos, sendo apenas pontuado por momentos fascinantes. Alguns dizem que isso é culpa de sua rotina de mulher realizada e feliz, mas eu não afirmaria isso com tanta segurança. De qualquer modo, já que ela há algum tempo adora incorporar personagens e não parece que vá mudar de estratégia tão cedo, esse poderia ser um meio de encontrar novamente a química da sonoridade esquecida.

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Tori Amos – Scarlet’s Hidden Treasures. [download: mp3]

Tori Amos - Scarlet's Hidden TreasuresCom o lançamento de Welcome To Sunny Florida, o DVD ao vivo de Tori Amos que trouxe aos fãs o último show da turnê do disco Scarlet’s Walk, a cantora resolveu presentear os fãs com algo mais: acompanhando o DVD havia um EP bônus com 6 canções provenientes do projeto Scarlet’s Walk que acabaram não entrando no disco, algumas até então disponíveis apenas por streaming no colossal site especial do disco, o Scarlet’s Web. Estas canções foram cortadas da edição final do álbum por atrapalharem de alguma forma o conceito do disco por dissonância ou mesmo semelhança com outras faixas, por exemplo. A sonoridade e a temática são praticamente as mesmas do álbum original, trafegando entre a melancolia explícita e o rancor irônico. Nos domínios da primeira sonoridade estão “Ruby Through The Looking Glass”, a história de uma gestante que sofre abusos de seu marido, prometendo que jamais permitirá que sua filha testemunhe esse sofrimento, “Seaside”, sobre uma menina que conta como perdeu repentinamente uma amiga, uma das inúmeras vítimas de uma guerra, “Apollo’s Frock”, que tematiza sobre a eterna diferença entre masculino e feminino e “Indian Summer”, de poética extramente bem desenhada, recorrendo a sensação de algo que desperta tardiamente dentro de nós e o sentimento de plenitude e satisfação que vivenciamos neste momento, além de fazer, simultaneamente, referência à erradicação dos nativos americanos e ao mais recente estado contínuo de guerra – todas elas tem o piano e voz como principais agentes sonoros, ambos envoltos em complexa harmonia melódica, com introduções carregadas de emoção e tristeza palpável, contando apenas com eventual e tímida participação de alguns poucos acordes de violão. Dentro do esquema sonoro da segunda vertente, temos “Bug A Martini”, que brinca com o mundo da espionagem, e “Tombigbee”, que versa sobre como os americanos tomaram uma grande porção de terra indígena nos arredores do rio que dá nome a canção, ambas sem contar com a presença do piano – no seu lugar temos os teclados Wurlitzer e Rhodes em acordes repletos de devaneios semi-sensuais ou amargamente animados, acompanhados de bateria e baixo em igual proporção de volume e ritmo.
Curiosamente, algumas das canções mais sonoramente elaboradas e poeticamente marcantes da “era Scarlet” estão neste EP, fora do que foi posto como retrato oficial daquele momento musical de Tori Amos. O único senão deste lançamento foi a cantora não ter adicionado a faixa “Mountain” aos “tesouros escondidos” de Scarlet, a mais poderosa sonoramente entre as faixas que não entraram no disco – e mesmo entre as que entraram oficialmente em Scarlet’s Walk. “Mountain” é um delírio melódico e lírico comparável apenas com as improvisações que ela faz ao vivo, em suas apresentações. Mas não tema: segue, logo depois do link para download do arquivos com as 6 faixas de Scarlet’s Hidden Treasures o link para você baixar “Mountain” – e prepare-se: a faixa é gozo pleno.
Baixe o disco utilizando o link e a senha informada para extrair os arquivos.

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“Mountain”http://www.gigasize.com/get.php/-1100204077/Mountain.mp3

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Tori Amos – American Doll Posse (+ 3 faixas bônus). [download: mp3]

Tori Amos - American Doll PosseTori Amos nunca se deixou abater por qualquer tipo de crítica, seja por parte da imprensa ou de fãs. Com o lançamento do seu novo álbum, American Doll Posse, felizmente, podemos ver que isso não mudou: apesar de The Beekeeper ter decepcionado parte do fãs pela sonoridade macia e “frugal”, Tori Amos não abandonou a herança deixada por esse trabalho e manteve muito dos traços mais característicos em seu novo trabalho, apurando ainda mais a sonoridade que desenvolveu em 2005 ao adicionar uma maior pulsação pop/rock. A guitarra e vocal aveludados e o teclado, piano e vocais lúdicos da irresistível “Mr. Bad Man” (em que Tori/Isabel coloca a música como arma contra o belicismo contemporâneo), a delicadeza do piano e guitarra, além dos múltiplos e constantes vocais de fundo de “Almost Rosey” (em que a mesma Tori/Isabel fala sobre quando perdemos o nosso lado mais aguerrido), bem como a bateria e piano de cadência quase sincronizada da suave “Beauty of Speed” (que chama atenção para a beleza dentro do processo de mudança que todos acabamos vivendo algum dia) tem esse caráter muito visível, mesmo na primeira audição. Só que as referências mais visíveis aos trabalhos anteriores de Tori não ficam apenas no que ela fez mais recentemente: o hino anti-guerra “Dark Side of The Sun”, com uma melodia impecável, que ganha guitarras mais intensas a medida que avança para sua conclusão, tem o mesmo charme de “Spring Haze”. Os sabores de To Venus And Back podem também ser degustados na bateria e guitarra de riffs tristes, e nos acordes lentos e lamuriantes do piano da fabulosa balada “Digital Ghost”, que fala sobre o temor da perda – até a temática dos versos relembra a clássica “1,000 Oceans”.
Contudo, na maior parte do álbum, tanto as melodias quanto as letras não refletem exatamente os traços de algum disco específico de Tori Amos: boa parte das canções mescla, a um só tempo, características de vários dos seus trabalhos anteriores. Nisso se assemelham a balada “Girl Disappearing” (de versos extremamente confusos e abstratos), com o elaborado destaque que a orquestração de cordas tem na melodia, guiada pelo piano e vocal melancólicos, a densa “Smokey Joe” (sobre o medo de enfrentarmos algo que, sabemos, não está nos fazendo bem), com sua percussão e guitarra algo nebulosas, além dos vocais de Tori/Pip e do piano cheio de sofrimento, e a ardilosa “Code Red” (sobre alguém que se prepara para uma nova vida, mas ainda sente atração pelo que pretende deixar para trás), com seus riffs certeiros da guitarra, a bateria cadenciada e o piano de acordes cíclicos, e cuja única fraqueza é a maneira equivocada com que Tori entoa o refrão, que pedia algo bem mais estridente.
Porém, em um álbum com 23 faixas (25 se contarmos as faixas bônus) há espaço não apenas para recorrer ao passado, mas também para avançar um pouco para o futuro: e o futuro, para Tori, são as guitarras – uma overdose delas. “Teenage Hustling”, em que Tori/Pip dá um chega pra lá em uma desavisada que se engraçava com o que não lhe pertencia, é a mais simbólica canção desta nova fase da música de Tori Amos: acompanhado por uma bateria espancada e um vocal portentoso e altivo, no melhor estilo glam-rock, o piano, que se ouve claramente apenas na introdução, cede lugar à uma verdadeira profusão de guitarras carnais e furiosas. No entanto, nas outras faixas em que Tori põe o misterioso Mac Aladdin para trabalhar, o instrumentos dividem o espaço de maneira mais igualitária. A melhor entre estas é mesmo aquela em que Tori/Santa-Pìp prega a comunhão de corpo e alma pela luxúria, “Body and Soul”, onde a guitarra encontra seu lugar certeiro, misturando-se de forma homogênea a presença do piano grave e minimalista e ao ritmo rock explosivo no refrão da faixa, imposto pela bateria e baixo delirantemente enérgicos.
Tori só preferiu arriscar com instrumentos um tanto mais incomuns na sua musicografia nos pequenos interlúdios que compôs para pontuar diversos momentos do disco. Afora o interlúdio que critica abertamente o presidente Bush, “Yo George”, uma das coisas mais fabulosas que Tori já compôs usando apenas o piano, todos os outros caracterizam-se por sua melodia diferenciada: “Fat Slut”, em que Tori/Pip brada contra a falsa moralidade, compõe-se apenas do vocal endiabrado, furioso e sarcástico da cantora sobre um fundo de guitarras distorcidas e contínuas, “Devils and Gods”, de tonalidades políticas, ganha aroma folk pelo uso de Ukelele e bandolim; “Programmable Soda”, na qual Tori/Santa compara sua flexibilidade à de um refrigerante, obtém um irresistível caráter lúdico com sua orquestração de metais e cordas e o piano solto; “Velvet Revolution”, em que Tori/Pip não deixa de lado sua elegância nem para ser profética, tem sangue verdadeiramente cossaco devido as tonalidades do piano e do bandolim.
E quando todo mundo pensa que já acabou, depois de atravessar um mar de guitarras e interlúdios, surge “My Posse Can Do” (faixa extra no DVD bônus da edição limitada), em que Tori/Santa fala do poderio das personages de American Doll Posse. A música é de chorar alegremente de tão boa: com uma melodia ao piano, guitarra, bateria e baixo que tem um pé na agitação efusiva dos musicais e cabarés, náo há como segurar a vontade de cantar e dançar entusiasmadamente ao seu ritmo.
De uma artista inquieta, arredia e politizada como Tori Amos não poderíamos esperar outra coisa se não este disco que temos agora, saindo do forno: ao mesmo tempo que é um compêndio de todas experiências da artista até hoje, também é o pontapé inicial para novas experiências na carreira da artista – pontapé este dado através das confissões e receios da paixão e da fúria de Santa, Clyde, Isabel, Tori e Pip, as “dolls” do projeto, diferentes personagens que representam facetas da personalidade de Tori Amos e das mulheres. Se as guitarras, a grande novidade do disco, parecem um tanto egocêntricas para alguns fãs em certos pontos do disco, para outros a sonoridade do disco anterior, que não tinha os agradado, foi melhor lapidada, até formar melodias mais coesas e equilibradas. Isso pode servir de consolo para os que cansaram da preponderância glamour rock – entre os quais não me incluo – de American Doll Posse: no seu próximo lançamento, essa estupenda e inigualável artista americana deve encontrar o equilíbrio e, mais uma vez, agradar os eternamente insatisfeitos – como ocorreu agora com as influências de The Beekeeper neste novo disco.
Baixe o álbum utilizando o link a seguir e a senha para descompactar os arquivos.

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faixas extra:

“My Posse Can Do”:
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“Miracle”:
http://rapidshare.com/files/72681678/25_Miracle.mp3

“Drive All Night”:
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Tori Amos – Scarlet’s Walk (+ 2 versões alternativas). [download: mp3]

Tori Amos - Scarlet's WalkHá tanto a falar sobre o conceito deste CD em si quanto de cada música que o integra. O primeiro projeto de Tori Amos na Sony/Epic é um disco ambiciosíssimo, onde ela – mais uma vez – encarna um personagem que guia toda a produção e idéia do álbum. O personagem é Scarlet, e cada uma das canções do disco trata de um trecho da jornada dela por grande parte dos Estados Unidos, retratando tudo que ela enfrentou pelo caminho e seu ponto de vista sobre os eventos que vivenciou e as pessoas que conheceu em sua viagem. Adicionalmente, toda uma experiência foi criada – como é de praxe com Tori nos últimos anos – para dar suporte ao conceito elaborado em Scarlet’s Walk, incluindo um website que trazia fotos e anotações de Scarlet, além de um diário da turnê de Tori Amos para divulgação do álbum e streaming de alguns B-sides – canções que foram feitas nas mesmas sessões mas não entraram na edição final do álbum.
Apesar de formarem, em conjunto, todo o painel da viagem da personagem Scarlet, as dezoito músicas também funcionam perfeitamente por si só, excluídas de uma inter-relação. E, ainda que exista uma variação melódica em alguns momentos do disco, pode-se dizer que todas as canções compartilham de uma incomensurável suavidade e complacência harmônica. É por conta disso que não há risco algum em dizer que “Strange” e “Crazy” são a cara do disco. O modo delicado como o Wurlitzer é utilizado na primeira, junto com a bateria lenta e triste, assim como a presença do piano e de uma orquestração de cordas no refrão, constroem com perfeição a melancolia necessária, presente nas letras de “Strange” – quando Scarlet reflete sobre o modo como camufla a sua personalidade para tentar manter mais uma relação amorosa, decide abandonar mais esse amor. Já nos versos de “Crazy” vemos que Scarlet é quem foi abandonada por um homem que, apesar de não ser o ideal era quem lhe dava alguma segurança e apoio no momento. A canção tem a mesma delicadeza que sente-se em “Strange”, notadamente pelo uso do teclado Rhodes e pela guitarra e bateria lentas e reflexivas, mas não conta com a presença do piano e de orquestração. Contudo, entre as baladas presentes no disco, há algumas que ainda carregam algo da Tori pré-Sony/Epic, como vemos em “Your Cloud”, onde o piano volta a ter maior presença na construção da harmonia da canção, acompanhado apenas pelo baixo quase imperceptível e a bateria de cadência suave – uma constante no disco. “Another Girl’s Paradise” é uma das canções em cuja melodia a bateria é manuseada com um pouco mais de intensidade e com uma rítmica mais elaborada, o mesmo acontecendo com os acordes do piano, mais vistosos na melodia. A sensualidade exposta nos vocais de Tori Amos, intensificados pela guitarra, faz a beleza dessa canção esplêndida, cujos versos falam sobre um mundo tomado pela cobiça e desejo – particularmente o femino. O tom de “Don’t Make Me Come To Vegas” também é o da sensualidade, bem como os acordes do piano continuam mantendo preponderância, mas sua bateria segue uma harmonia sutilmente mais latina, e o baixo surge mais evidente na canção. Na letra, Scarlet tem que ajudar sua sobrinha em Las Vegas, mas teme voltar à cidade devido a um poderoso homem com quem se envolveu, e que a maltratou. “Virginia”, que relembra a forma como a América foi colonizada e tomada pelos europeus, destruindo a identidade e cultura dos nativos americanos, também possui cadenciamento mais complexo da bateria e dos acordes do piano, mas a atmosfera e vocais sensuais de “Another Girl’s Paradise” e “Don’t Make Me Come To Vegas” são substituídos por uma melodia de espetacular tristeza e revolta.
Contudo, não é surpresa que uma das canções mais deliciosas e viciantes do disco seja a curtinha “Wednesday” – qualquer fã de Tori Amos já está acostumado com o habilidade dela neste tipo de composição -, em que a personagem Scarlet encontra-se em uma relação amorosa com um homem cheio de segredos e vive assombrada por amores antigos – não se engane, analogamente esta canção é sobre a América e os americanos. A melodia alterna a sutil agitação das guitarras e da bateria ritmada com a melancolia contemplativa do piano e do vocal no refrão desta faixa.
Scarlet’s Walk, que floresceu do estilo de concepção artística que surgiu em Strange Little Girls é, até o momento, o álbum mais cuidadosamente planejado de Tori Amos, além da obra que influenciou de maneira definitiva, tanto melódica quanto liricamente, os rumos atuais de sua carreira. A sonoridade plácida, contemplativa e suave das canções, assim como as letras mais brandas, menos irascíveis e com maiores colorações sociais e políticas surpreendeu os fãs, acostumados com uma Tori mais pessoal, combativa e furiosa. Apesar de ser considerado o início da perda de parte da vitalidade artística da cantora e compositora, o álbum conseguiu conquistar os fãs – para muitos um dos discos preferidos – e é sempre tomado por eles como referência e prova cabal da superioridade, qualidade, criatividade e profundidade de Tori Amos como artista. Mesmo que alguns tomem este disco como responsável pelos equívocos e falhas recentes de Tori, não há como negar que ele também conseguiu sacramentar e propagar ainda mais uma verdade que todos já conhecem – que Tori Amos é uma das artistas mais importantes do cenário musical dos últimos vinte anos.

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OBS: o arquivo inclui versões “alternativas” de duas músicas do álbum: “Strange” (Radio Edit) e “Pancake” (Extra Verses).

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Tori Amos – Strange Little Girls. [download: mp3]

Tori Amos - Strange Little GirlsDepois de ter presenteado os fãs com o álbum duplo de canções originais e registros ao vivo, o disco to venus and back, boatos de que o novo trabalho de Tori Amos seria um álbum de covers surgiram na net. Como de costume com a cantora, os detalhes foram revelados muito lentamente, e os fãs se surpreenderam ao descobrirem, aos poucos, que o disco estava mesmo tomando esta forma. Apesar do desânimo de alguns, ao constatarem que se trataria de um disco sem sequer uma canção nova, de autoria da própria compositora, outros mostraram-se muito animados, pois a cantora é reconhecidamente uma artista que apresenta covers fantásticos, completamente renovados de sua forma original. E, em se tratando de Tori Amos, este não seria mesmo um simples álbum de covers.
Strange Little Girls vai mais muito mais longe do que apresentar regravações de canções: o disco traz reinvenções e reinterpretações de cada uma de suas 12 músicas, todas compostas por homens, sob o ponto de vista feminino. Para incrementar o projeto e melhor delinear a reinterpretação das músicas, Tori Amos criou um personagem feminino para cada canção e, desta forma, cantou cada verso da música interpretando tal personagem. Os personagens também foram criados visualmente, pois cada um deles apresenta-se no encarte do disco – todos encarnados pela própria Tori -, obtendo, na caracterização de cada um deles, a ajuda do maquiador Kevyn Aucoin. O resultado são 13 personagens, um para cada canção, dentre eles dois – irmãs gêmeas – para uma das músicas.
O disco abre com um clássico da banda Velvet Underground: “New Age”. A versão de Tori, ao mesmo tempo que é moderna, remete à época em que a música foi composta – os anos 70 – devido a presença de acordes de guitarra deliciosamente espaçados, bem ao estilo da trip altenativa daquela década, mas que ganham corpo com o avançar da melodia. Nos vocais, a cantora também não deixa pedra sobre pedra: do início ao fim da música, quando entoa o verso, Tori emposta a voz, como uma mulher apaixonada e cheia de desejo pelo que vive no momento. O verso final da canção, “it’s the beginning of a new age”, torna-se um mantra orgásmico tão intenso que consegue levar qualquer um a berrar junto com ela. Em “’97 Bonnie and Clyde” Tori Amos decidiu liquidir o ritmo da canção original de Eminem – se é que seria possível retirar alguma melodia dali – e o recriou em algo que lembra uma trilha sonora digna de um filme clássico de terror. A melodia inicia com uma sonoridade propositalmente estranha repetida à cada vez que Tori Amos entoa “just the two of us”, o refrão da canção. Quando não se encontra nesse momento, a música tem ao fundo sopros em tom grave e de sonoridade minimalista e cíclica e cordas de acordes que sugerem um suspense contínuo, que parecem antever com temor o horror do acontecido – o trecho melódico que estes intrumentos constroem se repete continuamente pela música toda. Aos poucos também surge uma percussão sincopada em tom marcial, ampliando uma certa sensação de claustrofobia claudicante. Os vocais de Tori são repletos de um sentimento de dor e impotência diante do destino e são susurrados como num esforço repremido em alguns trechos – é, sem dúvidas, uma melodia incomum até mesmo dentro que Tori apresentou até hoje em sua carreira.
Na sua versão da canção do Stranglers, “Strange Little Girl”, é deliciosamente a mais pop do álbúm:guitarra gingadíssima, bateria esperta e vocais charmosamente raivosos. A letra não foi sequer tocada, mas a personagem que Tori Amos criou para a canção consegue modificá-la totalmente: a mulher da canção é, na verdade, a criança que inadverditamente participou do despojo do corpo de sua mãe junto com seu pai – o assassino desta – na canção anterior à esta, “97 Bonnie and Clyde”. e a garota, evidentemente, vive um eterno conflito do qual não consegue escapar – essa é a canção que melhor mostra a maneira absolutamente fenomenal como Tori Amos conseguiu tornar completamente sua uma canção que não foi por ela composta, sem mexer em uma letra sequer da composição. Preparando a ambientação da música cuja personagem é uma showgirl de um cassino qualquer em Las Vegas, que testemunha diariamente os abusos sofridos pelas suas jovens colegas de trabalho, Tori Amos despiu “Enjoy The Silence” de seus trajes tecnopop, e resolveu aplicar-lhe um traço de simplicidade, fazendo-o até mesmo quando colocou violinos e violoncelos ao fundo para acompanhar o piano. O vocal que segue o mesmo tom da instrumentação, com Tori cantando os versos com resignado sofrimento. “I’m not in love”, canção da personagem algo dark que se encontra envolvida com um homem casado é, junto com “’97 Bonnie and Clyde” uma das canções que foi mais alteradas de sua melodia original. Aqui, Tori arremessou a quilômetros de distância a famosíssima melodia pop-anos-80 dessa música e concebeu uma melodia com um pé no trip-hop mais soturno e silencioso, baseando-se em acordes e tons minimalistas de bateria e programação eletrônica. Os vocais são tentam ironizar o amante apaixonadao, mas ao mesmo tempo deixam transparecer exatamento o oposto daquilo que é cantado, ou seja, ela também está apaixonada, apesar de não admiti-lo – é uma das canções mais maravilhosamente viciantes do disco. Em “Rattlesnakes”, Tori Amos recompõem a melodia com todos os instrumentos a que tem direito, com farto uso de violões como fundo para os acordes adocicados do teclado, tudo acompanhado por uma bateria e percussão tranquilas. Para melhor personificar na melodia a personalidade impetuosa, fascinante e independente da “girl” desta música, ela utilizou um chocalho, ou algo que o valha, mimetizando o som que o rabo de uma cobra faz ao chacoalhar – charmosíssimo. A versão de Tori Amos para “Time”, de Tom Waits, é profundamente emocionante: o piano Bösendorfer, enfim, dá o ar de sua graça com peso semelhante ao das canções clássicas da cantora, acompanhando com sensibilidade e complacência as notas que compõe esta música e p vocal entristecido de Tori. “Time” é interpretada do ponto de vista de um personagem fascinante: a Morte. Através dela, são cantados os versos de uma canção extremamente triste, que desfila a rotina de alguns personagens com uma vida bastante infeliz, que parecem fazer nada mais do que esperar o seu dia final. Para a canção que apresenta irmãs gêmeas como personagens, criminosas de altíssimo gabarito que trabalham com espionagem econômica, Tori abandonou o sorumbatismo da faixa anterior e sacode o ouvinte com uma melodia rock de sonoridade cinematográfica, altamente hollywoodiana, que serviria com perfeição como tema dos melhores filmes de James Bond – guitarras absurdamente enlouquecidas, gingadíssimas e baterias ritmadas em um dia pra lá de inspirado fazem a base de toda a canção e duelam com a voz duplicada de Tori Amos, que faz frente à toda essa chacoalhante energia rock. Eu não estou exagerando, a mulher arrebentou: a versão de “Heart of Gold” de Tori Amos, com sua melodia gritante, funciona como um hino hedonista, despertando no ouvinte uma vontade irrefreável de levantar-se para dançar como nunca na vida ou, bem no estilo das personagens da canção, pegar uma reluzente pistola automática cromada e sair pela noite invadindo o escritório de uma importante multinacional, sem pensar nas consequências do fato. Ouça: é garantia de gozo múltiplo total. “I Don’t like Mondays” volta à uma temática menos feliz, apresentando como personagem uma policial que vive um drama típico de sua profissão: ela é uma das oficiais que chega à uma escola, depois de ocorrido um daqueles inexplicáveis massacres que só algum norte-americano armado até os dentes, e sem qualquer sinal de sanidade, seria capaz de produzir. A melodia e o vocal da Tori Amos procuram não atrapalhar a atenção do ouvinte à letra canção, sendo utilizados como instrumentos apenas baixo e teclado de acordes suaves e o vocal sendo guiado de forma delicada, conferindo-lhe à canção uma atmosfera de inocência e ingenuidade, o que se contrapõe à violência da realidade ali apresentada. Em “Happiness is a Warm Gun”, Tori Amos ignorou a letra da canção composta por John Lennon e Paul McCartney, à exceção de alguns poucos versos, repetidos como um mantra de intenções políticas, e mergulhou numa instropecção sonora que tranformou a canção numa elegia ao desarmamento mundial. Isso já fica claro quando a faixa se inicia, trazendo falas de personalidades da política americana, como o atual presidente George Bush e seu pai, o ex-presidente Bush, sobre a venda legalizada de armas no país. Melodicamente a musica já começa ritmada, com guitarras, baixos, bateria e um teclado nostálgico. A música proseegue desta forma, enquanto as falas dos políticos dão lugar aos poucos versos entoados por Tori. De repente, a melodia dá uma guinada – algo que lembra muito “Dàtura”, do álbum to venus and back, mas é algo mais no estilo eletro-blues -, e segue diminuindo o ritmo cada vez mais, numa lógica inversa à da maior parte das canções, concluindo de maneira esplêndida. A personagem aqui tem tudo a ver com os compositores da música: ela é a prostituta que esteve com o assassino de Lennon, horas antes de seu assassinato. “Raining Blood”, com sua melodia soturna e mórbida, trazendo um Bösendorfer dark e apoiado por ruídos eletrônicos fatalistas, apresenta como personagem uma artista de clube parisiense assistindo, horrorizada, seu clube ser invadido por soldados da alamanha nazista. Nos vocais, o tom é equivalente ao da melodia dos instrumentos: Tori entoa os versos em tonalidade sofrida e algo etérea, enchendo a melodia de terror e suspense ainda maior. O suspiro de total desfalecimento perpretado pela cantora ao final da canção atesta ao ovinte a certeza de que se não soubesse se tratar de um álbum de regravações, podería-se afirmar de pés juntos que essa canção foi composta pela própria Tori. Trazendo como personagem uma figura andrógina, que questiona ironicamente nos versos que canta a maneira de ser e de agir socialmente imposta para o homem, “Real Men”, mais uma vez, ludibria o ouvinte com uma música que foi totalmente transformada para o estilo próprio de Tori Amos: a melodia, baseada na grandiosidade do piano, além de discretíssimas participações de baixo e guitarra, é suave e delicada, mas ganha um toque de sarcasmo e ironia devido ao vocal certeiro de Tori Amos. Foi a escolha perfeita para fechar esse projeto denso e indispensável, que surpreendeu até mesmo os menos animados à primeira hora e que mostrou o quanto a cantora e compositora americana é uma artista complexa, de fabulosa genialidade.
Baixe o disco completo utilizando o link e a senha abaixo:

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Tori Amos – “Strange Little Girl” (dir. David Slade). [download: vídeo]

Tori Amos - Strange Little GirlNo vídeo da canção “Strange Little Girl” vemos hora a menina que protagoniza o episódio da canção “’97 Bonnie and Clyde” e em outros momentos ela já crescida, interpretada por Tori Amos, que também aparece no vídeo como ela própria. O vídeo é meio confuso, mas é bonito, traz Tori lindíssima e consegue criar uma identidade visual que tem tudo a ver com a versão dela para a canção. Apesar de infelizmente não figurar entre os vídeos da compilação lançada pela cantora, assim como “Glory of the 80’s” também inexplicavelmente não aparece, é um curta interessante e o único representante da “era” StrangeLittleGirls, daí sua enorme importância para os fãs da fantástica cantora americana. Baixe já o vídeo pelo link a seguir:

http://www.megaupload.com/?d=OOVR4YMH

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Tori Amos – To Venus And Back. [download: mp3]

Tori Amos - To Venus And BackNo período das sessões de from the choirgirl hotel, disco soturno e intimista, e da turnê Plugged ’98, que teve enorme sucesso, Tori Amos resolveu colocar um fim na vida de solteira, casando-se com seu engenheiro de som, e conseguiu ter uma filha. Em uma artista cujo trabalho é altamente influenciado por acontecimentos de sua vida pessoal e de sua visão de mundo, isso não iria passar sem ter reflexos em sua música. Como a cantora americana entrou definitivamente em um período de tranquilidade e ausência de conflitos, esta calma e plenitude se refletiu na trabalho como um todo: os dramas pessoais, que antes envolviam cada disco tematicamente, agora cedem lugar a uma variação maior de temas mais universais e menos relativos tão somente à realidade de Tori.
O primeiro disco, entitulado “Venus: Orbiting”, traz músicas novas, enquanto o segundo disco, chamado “Venus: Still Orbiting”, traz as perfomances ao vivo mais esfuziantes da turnê de 1998. E é com “Bliss” (lançado como o primeiro single) que Tori Amos abre o disco de música inéditas. Com um piano bem menos retumbante e clássico, que disputa lugar na melodia em pé de igualdade com os outros instrumentos, também encontramos frugalidades eletrônicas que encorpam as cores opressivas de algumas canções do álbum, “Bliss” sendo uma delas. A letra, de dífícil compreensão literal até mesmo em inglês – uma das marcas da genialidade de Tori -, fala sobre como lutamos, muitas vezes sem sucesso, para superar as influências daqueles à quem descendemos – no caso específico da música, a figura paterna. “Juárez” amplia ainda mais a variedade temática do álbum, tratando do drama da exploração sexual, violência e assassinato de jovens mulheres na cidade mexican que dá nome a canção. A inspiração para a música surgiu quando Tori fez shows de sua turnê próximo à fronteira com o México. A melodia amplia a macabrez, medo e claustrofobia da letra ao aplicar um filtro no vocal da cantora, tornando-o mais sôfrego e perturbador. O piano, de um minimalismo excruciante, repete acordes curtos e breves durante toda a música, o que amplia muito mais o seu efeito do que se tivesse sido utilizada uma harmonia mais variada. A bateria e percussão são construídas em uma mistura de eletrônico e acústica, conferindo um ritmo fanstático à canção. A letra da belíssima “Concertina” fala de como, as vezes, podemos nos revelar diferentes de como normalmente somos, como se fossemos feitos de diferentes personalidades. A melodia investe em uma orquestração sintetizada de cordas e na mistura da acusticidade do piano com uma bateria de aroma eletrônico, fechando-a de maneira perfeita com o cantar extremamente doce de Tori na canção. “Glory of the 80s” é uma ode às cafonices da miscelânea cultural, bem como à ingenuidade que ainda sobrevivia na década de 1980. Figuras das mais exóticas e simbólicas habitam uma típica festa oitentista na letra da música. A melodia é sincopadamente pop, cheia de frugalidades eletrônicas que soam nostálgicas. Em seguida temos a beleza introvertida de “Lust”, cuja melodia é de uma espetacular sensualidade contida, mais uma vez misturando o som acústico do piano com uma bateria eletrônica extremamente minimalista – é nesta canção que sentimos mais a força do piano de Tori na música, fugindo da sonoridade mais contemporânea da cantora. A letra fala de como o amor nos transcende, misturando paixão e sexo, carne e espírito – é, no disco, o sinal mais claro da influência do casamento sobre o trabalho musical de Tori. Com melodia que segue o mesmo caminho trilhado na faixa anterior, apenas com o diferencial de construir uma sensualidade menos latente, mais sutil, “Suede” fala sobre o poder que as pessoas tem – particularmente as mulheres – ao construírem jogos de sedução. “Josephine”, uma das canções mais lindas já compostas por Tori, é de fazer chorar de emoção qualquer fã da bárbara compositora americana. A melodia da canção foi separada em dois canais: uma para a bateria – em delicado tom marcial – e outro para todo o restante. O resultado disso são duas versões para a mesma canção: a oficial, com a instrumentação completa, e outra sem a bateria – que mais tarde surgiu na internet como versão alternativa. Na canção, Tori explora sua voz com suavidade, deliciando o ouvinte com a beleza dos versos que falam sobre a primeira esposa de Napoleão Bonaparte – a música é explêndida, chegando a dar pena por ser tão curtinha. “Riot Poof” surpreende os fãs de Tori com sua sonoridade esquisita, que lembra um reggae eletronizado – e o mais próximo que consigo chegar de uma definição para melodia, cheia de eletronismos do teclado de Tori e nenhum Bösendorfer – para os leigos em Tori Amos, o piano retumbante da cantora. A letra preserva a esquesitice da melodia, sendo constituída por inspiradíssimos versos indecifráveis que falam sobre uma fictícia explosão da homossexualidade – especialmente a masculina – e o modo como os homens heterossexuais normalmente a recriminam. Mas nada no disco consegue ser tão experimentalista quanto a canção “Dátura”. A letra da música mistura uma lista enorme de nomes de plantas – Dátura sendo uma delas -, recitadas à esmo, com versos cantados em um tonalidade algo mântrica sobre Canaã. A melodia não é menos viajante, sendo dividida em dois momentos distintos, um onde vocais múltiplos de Tori se fundem à acordes cíclicos de piano e à bateria eletrônica e acústica compassadas, e outro, quase sem conexão melódica com o momento anterior, leva a melodia construída com sonoridades do teclado e bateria acústica para algo ainda mais transcendental, ampliando a encriptação de significados da canção. “Spring Haze” abandona as experimentações, voltando-se para uma construção melódica mais tradicional, e não por isso menos bela. O piano, assim como em “Lust”, ganha destaque novamente, tendo presença elevada na harmonia da canção, algo etérea e diáfana, como sugere o título. A letra fala exatamente disto, sobre como as coisas tendem a acontecer sem que percebamos que elas lentamente estão se formando e definindo nosso destino. E o primeiro disco fecha com a fantástica “1,000 oceans”, outra balada espetacular composta por Tori, com um piano arrepiantemente hiper-emocional. A compositora já explicou que a gestação da canção foi das mais difíceis, onde a melodia e certos trechos da letra surgiram em um sonho, pela madrugada, cantada por uma anciã africana. Ela levantou, gravou o que lembrava da música e ficou semanas tentando transforma-la em algo que não sabia ao certo o que era. A forma final da melodia e letras só surgiu quando seu marido, Mark Hawley, se sentiu profundamente ligado à canção, que de alguma forma amenizava o sofrimento pela perda recente de seu pai. E foi aí que Tori entendeu sobre o que era a música: a dor de perder alguém. É uma das canções mais acessíveis de Tori Amos, e certamente a música “mais fácil” do álbum de estúdio.
O segundo disco, “Venus: Still Orbiting”, composto de rendições ao vivo de canções de Tori na turnê do disco from the choirgirl hotel, inicia com um dos maiores clássicos da cantora, sempre presente nos seus shows: a poderosa “Precious Things”. E o Böse revela todo o seu poderio na gravação ao vivo, repleto de emotividade. A bateria, guitarra e baixos também estão perfeitos e acompanham com perfeição as loucuras improvisacionais de Tori nos vocais e nos acordes de piano. Em seguida temos “Cruel”, que é uma das faixas mais simbólicas da mudança de sonoridade na música de Tori Amos, iniciada em from the choirgirl hotel. Ao contrário da versão mais eletrônico-gótica feita em estúdio, “Cruel” ganhou dançante esplendor eletro-rock, particularmente na delirante sequência de improviso da performance ao vivo – e Tori improvisa como ninguém em seus shows. A terceira faixa leva o público ao delírio, pois é uma das canções mais adoradas de Tori, “Cornflake Girl”. E, como normalmente faz, é nesta faixa que Tori se mostra mais relaxada com o público, brincando desprentensiosamente com seus vocais. “Bells for Her” ganha, ao vivo, um piano mais sorumbático e pesado do que no álbum Under The Pink. “Girl”, por sua vez, preserva muito de sua identidade original, da forma como a conhecemos em Little Earthquakes, preservando a eletricidade dos acordes da guitarra e a presença inconfundível do piano. Na faixa seguinte, Tori toca um de seus esplendorosos B-sides, “Cooling”, explicando para o público, no seu típico informalismo, como ela “não quis” entrar em nenhum dos álbuns e preferiu sempre ser executada ao vivo. E é assim que ela mostra toda o seu apelo emocional, com voz e Bösendorfer tão somente. A próxima faixa capta o deslumbramento do público ao perceber, depois da introdução algo lúdica que Tori faz, que a canção executada seria a pequena mas sempre marcante “Mr. Zebra”. “Cloud on my Tongue” também é fiel à sua versão no disco, resumindo sua melodia aos belos acordes de piano. E mais um B-side revela toda a sua plenitude em uma versão ao vivo, retratada durante a passagem de som. “Sugar” ganha aqui uma sonoridade muito mais marcante do que a gravada em estúdio, com bateria e piano encorpados e inesquecívies vocais gritantes – amamos Tori mais ainda quando ela solta a voz com vontade. Depois desse delírio todo, ouvimos “Little Earthquakes” e “Space Dog”, ambas bastante parecidas com suas originais, ainda que adaptadas para execução ao vivo. A penúltima faixa é (The) Waitress, surgindo como uma perfomance “turbinada” da versão de estúdio, intercalando, à imagem daquela, momentos de calma com sequências de absoluta ira rock. É nesta faixa que Tori dá vazão total à sua habilidade improvisacional, construindo uma sequência final espetaculosa, explosiva e orgásmica – sim, ou aquele delírio vocal no final não é praticamente um orgasmo? Fechando este fantástico registro ao vivo, temos o último B-side gravado na passagem de som, “Purple People” (Christmas in Space). O que impressiona neste registro ao vivo da música é a forma como, mesmo preservando a maior parte da estrutura da música gravada em estúdio, Tori consegue conceber uma versão ainda mais plena de emoção e sensibilidade. Mais uma vez, o disco é fechado de maneira genial.
to venus and back foi o último trabalho de Tori com composições inéditas de sua autoria na gravadora Atlantic Records. E foi um presente e tanto de Tori para os seus fãs. Na sua primeira parte tivemos o ampliamento da pesquisa melódica iniciada em from the choirgirl hotel, e que foi aprofundada ainda mais em to venus and back: Orbiting. Aqui, o piano volta a emparelhar sua sonoridade com os outros instrumentos, sendo que até mesmo os vocais, algumas vezes distorcidos, cedem lugar para experimentalismos com frugalidades eletrônicas, criando uma atmosfera algo opressiva em algumas canções e compassivo-melancólica em outras. As letras da canções são tão audaciosas quanto a melodia que as completa, fazendo deste disco um dos mais liricamente complexos da cantora americana. A segunda parte do trabalho, por sua vez, faz o registro definitivo da energia da performance ao vivo desta esplêndida artista que, percebe-se, sente-se mesmo realizada neste momento de contato tão íntimo e emocional com aqueles que a idolatram. É uma obra fenomenalmente completa e imperdível. Baixe já o álbum duplo através dos links abaixo.

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Disco 1: Venus: Orbiting
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Disco 2: Venus: Still Orbiting
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Tori Amos – From The Choirgirl Hotel. [download: vídeo]

Tori Amos - From The Choirgirl HotelComo a própria Tori afirmou, lá se foi uma trilogia formada – obviamente – por Little Earthquakes, Under The Pink e Boys for Pele. Em 1998 ela surpreende os fãs novamente com um álbum que introduz novas nuances em seu estilo musical. Já de começo, Tori Amos decide chamar músicos para formar uma banda que, além de gravar o álbum com ela acompanhe-a pela turnê do mesmo. Isso acabou tendo efeito definitivo de mudança sobre seu método de composição musical: pela primeira vez ela trata seu piano de igual para igual com os outros instrumentos, sem fazê-lo sobrepujar todas as outras sonoridades presentes na música.
Não bastasse esse caráter coletivo das melodias do álbum de 1998, em from the choirgirl hotel Tori flerta abertamente com a sonoridade eletrônica – sempre com o devido balanceamento com os outros instrumentos que marcam presença na melodia. Exemplos de músicas que tem “um pé” na música eletrônica são “Cruel” – deliciosamente inovadora para o estilo de Tori, surpreende pela total e absoluta ausência do piano – e “Raspberry Swirl” – com um Bösendorfer frenético que insiste em uma competição ensandecida com as sonoridades usurpantes do teclado.
Pouco depois de lançar o álbum Tori revelou que sua inspiração principal ao compô-lo foi um aborto que sofreu no decorrer da tour “Dew Drop Inn”, que promoveu o álbum Boys for Pele. Esse fato é insinuado em muitos momentos de from the choirgirl hotel, como na canção “Playboy Mommy” e também em “Spark”. Por ter como fato gerador um acontecimento que causou à Tori tamanha dor, o álbum acaba por apresentar no seu todo uma identidade soturna, estranha, melancólica e mórbida. As baladas, como sempre, são repletas de confusão sentimental, ironia, ódio e confessionalismo caleidoscópico – exemplos de canções do álbum neste estilo são “iieee” – com uma melodia que nos incita um ritual ocultista -, “Northern Lad” e “Liquid Diamonds” – ambas canções extraordinárias. Poucos artistas hoje fazem o que Tori Amos decidiu arriscar fazer naquele momento, dando uma guinada em sentido contrário no trabalho que vinha desenvolvendo até então. Apesar de ter sofrido críticas desde o lançamenteo deste disco – críticas irrelevantes, na minha opinião – , não se pode deixar de concordar que é muito mais difícil procurar novos caminhos, tentando promover uma evolução (não exatamente no sentido qualitativo do termo) do seu trabalho do que “deitar-se confortavelmente em berço explêndido”, aproveitando o sucesso fácil daquilo que já está mais do que trilhado e dissecado. Atitudes como estas são cada vez mais raras, infelizmente. Link para download abaixo.

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Tori Amos – Boys for Pele. [download: mp3]

Tori Amos - Boys For PeleQuem achou que Tori tinha chegado ao limite da complexidade tomou um susto com o lançamento de seu terceiro álbum. Neste disco, Tori Amos eleva à enésima potência a complexidade dos primeiros dois álbuns – tanto melódica como liricamente. Se Under the Pink tratava do mundo feminino, Boys for Pele se ocupa de sua contraparte – o homem, sua personalidade e comportamento é que se constituem na linha condutora deste terceiro disco. A motivação para o dissecamento por Tori do “eu” masculino foi o fim de seu relacionamento afetivo com Eric Rosse, que também co-produziu os discos anteriores. É essa a razão de o álbum soar tão passional, como se tivesse sido composto com a cantora divertindo-se ao ver alucinada seu mundo virar de cabeça para baixo, ao mesmo tempo que tenta desesperadamente atingir o seu prumo e encontrar o seu próprio rumo. O resultado é um verdadeiro magma fervente de 18 canções – 19, se contarmos a primeira faixa como duas – de concepção ousadíssima que beira o conceitual e o ineditismo puro: quanto as letras, elas se apresentam tão cifradas que até hoje geram discussões entre os fãs sobre seu verdadeiro significado; quanto à melodia, instrumentos usuais da música popular – como bateria e guitarra – formam uma mistura fabulosamente esdrúxula com instrumentos como cravos e harpas, muitos mais comuns na música erudita. A atmosfera inusitada do trabalho foi reforçada ainda mais pela decisão de gravá-lo inteiramente dentro de uma igreja, o que reforçou também o seu caráter absolutamente profano.
De classificação impossível – por vezes tem raízes jazz, outras no blues, em outros ainda rock, e muitas vezes clássico – este é o trabalho mais inovador de Tori Amos e, ouso dizer, da história do rock. Tanta dedicação da artista em seu trabalho lhe rendeu bons frutos: o álbum lhe consagrou como uma das mais importantes artistas da música mundial e transformou a sua fiel legião de fãs em uma verdadeira horda ávida por novas peripécias musicais da cantora americana.
E só para concluir, uma nota breve sobre o nome do álbum: “Boys for Pele” é uma referência aos sacrifícios de garotos- arremessados garganta do vulcão abaixo – em nome de uma deusa havaiana chamada “Pele”. E Tori, que perde uma província inteira de fãs mas não perde a oportunidade de exercitar a sua elegante ironia, colocou na capa do álbum dois garotos presos dentro de uma cabana enquanto ela mantém a guarda lá fora, munida de um belo rifle de caça e serpentes diversas aguardando o momento do sacrifício.
Clique com o botão direito do mouse sobre o nome da faixa e selecione “salvar destino como…” para baixar cada faixa do disco.

1. Beauty Queen/Horses
2. Blood Roses
3. Father Lucifer
4. Professional Widow
5. Mr. Zebra
6. Marianne
7. Caught a lite sneeze
8. Muhammed my friend
9. Hey Jupiter
10. Way Down
11. Little Amsterdam
12. Talula
13. Not the Red Baron
14. Agent Orange
15. Doughnut Song
16. In the springtime of his voodoo
17. Putting the damage on
18. Twinkle

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Tori Amos – Under the Pink. [download: mp3]

Tori Amos - Under The PinkEm Under The Pink, como o título já sugere, o condição feminina serviu como mote para a composição do disco. As relações afetivas, os conflitos, o modo da mulher encarar o mundo. Depois do primeiro álbum solo, Tori volta mostrando que tudo o que fez em Little Earthquakes pode ser ainda reelaborado, revertido e recriado, tanto melodicamente quanto liricamente falando. Isso faz o segundo álbum de Tori parecer uma espécie de segmento do primeiro disco, mas com uma exploração ainda mais profunda de tudo que foi abordado antes. Isso não significa perda de qualidade, bem pelo contrário. Do ódio entre mulheres ao ódio à religião, tudo acaba caindo na boca irônica e sarcástica da pianista americana. Arranjos ainda mais elaborados, melodias sofisticadas (tão únicas que até hoje não encontram precedentes no mundo da música) e letras complexas e confessionais continuaram sendo o tom da compositora norte-americana: em “Cornflake Girl” é feita uma crítica mordaz a mãe da “família do comercial de margarina” e “God”, por sua vez, não poupa nem mesmo deus com seus versos irônicos que questionam se o poder divino não precisaria de uma ajuda feminina. Em “Yes, Anastasia”, Tori constrói, sem pressa, uma verdadeira sinfonia, o que constrasta diretamente com alguns momentos da sua letra, que falam sobre atos dos mais ordinários. O confessionalismo é ainda mais impactante neste segundo disco: em “Icicle”, por exemplo, Tori fala sobre o que fazia em seu quarto – intimidades sexuais solitárias, para fazer uso de um eufemismo – enquanto pessoas, sob o comando de seu pai – um reverendo metodista -, oravam inocentemente mais abaixo. São letras como essas, e de todos os seus albuns posteriores, que fazem artistas como Madonna parecerem ingênuos se comparados a ousadia inteligente – e nada vulgar – de Tori Amos. Baixe já o álbum completo e comece a entender porque Tori Amos é o alvo da idolatria mais passionalmente apaixonada do mundo da música.

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