Contrariando a vontade do autor, que considera o longa-metragem como uma obra a ser apreciada em exibições únicas em ambientes pré-definidos, o filme está sendo distribuído na internet lentamente – mais uma vez obra de jornalistas muito companheiros dos internautas. E, desta forma, a ambiciosa obra do artista (plástico, performático, entre outras vertentes) Matthew Barney cai nas graças e no discernimento do público.
Com quase 2hs 30min de duração, “Drawing Restraint 9” é um hiper-devaneio imagético, musicado dentro do mesmo estilo pela cantora e companheira de Barney, Björk. É evidente que o interesse de Barney não era em obter sentidos, significados, noções, em tecer uma estória em seu filme – apesar de que, pode-se dizer com algum esforço, que há uma. Nota-se isso, muito além do discurso do cineasta/artista, pela maneira como seu filme não apresenta diálogos entre os personagens: há apenas um, entre os dois protogonistas e um senhor oriental, em uma lenta sequência – como muitas – que retrata a cerimônia japonesa do chá – e nada mais. O objetivo principal ali é que tudo, todo e qualquer ato mais inofensivo e cotidiano passe pelo seu filtro estético, obtendo sequências visuais instigantes, altamente contemplativas, de beleza plástica inegável.
Vocês podem estar pensando como um filme que despoja-se da necessidade de sentido, ocupando-se mais em confundir o espectador, pode ter relevância e importância – em outras palavras, como um filme dessa natureza, ó raios, pode ser bom?? Saibam – alguns de vocês já devem saber, claro – que isso não faz um longa-metragem, a priori, ser ruim e dispensável. Os filmes de David Lynch, algumas das obras primas mais singulares de Ingmar Bergman e os longas mais sincréticos de Andrey Tarkovsky, cada um a seu modo e em diferentes níveis, provam exatamente o oposto. Contudo, “Drawing Restraint 9” não se encaixa entre eles.
Há dois problemas no projeto de Matthew Barney – e sua importância não deve ser ignorada, mesmo em um filme que supostamente não se identifica como tal. O primeiro problema é o viés em que foram concebidos os eventos do argumento – se é que existiu, de fato, a concepção de um argumento – em “Drawing Restraint 9”: o empacotamento de estranhos artefatos marinhos, a partida do navio baleeiro Nisshin Maru, o encontro, o envolvimento e a relação algo sadomasô do casal de “ocidentais”, a celebração do ambergris – nada acontece com naturalidade no filme, tudo é encenado de forma altamente cerimoniosa, tudo está envolto em uma série de procedimentos que me parecem excessivos – mesmo ignorando qualquer remota menção de significado. O segundo problema, os personagens, também é consequência direta do argumento do filme. Os poucos personagens do longa-metragem não despertam no espectador qualquer empatia ou interesse. E a pergunta que surge a partir desta constatação não é difícil de imaginar, é? Ok, eu falo: é possível, ó senhor, despertar atenção ou simpatia no espectador sem personagens minimamente instigantes? A resposta, ao menos, todo mundo sabe, né?
Como se vê, o prazer de assistir à “Drawing Restraint 9” não vai muito além do fato de que você conseguiu ver um filme que foi concebido para ser exibido apenas em museus enormemente famosos de mega-metrópoles do primeiro mundo – ou seja, qualquer coisa que fique bem distante da América Latina. Contudo, como Matthew Barney já deveria saber – antenado como é com toda a vanguarda pós-moderna – a internet e os seus navegantes não perdoam nada.
Se você quiser arriscar uma expectação do longa de Barney, seguem abaixo dois torrents do filme sendo distribuídos na internet:
Imagem ISO do DVD (4.3 GB)
http://rapidshare.com/files/12719675/DR9.iso.torrent.htmlvídeo em AVI (1,3 GB) [som incompatível com alguns media players]
http://rapidshare.com/files/12720104/DR9.avi.torrent.htmlfonte: GreyLodge
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