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“Antes do Pôr do sol”, de Richard Linklater.

Before SunsetEm 1995 o diretor Richard Linklater produziu um clássico cult chamado “Antes do Amanhecer”. O projeto, apesar de independente, extremamente simples e concentrar-se em apenas dois jovens atores – o americano Ethan Hawke e a francesa Julie Delpy – era super ambicioso: o argumento resumia-se tão somente a um casal de estrangeiros que se “esbarram” por um acaso em uma viagem de trem para Viena e decidem – já que dispõe de tempo livre até o próximo amanhecer, quando retornarão para seus respectivos países – passear pela capital austríaca e travar um desvendamento de suas personalidades – tudo na brevidade do tempo que eles dispõe. Nove anos depois, uma sequência é produzida, preservando praticamente a mesma estrutura do primeiro filme: os dois personagens se reencontram, ambos mais velhos, bem menos ingênuos e com uma experiência de vida já formada; Jesse é um escritor, tem um filho, casado por puro conformismo social e Celine é uma ativista ambiental algo neurótica e compositora nas horas vagas. Assim, enquanto eles passeiam pela cidade, travam discussões sobre uma vastidão de assuntos, filosofando sobre política, sexo, amor, a condição humana, a morte, o envelhecimento, relações afetivas, desilusão, frustação, a inevitabilidade de pequenas decisões na vida futura. É a repetição da mesma fórmula do primeiro filme. E, deste modo, a sequência repete o mesmo erro do filme original: o universo da discussão é tão vasto que tudo soa forçosamente intelectualizado e pretensioso. Como o filme inteiro não passa disso, o longa fica bastante chato e, apesar de toda a pretensão discursiva, desinteressante. Há apenas duas coisas que podem manter a atenção do expectador durante o longa, em meio ao falatório. Primeiro, o carisma dos atores e de seus personagens, já que estes são construídos e vividos com muita naturalidade. Segundo, o interminável discurso fica menos pesado e arrastado para aqueles que assistiram os dois longas da maneira que foi planejado, ou seja, tendo experimentado nove anos de intervalo entre o lançamento de um e do outro, o mesmo intervalo de tempo que os personagens enfrentaram até reencontrarem-se. Isso porque os personagens são reflexo do tempo que vivem e da faixa etária em que se encontram e, assim, o expectador que assistiu o primeiro filme em 1994 e a sequência no seu ano de lançamento vai se identificar com os sentimentos e com a visão de Jesse e Celine sobre o estado das coisas hoje. Tirando estes dois aspectos, “Antes do Pôr do sol” se torna um pouco irritante, assim como já era “Antes do Amanhecer”, há praticamente dez anos atrás. É uma experiência interessante a de acompanhar o amadurecimento e as mudanças na vida de dois personagens, bem como avaliar as mudanças pelo qual passa o mundo, através da conversa destes – porém, nunca passa de apenas um interesse sem muita relevância. Mais do que qualquer coisa, é um filme feito para os fãs da primeira parte. De resto, não arrebata.

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