Apesar de ser autora de dois dos maiores mega-hits do final da década de 80 e parte dos anos 90 – “Luka” e “Tom’s Diner”, que inundaram as FMs do mundo inteiro -, Suzanne Vega é uma artista mais admirada nos círculos mais “cults” devido à uma idéia de sofisticação excessiva de seu estilo em grande parte de sua carreira musical. Talvez por sentir-se cansada de soar tão sofisticada, ou simplesmente por vontade de estabelecer mudanças, Suzanne lançou em 1996 um disco que foi o ponto de partida para um processo contínuo de desenvolvimento da composição de uma musicalidade muito mais algodoada e coesa, tanto quanto sempre foi a sua voz sutil: Nine Objects of Desire. Neste disco, a artista soa muito mais quente, tranquila e sonoramente frugal do que possa jamais ter sido nos anteriores. Este balanceamento delicado é vísível na bateria e teclados e na maneira como guitarra e pratos soam pontualmente preponderantes em “Headshots” – em que um pôster 3×4 de um rapaz persegue uma mulher que caminha pela cidade, causando-lhe imensa nostalgia afetiva – na percussão, violões e orquestrações cálidas e sensuais da bossa de “Caramel” – onde apesar do desejo intenso, uma mulher não se atreve a sequer arriscar uma relação que, ela sabe, não terá futuro – na melancolia amarga dos acordes do violão e piano, da percussão de sincopamento leve e ressoamento dos pratos de “World Before Columbus” – em cujos versos a cantora reflete sobre como o mundo, e não apenas a sua vida, perderia muito do seu sentido sem a companhia de quem ama – e na delicadeza madrigal da orquestração e nostalgia solar da guitarra e órgãos de “My Favorite Plum” – baseada em brilhante analogia sobre desejos não confessos por um fruto sem igual, distante e inalcançável.
Porém, quando decide-se a não compor faixas tristes e melancólicas, como em “No Cheap Thrill”, quando a bateria, guitarra, metais e vocais atrevem-se a soar mais agitados, e como em “Tombstone” – relato de uma alma penada que não dá muita atenção ao paraíso e não deseja mais do que descanso – cuja música, com piano, bateria e baixo tão bem compassados entre si, tenha toda a cara de um aconchegante e animado piano-bar de primeira, poucas vezes elam lembram a aspereza de composições anteriores – é o que ocorre com “Casual Match”, que lembra muito “Blood Makes Noise”.
Me impressiona é que tamanha beleza, inventividade e equilíbrio tenham sido tão mal compreendidos tanto por crítica quanto por público. Para citar apenas um exemplo, basta conferir a manufatura irretocável de letras e música de “Honeymoon Suite” para entender a injustiça sofrida por este trabalho de Suzanne Vega: se não bastasse o exotismo da melodia doce e metálica do violão e órgão, ainda temos a prova, através do relato episódico de um casal em lua-de-mel, que serve apenas para mostrar o quão diferente é a maneira de homens e mulheres encararem uma relação, toda a habilidade e competência que Suzanne Vega detém como uma verdadeira poetisa.
Mais do que um álbum de qualidade inquestionável, que sinaliza a maturidade artística de uma artista pela maciez e calor quase táteis de suas melodias e pela notável polidez da poética urbano-contemporânea de seus versos, “Nine Objects of Desire” serve para deixar claro que nunca devemos guiar nossas experimentações culturais pelo que diz a crítica ou mesmo pela resposta do público à um artista ou um de seus lançamentos específicos – é sempre deixar seus próprios ouvidos decidirem o que é bom ou não pra você.
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