Psicólogo do setor de recursos humanos da filial de uma grande empresa alemã na França é solicitado por um dos seus altos funcionários a investigar sigilosamente a aparente perturbação no comportamento de outro executivo da empresa.
O argumento da trama de “A Questão Humana” tem como suas maiores qualidades a ousadia temática e o trabalho bem feito no alinhavamento dos elementos que constituem suas bases: enquanto personagens narram a participação de seus pais nos medonhos extermínios perpetrados na segunda guerra mundial na busca pelo ideal nazista de perfeição racial, um paralelo é lenta e sutilmente traçado com as estratégias de seleção de corte de funcionários para reduzir custos e otimizar a produtividade da iniciativa privada. Auxiliada pela fotografia que imprime a mesma frieza do ambiente às expressões humanas e pela encenação silenciosa das sequências, a comparação tecida pelo diretor ganha amplitude e peso, o que não quer dizer que ela chegue a convencer o espectador – há uma distância exosférica entre a execução gratuita de pessoas com o pretexto de promover o aperfeiçoamento da raça humana e os critérios de seleção no corte de funcionários que, por exemplo, inclui dispensar alcoólatras baseando-se no pressuposto de que sua possível instabilidade é sempre um risco a ser considerado. Mas se o único senão de “A Questão Humana” fosse a idéia discutível de estabelecer uma relação de similaridade entre a desumanidade do regime nazista e das políticas corporativas do sistema capitalista, o resultado não teria sido tão ruim.
O problema mais óbvio é a duração colossal do filme. Nicholas Klotz e a roteirista Elisabeth Perceval não parecem ter qualquer pudor em saturar o longa-metragem ao esticar de forma imensurável sequências periféricas – quando não totalmente descartáveis -, gastando mais de duas horas de filme para contar algo que poderia ser sintetizado em uma hora e meia sem qualquer prejuízo àquilo que ambos se propõe a mostrar.
Não bastasse esse despropósito ser prejudicial por si só, ele ainda torna mais profundo o maior equívoco desta película: a abordagem pretensiosa tanto do diretor quanto de sua roteirista. Muito além de ser um problema dos temas tratados, seja na idéia básica do argumento – baseada em livro de François Emmanuel – ou nos outros componentes da trama – como as críticas pontuais às políticas de combate à imigração ilegal e ao desprestígio da música erudita e folclórica em detrimento da música eletrônica contemporânea -, a falha subsiste na forma como eles foram compostos no roteiro e conduzidos na materialização do longa-metragem, sendo impregnados de uma convicção moralizante, de uma certeza pré-concebida de Klotz e Perceval de que seus pontos de vista constituem a verdade única e absoluta. Nas mãos de um diretor que sabe promover, sem tropeços, uma mistura mais coesa e sucinta de suas ambições e concepções na trama, “A Questão Humana” teria sido convertido em um filme que não afogaria sua narrativa em um pedantismo de dimensões oceânicas – ou, pelo menos, o faria com muito mais propriedade e fundamentação.
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legendas (português):
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Penso que a crítica feita aqui em relação ao filme A Questão Humana é totalmente descabida, não procede. Vi pela primeira vez o filme apenas no fim do ano passado, 2009, e achei tocante, belo, difícil de assistir sim, mas absolutamente intenso.
Ao sair do cinema, estava completamente atordoada e frustrada. Minha impressão era de que pegaram um tema interessante, mas não souberam dar um tratamento adequado. Foi um filme longo, com muitos assuntos periféricos, conduzidos superficialmente.
Mas ao ler algumas críticas, senti-me tão “tapada”..rs…afinal de onde tiraram tantas considerações… como conseguiam uma visão tão positiva de tanta desconexão??
Finalmente, encontrei um ser pensante que não fez leituras e subleituras, enaltecendo a suposta excelência de ” A Questão Humana”.
No mínimo, não fiquei isolado no descontentamento.
Desculpe, Cris, um ano e meio após. O filme e perfeito e vai direto ao ponto. Discute a linguagem da empresa/ eficiência capitalista. De certa forma, o politicamente correto. A forma como a divisão, especialização e a linguagem suavizada impõe ao ser humano o mesmo totalitarismo e desumanização propostos pelo nazismo. O filme peca um pouco por dar um lado pessoal ao personagem principal, ausente no livro. Mas o final é tocante e intenso. Pura linguagem.