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Mês: setembro 2007

“A Pele”, de Steven Shainberg. [download: filme]

Fur: An Imaginary Portrait of Diane ArbusCasada com um homem que acomodou-se como o fotógrafo dos catálogos de peles vendidas pelo seu pai rico, Diane Arbus sente-se um tanto cansada não apenas de servir como assistente no trabalho do marido, mas de seu desinteresse sexual por ela, apesar dele sempre a tratá-la com carinho e amor. É na chegada de um vizinho misterioso que Diane começa a considerar mais seriamente seu desejo de desprender-se desse cotidiano de afazeres domésticos e aparências.
Ao alugar o filme dirigido por Steven Shainberg, imaginei ser o longa-metragem uma biografia tradicional sobre a fotógrafa americana Diane Arbus. Se o subtítulo do filme – “Um retrato imaginário de Diane Arbus” – não tivesse sido excluído no lançamento brasileiro, as duas principais características que lhe retiram o caráter de biografia tradicional poderiam ser deduzidas já no momento em que se lê o nome do longa: primeiro, em “A Pele” não temos o registro da vida e trabalho da fotógrafa Diane Arbus, mas apenas o da transformação daquela mulher, até então conformada com sua vida familiar e seu cotidiano “engomado”, naquilo que viria a ser a fotógrafa atraída pelo que mais destoante poderia sua câmera registrar; segundo, este é, como informa o subtítulo, um registro de uma formação imaginária, razoavelmente fantasiosa, da mulher Diane Arbus para a grande artista – alguns dos acontecimentos e personagens do filme – caso do Lionel Sweeny de Robert Downey Jr., principal personagem do filme junto com Diane – foram criados no longa para, segundo a concepção de Shainberg, melhor ilustrar para o público a transição sofrida por Arbus. E aí é que está o grande problema: a abordagem ficcional de Shainberg, com o intuito de potencializar a essência daquilo que ocasionou a transformação de Diane – a sua atração pelo “freak”, o estranho, o incomum – deixa tudo o que circunda Diane Arbus com aspecto artificial: não apenas a relação entre Diane e Lionel não consegue convencer suficientemente como convence menos ainda a forma como Diane quis inserir seus estranhos amigos no círculo de sua família – o modo como ela quis tornar isto possível soa, ao contrário do que se pretendia, tão pouco natural quanto o contraste pretendido pelo diretor, apoiado por seu diretor de fotografia, entre o cotidiano asséptico, formal, “clean” e previsível da dona de casa com a sua atração pelo incomum, pelo marginal, pelo imperfeito e pelo deslocado socialmente. Talvez, atendo-se mais à realidade dos fatos da vida da fotógrafa, seu interesse pelo que foge à regra comum se tornaria mais crível, mas provavelmente se tornaria menos peculiar também. Da forma como foi concebido, “A Pele” não consegue ser natural na pretensão de capturar a gênese da visão nada ortodoxa que a artista teria em sua fotografia, compondo um retrato muito artificial do que pertence à esfera da “comum” quanto do “incomum” – ao contrário das imagens concebidas por Diane, que conseguia capturar tanto o ordinário dentro daquilo que normalmente não se enquadraria como tal quanto o incomum naquilo que, aparentemente, é aceito como ordinário.
Baixe o filme utilizando os links a seguir.

OBS: links funcionais mas não testados.

CD 1:
http://d01.megashares.com/?d01=8e7f14e

CD 2:
http://d01.megashares.com/?d01=1f3a348

legenda (português) [via legendas.tv – necessário registro]:
http://legendas.tv/info.php?d=8d6f822ee6f8715c96287b1d360a202a&c=1

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“How To Cope With Death”, de Ignacio Ferreras. [download: vídeo]

How to Cope With DeathNeste curta-metragem bem-humorado de três minutos dirigido por Ignacio Ferreras, o arauto da morte chega à residência de uma senhora, que encontra-se esparramada e adormecida em sua cadeira de balanço, para carregar a sua alma para o descanso eterno. Espreitando de modo maléfico a sua próxima vítima, a morte prepara-se para o seu ato final como uma baleia que brinca com sua presa, jogando ao ar diversas vezes antes de devorá-la. Mas, coitada, a “dona morte” não tem a mais remota do que lhe aguarda – ela nunca deve ter se deparado com uma velhinha destas que é, com o perdão do termo, “do caralho”. Assista o vídeo neste link do YouTube ou baixe utilizando este outro link.

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Versão 5.0 Beta.

seteventos.org 5.0 BetaAlém da mudança de design, que gosto de fazer mais ou menos a cada 6 meses, agora os álbuns de fotos foram agregados dentro do blog: ali em cima, no menu superior, você pode acessar o álbum utilizando a aba apropriada. Contudo, agora os usuários devem se registrar gratuitamente no blog para ganhar acesso as galerias de fotos. Não há motivos para desespero: no sistema de blogs WordPress , isso é a coisa mais simples do mundo: siga o link de registro ali na barra lateral e em poucos cliques você vai receber uma senha no seu e-mail, com a qual você poderá desfrutar da seção de fotos do blog.
Penso também em fazer uma galeria para minhas próprias fotos. Vamos ver.
Além dessa mudança estrutural, também vou tentar variar um poucos mais os temas dos textos: além de fazer as resenhas de cinema, música e vídeo de sempre no fim de semana, vou procurar publicar algo variado, que chamo de “amenidades” durante o meio da semana. Espero que eu tenha tempo suficiente para suprir esse meu desejo de escrever sobre outras coisas – até já tenho alguns textos feitos mais vou publicar apenas no meio da semana que vem.
Outra coisa a ser notada é a adição de alguns links externos ali na lateral esquerda do blog: se trata das minha contribuição nessa interminável ladainha do “social” na web 2.0. Meu Lastfm, DeviantART, Facebook e MySpace estão ali, se alguém quiser mesmo espiar tudo aquilo que eu ouço, aquilo que eu fotografo e meu mascaramento social na internet.
Gostaram? Odiaram? Falem logo! Se quiserem apenas espiar o que os outros estão dizendo aproveitem a nova funcionalidade do blog, que permite que você leia os comentários feitos nos textos sem precisar sair da página principal: é só clicar em “veja aqui mesmo o que foi dito”.
Espero que tudo de certo com o novo tema – seria muito chato voltar ao antigo por conta de problemas…Claro, lembrem que essa é uma versão beta do novo layout – qualquer coisa é só dar um grito!

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BlogDay 2007.

Blogday 2007BlogDay, o dia em que blogueiros do mundo inteiro dedicariam um post para indicar aos seus leitores blogs interessantes que curtem, foi ontem, mas concedi-me o direito de fazer esse texto com um dia de atraso – até porque a dinâmica do seteventos.org é um pouco diferente da maior parte dos blogs, com atualizações mais semanais do que diárias. Eu sei que não participei das outras edições do evento – mas antes tarde do que nunca. Então seguem aí minhas dicas, todas imperdíveis:

Pelvini– o Pelvini é um blog que vai além dos textos sobre experiências pessoais, pois o autor se propõe um desafio muito saboroso: os leitores apresentam um tema e o autor compõe um texto, de grande qualidade literária, a partir do tema proposto. O resultado são crônicas, contos e poemas breves mas deliciosos.
Cute Overload – se existe um blog no mundo onde a palavras “fofo” é a definição mais exata é este. Visitadíssimo e um dos blogs americanos mais famosos, O Cute Overload expõe toneladas – mesmo – de fotos enviadas para o seu autor em que os protagonistas são bichinhos: dos clássicos cães e gatos aos mais exóticos, como pererecas e gambás, seja em momentos caseiros como em peripécias mais épicas.
Single White Male – o blog do B., como prefere ser chamado o autor, escreve textos no estilo “drops” sobre tudo o que lhe possa interessar no momento, além de oferecer aos leitores reflexões genuínas e sinceras sobre suas experiências pessoais sem ser muito explícito – o que é o seu diferencial.
Cliptip – como diz o nome, este é um blog com dicas sobre videoclipes interessantes, geralmente sobre lançamentos bem recentes.
Daiblog – este é um bom blog apenas sobre cinema, cuidadosamente atualizado com grande frequência para tecer ótimos comentários sobre os mais recentes lançamentos.

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Marina Lima – Pierrot do Brasil. [download: mp3]

Marina Lima - Pierrot do BrasilDe certo modo ignorado, Pierrot do Brasil permanece como um dos maiores êxitos autorais recentes de Marina devido à qualidade de seus arranjos e as letras que versam, claro, sobre amor e paixão de forma aberta. “Pierrot”, bem ao modo “comissão de frente”, apresenta um resumo das faixas mais swingadas que vem pela frente: com direito a introdução que cita “Delicado” de Waldir Azevedo e epílogo com um piano solo bem boêmio, a música tem melodia moderna, com uma programação eletrônica sincopada e dançante ocupando todo o fundo da faixa enquanto uma guitarra de acordes agudos faz frente ao vocal sempre sedutor da cantora. Aliás, sedutores são os versos de “Na Minha Mão” e “Leva (Esse Samba, Esse Amor)”. Na primeira, em cuja melodia a guitarra divide-se em uma face mais sensual e aflitiva e outra mais plácida e a bateria entre uma rítmica sexy e inquisidora e outra mais reflexiva, ouvimos Marina concluir na letra que comenta sobre feridas de amor que “se todo mundo é mesmo gay, o mundo está na minha mão”. Na segunda, cujo dueto com Sérgio Britto mais atrapalha do que ajuda, escutamos ao som de um loop de constante tilintar, bateria eletrônica bem marcada e orquestração de metais adicional, versos em que a cantora questiona algúem sobre seu modo de agir e encarar o amor.
Contudo, logo o ouvinte descobre que a verdadeira beleza deste disco está escondida nas baladas “Deixa Estar”, “Uma Antiga Manhã” e “Portos e Vinhos”, confissões tocantes da cantora sobre seus insucessos afetivos e excelentes amostras da simbiose bem-acabada entre melodia e letra: a música doce da triste “Deixe Estar”, com destaque para a bela comunhão melódica entre piano e bateria, fecha com perfeição com a letra cheia de metáforas muito bem colocadas sobre amantes que sofrem com o rompimento de um amor que, apesar de tão intenso e apaixonado, não iria para frente; a bateria suave que dá o andamento de “Uma Antiga Manhã” e abre terreno para sutis frugalidades do teclado e um solo melancólico de clarinete é a parceira ideal da letra em que a cantora comenta sobre a beleza traiçoeira de um amor que já acabou; e para os versos amargurados de “Portos E Vinhos” a melodia silenciosa, com pouca coisa mais do que o ecoar de alguns excassos acordes de guitarra, teclado e piano, abre terreno para que atentemos às letras, guiadas pela interpretação sem resvalos de Marina.
Em Pierrot do Brasil a malícia orgulhosa, a petulância sensual e as segundas intenções das canções mais agitadas são o que mais agrada o ouvinte no seu primeiro contato com o álbum, mas é a sentimentalidade sincera das baladas, nas quais Marina mergulha fundo em seus próprios conflitos e dramas, que faz este disco despontar como poucos na discografia da artista – não é à toa que a própria compositora diz que o disco, na realidade, era um modo de trabalhar o eterno remoer dos amores desfeitos.
Baixe o disco utilizando o link a seguir e a senha abaixo para descompactar os arquivos.

senha: seteventos.org

http://www.gigasize.com/get.php/3195455546/lima_pierrot.zip

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“A Pequena Jerusalém”, de Karin Albou.

La Petite JérusalemJovem mulher de família judia, que reside com sua família nos subúrbios de Paris e estuda filosofia, torna sua relação já conflituosa com a religião um tanto mais problemática devido à atração por um colega de trabalho mulçumano. Sua irmã, que não consegue se entregar ao marido por temer infringir preceitos judaicos, descobre que este a traiu e tenta vencer seus pudores.
Em “A Pequena Jerusalém” temos uma abordagem um pouco diferente da dinâmica dos conflitos de personagens femininos com os preceitos religiosos sob os quais levam suas vidas, já que, ao invés de retratar a submissão inexorável de mulheres aos deveres descritos por suas crenças e pelas figuras masculinas que as rodeiam em países onde essa realidade é a norma imperativa, o longa-metragem da diretora Karin Albou trata da dinâmica destes conflitos em um espaço (sub)urbano contemporâneo de uma grande metrópole ocidental. Assim, apesar do que pregam as religiões ainda poder ser preservado na sua essência, a troca de espaço e condição social mostra que a aplicabilidade apropriada de rígidas regras de religiões meso-orientais às mulheres é complicada pelas necessidades econômicas dentro desta realidade estranha à sua crença. As aspirações contemporâneas da personagem Laura, que pretende dedicar-se muito mais ao que dita a filosofia ocidental do que aos deveres e realizações possíveis de uma mulher dentro dos ensinamentos do judaísmo ortodoxo, são a materialização maior desta abordagem.
Mas como, apesar deste traço salutar, o longa é basicamente sobre os conflitos do mundo feminino, ele torna-se consideravelmente aborrecido. É verdade que em “A Pequena Jerusalém” o maior defeito do gênero – a afirmação de que o mundo oposto, o masculino, não detém complexidade e sensibilidade – não se faz tão intenso, mas ainda assim a idéia tradicional do cinema (e da sociedade como um todo, na verdade) sobre o que é genuinamente a representação dos mais profundos conflitos femininos (o matrimônio e suas problemáticas derivadas) deixa o filme com aquele simplismo modorrento dos longas que se centram desta forma na temática – aborrece particularmente a obsessão detalhista de Albou com os dramas do sexo.
Com tudo isso, apesar da abordagem primária diferente da maioria, este longa sobre mulheres acaba cometendo a mesma falha daqueles dos quais tenta diferir – e como seus sucessos são menores do que os defeitos recorrentes à temática que escolheu abordar, sua embarcação sossobra à meia-viagem. O final do filme, felizmente, salva o longa-metragem de estréia da diretora de ser um desastre que prometia ser completo.

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“Twit-Twit”, de Fabien Dumas, Benoit Guillou, Jerome Houlier, Cecile Jestin e Baptiste Lemonnier. [download: vídeo]

Twit-TwitUm robô tocador de banjo do velho-oeste viaja por trilhos de trem com o seu pequeno vagão quando se depara com, ora vejam, um pedágio. Duro como qualquer pessoa que vive da arte, ele não tem muitos trocados para passar pela chancela e seguir em frente. Logo, no entanto, ele vai mostrar que o mundo sempre foi dos espertos e aproveitadores – mesmo no velho oeste, e mesmo que nesse velho-oeste exista robôs. Assista este simpático curta de animação neste link do YouTube ou baixe o vídeo utilizando este outro link.

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