No ano de 2027, a Inglaterra encontra-se em uma situação caótica, tomada por ataques em retaliação à segregação entre britânicos “legítimos” e imigrantes, produzida pelo governo. Depois de mais de duas décadas em que nenhuma criança nasceu no mundo, o ser humano mais jovem, com 18 anos, é assassinado na Argentina. Neste cenário, um homem é contactado pela ex-esposa, que não via há quase 20 anos, e que agora pertence à um grupo de rebeldes, para providenciar documentos falsos para que uma imigrante possa atravessar o país em direção ao atlântico.
O diretor Alfonso Cuarón acerta em todas as frentes na composição do longa metragem, mostrando habilidade e apuro ímpares na condução do seu filme. O elenco está muito bem, com destaque absoluto para o britânico Clive Owen, em uma atuação excepcional que dosa, de maneira perfeita, sensibilidade e humor casual. A fotografia realista do filme explora com primazia a cenografia fabulosa e a montagem primorosamente crua, que dispensa quase o filme todo do uso de trilha sonora, aproximando o espectador dos acontecimentos na tela do cinema. Inspirados na idéia básica do livro de P.D. James, os roteirsitas, entre eles o diretor Cuarón, pontuam o argumento com breves instantes de humor e tomam enormes liberdades artísticas ao modificar profundamente a estória, ampliando ainda mais seu caráter sombrio e desesperançado. Alfonso Cuarón ainda teve muita cautela e inteligência ao recriar visualmente as sequências repentinas de violência do argumento composto por ele e seus roteiristas: ao invés de rechear a tela com violência gráfica detalhista e gratuita, o diretor escolheu compor estas cenas de maneira a torná-las mais críveis, graças à maneira cuidadosa com a sua exposição na tela, poupando o público de excessos desnecessários, e também ao modo como revela essa violência, colocando-a, sem qualquer sinal de aviso, em meio a acontecimentos cotidianos ou momentos de descontração e humor. Desta forma, a violência do filme não horroriza o espectador pela sua exposição em si, mas pela sua aproximação com o real. Isso só aconteceu devido a decisão de Cuarón e seus quatro colaboradores em aproveitar apenas a essência e atmosfera de desespero e caos sócio-político do livro, recriando boa parte dos acontecimentos, o que torna a estória muito melhor do que aquela originalmente criada pelo escritor P.D. James.
O conjunto desses elementos, técnicas, artifícios e idéias do diretor e sua equipe formam um longa-metragem de visual notadamente naturalista como eu não via há muito tempo, a despeito de seu conteúdo futurístico. É isso que faz “Filhos da Esperança”, brilhante do início ao fim, ser a distopia cinematográfica mais impactante que já vi desde “1984” – baseado no livro homônimo de George Orwell – e ser igualmente a prova mais recente de que os diretores mexicanos estão estraçalhando no cenário cinematográfico mundial. Enquanto cineastas como Steven Spielberg e Ridley Scott insistem em filmar a violência com requintes de detalhes gráficos, em se ocupar do passado e em filmar os dramas americanos – e tudo isso pode ser conferido em alguns de seus trabalhos mais recentes – os diretores de origem latino-americana exibem um vigor, perspicácia, conhecimento e inteligência que vai muito além disso. Para a sorte de todos os cinéfilos do mundo eles estão em alta, o que aumenta as chances de que mais filmes excepcionais e espetaculares, como este, podem estar ainda por vir.
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legenda (português):
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Alfonso Cuarón realmente surpreende a cada novo filme. Desde sua estréia com ‘A Princesinha’, passando pela subestimada (em minha opnião) adaptação/modernização do clássico de Charles Dickens ‘Grandes Esperanças’, até seu ‘tour de force’ consagratório chamado ‘E sua mãe também’ (uma das pérolas do cinema alternativo do início do século XXI), este mexicano vem mostrando (junto a Alejandro González Iñárritu e Guillermo del Toro, os outros ‘hermanos’ mexicanos passíveis de horas e horas de análise) uma forma inspiradora e gratificante de unir poesia, sensibilidade e técnica em filmes repletos de personalidade. Mesmo trabalhando sob controle absoluto de um grande estúdio, no blockbuster ‘Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban’ (o melhor da série para mim), Cuarón realizou um trabalho que exala personalide. Este novo ‘Filhos da Esperança’, que ainda não assisti por não ter passado no cinema daqui, junto a ‘Babel’ (do já citado Iñarritu) e ‘O Labirinto do Fauno’ (do também já citado Del Toro), compõem, mesmo que sem querer, a uma espécis de ‘trilogia mexicana’ que fez o mundo olhar com mais atenção e respeito a filmografia deste país tão castigado quanto o nosso. Passado, presente e futuro em três filmes que expõem, de maneira cruel e imparcial, a visão desoladora da humanidade por estes três carinhas que darão muito o que falar ainda!