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Tag: bandas

Menomena – Mines. [download: mp3]

Menomena - MinesOs três rapazes de Portland estão com disco novo na estante, e a primeira impressão, ao olhar a imagem da capa do disco, é que talvez eles não estejam tão estranhos quanto antes. A resposta é, sim e não. Observe bem a capa do disco. Ao invés da miríade de personagens e desenhos idiossincráticos do disco anterior – imagem de autoria do cartunista Craig Thompson que foi premiadíssima, diga-se – ou do rabisco simples e quase infantil do disco de estréia, o novo álbum é apresentado com a foto da escultura desmembrada de uma sereia em meio a verde mata de um parque. Não parece ousado diante do que foi anteriormente feito, mas a questão é que na sua apresentação física – vinil ou CD – a foto tem efeito tridimensional, como naqueles livros de figuras que fizeram tanto sucesso nos anos 90. Claro, isso não é nada novo, mas você normalmente veria tal efeito aplicado justamente em uma capa bem menos clássica e mais caótica graficamente, e não em uma simples foto. É um bom modo de resumir visualmente a música que vai ser entregue junto com esta imagem: estranha e ousada sim, mas que nunca deixa de ser rock para se perder em devaneios descabidos.
Contudo, isso não é novidade para todos que já conhecem a banda, pois estes sabem que o Menomena sempre foi assim. Mas estes também vão notar que o trio americano esta mais focado musicalmente nesta nova empreitada, iniciando o novo trabalho de um modo diferente do que usalmente o fez: ao contrário do que aconteceu nos dos dois discos anteriores, desta vez a banda faz a abertura com uma faixa mais contemplativa. “Queen Black Acid” tem bateria de batida pesada e consternada e guitarra, baixo e vocais melancólicos e amargurados. Nos versos, estampa-se o sofrimento de um homem que, como a Alice de Lewis Carroll, sente-se desnorteado ao perceber pouco a pouco o desinteresse amoroso de sua companheira. Mas a banda já pisa no acelerados na segunda faixa: em “TAOS”, de teor nitidamente sexual nos versos em que um homem diz lidar com uma fera quase incontrolável e insaciável dentro de si, a banda põe a serviço da melodia os loops instrumentais que são tão simbólicos em suas melodias, jogando doses fartas de uma bateria escandida ensandecidamente, guitarras de toques barulhentos e ásperos e saxofone e pianos em arranjos que pulam em segundos do mais harmônico para o mais viciado. Mais a frente no disco, “BOTE” segue em ritmo ainda mais disparado e entumescido: introduzida por bateria esmurrada em velocidade frenética, guitarras e baixos de riffs esquizofrênicos e arfantes e saxofones em vertentes caudalosas constroem a melodia que é provavelmente a mais intensa do disco, e talvez de todas compostas pela banda até aqui. Coroando essa preciosidade musical em que a banda compara a derrocada da soberba humana com a de um marinheiro que descobre que sua embarcação não é imbatível, Danny Seim não economiza na potência do seu vocal, concedendo uma interpretação poderosíssima que reduz a pó a maior parte das bandas do cenário atual do rock. “Lunchmeat”, que vem logo em seguida e traz o mundo tomado pela insurrência do sobrenatural, com sereias entoando cantos mortais e demônios surgindo na areia do deserto, é uma Menomena mais clássica neste novo álbum: em cima de uma intro sutilmente climática, a banda joga sem aviso um banjo desafinado e o sucede pela harmonia de um beat sem arestas da bateria e dos riffs de guitarra apenas para transformar o estranhemento inicial em pleno deleite sonoro. Fechando o disco com os vocais e pianos reflexivos e tristes de “INTIL” e seus versos que criticam o modo como as pessoas camuflam suas personalidades para sustentar relações afetivas, a banda mostra que não tem receio de seguir um trajeto mais tradicional melódica e liricamente – e que o faz tão sublimemente quanto quando salta sem receio ao imenso vale dos seus ímpetos criativos. É justamente por fazer uso dessa imensa capacidade de enveredar por diferentes tonalidades musicais sem se preocupar em soar indie e alternativo, o que retiraria grande parte da autenticidade das composições, mas por prazer, diversão e paixão que os rapazes garantem alma e calor genuínos ao seu rock, levando aqueles que os ouvem a tornarem-se vítimas voluntárias e felizes de seus desvarios musicais.

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Menomena – “Five Little Rooms” (single). [download: mp3]

Menomena - Five Little RoomsCom uma mensagem exibindo o conhecido humor fino da banda Menomena, Danny Seim soltou como aperitivo para os fãs uma das faixas do novo disco do grupo, Mines, a ser lançado no dia 27 do próximo mês. Para quem se esbalda com o estilo portentoso, cíclico e cheio de quebras e retrocessos harmônicos da banda, a faixa é o orgasmo sonoro em múltiplas camadas que todos sabiam estar por vir: sobre o pulso cadenciadíssimo da programação de bateria, acordes algo doces e tristes de piano e um sax-barítono cheio de gingado pontuam a canção dramaticamente enquanto estes e outros instrumentos tem suas sonoridades extendidas ao longo da melodia em loops e filtros que são uma das marcas musicais dos três rapazes de Portland. Se o disco seguir o clima desta deliciosa maldição viciante que gruda em playlist único e contínio nos ouvidos que é “Five Little Rooms”, os três rapazes de Portland, assim como fizeram ao lançar Friend and Foe, vão voltar a mostrar para a grande maioria do povo do rock indie, tanto bandas quanto apreciadores, quem não é todo mundo que consegue fazer algo inventivo e ousado sem chafurdar no pasmaceira ou na mais completa falta de foco melódico – porque não é por conta de você ser classificado como “indie” que você precisa parecer um zumbi com um pianinho ou baixo cantando anemicamente num microfone ou um demente insensato que passa longe de qualquer conceito de afinação e harmonia.

Baixe a faixa diretamente do site oficial – basta entrar com o endereço de email e o link para download será enviado prontamente.

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Goldfrapp – Head First. [download: mp3]

Goldfrapp - Head FirstA sonoridade obscura e complexa do disco Felt Mountain, que deu partida na carreira da dupla Alison Goldfrapp e Will Gregory, e a musicalidade lambuzada de todas as possíveis combinações do eletrônico com o pop, adotada por eles nos dois discos posteriores – Black Cherry e Supernature -, ganhou seu meio-termo nas melodias de contornos sutis entre o folk e o eletrônico do álbum Seventh Tree, lançado em 2008, servindo assim como um resumo do que a dupla já tinha produzido até então. Sem muito o que inventar no seu campo de atuação musical, os dois resolveram voltar os seus olhos (e ouvidos) ao passado, buscando nos anos 80 a inspiração para o novo disco, Head First. Inspiração é até um termo um tanto inexato, já que o disco cai de cabeça no estilo dominante do pop daqueles já distantes anos. Isso é pra lá de perceptível já na abertura do disco, “Rocket”, (já comentada por aqui), por conta dos volteios caudalosos dos sintetizadores e o beat comportado escandaradamente surropiados dos grandes hits da época. O artifício prossegue sem receios em “Alive”, porém aqui, além do groove pop e dos teclados cintilantes, há também a participação de acordes de piano e riffs de guitarra e baixo que bem poderiam ter servido de trilha para aqueles filmes em que os jovens da época enfrentavam os obstáculos mais tolos para só então perceber que o amor morava o tempo todo ao lado. “I Wanna Life”, mais ao final do disco, também fica na minha cabeça como soundtrack de sessão de cinema de sábado, mas a programação mais reflexiva das sintetizações, cheia de claps marcantes, e o vocal mais contido, com refrão marcado pela título da canção, me soa mais como aquelas sequências que preparam a “virada” do protagonista de um daqueles romances urbanos que mostram a busca da felicidade e do sucesso. Fazendo um pouco diferente, “Dreaming” sai um pouco do 80’s americano e envereda por uma programação eletrônica e sintetizações mais harmoniosas que caem nos ouvidos lembrando a combinação de ambientação e cadência sutilmente dançante matadora da New Wave européia – pense em algo feito há muito tempo por Depeche Mode e você vai ter idéia do que se trata. Os toques doces e nostálgicos de piano voltam para dar partida à faixa-título do disco, “Head First”, apoiados por ondas de sintetizadores e vocais tingidos da primeira a última nota nas harmonias que tanto se ouvia na frequências das FMs. Apesar do banho de atmosfera vintage, há em uma ou outra canção um certo vento de contemporaneidade, já que a batida quente que pulsa como base para a melodia, os samplers e loops que pontuam o refrão, a sintetizações que inundam a ponte melódica e o vocal aveludado à meia-voz de Alison em “Shiny and Warm” vibram na tonalidade inconfundível da sonoridade que lançou a dupla britânica à notoriedade tanto no segundo quando no terceiro álbum.
Agradável aos ouvidos nos primeiros contatos, um disco que se traveste com tanta firmeza com um som tão datado e não insere suficiente caráter de contemporaneidade corre o risco quase certeiro de cansar com o passar do tempo. Isso não ocorreria por ausência de qualidade, já que não é o caso, mas apenas porque a música que serve de referência tem uma identidade muito forte, fazendo quem ouve Head First se questionar se não seria melhor folhear o passado logo de uma vez e ouvir aquilo tudo que serviu de fonte para o duo Goldfrapp neste álbum. Mas mesmo que o déjà vu sonoro da dupla tenha essa consequência, o simples fato de jogar alguma luz para os ouvintes de hoje sobre a música da década de 80 já um fato bastante positivo. Apesar de considerado por muitos um período artisticamente fraco, se comparado com o que temos hoje, mesmo aqueles hits grudentos e batidinhos que ouvíamos tanto são um bálsamo para os ouvidos – e mesmo para o cérebro.

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Howling Bells – Radio Wars. [download: mp3]

Howling Bells - Radio WarsSegundo afirmação da vocalista do grupo australiano Howling Bells, Radio Wars, disco gravado com o produtor Dan Grech-Marguerat no estado da Califórnia, difere bastante do primeiro por emanar muito mais cor e calor sonoro por influência do local escolhido para sua produção. Apesar de isso não deixar de ser verdade em certa medida, a meu ver a característica que fica por mais tempo suspensa pelo álbum nos ouvidos é outra. Há um certo sentimento de tristeza fulgurante que emana das melodias rock da banda, como fica claro na ambiência da tocante balada “Nightingale”, em cujas letras Juanita Stein identifica o seu cantar ao de um rouxinol. A relação é mais do que justa, pois assim como o cantar deste pássaro se mistura ao ruídos naturais do ambiente que o cerca, o vocal da cantora, ao mesmo tempo doce, triste e sensual, entra em sintonia perfeita com a melodia que extrai melancolia do colorido dos sintetizadores, dos riffs radiantes da guitarra e baixo e da batida sutilmente suntuosa da bateria. Outra balada na qual a melodia resplandecente pavimenta o caminho para a linda voz de Stein emanar um certo ar de pesar é “How Long”: os vocais que acolchoam a música ao fundo, a bateria de toques firmes e em compasso bem marcado e a guitarra e sintetizações que florescem com o caminhar da melodia vertem, juntos, um esplêndido desaguar de paixão e romance.
A banda, porém, convence também quando investe em melodias mais agitadas, ainda que a sua agitação sempre rescinda a melancolia que é característica da banda, como mostram as faixas “It Ain’t You”, que brilha particularmente no arranjo que introduz e pontua com elegância a melodia na forma como a bateria cadenciada e os breves toques no piano e na guitarra se complementam e especialmente em “Into The Chaos”, que reverbera no ar com o charme dos seus múltiplos riffs de guitarra e baixo e com as várias camadas de sintetização que envolve a bateria de andamento mais ligeiro.
Mais do que simplesmente ser uma característica, a melancolia das composições da banda, que espalha-se sobre as melodias calcadas nos fundamentos mais básicos do pop/rock (a saber, guitarra, baixo e bateria, com apoio de teclados e piano), também tem efeitos, já que concede às músicas certa similaridade com a música produzida na década passada, a exemplo das faixas “Digital Hearts”, que com o tropejar sem erros da bateria e com os cadenciar gracioso do baixo e guitarra remetem à alguns dos singles marcantes de bandas como o INXS, e “Ms. Bell’s Song (Radio Wars Theme)”, que lembra um pouco os irlandeses do The Cranberries no vocal em plena harmonia com a vibração metálica do violão, na delicadeza dos acordes singelos do piano e na grave discrição do baixo, ressaltado na breve ponte melódica da canção. Porém, é a faixa “Golden Web” que evoca boa parte da identidade do rock noventista já na partida da canção pela conjugação de um beat sorumbático e de claps e pianos esparsos e dramáticos, e ainda mais quando o vocal cristalino de Stein duela gentilmente com o dedilhar na guitarra, para então fundir-se em um lirismo encantador com as sintetizações lançadas como a fragância de um perfume sutil na atmosfera da melodia.
Apesar da referência contida nestas canções tornar-se cada vez mais lugar-comum dos grupos da atualidade (o que faz sentido, uma vez que esta é sua herança mais imediata), a banda australiana não o faz arriscando perder sua própria identidade, já que preserva o tempo todo a mistura da sonoridade ao mesmo tempo crispante e plácida que resulta na ambiência sedutora que flui nas suas melhores composições. Porém, dificilmente, como indica o nome do disco, a banda vá com isso recuperar a maravilhosa guerra de algum tempo atrás que fazia a beleza das estações de rádio. Primeiro porque a banda está só começando e hoje em dia a carreira de qualquer grupo musical pode ser tão efêmera quanto uma tormenta de verão; segundo, porque as rádios estão tomadas por toda uma sússia do mais variado lixo musical, inclusive de uma horda de “artistas” sugando o quanto podem do que deu certo na última década. Isso, contudo, não é motivo para não dar crédito aos quatro australianos. Ouça o disco sem medo, pois os sinos de Stein e seus companheiros estão longe de soar como um pastiche da música da época.

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Ok Go – Of the Blue Colour of the Sky (+ 1 faixa bônus). [download: mp3]

Ok Go - Of the Blue Colour of the SkyO hype e o conceito do “viral” são coisas que irritam como poucas – ao menos a mim. Se é o filme mais faladinho, o vídeo mais twittadinho, a banda mais conceituadinha no circuito alternativo ou na cadeia auto-declarada e auto-alimentada dos blogueiros mais badaladinhos da web, podem ter certeza que eu vou esperar muito tempo pra ver qual é a dessas coisas todas – isso se eu realmente me dispor a conferir. Essa foi a razão que levou meus ouvidos a realmente dar confiança à banda Ok Go só nas últimas semanas, anos depois de todo o burburinho gerado por conta dos clipes das canções “A Million Ways e “Here It Goes Again”, que agora sim verifiquei serem realmente muito bons. Naquela que foi uma das raríssimas oportunidades em que tentei embarcar no hype, confesso que até tentei espiar qual era a da banda na época de toda a falação gerada pelos vídeos. Baixei o disco Oh No só para ver que então a banda não me convencia mesmo – depois de apenas algumas poucas audições que não me arrebataram o álbum ficou empoeirando até ser devidamente eliminado da minha bliblioteca de mídia. Só fui voltar meus olhos para os quatro rapazes americanos no meu ciclo mais natural de descoberta e experimentação: vi a capa do novo álbum em uma online store britânica que sempre visito, achei o nome do disco tão interessante quanto a imagem e assim despertada minha curiosidade, resolvi ver qual era a do Ok Go desta vez.
Of the Blue Colour of the Sky ainda sofre do mesmo mal que me afugentou da banda nos discos anteriores. Músicas como “End Love” e “Before The Earth Was Round” não me dizem coisa alguma, soando um tanto anêmicas e repetitivas. A melodia da primeira não é um completo desastre, mas as suas feições algo atonais soam ásperas nos ouvido; já a segunda apresenta no vocal distorcido por sintetização e nas suaves farpas eletrônicas vapores do que há de mais aborrecido nos conterrâneos do The Flaming Lips. E me parece que a banda de Wayne Coyne inspirou ainda outros momentos deste álbum, já que as duas últimas faixas do disco também emanam uma suave psicodelia semelhante à das composições do Flaming Lips. Nelas, porém, o resultado é bem mais favorável: “While You Were Asleep”, consegue soar muito mais agradável com a sua tecitura delicada de sintetizações suaves em uma melodia quase sonolenta pontuada por “claps” e bateria preguiçosos com alguma percussão ocasional, encerrando-se em ruído que some rapidamente e conecta-se aos acordes solitários e breves de piano que introduzem “In The Glass”, que prossegue em uma espécie de sequência melódica, mas em um ritmo consideravelmente mais ligeiro e com uma instrumentação mais farta composta por um orgão sustentado em acordes longos e nervosos, bateria, baixo e sintetizações em uma cadência um tanto hipnótica. As várias camadas de vocais que ecoam sem vergonha ao longo de “Back From Kathmandu”, junto com a bateria, percussão e violões de acordes secos que sofrem alterações cíclicas em sua síncope firme atravessada por guitarras, orgão e sintetizações pontuais também dão à esta canção algumas feições do que a banda que criou Yoshimi Battles The Pink Robots já fez de melhor.
Mas o que há de realmente fabuloso em Of the Blue Colour of the Sky é influência de um outro artista, este ainda mais estranho e singular: o cantor e compositor americano Prince. As melhores e mais viciantes músicas do disco foram embebidas em elementos bastante característicos do cantor pop americano, indo da incorporação mais sutil à mais rasgada. “WTF?”, que abre o disco, emula o falsetto tão simbólico de Prince, que sempre cantou escorado em uma sensualidade quase tátil, mas os riffs escandalosos da guitarra que brincam com a cadência vibrante da bateria também são a cara de grandes hits de artista que já recusou-se até mesmo a ter um nome. A deliciosamente dançante “White Knuckles”, não apenas continua tirando proveito de uma infinidade de riffs e solos de guitarra caudalosos, mas também põe na dança uma programação eletrônica gingadíssima que convida a sacudir todas as partes do corpo e escancarar de vez acompanhando os versos sem receio. “I Wan’t You So Bad I Can’t Breath”, que pisa no freio com guitarras, baixo e bateria em uma melodia um tanto mais tranquila e lenta, não emula tanto o estilo de Prince, mas ainda incorpora algumas feições, como o vocal entrecortado por gemidos exasperantes. Em nenhuma destas músicas, porém, o vocalista vai tão longe quanto na espetacular balada “Skyscrapers”: vertando melancolia no orgão taciturno e jorrando sensualidade na sintetização de cordas, nos acordes da guitarra e na cadência lânguida do baixo e da bateria, a música conta com um Damian Kulash completamente tomado pelo espírito de Prince, exibindo todo o potencial de sua voz sem o menor sinal de vergonha de que seu cantar meio sussurado e seus gritos e gemidos ultra lancinantes soem como os estertores eróticos de um virgem sendo possuído sem piedade na sua primeira noite – se você acha que estou exagerando, ouça você mesmo. Tenho quase certeza que o teor assumidamente pop e o caráter um tanto lascivo destas canções deve ter assustado os fãs da banda, mas foi justamente esta nova trilha aberta pela banda americana que capturou a atenção dos meus ouvidos. Se a passagem não for apenas temporária ou se ainda outras, que levem a lugares ainda mais diversos, forem abertas, certamente que os rapazes do Ok Go vão conseguir surpreender gente até menos credúla do que eu. Vamos torcer!

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Goldfrapp – “Rocket” (single + 1 faixa). [download: mp3]

Goldfrapp - RocketE nesse mundão lindo de internet nem um dia se passa sem algo cair inadvertidamente na rede – algumas vezes até intencionalmente – e ser infinitamente multiplicado e distribuído. Alison Goldfrapp até pediu desculpas – precisa não, benzinho – no seu blog oficial, mas disse que o vazamento do single “Rocket”, parte do seu futuro novo disco, “Head First” não foi intencional e não poderia ser evitado. E é bom guardar as desculpas para os dias que virão, porque mais uma faixa, “Believer”, acaba de chegar aos ouvidos dos internautas. Mas, apesar de toda a nostalgia da dupla britânica, pessoas da contemporaneidade que ambos são já sabem muito bem que não adianta lutar contra a rede.
Falando em nostalgia, não saberia dizer se eles já foram mais nostálgicos, mas “Rocket” e “Believer” com certeza bebem na nostalgia dos anos 80: são tsunamis de sintetizações, toneladas de camadas de vocais e uma chuva de cintilações sonoras. “Believer” tem mais a cara dos trabalhos anteriores da dupla, e considero esta a mais fraca das duas, com uma música um tanto repetitiva, mas “Rocket” tem uma melodia pop que não faria feio combinada com aquelas dancinhas coreografadas bem soft dos musicais de cinema da época que cansamos de ver na Sessão da Tarde. Ouçam o início da faixa e me digam se Olivia Newton-John não mandou lembranças, disse que tá tudo muito “Magic” mas que essa coisa meio “Xanadu” da capa do disco é de propriedade dela? Falando na capa, mas me referindo à esta do single ao lado, eu sei que o glow nas mãos e nos pés é intencionalmente “photoshópico”, que esse raio só pode ter saído de algum canto de “Star Wars” e que essa paisagem parece ter sido retirada de uma das fases do jogo “Enduro” do saudoso Atari, mas a cereja do bolo é o combo pose de heroína de gibi + macacãozinho cor-de-rosa, heim? Isso tá bem “mamãe, acreditei!”

“Rocket” + “Believer” (clique!)

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Agradecimentos ao pelo toque no Twitter!

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Bat For Lashes – Two Suns (Special Edition). [download: mp3]

Bat For Lashes - Two SunsLançado em abril do ano passado, Two Suns, segundo álbum de Natasha Khan, mais conhecida pelo pseudônimo Bat For Lashes, demora um bocado a entrar em acordo com os ouvidos de quem se aventura pelas suas faixas. À excessão de uma ou duas músicas, todo o restante do disco sofre um processo lento de apreciação, que no meu caso levou meses. A primeira impressão, que perdurou até há pouco, era de que este álbum era muito inferior ao primeiro disco da artista britânica. No entanto, depois de deixá-lo de lado todo este tempo, dei a Two Suns uma segunda e mais atenta rodada de degustação sonora, e então mais faixas foram revelando seus encantos ocultos. Durante estas novas sessões de apreciação do disco, me dei conta de que o fator que motiva esta indiferença inicial é efeito da construção obtusa das melodias, que iniciam com harmonias um tanto opacas, geralmente capitaneadas por sintetizações que tem algo de atonal. “Glass”, por exemplo, abre o disco, mas nem por isso consegue se sobressair prontamente para o ouvinte com sua percussão que faz uma sucessiva evolução em densidade e volume enquanto baixo e orgão acompanham solicitamente a melodia e sintetizações cristalinas e cintilantes tomam o refrão da música como uma repentina chuva de verão. Também por conta do seu trecho inicial, “Daniel”, que nasceu da fascinação de Natasha quando adolescente pelo personagem de mesmo nome do filme “Karatê Kid”, só vence a apatia depois de cautelosas audições, que assim descortinam a beleza presente tanto no vocal e vocalizações ao mesmo tempo doces a amargurados quanto no beat e programação de ares nostálgicos e lúgubres cortados pela ondulação luminosa de um violoncelo.
Mas o personagem interpretado pelo ator Ralph Macchio não é o único que serviu de inspiração à Two Suns. Além de aproveitar este ícone da cultura pop dos anos 80 para suas novas composições, Natasha Khan achou por bem dar vazão à uma criação própria neste disco, criando assim Pearl, personagem que representa o lado mais negro de sua personalidade, cujo materialismo e agressividade se opõe diretamente ao misticismo e espiritualidade que caracterizam a artista. As referências às duas diferentes forças estão presentes por todo o disco – que não por um acaso foi batizado de Two Suns -, mais elas estão mais explícitas especialmente nas faixas “Siren Song”, “Pearl’s Dream” – claro -, “Two Planets” e “The Big Sleep”. A primeira, em cujos versos Natasha afirma que seus romances são a certa altura sempre destruídos pelo surgimento da personalidade agressiva e predatória de Pearl, apresenta uma melodia na qual o silêncio ressaltado pelo vocal da artista e acordes de piano mergulhados em plácida emoção são revertidos em uma harmonia assinalada pela intensa dramaticidade da percussão em pulso bem marcado e da bateria e piano que impregnam na música uma atmosfera de pleno frenesi. “Two Planets”, que retrata claramente a luta de Pearl em tentar sobreviver e sobrepujar a personalidade predominante, está impregnada de um caráter ritualístico, que vai desde a percussão que abusa do compasso tribal, passando pelas palmas constantes até o cantar em tom emergencial. “Pearl’s Dream”, o clamor da personagem por aquilo que acha que é de seu direito – a vida -, faz o diabo com a programação de beats para, juntamente com a percussão e os vocais perfeitos de Natasha, construir um crescendo fabulosamente épico e espetacularmente dançante. E “The Big Sleep”, dueto da cantora com Scott Walker, fecha o disco e a jornada de existência de Pearl em uma melodia profundamente bela produzida tão somente por um piano de coloração enormemente etérea e intensamente triste e por suaves sintetizações que agregam um tom sutilmente fúnebre ao réquiem de Pearl, que declara nos versos sentir esvair suas forças enquanto descobre que é a hora de despedir-se definitivamente – com o perdão do trocadilho barato, mas é realmente uma pérola de beleza sem igual.
Apesar de eu algumas vezes gostar de manter um certo caráter de atualidade nas resenhas produzidas no blog, procurando não atrasar muito os textos sobre filmes e discos que estão sendo lançados, coisas como Two Suns mostram como é importante deixar que elas sigam o seu próprio ritmo. Tivesse eu feito a resenha quando lançado o álbum para tentar manter esta feição up-to-date no seteventos.com, certamente ela estaria marcada pela impressão negativa que persistiu até poucos dias atrás. Ainda bem que eu já não tenho mais essa pretensão para o blog. O objetivo aqui, já há algum tempo, é estudar as coisas sem pressa para analisá-las com o detalhamento necessário e suficiente – sem também pecar por exageros, porque isso aqui não é uma tese de doutorado – e não ser o blog “antenadinho”, pontuando os últimos lançamentos. Desse modo, a análise é produzida com muito mais legitimidade, trazendo aos olhos e ouvidos o que vale a pena ser mostrado ao público – seja para desnudar suas qualidades ou seus defeitos – com mais propriedade. E assim foi com este novo-velho álbum do Bat For Lashes, que por isso renasceu nos meu ouvidos de um modo que eu já não pensava que aconteceria, exigindo, assim como a pobre Pearl, o seu direito a existir na minha seleção de discos favoritos.

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Portishead – “Chase The Tear” (dir. John Minton). [download: mp3 + vídeo]

Portishead - Chase The TearPra quem ficou dez anos afastado do estúdio, a animação dos membros da banda Portishead em lançar um novo disco para não deixar o seu último lançamento tão solitário é um tanto surpreendente. Segundo declarações de Goeff Barrow, o sucessor de Third pode chegar aos ouvidos do público ainda no decorrer do próximo ano. Mas os fãs mais inquietos em obter material inédito da banda podem matar a vontade até lá degustando o aperitivo liberado pela banda esta semana, a faixa “Chase The Tear”, possível candidata a integrar o tracklist do futuro novo disco.
Lançada como single digital com toda a renda da venda revertida em doação para a organização Anistia Internacional, a canção percorre os mesmos caminhos traçados em Third: sobre uma base em loop que sutilmente sofre graduais e cíclicas mudanças de tonalidade, sem nunca alterar o hipnótico pulso de ritmo rigoroso, os membros da banda lançam intervenções ocasionais de guitarra e sintetizações enquanto Beth Gibbons libera os versos da música com o vocal mais emblemático do trip-hop mundial. Curiosamente, foi só ao escutar esta nova canção que me dei conta do quanto essa recente predileção do Portishead por bases de cadência mais curta, cíclica e repetitiva, inaugurada em Third, guarda alguma semelhança com composições mais minimalistas e um tanto preguiçosas do Radiohead – basta lembrar de “Idioteque”, por exemplo. Obviamente que se tratam de grupos de estilos consideravelmente distintos, mas não há como negar que desde o disco lançado em 2008 que algumas semelhanças podem ser mesmo encontradas entre Portishead e Radiohead além dos seus nomes – engraçado que só agora notei que o estilo sofrido e amargurado é compartilhado entre ambos os vocalistas das duas bandas.
Um vídeo bastante simples também foi produzido para acompanhar o lançamento do single, filmado em preto e branco pelo diretor John Minton e retratando Beth Gibbons, Geoff Barrow e Adrian Utley aparentemente simulando em conjunto o processo de produção e interpretação da canção em estúdio – interessante notar como o vocal de Gibbons reflete-se em sua postura retraída e introspectiva ao cantar, bem como o estilo sempre casualíssimo da banda no uso dos trajes e na condução de sua performance.

Portishead – “Chase The Tear” (mp3)

Portishead – “Chase The Tear”: Youtube (assista)download

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A Camp – Covers EP. [download: mp3]

A Camp - Covers EPEnquanto a banda The Cardigans não dá o ar de sua graça com um novo álbum, Nina Persson promove seu projeto paralelo, cujo segundo lançamento, o álbum Colonia, ganhou vida no fim de janeiro deste ano que está em vias de se encerrar. Das sessões deste disco, ao menos três regravações de canções de outros artistas e bandas foram feitas, duas das quais foram liberadas ao público como B-sides do single “Love Has Left The Room”. Em junho último, porém, a banda formada por Nina, seu marido Nathan Larson e o músico Niclas Frisk decidiu por bem reunir as duas faixas lançadas e a única ainda inédita em um álbum no formato exclusivamente digital, que foi batizado simplesmente como Covers EP. Nas três músicas que compõem o disco, Nina e seus comparsas procuraram redecorar as melodias de forma não-evasiva, impregnando-as com o estilo preponderante do A Camp de Colonia mas preservando a essência que forma a identidade original de cada uma das canções. Em “Boys Keep Swinging”, originalmente gravada por David Bowie no seu álbum Lodger, o trabalho do A Camp lembra enormemente o do cantor britânico, já que a melodia continua tomada de uma verborragia sonora proveniente da esquizofrenia das guitarras e do saturamento promovido pelos backing vocals, a diferença mais perceptível seria o andamento levemente mais acelerado da música, mas que ainda refaz a rítmica sacolejante tão famosa do Bowie dos anos 80. “Us and Them”, conhecida faixa do disco Dark Side of the Moon, dos ingleses do Pink Floyd, também mostra-se razoavelmente fiel ao original, recuperando nos vocais, tanto na reverberação dos versos entoados por Nina Persson quanto nos que preenchem o fundo com tonalidades gospel, a melancolia com ares épicos que é característica de muitas composições do Pink Floyd – algo, por sinal, que eu já tinha notado o A Camp ter utilizado de forma primorosa em Colonia na faixa “Chinatown”. E em “I’ve Done It Again”, a linha harmônica do baixo permanece com as propriedades originais da versão de Grace Jones inalteradas, assim como o ritmo da música, que ganha apenas a companhia de alguns toques ao piano, sopros e sintetizações ocasionais.
É claro que três faixas são bem pouco, mas com elas o A Camp dá uma idéia do que como a banda soaria se decidisse se aventurar em um disco de covers: cautelosa com o trabalho alheio sem deixar de colocar sua porção de charme e elegância em cada uma das canções escolhidas. Eu só esperaria um repertório um pouco mais garimpado, já que a música de Grace Jones bem poderia ter sido substituída por tantas outras muito mais interessantes.

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Arctic Monkeys – Humbug [download: mp3]

A meu ver, até Favourite Worst Nightmare e o show derivado de seu lançamento, a banda britânica Arctic Monkeys ainda se encontrava planando em uma atmosfera rock com algumas correntes de vento pós-adolescentes. Sem dúvidas que a música produzida pela banda naquele estágio de sua carreira já era de boa qualidade, porém por conter elementos típicos desse rock mais em voga, um tanto desenfreado e desnorteado, todas as suas composições partilhavam um ranço de semelhança esquizofrênica monotonal. Por consequência disto, não consegui deixar de duvidar se os rapazes ingleses seriam capazes de repensar esta musicalidade frenética, mas que muitas bandas preferem não abandonar por geralmente garantir-lhes um público cativo e uma boa recepção por parte da crítica. Felizmente, para minha satisfação, eu estava errado: Humbug, o novo disco do Arctic Monkeys, soa em praticamente todos os seus pormenores como o grito de maturidade da banda.
Produzido por Josh Homme – líder do Queens of the Stone Age – e James Ford – que também atuou no The Last Shadow Puppets, projeto paralelo do vocalista Alex Turner -, Humbug traz os quatro rapazes aventurando-se em terreno consideravelmente diferente daquele pelo qual estavam caminhando até então. As composições da banda soam agora bem mais elaboradas, grande parte delas com harmonias mais rebuscadas, mas que ao mesmo tempo fazem uso mais moderado dos atributos aplicados nas melodias. “Dance Little Liar” certamente é uma delas: a música, cuja letra passeia pelas suposições de um mentiroso convicto, é formada pelo fluxo suave e compassado da bateria, pelo baixo de surda sinuosidade, e pelos acordes assombrosos da guitarra que flutuam como a ondulação de um temerim impregna o ar com uma leveza volátil, mas vai aos poucos ganhando corpo e densidade até converter-se em uma harmonia sólida e crispante a partir da ponte melódica que toma a música de modo insurgente. Ainda dentro dos domínios da melodia, a introdução de um orgão Vox Continental ao elenco de instrumentos encorpa a sonoridade da banda com uma camada de rock punk-gótico, exatamente como se ouve em “Pretty Visitors”, que alterna entre a atmosfera orientada pelo órgão nebuloso e o andamento ligeiro e febril das guitarras, bateria e baixo em rascante delírio. Porém, das modificações apresentadas, o modo como Alex Turner utiliza sua voz é o que permanece nos ouvidos como registro mais caracteristicamente distintivo desta fase da banda: canções como “My Propeller”, com seus riffs graves e absortos das guitarras e com a bateria e o baixo em cadência soturna e traiçoeiramente hipnótica, e “The Jeweller’s Hands”, com a suave doçura dos toques ao piano e xilofone e da ambiência do acordes gentis da guitarra que pontuam discretamente o compasso marcial concedido pela bateria, produziriam um efeito completamente diferente se o vocal que as acompanham não fosse conduzido em um registro mais grave, brando e meditativo.
Mas esse novo caráter musical da banda não significa que não há espaço ou interesse em cultivar o seu já conhecido estilo, na suas várias modulações de agressividade rock. O cover de “Red Right Hand”, originalmente gravada por Nick Cave, tem guitarras, baixo e bateria velozes, perseguidos de perto pelo órgão que insiste em se fazer presente mesmo em uma melodia que recupera o tradicional estilo do grupo. Apesar de menos explosiva que o cover de Nick Cave, “Dangerous Animals” utiliza a dinâmica já comum na banda, com riffs de guitarra recheando ciclicamente a melodia em que um pulso semelhante ao de um sonar craveja uma obscuridade que só faz aumentar com o eletrizante solo de bateria, entrecortado por acordes de guitarra e pelo vocal ameaçador de Turner, elementos que em conjunto retorcem a harmonia antes de seu epílogo sonoro.
A mudança gerenciada pela banda e seus produtores foi sem dúvidas das mais inteligentes já produzidas no meio musical nos últimos tempos, já que ela foi feita de modo a preservar o que consolidou-se como o melhor na identidade musical da banda – suas melodias cheias de energia e vivacidade -, mas inserindo novas harmonias e elementos que subverteram sua essência em algo muito mais denso e consistente. É por isso que Humbug não surge como um disco importante apenas porque encorpou a identidade da banda, fortalecendo-a ainda mais, mas porque com ele o Arctic Monkeys mostra a tantos outros artistas e bandas de rock que isso pode ser feito sem soar como um ultraje para os ouvidos dos fãs.

Baixe: https://www.mediafire.com/file/w0w9xrmislgrv20/arctic-bug.zip

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