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Categoria: musica

críticas e comentários sobre CDs de música.

Tori Amos – To Venus And Back. [download: mp3]

Tori Amos - To Venus And BackNo período das sessões de from the choirgirl hotel, disco soturno e intimista, e da turnê Plugged ’98, que teve enorme sucesso, Tori Amos resolveu colocar um fim na vida de solteira, casando-se com seu engenheiro de som, e conseguiu ter uma filha. Em uma artista cujo trabalho é altamente influenciado por acontecimentos de sua vida pessoal e de sua visão de mundo, isso não iria passar sem ter reflexos em sua música. Como a cantora americana entrou definitivamente em um período de tranquilidade e ausência de conflitos, esta calma e plenitude se refletiu na trabalho como um todo: os dramas pessoais, que antes envolviam cada disco tematicamente, agora cedem lugar a uma variação maior de temas mais universais e menos relativos tão somente à realidade de Tori.
O primeiro disco, entitulado “Venus: Orbiting”, traz músicas novas, enquanto o segundo disco, chamado “Venus: Still Orbiting”, traz as perfomances ao vivo mais esfuziantes da turnê de 1998. E é com “Bliss” (lançado como o primeiro single) que Tori Amos abre o disco de música inéditas. Com um piano bem menos retumbante e clássico, que disputa lugar na melodia em pé de igualdade com os outros instrumentos, também encontramos frugalidades eletrônicas que encorpam as cores opressivas de algumas canções do álbum, “Bliss” sendo uma delas. A letra, de dífícil compreensão literal até mesmo em inglês – uma das marcas da genialidade de Tori -, fala sobre como lutamos, muitas vezes sem sucesso, para superar as influências daqueles à quem descendemos – no caso específico da música, a figura paterna. “Juárez” amplia ainda mais a variedade temática do álbum, tratando do drama da exploração sexual, violência e assassinato de jovens mulheres na cidade mexican que dá nome a canção. A inspiração para a música surgiu quando Tori fez shows de sua turnê próximo à fronteira com o México. A melodia amplia a macabrez, medo e claustrofobia da letra ao aplicar um filtro no vocal da cantora, tornando-o mais sôfrego e perturbador. O piano, de um minimalismo excruciante, repete acordes curtos e breves durante toda a música, o que amplia muito mais o seu efeito do que se tivesse sido utilizada uma harmonia mais variada. A bateria e percussão são construídas em uma mistura de eletrônico e acústica, conferindo um ritmo fanstático à canção. A letra da belíssima “Concertina” fala de como, as vezes, podemos nos revelar diferentes de como normalmente somos, como se fossemos feitos de diferentes personalidades. A melodia investe em uma orquestração sintetizada de cordas e na mistura da acusticidade do piano com uma bateria de aroma eletrônico, fechando-a de maneira perfeita com o cantar extremamente doce de Tori na canção. “Glory of the 80s” é uma ode às cafonices da miscelânea cultural, bem como à ingenuidade que ainda sobrevivia na década de 1980. Figuras das mais exóticas e simbólicas habitam uma típica festa oitentista na letra da música. A melodia é sincopadamente pop, cheia de frugalidades eletrônicas que soam nostálgicas. Em seguida temos a beleza introvertida de “Lust”, cuja melodia é de uma espetacular sensualidade contida, mais uma vez misturando o som acústico do piano com uma bateria eletrônica extremamente minimalista – é nesta canção que sentimos mais a força do piano de Tori na música, fugindo da sonoridade mais contemporânea da cantora. A letra fala de como o amor nos transcende, misturando paixão e sexo, carne e espírito – é, no disco, o sinal mais claro da influência do casamento sobre o trabalho musical de Tori. Com melodia que segue o mesmo caminho trilhado na faixa anterior, apenas com o diferencial de construir uma sensualidade menos latente, mais sutil, “Suede” fala sobre o poder que as pessoas tem – particularmente as mulheres – ao construírem jogos de sedução. “Josephine”, uma das canções mais lindas já compostas por Tori, é de fazer chorar de emoção qualquer fã da bárbara compositora americana. A melodia da canção foi separada em dois canais: uma para a bateria – em delicado tom marcial – e outro para todo o restante. O resultado disso são duas versões para a mesma canção: a oficial, com a instrumentação completa, e outra sem a bateria – que mais tarde surgiu na internet como versão alternativa. Na canção, Tori explora sua voz com suavidade, deliciando o ouvinte com a beleza dos versos que falam sobre a primeira esposa de Napoleão Bonaparte – a música é explêndida, chegando a dar pena por ser tão curtinha. “Riot Poof” surpreende os fãs de Tori com sua sonoridade esquisita, que lembra um reggae eletronizado – e o mais próximo que consigo chegar de uma definição para melodia, cheia de eletronismos do teclado de Tori e nenhum Bösendorfer – para os leigos em Tori Amos, o piano retumbante da cantora. A letra preserva a esquesitice da melodia, sendo constituída por inspiradíssimos versos indecifráveis que falam sobre uma fictícia explosão da homossexualidade – especialmente a masculina – e o modo como os homens heterossexuais normalmente a recriminam. Mas nada no disco consegue ser tão experimentalista quanto a canção “Dátura”. A letra da música mistura uma lista enorme de nomes de plantas – Dátura sendo uma delas -, recitadas à esmo, com versos cantados em um tonalidade algo mântrica sobre Canaã. A melodia não é menos viajante, sendo dividida em dois momentos distintos, um onde vocais múltiplos de Tori se fundem à acordes cíclicos de piano e à bateria eletrônica e acústica compassadas, e outro, quase sem conexão melódica com o momento anterior, leva a melodia construída com sonoridades do teclado e bateria acústica para algo ainda mais transcendental, ampliando a encriptação de significados da canção. “Spring Haze” abandona as experimentações, voltando-se para uma construção melódica mais tradicional, e não por isso menos bela. O piano, assim como em “Lust”, ganha destaque novamente, tendo presença elevada na harmonia da canção, algo etérea e diáfana, como sugere o título. A letra fala exatamente disto, sobre como as coisas tendem a acontecer sem que percebamos que elas lentamente estão se formando e definindo nosso destino. E o primeiro disco fecha com a fantástica “1,000 oceans”, outra balada espetacular composta por Tori, com um piano arrepiantemente hiper-emocional. A compositora já explicou que a gestação da canção foi das mais difíceis, onde a melodia e certos trechos da letra surgiram em um sonho, pela madrugada, cantada por uma anciã africana. Ela levantou, gravou o que lembrava da música e ficou semanas tentando transforma-la em algo que não sabia ao certo o que era. A forma final da melodia e letras só surgiu quando seu marido, Mark Hawley, se sentiu profundamente ligado à canção, que de alguma forma amenizava o sofrimento pela perda recente de seu pai. E foi aí que Tori entendeu sobre o que era a música: a dor de perder alguém. É uma das canções mais acessíveis de Tori Amos, e certamente a música “mais fácil” do álbum de estúdio.
O segundo disco, “Venus: Still Orbiting”, composto de rendições ao vivo de canções de Tori na turnê do disco from the choirgirl hotel, inicia com um dos maiores clássicos da cantora, sempre presente nos seus shows: a poderosa “Precious Things”. E o Böse revela todo o seu poderio na gravação ao vivo, repleto de emotividade. A bateria, guitarra e baixos também estão perfeitos e acompanham com perfeição as loucuras improvisacionais de Tori nos vocais e nos acordes de piano. Em seguida temos “Cruel”, que é uma das faixas mais simbólicas da mudança de sonoridade na música de Tori Amos, iniciada em from the choirgirl hotel. Ao contrário da versão mais eletrônico-gótica feita em estúdio, “Cruel” ganhou dançante esplendor eletro-rock, particularmente na delirante sequência de improviso da performance ao vivo – e Tori improvisa como ninguém em seus shows. A terceira faixa leva o público ao delírio, pois é uma das canções mais adoradas de Tori, “Cornflake Girl”. E, como normalmente faz, é nesta faixa que Tori se mostra mais relaxada com o público, brincando desprentensiosamente com seus vocais. “Bells for Her” ganha, ao vivo, um piano mais sorumbático e pesado do que no álbum Under The Pink. “Girl”, por sua vez, preserva muito de sua identidade original, da forma como a conhecemos em Little Earthquakes, preservando a eletricidade dos acordes da guitarra e a presença inconfundível do piano. Na faixa seguinte, Tori toca um de seus esplendorosos B-sides, “Cooling”, explicando para o público, no seu típico informalismo, como ela “não quis” entrar em nenhum dos álbuns e preferiu sempre ser executada ao vivo. E é assim que ela mostra toda o seu apelo emocional, com voz e Bösendorfer tão somente. A próxima faixa capta o deslumbramento do público ao perceber, depois da introdução algo lúdica que Tori faz, que a canção executada seria a pequena mas sempre marcante “Mr. Zebra”. “Cloud on my Tongue” também é fiel à sua versão no disco, resumindo sua melodia aos belos acordes de piano. E mais um B-side revela toda a sua plenitude em uma versão ao vivo, retratada durante a passagem de som. “Sugar” ganha aqui uma sonoridade muito mais marcante do que a gravada em estúdio, com bateria e piano encorpados e inesquecívies vocais gritantes – amamos Tori mais ainda quando ela solta a voz com vontade. Depois desse delírio todo, ouvimos “Little Earthquakes” e “Space Dog”, ambas bastante parecidas com suas originais, ainda que adaptadas para execução ao vivo. A penúltima faixa é (The) Waitress, surgindo como uma perfomance “turbinada” da versão de estúdio, intercalando, à imagem daquela, momentos de calma com sequências de absoluta ira rock. É nesta faixa que Tori dá vazão total à sua habilidade improvisacional, construindo uma sequência final espetaculosa, explosiva e orgásmica – sim, ou aquele delírio vocal no final não é praticamente um orgasmo? Fechando este fantástico registro ao vivo, temos o último B-side gravado na passagem de som, “Purple People” (Christmas in Space). O que impressiona neste registro ao vivo da música é a forma como, mesmo preservando a maior parte da estrutura da música gravada em estúdio, Tori consegue conceber uma versão ainda mais plena de emoção e sensibilidade. Mais uma vez, o disco é fechado de maneira genial.
to venus and back foi o último trabalho de Tori com composições inéditas de sua autoria na gravadora Atlantic Records. E foi um presente e tanto de Tori para os seus fãs. Na sua primeira parte tivemos o ampliamento da pesquisa melódica iniciada em from the choirgirl hotel, e que foi aprofundada ainda mais em to venus and back: Orbiting. Aqui, o piano volta a emparelhar sua sonoridade com os outros instrumentos, sendo que até mesmo os vocais, algumas vezes distorcidos, cedem lugar para experimentalismos com frugalidades eletrônicas, criando uma atmosfera algo opressiva em algumas canções e compassivo-melancólica em outras. As letras da canções são tão audaciosas quanto a melodia que as completa, fazendo deste disco um dos mais liricamente complexos da cantora americana. A segunda parte do trabalho, por sua vez, faz o registro definitivo da energia da performance ao vivo desta esplêndida artista que, percebe-se, sente-se mesmo realizada neste momento de contato tão íntimo e emocional com aqueles que a idolatram. É uma obra fenomenalmente completa e imperdível. Baixe já o álbum duplo através dos links abaixo.

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Disco 1: Venus: Orbiting
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Disco 2: Venus: Still Orbiting
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Sinéad O’Connor – Universal Mother. [download: mp3]

Sinéad O'Connor - Universal MotherSinéad O’Connor lançou em 1994 aquele que considero o seu melhor disco até hoje. Universal Mother é um apanhado fantástico de músicas em que a compositora derramou seus sentimentos, frustrações e dores, dedicando a mesma intensidade emotiva na interpretação das canções e na composição das melodias. O disco abre com “Germaine”, trecho de um discurso da escritora feminista Germaine Greer. Logo em seguida somos surpreendidos com o cantar rascante de Sinéad em “Fire on Babylon”, música de bateria forte, metais messiânicos e cordas que remetem à música tradicional àrabe onde O’Connor faz das tripas coração, tamanha a emoção com que canta. As letras são um primor do trabalho de composição da artista irlandesa, uma vez que declaram os horrores da guerra usando o mito bíblico de Babilônia do livro das Revelações/Apocalipse como analogia. A faixa seguinte, “John, I Love You” substitui o tom urgente por uma emotividade construída em uma melodia bem mais delicada, que lembra vagamente uma canção de ninar. A letra é também repleta de emoção, já que é um hino de amor materno, onde a mãe tenta mostrar ao filho os desafios, frustrações e belezas da vida. Quando a música prossegue para o encerramento, a melodia do piano sofre sutil alteração, unindo sua harmonia com a melodia da música seguinte, “My Darling Child”, mais uma canção sublime com letras simples, compostas por frases de admiração e amor de uma mãe para sua criança. Levando a temática do disco o mais próximo possível de sua essência, a próxima faixa traz um dos filhos de Sinéad O’Connor, Jake Reynolds, na época ainda criança, cantarolando versinhos ingênuos e breves sobre a condição humana. “Red Footbal” leva à frente a temática da canção que a precede, mas em uma composição mais madura e reflexiva que traça uma analogia entre o sofrimento de um animal aprisionado em um zoo e a opressão pelo qual muitos seres humanos passam. A melodia, que inicia-se introvertida e reprimida, apresentando apenas piano e voz, caminha aos poucos para uma orgia harmônica onde cresce pouco a pouco a bateria, até explodir em um climax revanchista. Sucedendo esta canção temos um cover de Kurt Cobain, “All Apologies”, cuja melodia despoja-se de excessos, sendo composta apenas de voz e violão algo minimalista, e com letras que questionam as relações humanas. As duas músicas seguintes estão, com certeza, entre as mais belas canções de Sinéad: ambas as canções tem suas melodias compostas apenas pela voz de Sinéad, em um cantar que concentra inacreditável emoção e dor, e por um piano de acordes cortantemente melancólicos, de levar qualquer ouvinte às lágrimas. As letras também são emocionantes: em “A Perfect Indian”, composta pela própria cantora, Sinéad canta a dor de alguém que só vê alegria em sua família quando esta é pura aparência – como um sorriso forçado em uma foto, por exemplo – e em “Scorn Not His Simplicity”, temos a sensação de impotência de uma mãe diante da descoberta de que seu filho não é como as outras crianças – a letra não deixa claro se seria uma defiência física ou cerebral ou um problema decorrente de um acidente. É de dar um nó na garganta o sentimento de culpa e abandono que esta mãe experimenta ao ter idéia de como ele não poderá mais compartilhar de tudo que faz da infância algo inesquecível. “All Babies” continua abordando a infância, mais agora de uma maneira mais universal e lírica, declarando que são elas as coisas mais adoradas por Deus – na melodia, mais uma vez, o piano hiper-emotivo é o destaque, embora nesta canção a harmonia ainda faça ótimo uso de baixo e bateria. “In This Heart”, por sua vez, depoja-se totalmente de instrumentação, explorando emoção inimaginável apenas com os vocais de Sinéad e de um esplendoroso coro gospel em modo algo minimalista. A letra é extremamente simples, mas consegue sintetizar sensibilidade fulminante em seus versos que falam sobre perda, dor e resignação. Como um mantra, a próxima canção, “Tiny Grief Song”, tem suas letras compostas por versos repetidos, novamente “a capella”, sem qualquer instrumentação – é exatamente o que informa seu título: uma pequena canção do sofrimento. Em “Famine” Sinéad foge da identidade melódica, compondo algo próximo de um funk e que lembra os hits mais elegantes do US3, que tanto sucesso fez na década de 90. A letra também muda de tom, já que o sofrimento humano continua sendo abordado, mas agora parte para um discurso mais político e regional: a opressão irlandesa imposta pela invasão britânica. Fechando o disco, retornamos à uma canção que conjuga letras e melodia como um mantra: “Thank you for hearing me” é uma das canções favoritas dos fãs, em cujas letras vemos a gradação dos sentimentos humanos despertados pelas relações humanas, particularmente as afetivas: primeiro o contentamento e alegria quase plenos, passando ao sofrimento e a dor e, então, ao posterior fortalecimento que estas últimas acabam favorecendo.
É esta última canção, provavelmente, a síntese deste trabalho lançado por Sinéad O’Connor: alegria, dor, sofrimento e fortalecimento humano são os temas de Universal Mother, especialmente quando relacionados à maternidade ou à infância. E, por incrível que pareça, isto se configura como um problema: algumas pessoas tem uma dificuldade e um preconceito tolo com toda obra que desperta a tristeza e a melancolia ou explora os sentimentos de dor e sofrimento – talvez seja esta a razão de o disco não ter feito sucesso. Contudo, quem tem a inteligência de vencer tais limitações culturais vai se esfalfar com este álbum – é o registro definitivo da plenitude musical de uma artista soberba.

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Bic Runga – Birds (Special Edition) [download: mp3]

Bic Runga, a Neo-Zelandesa de traços orientais, é a artista de maior sucesso nos últimos anos lá por aquelas bandas. Apesar de pouco conhecida por aqui, quem tem sorte de ser movido por uma curiosidade cultural natural já a conhece, pelo menos, desde seu segundo álbum, Beautiful Collision. E a moça parece ter aprimorado seu sonoridade desde o seu trabalho anterior. Para criar Birds, que foi produzido por ela própria, Bic isolou-se com uma banda em um belíssimo casarão em estilo clássico, em uma região campestre da Nova Zelândia; uma vez lá, a compositora decidiu gravar cada canção em uma única sessão, sem separar cada instrumentação em um canal de som diferente, à maneira que eram feitas as gravações há algumas décadas atrás. Todo esse cuidado resultou em um trabalho coeso, de uma elegância fenomenal e luminosidade sensitiva impressionante. O tom melódico preponderante do disco veleja entre um jazz anos 50 e um pop romântico anos 70. Esbanjando glamour em suas composições, Bic joga no chão, pisa em cima e tripudia com todas as estrelinhas solo atuais que compõe no gênero. As duas primeiras canções da edição especial do disco – que apresenta uma ordenação diferente da edição normal – usam os pássaros do título do álbum como metáfora para o sofrimento que acompanha a paixão: “Captured” tem uma melodia de estupenda beleza melancólica, recheada de cordas suaves e também temerosas, uma bateria lenta, que remete a um caminhar pesado e triste, uma harpa discreta e luminosa e uma guitarra brilhante, com uma sonoridade distante que remete à algo metálico – e devido ao título da canção, o objeto metálico que se forma na mente do ouvinte é uma gaiola. A letra, por sua vez, aprimora a sensação de dor, desenhando um ambiente repleto de escuridão, iluminado o suficiente apenas para revelar que há ali uma mulher aprisionada e inerte pelo sofrimento e desespero amoroso – a canção é simplesmente brilhante. A faixa seguinte, “Birds”, exala uma elegância desmedida, onde piano e cordas classudíssimos servem de moldura para a voz doce de Bic, e onde a artista canta sobre amantes que tentam lidar com o amor que sentem um pelo outro, sentimento este que pode acabar aprisionando-os. Em “Winning Arrow” – um delicioso pop romântico, cujas letras celebram o amor e promovem a superação de toda e qualquer dificuldade – e “Say After me” o clima suscitado pelas melodias é de nostalgia pop setentista, no melhor estilo Olivia Newton John, ao mesmo tempo em que há algo bem ao sabor “cabaret” na metade inicial de “Say After Me”, cheia de brilhante glamour e instrumentação esplendorosa e com letras que revelam o fim de uma relação amorosa sem perder um centímetro de elegância. “If I had you” prossegue no climão romântico e no nostalgismo, com letras sobre um amor silencioso e passional que não é correspondido e com mais backing vocals que remetem aos clássicos dos artistas americanos, conseguindo o que só mesmo artistas como Barbra Streisand conseguiam fazer, unindo romantismo e classe na medida exata para não soar excessivamente cafona. “Listen”, por sua vez, avança as referências melódicas um pouco no tempo, apresentando refrão e coros de fundo que lembram algo no estilo Aimee Mann, porém, com mais classe e estilo do que esta. O mesmo lembra o piano e o refrão cheios de estirpe da irresistível “Blue Blue Heart”, mais uma canção onde o orgulho tende a se manifestar mesmo quando a sua vida afetiva se desmorona à sua frente. “That’s Alright”, com letras que falam sobre como é difícil deixar uma realação amorosa com o sentimento persistindo no coração, é outra canção que soa conhecida, já que sua melodia de guitarras elegantes e refrão saboroso suscitam uma Sade muito menos chata e mais divertida. “Ruby Nights”, música de andamento lento, tem letras poéticas – abandono afetivo, o tom primordial do disco – e melodia sorumbática e silenciosa. “It’s Over” é um caso à parte: sozinha, valeria a compra do disco todo, não tivesse o álbum outras canções excelentes. A música dilacera qualquer coração já machucado com seus versos diretos e sua melodia e coro de um lirismo triunfantemente depressivo – os maiores representantes da música romântica da América do Norte, como Burt Bacarach e Leonard Cohen, não fariam canção que atingisse emotividade tão sublime com tamanha simplicidade. Fechando esta edição especial do disco tmeos ainda duas canções extra. “Somewhere In The Night”, cuja harmonia sutil lembra o vai-e-vem da maré ou o soprar de uma brisa mais forte, utiliza-se de elementos da natureza como comparação para ilustrar a suavidade da voz daquele que é amado. Se você está interessado em alguém, essa música serve como uma cantada esplendorosa – e se, ainda assim, a pessoa não lhe der a menor atenção, esqueça-a: alguém que não manifesta qualquer reação diante de tamanha beleza não deve ter mesmo a menor classe e ser culturalmente desprezível. A segunda faixa bônus, “Something’s Gotten Hold Of My Heart” é um cover gostosinho, onde Bic Runga se dá ao direito de se divertir e soltar um pouco mais a voz.
Pode soar estranho para você uma artista que promove uma mistura de influências melódicas pop tão variada, mas o projeto mantém a coerência e nunca perde o fio da meada sonoro, preservando o estilo, elegância, charme e sutileza que a cantora impõe do início ao fim do álbum. É pra ouvir vezes seguidas. Baixe o disco através do link abaixo.

Baixe (senha: seteventos): http://www.mediafire.com/file/b8qossdx44kalks/bic_-_birds.zip

Ouça:

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Camille – Les Sac Des Filles. [download: mp3]

Camille - Les Sac des FillesNo seu disco solo de estréia, a francesa Camille produziu algo menos inovador do que seu lançamento seguinte, mas produziu o álbum igualmente excelente, que soa certamente mais francofônico, porém apresenta também influências do pop-jazz mais tradicional e também algo que remete à bossa nova. “1,2,3”, música que foi utilizada na publicidade do perfume “Promesse”, da maison Cacharel, inicia como uma delicada caixinha de música e uma Camille mais calma, desdobrando-se em uma melodia mais ritmada, que lembra muito as composições apresentadas pelos músicos anônimos que invadem as esquinas da capital francesa, geralmente com o acordeão como instrumento preferido. “Paris” é uma deliciosa ode à capital, com musicalidade que se mostra melancólica, mas que logo é invadida por um belo arranjo alegre, assumidamente francofônico, com direito a assobio e tamborilar de dedos e fartamente composto por orquestração de cordas e piano – caminhar pela cidade francesa ouvindo esta composição da cantora deve ser inconcebivelmente prazeroso. “La Demeure D’un Ciel” é um pop acústico encantador, onde escuta-se apenas um violão e a voz despreocupada de Camille. Depois da despretensão da faixa anterior, somos supreendidos com “Les Ex”, onde Camille brinca à vontade nos vocais, mostrando um pouquinho das maravilhas que escutaríamos no seu segundo álbum, e ainda traz o ruído do que se supõe ser uma briga conjugal – não a voz dos amantes se desentendendo, mas o barulho do espatifar de toda sorte de louças – impossível evitar alguns risos. “Mon Petit Vieux” volta a delicadeza, onde melodia e vocais de Camille são postos de maneira comedida e doce, à maneira de um pop-bossa francês – af! isso existe? A faixa “Ruby”, única cantada em inglês no disco, foi gravada em uma sessão única, sem separação do vocal da cantora e do violão simples, e preservando um ruído surdo, daqueles que lembram gravações em aparelhos toca-fita amadores, o que lhe confere uma atmosfera verdadeiramente nostálgica. A faixa título do álbum, “Le Sac De Filles”, e a canção “Je Ne Suis Pas Ta Chose” tem forte parentesco com o que há de melhor no pop contemporâneo brasileiro – sem, no entanto, soar blasé e forçosamente cool como alguns artistas brasileiros, como Bebel Gilberto -, pois ambas apresentam vocais cheios de romantismo e entrega, com melodias de instrumentação farta e cheias de iluminoras sonoras vocais e não-vocais – o refrão das duas música é tão sedutor que não há como evitar cantar um francês absolutamente macarrônico, só para ter o prazer de acompanhar a elegância pop de Camille. A última faixa do álbum, “Là Où Je Suis Née”, nos brinda com uma melodia algo triste e emotiva ao piano, onde Camille empresta um vocal melancólico e adocicado, fazendo par com a maravilhosa flauta doce que surge no meio da canção – simplesmente linda, fechando o disco com a sonoridade ideal e precisa e conquistando de vez a simpatia do ouvinte, que se sente impelido a ouvir novamente o disco todo. E qual pessoa de bom gosto se negaria esse prazer? Baixe o disco pelos links que seguem logo depois da lista de faixas e use a senha informada para descompactar os arquivos.

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Natalie Merchant – Motherland. [download: mp3]

Natalie Merchant - MotherlandA cantora e compositora, ex-vocalista da cultuada banda 10,000 Maniacs, teve excelente recepção da crítica e do público com o lançamento do seu terceiro disco solo, entitulado Motherland. Toda essa celebração é realmente justa, já que neste álbum Natalie mostra impressionante destreza ao percorrer diversos ritmos em um mesmo trabalho, todos exalanda uma sonoridade muito particular e letras que são pura poesia. “This house is on Fire” abre o disco com o impacto de uma mistura que poderia soar leviana, não fosse a habilidade de composição da artista ao embalar, em uma mesma canção, o ritmo do reggae com uma orquestração com sublime inspiração arábica, tudo ligado por uma bateria de ritmo forte e declarado. Não bastasse a beleza dessão união melódica incomum, a letra da canção também causa arrepios, já que seus versos quase messiânicos tecem duras críticas ao comportamento belicista e irascível que impera em certas partes do mundo, e declaram, em tom profético – apesar de Natalie negar sê-lo nas letras -, que os resultados disso serão catastróficos. Por coincidência, ou pura clarividência da artista, os eventos do 11 de setembro tomaram lugar dois dias depois do lançamento do disco. A faixa seguinte, “Motherland”, que apresenta uma suavíssima sonoridade country, evidencia os reveses do comportamento humano contemporâneo, clamando por um retorno à vida mais natural e pacífica, o que acaba funcionando como uma segunda parte da canção anterior, em tom mais ingênuo e menos revoltoso. Em sua primeira escuta, “Saint Judas”, com sua forte melodia blues, já conquista o ouvinte, que se sente impelido a cantar junto com Natalie e acompanhar a beleza gospel da cantora Mavis Staples. Sua letra retrata a crueldade dos ataques à negros na época do segregamento racial americano – um soco no estômago. “Put The Law On You”, cujas letras revelam a decepção de alguém que ama frente as traições de seu companheiro, é melodicamente desesperada no seu derramamento romântico, com excepcional uso de orgão e saxofones. É também no blues/rock que a melancólica faixa “Build A Levee” se constrói, ainda com backing vocals da cantora gospel, e em cujas belos versos canta-se os perigos que as mulheres encontrarão nos homens – a sedução, a mentira, o abandono. Em uma melodia esplêndida, que apresenta um luminoso crescendo, enquanto a voz de Natalie permanece suave e afetuosa, “Golden Boy” é considerada uma das melhores composições da artista, trazendo versos espetaculares que usam o massacre da escola americana Columbine como mote para tecer uma crítica à maneira como se constroem os ídolos modernos. Também em arranjo idílico, de clima cinematograficamente fantasioso e fabular, “Henry Darger” tem letras que citam as criações de uma das figuras mais idiossincráticas que já se teve conhecimento – Darger foi o criador de uma estória de mais de 17.000 mil páginas, pinturas e desenhos de um mundo de heróis e aventuras infanto-juvenis, morrendo sem nunca ter obtido conhecimento do grande público. Em “The Worst Thing”, Natalie Merchant apresenta uma melancólica e doce sonoridade espanhola, tudo apoiando o sentimento de perda e dor dos versos que procuram alertar sobre a ilusão da felicidade que a paixão traz, tão somente para tornar a queda ainda maior quando esse ilusão se desfizer – é uma canção sublime. O álbum termina com o blues de “I’m Not Gonna Beg”, cuja melancolia sonora que Natalie arquitetou se repete nas letras que demonstram alguem que foi rejeitado por quem amava, mas que ainda tenta deixar esta relação demonstrando orgulho e amor próprio – só esta canção já valeria o disco inteiro. Baixe essa demonstração de versatilidade musical pelos links baixo.

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Camille – Le fil. [download: mp3]

Camille - Le FilCamille é conhecida na França simplesmente assim, pelo seu primeiro nome, sem o uso do sobrenome, Dalmais. E Camille é, definitivamente, a coisa mais contemporaneamente bem sucedida que a França já conseguiu lançar, cantando em sua língua materna. As comparações com a islandesa Björk são frequentes, mas isso ocorre tão somente devido a semelhança de Le fil, segundo álbum de Camille, com Medúlla, o último álbum de Björk: ambos utilizam de maneira forte sons produzidos pelo própria voz de suas intérpretes/compositoras como o principal artifício sonoro das canções. E, diferentemente do álbum da cantora islandesa, considerado difícil e, para alguns, quase “inescutável”, Le fil é um espetáculo delicioso para os ouvidos. Camille sabe ser pop, jazzística, pós-moderna, lúdica e, como não poderia deixar de ser, francofonicamente elegante. O grande achado da garota é revelado pelo título do disco: “le fil”, significa “o fio”, e ele é representado sonoramente no disco por um murmúrio, um cantar monocórdico que percorre e liga todas as músicas, do início ao fim do álbum. Ele não é sempre audível, a maior parte das vezes é recoberto pela melodia das músicas, mas está lá presente, e é notado sempre que há um silêncio dentro da harmonia da música. Isso acaba por criar uma unidade sonora entre todas as canções, mas ao contrário do que se possa pensar, não as torna absolutamente iguais. Há espaço para tudo no mundo de Camille. E tudo feito quase que esclusivamente pela sua voz. O disco abre com “La jeune fille aux cheveux blancs”, que, claro, começa com o ponto de partida do “fio” sonoro e, em alguns instantes, é invadido pela voz esplendorosa da cantora, que entoa os versos da música, enquanto, ao fundo, ela é invadida por uma variedade enorme de diferentes coros repetidos de sua voz, fazendo o acompanhamento como breves “estacatos”, bateria ou violão vocais. Depois de sermos tomados pelo lirismo dessa música, somos supreendidos pelo tom absolutamente lúdico e vivaz de “Ta Douleur”, onde Camille não se nega a fazer os sons mais estranhos possíveis com a boca para servir de fundo aos versos animados da canção, que revela o uso de um trompete apressado lá pelo meio da melodia. “Assisse”, a terceira faixa, traz um cantar menos diferenciado em tons, sintetizado em várias vozes que cantam a mesma melodia. Contudo, como Camille mostra nesse disco nunca deixar de ser uma surpresa maravilhosa, perceba que os “acordes” de voz que fazem a breve introdução da canção imitam uma guitarra. E, para nosso prazer, não somos poupados nem de uma repentina limpeza que Camille faz na sua garganta – sim, aquele “hãn hãn” eternizado pelas pastilhas Vick. Pós-moderno como é, o disco também não deixa de apresentar uma mesma canção dividida em três diferentes partes, com três diferentes andamentos e variações no verso e melodia. “Janine I” é uma canção simples, cantada com pressa pela francesa, com uma batida cíclica, produzida por sua voz- claro – ao fundo; “Janine II” tem andamento muito mais lento e preguiçoso, revelando um baixo quase apático como acompanhamento; “Janine III” é a mais ligeira, e traz os versos cantados numa velocidade difícil se acompanhar, junto com um trompete igualmente delirante – e, aos poucos, mostra um acorde que vai fechar a canção, simulando um distanciamento quase sideral da melodia, ou som de um carro de corrida se afastando, se preferir – muitíssimo divertida. “Vertige” traz um coro no fundo que simula algo que pode ser interpretado como gostas de chuva em um pedaço de lata, ou, quem sabe um relógio; tudo emoldurando a breve melodia principal. “Senza” transpira beleza em sua melodia que incita algo bem primaveril, um belo dia de céu azul limpo e sol radiante, com aqueles breves lampejos de melancolia que esses dias lindos costumam revelar – ao menos eu sinto isso com frequência. “Au port” apresenta um batida rápida, produzida em uma caixa ou coisa semelhante, adornando a harmonia lindíssimamente altiva da voz de Camille, acompanhada por um teclado que encorpora um som metálico e um trompete, ambos sempre discretos ou pontuais. “Rue de Ménilmontant”, penúltima faixa do álbum, tem a beleza tranquila de uma balada algo triste. Mas a balada mais bonita do disco é mesmo “Pour que l’amour me quitte”, que mostra uma Camille mais despreocupada em ser contemporânea, cantando simplesmente e deixando-se acompanhar pelo som de um baixo (ou um teclado?) cintilante e cíclico. Em “Baby Carni Bird”, somos apresentados à uma Camille mais jazzística, cantando alguns versos em inglês inclusive, e mostrando que não há nenhuma obrigação em um pop-jazz ser pausteurizado ao ponto de parecer sempre qualquer coisa feita por Norah Jones. Contudo, a faixa mais retumbante é “Pâle Septembre” – veja vídeo ao vivo aqui no blog. Nesta música somos introduzidos em um cantar sofrido e uma melodia silenciosa, pontuada ao fundo por breves acordes de um teclado. Logo, surgem os belos corais de fundo de Camille, simbolo maior do disco, para sermos apresentados à versos em inglês cantados em harmonia quase silenciosa. Tudo isso prepara o ouvinte para ser surpreendido com a beleza explosiva que surge à seguir, em uma sequência melódica que revela uma Camille lírica e profusa como nunca, com direito à uma orgia de todos os instrumentos musicais usados até então discretamente no disco. É como se estivéssimos submersos por um longo período em um oceano, ou vagando no espaço, e fóssemos arremesados repentinamente em uma floresta repleta de sons de sua fauna e flora – a sensação é inesquecível, e a música entrou de imediato, desde sua primeira audição, na minha lista concorridíssima de “músicas para se ouvir ao se jogar do topo de um arranha-céu”. Não bastasse isso, ainda temos a maravilhosa última faixa do disco: “Quand je marche” é tranquila e romântica, deliciosa de se ouvir seguidamente. E o disco fecha com o “fio” sonoro sendo acompanhado de frases de Camille gravadas, aparentemente, fora de um estúdio – já que o álbum é mesmo uma bela ode ao dom humano do falar, nada melhor deixa-lo soar naturalmente ao seu fim. Baixe agora esse disco esplendoroso através dos links a seguir.

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Gotan Project – Lunático. [download: mp3]

GotanDepois do sucesso de La Revancha del Tango, o Gotan Project – também conhecido como Jectpro Tango – retorna com o álbum Lunático. A música engendrada pelo trio europeu-americano prossegue insinuante, sensual, sedutora, hipnótica, delirante e poderosa, mas agora também ganha tonalidades acústicas sutis. Não resta dúvidas que o destaque absoluto do álbum é o single “Diferente”, que cativa imediatamente o ouvinte com sua melodia tecno-tango dançante, saborosa e irresistível: impossível passar por essa mistura magistral de beats, samplers, contrabaixo, acordeão e tecituras orquestrais sem voltar o player para ouví-la uma vez mais. De atmosfera menos romântica, “La Vigüela” também fascina, com seus versos recitados em dueto parte robotizado e sua harmonia assumidamente eletrônica, ainda que adornada pelo fogo do ritmo genuinamente argentino. “Arrabal” delicia os ouvidos com o vocal encantadoramente preciso de Cristina Vilallonga com a melodia da canção, recheada de violões e acordeão que duelam entre si, sobre a batida eletrônica suave ao fundo. A destreza musical do Gotan Project é tanta, que até vocais embebidos na fonte do gênero rap conseguem angariar a simpatia e apreciação do ouvinte na faixa “Mi Confesion”. Isso porque, obviamente, o subtexto aqui é o tango pós-moderno do trio, e as letras são poéticas e delicadas, diferentemente daquela coisa irascível e “inescutável” do gênero. As faixas que se apresentam mais instrumentais também tem seu lugar no novo álbum, como na orquestração soberbamente luminosa que enfeita “Criminal” e a recriação, que suaviza o sorumbatismo mas intensifica o drama de “Paris, Texas”, tema clássico da obra-prima de Win Wenders composto por Ry Cooder. “Lunático”, faixa-título do disco, com seu acordeon de tons breves, quase sem fôlego, remete à brevidade das corridas de cavalo – não por um acaso, já que seu nome foi herdado do cavalo de corrida que Carlos Gardel possuía. Contudo, a grande surpresa do segundo trabalho do Gotan Project são as faixas quase ou totalmente despidas de eletronismos. “Amore Porteño” prossegue melodicamente em uma toada desesperançada e trágica, o que coincide com o teor de seus versos. “Celos” segue na mesma toada, mas apropria-se ainda mais de um teor jazz/cabaré, denotado mais visivelmente pelos ruídos captados ao vivo.
Soberbo, o disco é uma belíssima fusão de tradição e contemporanismo, onde o dramatismo e a paixão tipicamente latinos ganham tonalidades ainda mais impactantes ao serem adornados pela sonoridade de samplers e demais manipulações eletrônicas. Merece lugar na coleção de CDs sem pestanejar. Baixe o disco por um dos links abaixo.

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Death Cab for Cutie – Plans. [download: mp3]

Death Cab for Cutie - PlansO mundo da chamada música “independente” está repleto de bandas com uma sonoridade semelhante, algo que as identifica de forma imediata ao ouvinte por lhe sugerir uma sonoridade mais reflexiva, bem como suas letras, verdadeiramente poéticas. A banda americana Death Cab for Cutie é considerada um dos maiores expoentes desta vertente do gênero rock.
Plans, álbum de 2005, é o primeiro lançado por uma grande gravadora, a Atlantic Records, uma das subsidiárias do grupo Warner. Os fãs, ao descobrirem a assinatura do contrato com um gigante da indústria da música, temeram que a banda sofresse alterações na produção de sua obra musical. O medo não se justificou, já que Plans mantém a identidade da banda e qualidade de sua música.
O álbum inicia-se com a sutileza que é marca da banda: teclados, bateria, baixos e guitarra trabalham juntos como vocal de Ben Gibbard para dar suporte às letras inspiradíssimas de “Marching Bands of Manhattan”, onde cenários da metrópole mais famosa do mundo servem de fundo para belos versos românticos. “Soul Meets Body” tem uso espetacular de violões e uma poética delicada e muito bem construída em suas letras, que cantam sobre o poder de uma paixão que intensifica os sentidos. “Summer Skin” reflete, com beleza e serenidade, sobre um amor que teve a intensidade e longevidade de uma estação do ano. Em “Different Names for the Same Thing”, acompanhamos um viajante com um sentimento de deslocamento e perda de identidade tão grandes que já nem mais importa qual será sua próxima parada. As inevitabilidades da vida também são tematizadas em canções do álbum: “I Will Follow You into the Dark” mostra a intensidade do amor que sobrevive mesmo depois da morte de quem se ama; “Stable Song” aborda a resignação de alguém que envelhece e sente a proximidade do encerramento. Como não poderia deixar de ser, já que estamos falando de Death Cab for Cutie, ambas as canções tratam destes temas com suavidade e encantamento, tanto nas letras irretocáveis quanto nas melodias silenciosas que trazem ao ouvinte. A faixa “What Sarah Said”, que tem melodia um pouco mais intensa e um piano emotivo, também tematiza as adversidades, mas de maneira diferente, retratando personagens em uma sala de espera de hospital, aguardando as notícias de alguém que não está tendo um destino feliz no interior de uma UTI. As amarguras do viver parecem ser mesmo singularidades temáticas da banda: com melodia dramática, porém enxuta, temos em “Someday You Will Be Loved” a representação da eterna ilusão de que todos encontrarão sua alma gêmea. Não resta dúvidas de que a banda sabe ser impiedosamente tocante.
Contrastando com as bandas mais populares do cenário rock, como o adorado U2, bandas alternativo/indies como o Death Cab for Cutie conseguem obter o mesmo efeito de arrebatamento sonoro com melodias mais contidas e econômicas, porém sem nunca perder a profundidade emotiva. As letras das composições também conseguem, muitas vezes, mostrar-se ainda mais repletas de beleza e poesia do que aquelas compostas pelos grandes nomes da música mundial. É uma pena que tais bandas sejam promovidas de forma tão limitada, já que, costumeiramente, são lançadas por pequenos selos. No entanto, para nossa felicidade, a internet está aí para trazer ao conhecimento de quem quiser algo além do que normalmente obtemos nas lojas de discos. Link para download abaixo.

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Jorge Drexler – Eco 2. [download: mp3]

Jorge Drexler - Eco 2O Uruguaio Jorge Drexler foi revelado para os meios de comunicação de forma repentina através da indicação, e subsequente vitória, de sua composição, para o filme “Diários de Motocicleta”, para o Oscar de Melhor Canção. Quem é inteligente sabe aproveitar as oportunidades e reduzir um pouco mais a sua ignorância cultural. Visto que meus conhecimentos de música latina são irrisórios – e, por favor, não estou falando de Shakira -, aproveitei a ocasião para chafurdar a internet em busca de seu disco mais recente, e o maior responsável pela sua popularização, Eco/Eco 2.
Drexler mostrou-se, neste álbum, uma grata surpresa. Textos da internet comparam seu trabalho ao de Caetano Veloso, chamando a atenção para o uso de sutis ruídos eletrônicos. É certo que sua semelhança com o que de melhor há na MPB contemporânea salta aos ouvidos de qualquer brasileiro, mas a similiradede com a obra do mais famoso compositor baiano não é exatamente correspondente. A música de Drexler tem muito mais a ver com a poética sutil e o encantamento melódico de Adrina Calcanhotto e, em menor grau, com os últimos trabalhos de Marisa Monte. As composições do uruguaio transpiram delicadaza, classe, elegância e suavidade, tanto em seu caráter harmônico quanto lírico. A inspiração na sonoridade brasileira contemporânea fica bastante clara em “Don de Fluir”, com suave batida eletrônica e cadência deliciosa e elegante, na irresistível “Transporte”, com estupenda combinação de violões e bases eletrônicas, e na percussão macia e bem trabalhada dos versos doces de “El Monte y El Rio”. Porém, a qualidade da musicalidade de Jorge Drexler também revela-se nas sua composições de raízes mais românticas, como na reverberação algo cíclica da bela faixa-título, “Eco”, na harmonia que funde o melhor do pop com bases orquestradas e que adorna os versos de sincera sensiblidade de “Deseo”, e na linda melodia compassiva de “Todo se Transfoma”. A destreza do artista é tanta que ele conseguiu reservar espaços até para arroubos sonoros, com uso perfeito de instrumentação erudita em “Se Va, Se Va, Se Fue”, e também para demonstrar a sua habilidade como letrista nos versos de “Guitarra y Voz”, que guarda impressionante parantesco com as composições mais poéticas de Adriana Calcanhotto e Arnaldo Antunes e também no electro-contemporanismo explícito de “Oda al Tomate”. A latinidade, claro, está presente em todas as faixas, mas é sempre algo exposto de forma tranquila e plácida, como em “Milonga Del Moro Judio” e na música ganhadora do Oscar, “Al Otro Lado Del Río”, realmente uma das poucas merecedoras da premiação, com sua letra e melodia melancólicas, ainda que perseverantes. É ouvindo todo o disco que nota-se que Drexler não força jamais sua voz, entoando suas canções com um cantar suave, calmo e aveludado, poucas vezes levantando mais sua voz, como no refrão de “Polvo De Estrellas”, música que reúne de forma sublime todos os predicados do artista: música, melodia, poesia e raízes culturais.
Sem dúvidas Jorge Drexler é daqueles poucos artistas dos quais nos orgulhamos de ter em nosso país: se sentimos imenso prazer na brasilidade pós-moderna e literária da música de Adriana Calcanhotto e na elegância popular de algumas facetas de Marisa Monte, assim deve ser com Drexler no Uruguai, ainda mais agora, depois de conquistar um dos prêmios mais cobiçados do mundo, graças ao seu convite para deixar seu registro no filme do brasileiro Walter Salles. Depois de tanto tempo sem mostrar qualquer interesse pelos novos artistas da chamada nova MPB, só me restou mesmo ampliar minha busca além de nossas fronteiras culturais e linguísticas. Ainda bem que, geralmente, consigo superar certos preconceitos e me dar ao prazer de arriscar novas experiênciais musicais. Não fosse isso estaria ainda tentando entender o que há de tão bom em Max de Castro e Luciana Mello – deus me perdoe. Baixe o álbum utilizando os links que seguem depois da lista de faixas e use a senha para descompactar os arquivos.

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Muse – Black Holes and Revelations (+ 1 faixa bônus). [download: mp3]

Muse - Black Holes & RevelationsCom a liberação na internet do primeiro single do aguardadíssimo novo disco da banda britânica Muse, um verdadeiro furor discursivo tomou de assalto as comunidades dedicadas ao trio. A sonoridade de “Supermassive Black Hole” assustou os fãs mais ferrenhos, angariando o ódio destes e a simpatia dos mais despreocupados. No entanto, a suspeita de ambas as “facções” que rapidamente se formaram era quase idêntica: o novo disco da banda mostraria um Muse bem diferente daquele adorado e conhecido pelos fãs.
Agora, depois de semanas de bate-boca e ofensas mútuas, o álbum vazou na internet – para variar – e as expectativas amainaram: há traços que diferenciam Black Holes & Revelations dos álbuns anteriores do Muse, mas nada que transforme radicalmente a identidade da banda.
Apoteótica a música da banda prossegue sendo, como podemos conferir na faixa de abertura, “Take a bow” e também em “Exo-Politics”, “Assassin” e “Soldier’s Poem”, todas faixas que assemelham-se pela mensagem política – algumas mais sutis e mais citacionais, outras mais explícitas – , que se abre universalmente contra o belicismo e a manipulação da opinião pública sem apresentar, contudo, qualquer tipo de pedantismo engajado – é Muse no seu melhor, com letras trabalhadas sem nunca esquecer que é, acima de tudo, música. Porém, os delírios de derramamento amoroso do trio britânico continuam firmes e fortes, como se pode ver no amor impossível de “Hoodoo” – balada espetacular, com a típica virada melódica da banda, à maneira da música erudita, com orquestração farta de pianos em apoteose e cordas épicas -, na dependência desmedida da bárbara “Map of the Problematique” – com sequências em que a bateria se faz deliciosamente preponderante – na emoção nada contida de “Invincible” – onde contribuem a bela introdução de teclado arranjado como um orgão e a bateria em tom marcial -, no embevecimento romântico de “Starlight” – de harmonia fulgurante, com teclados nostálgicos e bateria sincopada – e no amor nevrálgico de “City of Delusion” – com energizantes riffs de guitarra e o vocal intenso e delirante de Matthew Bellamy.
Apesar da identidade da banda fazer-se presente, ela se mostra-se intensamente mesclada com sonoridades que podem apresentar inspiração mais difusa em algumas faixas – como nos teclados da faixa de abertura, “Take a bow” – e bem mais clara a algo assumida em diversas outras. A música de identidade forte do The Mars Volta, por exemplo, pode ser reconhecida no sutil apeado latino dos acordes do violão, do ritmo da bateria e metais de “City of delusion”, na guitarra e baixo grave e profundo de “Hoodoo”, e na força que estes tem em “Knights of Cydonia”, com seu refrão de vocais sobrepostos. Além da referência à esta banda, de história mais recente no cenário musical, algo do pop contagiante do Depeche Mode do fim dos anos 80, do gostoso Europop que fez tanto sucesso à época, também é adotado em “Starlight”, música de melodia pop-rock fenomenalmente esfuziante e luminosa e, principalmente, na faixa “Map of the problematique” – com um arranjo perfeito no ritmo ensaiado e sincronizado entre bateria, guitarra, baixos, teclados e também no excelente uso que Matthew Bellamy faz de seu vocal.
Em tempos de copa do mundo, podemos conferir que a atitude de tecer críticas ao trabalho de quem idolatramos, tendo contato com uma fatia tão ínfima do trabalho que seria desenvolvido – já que todo o furor crítico inicou-se com apenas uma canção do novo disco do Muse e, no caso da seleção brasileira, tendo disputado apenas uma partida -, pode ser bastante imatura, uma vez que, na verdade, a crítica antecipou-se à apropriação daquilo que se objetiva analisar. Aqui estamos então, com um belo disco do trio britânico, vigoroso e com alguma sutil renovação, que acabou desmotivando todo o bate-boca insensato e, no futebol, nos preparando para a segunda disputa, amanhã, de nossa seleção. É esperar para que o resultado do desempenho dos atletas brasileiros seja tão inspirado, genuíno e animador como o do trabalho do Muse.

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