Um homem e uma mulher, insatisfeitos com seus papéis em seus respectivos casamentos, aproximam-se de maneira inesperada em um subúrbio familiar americano. A volta ao bairro de um habitante que cumpriu pena por atentado ao pudor deixa os habitantes em estado de alerta.
“Pecados Íntimos” é o longa-metragem de Todd Field posterior ao elogiado “Entre Quatro Paredes”. Já que o argumento deste seu novo filme também retrata dramas familiares, nota-se a predileção de Field pelo assunto. Contudo, com a decisão de adaptar o livro de Tom Perrotta, o diretor ensaiou um passo além do que tinha dado em seu longa anterior, passando dos dramas de uma única família aos acontecimentos e personagens de um típico subúrbio dos estados unidos: a mãe hiper-protetora; as donas-de-casa que se pintam de moralismo, mas fantasiam e se ardem de desejo pelo vizinho galante; o marido que acha-se abafado e aprisionado pela liderança familiar da esposa, abandonando seus anseios da juventude em detrimento de tentar uma carreira mais respeitosa, sem sucesso; a mulher que nunca se adaptou ao perfil de esposa e mãe, empurrando com displicência exemplar ambas as funções; o homem que leva seu casamento à frente apenas pelo mero conforto das aparências, satisfazendo os seus anseios físicos fora dele e da maneira que acha mais cômoda e fácil, todos eles servem como analogia da sociedade americana como um todo e como uma tentativa de dissecar sua vida de aparências e falsos moralismos – e o diretor consegue formar este painel com o apoio do seu elenco, que forma um conjunto muito bem engrenado de atuações. Mas a maior ousadia de Todd Field reside em um único personagem desse microcosmo: o ex-presidiário que foi condenado por atentado ao pudor contra um menor de idade. A maneira como o personagem é abordado, consciente de seu desvio comportamental e de sua incapacidade de controlá-lo, é extremamente realista e audaciosa, pois afasta a possibilidade de recuperação do criminoso, influência direta da correção política e da pieguice que costumam infestar filmes do gênero.
Porém, a resistência do diretor ao moralismo e sentimentalismo mais pueril, que são o alvo da crítica do seu filme, não se mantém em pé até o fim, já que, nos últimos quinze minutos, Todd Field rende-se à tudo aquilo que combatia até ali, promovendo o epílogo dos principais personagens da maneira mais ordinária possível. Com isso, o diretor faz-nos crêr que todos os desejos reprimidos, fantasias e desvios não passam de experiências-limite que, no fim, servem apenas para mostrar o quanto a felicidade reside no terreno seguro da família.
Deste modo, Todd Field perdeu a oportunidade gigantesca de ser o autor de mais um longa-metragem excepcional, contentando-se em ensaiar ousadias que não atingem a plenitude. É um bom filme, mas a conclusão da película compromete o todo. Não há nada mais frustrante e lamentável do que isto: passar o tempo inteiro na expectativa da transgressão e testemunhar, no final, um atestado do moralismo mais simplista.
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legenda (português):
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Natan,
o que eu disse não tem qualquer coisa a ver com virada trágica de enredo – eu não me referi à isso em momento algum. O que eu disse é que, do modo que o longa-metragem se encaminhava, ele já era transgressor por si só, e isso sem qualquer menção de uma apoteose de tragicidade, à moda shakespeareana. Bastava manter o lógica do enredo, sustentando o realismo do comportamento dos personagens e das situações – e isso afasta também qualquer menção de gran finale hollywoodiano -, que este seria mais um grande filme de Todd Field. Com o epílogo que ganhou – que, não se engane, não passa de mais uma variação do chamado final feliz americano -, o filme serve, assim como acontece com “Beleza Americana”, como um ensaio tímido do devassamento da classe média daquele país, apenas para, ao seu cabo, fazer com que o seu coroamento soe ainda mais grandioso.
É isso.
Bem, concordo com sua crítica até certo ponto. Não acho que o filme necessariamente precisava ser declaradamente transgressor no final com alguma virada trágica do enredo. O final do filme não poderia ser mais perfeito, já que tanto o personagem Brad(Patrick Wilson) como Sarah(Kate Winslet) sucunbem ao desejo de não terem seu gran finale, sua tão aclamada redenção do espírito tão explorada pela Literatura Ocidental. Ademais, as referências ao clássico Madame Bovary não são gratuitas…
Sem mais delongas,
Natan
Só consegui baixar a primeira parte, as outras nao consigo, não tem outro site pra baixar?
ou inteiro?
Estou louca para ver esse filme, mas não passou na minha cidade!!!
Concordo a 100%. E o Patrick Wilson. Yummy. 😛