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Orville Peck – Bronco [download: mp3]

Orville Peck, ruivo sul-africano radicado nos Estados Unidos, é conhecido por cobrir parte do rosto com máscaras algo carnavalescas, um recurso que denota algo de pretensioso, e assim seria normalmente premiado com a plenitude da minha indiferença. Junte a isso suas doses (perdão pelo trocadilho) cavalares de country, e seria quase uma total certeza que ele não passaria pelos meus ouvidos. No entanto, quando acidentalmente (ou não) o “deus” algoritmo atirou um dos seus discos na minha frente, resolvi arriscar, inicialmente movido por uma curiosidade mórbida – e confesso que sua música não ofendeu minhas sensibilidades sonoras.
Dono de uma voz ao mesmo tempo possante e virtuosa, o rapaz consegue cavalgar galantemente pela herança country americana ao mesmo tempo que desvencilha-se razoavelmente da cafonice provinciana que normalmente envolve o gênero, embalando-o em uma delgada embalagem rock. “The Curse Of The Blackened Eye”, segunda faixa do disco Bronco e que retrata um homem tentando cicatrizar os traumas de um relacionamento abusivo, é uma amostra disso: a percussão sutil e elegante, adornada por um baixo sedutor e acordes discretos no violão e guitarra, encanta pela sua simplicidade melancólica. Em “Iris Rose”, uma ode tocante a sua falecida avó, o cantor pega seu banjo para fazer companhia a bateria e aos violões em um canto emotivo, que no refrão derrama-se na instrumentação volumosa e na abatida ternura do trompete para adornar seus versos comoventes. Em seguida uma gaita distante e etérea introduz a tônica nostálgica da power ballad “Kalahari Down”, em cuja melodia o cantor não economizou em orquestração de cordas para andar ao lado da bateria e violão que sonorizam as letras que evocam a sua juventude nos subúrbios e paisagens áridas da África do Sul.
Nem tudo são lamentos, porém: “Bronco”, a faixa título do disco logo chega em compasso acelerado, trazendo vapores do Elton John mais entusiástico nas guitarras sinuosas e na bateria acelerada que recheiam as letras que insinuam um paralelo entre o entusiasmo de um cowboy em um rodeio e o inevitável jogo de quem aposta sua sorte em um flerte. Já em “Trample Out The Days”, os violões se unem com jovial energia a bateria e ao baixo no refrão para que Orville possa deixar de lado suas memórias e sua origem para narrar o seu desejo de tirar o máximo do que sua vida na nova terra, a Califórnia, pode lhe oferecer – e ao que parece, ele parece estar conseguindo, já que ele utiliza a vigorosa melodia compassada de “Any Turn” para relatar o frenesi da sua rotina com sua banda na estrada. O disco se encerra com um dueto com Bria Salmena na balada “All I Can Say”, onde guitarras, violão e bateria servem de fundo ao lamento de alguém que prepara-se para abandonar uma relação que já sabe ter perdido o rumo. Orville Peck, contudo, tem talento suficiente para não perder o seu – desde que abandone artifícios pueris como o da máscara para revelar sem receios o seu trabalho promissor.

Baixe: https://drive.google.com/file/d/128bCkYFvxSu46k6YbQn6-AZ8TEB8xoO6/view?usp=sharing

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