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“Terror em Silent Hill”, de Chistophe Gans.

Silent HillRose, tentando entender o que aflige seu filha adotada de seis anos, vai com ela para a única pista que tem da origem da criança, uma cidade chamada Silent Hill, há muitos anos abandonada por conta de uma catástrofe. Mesmo sabendo destes eventos, e contra a vontade de seu marido, Rose ruma para a cidade.
A tão aguardada adaptação do famoso e idolatrado jogo de horror da game house Konami é bastante fiel à criação original. A cidade tem a atmosfera bem próxima da que os fãs conhecem tão bem, graças ao trabalho de fotografia e cenografia de profissionais que já trabalharam com Gans e até com David Cronenberg; a trilha sonora, composta pelo mesmo Akira Yamaoka do jogo original e por Jeff Dana, foge bastante das trilhas típicas do gênero – mais baseadas em orquestrações de corda – e segue o espírito do jogo, sendo construída muito mais em cima de ruídos e sons sintetizados; as atuações são suficientemente competentes e o argumento adaptado da estória original do game foi bem bolado, já que mudanças eram necessárias na transposição de uma mídia – vídeo game – para outra – cinema que tem suas próprias particularidades e exigências argumentativas.
Porém, uma das principais críticas ao filme, feita pelo portal brasileiro A-Arca, tem o seu embasamento, ainda que eu considere-a apenas parcialmente. No texto do dito site, é comentado que o principal ponto negativo do filme é não despertar medo no expectador, o que seria um grande defeito da adaptação, visto que o filme é justamente baseado em um jogo que é considerado dos mais competentes em explorar e causar horror – o autor do texto chega a mesmo a citar uma comparação com a clássica série “Além da Imaginação” por conta disto. Como disse no início, eu concordo em parte. Explico: de fato, o filme não causa medo, mas compará-lo com o citado seriado não é adequado, visto que “Silent Hill” é um longa muito mais violento. Desta forma, eu concordo que o filme de Chistophe Gans não cause medo, mas acho que o diretor consegue explorar consideravelmente a tensão do expectador e causar mesmo horror em algumas sequências do filme. É um defeito, mas não chega a estragar o filme. A meu ver, há outros três defeitos muito maiores no filme. O primeiro deles é a ausência do famoso e espetacular tema musical do jogo, umas das características mais importantes da identidade de “Silent Hill” – é de causar pena em qualquer fã não ouvi-lo em nenhum momento do filme. O diretor e o compositor Yamaoka perderem, no mínimo, uma grande oportunidade de homenagear a criação original da Konami. O segundo defeito é a mudança de protagonista do enredo, no lugar de Harry Mason entra Rose Da Silva (que sobrenome pouco norte-americano, não?). O diretor e o roteirista Roger Avary chegaram mesmo a conceber a estória sem um papel paterno, mas devido à reclamação do estúdio, introduziram Christopher Da Silva no argumento. Entendo que a mudança tem suas vantagens na adaptação, uma vez que uma mãe conseguiria cativar mais o público com o seu desespero e emotividade em relação à situação de sua filha, bem como o fato de transformar a mãe na protagonista aproxima o filme da leva atual de filmes de terror de sucesso, baseado em estórias originalmente criadas no oriente. No entanto, aos olhos dos fãs – me incluo aí no grupo -, isso não vai deixar de ser, de alguma forma, uma heresia algo desnecessária. Um trabalho de roteiro e atuação bem compostos tornaria um protagonista masculino tão cativante quanto um feminino. O último dos três defeitos, sob o meu ponto de vista, é a conclusão da estória. Não vou aqui ser insensato o bastante para revelar o fim do filme, basta dizer que o fato de Silent Hill ainda persistir no destino de Rose e da menina Sharon – esta mesmo de maneira provavelmente irreversível – é desnecessário. Adotar o final clássico do game, mesmo pensando em uma posterior sequência, não faria mal algum.
Mas eu diria que, entre mortos e feridos, o filme ainda tem como resultado final o mérito de manter, na adaptação, toda a atmosfera do jogo – toda a composição visual é excelente. E, além disso, o roteirista e o diretor ousaram uma modificação considerável, tornando o filme ainda mais violento do que o jogo que, se eu bem me lembro – já que o joguei há muitos anos -, explora e causa horror sem usar muito a violência gráfica. E, definitivamente, a sequência final na igreja impressiona pela violência – é uma verdadeira orgia de sangue. Isto é uma característica que difere bem a estória e a composição do filme daquelas que compõem o jogo, mas eu acho que a mudança entrou bem no roteiro concebido para o filme – a Alessa do longa-metragem sofreu tanto no seu passado que merecia realizar aquela vingança diabólica, de fato.
Assim sendo, é evidente que alguns fãs vão reclamar depois de assistir ao “Silent Hill” de Christophe Gans, mas é preciso entender que simplesmente transformar o que é um jogo em um filme apresentaria um resultado final pouco convincente e profissional – na mudança de mídia é necessário conceberem-se algumas adaptações, sempre. E, mesmo com alguns defeitos que não passam despercebidos e algumas liberdades criativas, “Silent Hill” é uma boa adaptação de um game e, provavelmente, uma bela introdução para uma série cinematográfica. Ou alguém aí duvida de “Silent Hill 2”?

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