Jovem mulher de família judia, que reside com sua família nos subúrbios de Paris e estuda filosofia, torna sua relação já conflituosa com a religião um tanto mais problemática devido à atração por um colega de trabalho mulçumano. Sua irmã, que não consegue se entregar ao marido por temer infringir preceitos judaicos, descobre que este a traiu e tenta vencer seus pudores.
Em “A Pequena Jerusalém” temos uma abordagem um pouco diferente da dinâmica dos conflitos de personagens femininos com os preceitos religiosos sob os quais levam suas vidas, já que, ao invés de retratar a submissão inexorável de mulheres aos deveres descritos por suas crenças e pelas figuras masculinas que as rodeiam em países onde essa realidade é a norma imperativa, o longa-metragem da diretora Karin Albou trata da dinâmica destes conflitos em um espaço (sub)urbano contemporâneo de uma grande metrópole ocidental. Assim, apesar do que pregam as religiões ainda poder ser preservado na sua essência, a troca de espaço e condição social mostra que a aplicabilidade apropriada de rígidas regras de religiões meso-orientais às mulheres é complicada pelas necessidades econômicas dentro desta realidade estranha à sua crença. As aspirações contemporâneas da personagem Laura, que pretende dedicar-se muito mais ao que dita a filosofia ocidental do que aos deveres e realizações possíveis de uma mulher dentro dos ensinamentos do judaísmo ortodoxo, são a materialização maior desta abordagem.
Mas como, apesar deste traço salutar, o longa é basicamente sobre os conflitos do mundo feminino, ele torna-se consideravelmente aborrecido. É verdade que em “A Pequena Jerusalém” o maior defeito do gênero – a afirmação de que o mundo oposto, o masculino, não detém complexidade e sensibilidade – não se faz tão intenso, mas ainda assim a idéia tradicional do cinema (e da sociedade como um todo, na verdade) sobre o que é genuinamente a representação dos mais profundos conflitos femininos (o matrimônio e suas problemáticas derivadas) deixa o filme com aquele simplismo modorrento dos longas que se centram desta forma na temática – aborrece particularmente a obsessão detalhista de Albou com os dramas do sexo.
Com tudo isso, apesar da abordagem primária diferente da maioria, este longa sobre mulheres acaba cometendo a mesma falha daqueles dos quais tenta diferir – e como seus sucessos são menores do que os defeitos recorrentes à temática que escolheu abordar, sua embarcação sossobra à meia-viagem. O final do filme, felizmente, salva o longa-metragem de estréia da diretora de ser um desastre que prometia ser completo.
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