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Categoria: musica

críticas e comentários sobre CDs de música.

Michael Nyman – Prospero’s Books & Royal Philarmonic Collection. [download: mp3]

Michael Nyman - Prospero's Books e Royal Philarmonic CollectionHá dois diferentes grupos de compositores que trabalham concebendo trilhas sonoras. O primeiro deles é composto por músicos que arquitetam peças que servem tão somente como fundo à ação e à imagem desenvolvida no longa-metragem. O segundo grupo é feito de músicos que superam esta limitação, compondo peças musicais que conseguem servir ao propósito a que se destinam mas que sobrevivem à audições isoladas de seus filmes, muitas vezes ganhando vida absolutamente independente destes. Não é difícil de compreender esta característica da obra destes artistas – as trilhas sonoras, hoje, tomaram de assalto a popularidade que outrora pertenceu às composições clássicas, cujas obras contemporâneas circunscrevem seu conhecimento quase que tão somente aos especialistas do assunto. E isto deve-se, em grande parte, à este segundo grupo de compositores – muitas vezes também autores de obras clássicas/eruditas -, que tem como integrantes os músicos Zbigniew Preisner, Philip Glass e Ryuichi Sakamoto.
O britânico Michael Nyman é um dos expoentes deste grupo. Sua trilha sonora da obra-prima absoluta do cineasta britânico Peter Greenaway, “A Última Tempestade”, configura-se inteiramente neste grupo de obras. O filme encontrou sincronicidade sublime com a música do compositor Michael Nyman, habitual colaborador do cineasta, mas também conhecido pela música irretocável que compôs para filmes como “O Piano”, “Fim de Caso” e “Gattaca”. A trilha feita para o filme de Greenaway é complexisíssima, e passeia com desenvoltura por momentos de bizarrice sonora e romantismo como quem faz um “tour” do Museu de Arte contemporânea mais aguerrido ao parque arborizado e primaveril. Músicas como “Prospero’s Curse”, “History of Sycorax” e “Caliban’s Pit”, tem metais que se sobressaem em tom de urgência, com sopros breves e graves que formam temas que se repetem na melodia da música. A concepção idiossincrática destas peças sonoras servem de motivo àqueles que afirmam ser Nyman um dos representantes da música minimalista. É bem verdade que o compositor utilize-se deste recurso estilístico ao compor a melodia de alguns trechos de sua obra, mas este traço é bem mais sutil e bem menos ambicioso do que a forma como isso é explorado por Philip Glass, por exemplo – o grande representante da música minimalista nas trilhas sonoras. No entanto, apesar da beleza idílica de tais momentos da obra de Nyman, sua genialidade se sobressai mesmo na exploração da veia romântica e algo renascentista de suas composições. “Prospero’s Magic” e “Cornfield” são dois grandes exemplos da imensa beleza deste tipo de composição do músico – a primeira trazendo cordas, metais e demais instrumentos complementando-se, construindo uma melodia imponentemente regencial; a segunda desenvolvendo um explêndido tema romântico, que cresce vagarosamente e invade furtivamente os sentidos do ouvinte.
Complexo como qualquer artista que se preze, algumas das composições de Nyman para este filme de Greenaway ainda guardam algo de operístico, como podemos conferir nas faixas “Full Fathom Five”, “While you here do snoring lie”, “Where the bee sucks”, “Come unto these yellow sands” e “The Masque”: as três primeiras adornam os versos cantados pelo garoto soprano com uma orquestração sutil e reduzida; a quarta peça apresenta tom pomposo e mais notadamente derivado do estilo operístico; e a última conclui com eloqüente e variada harmonia, por vezes modificada por curvas sonoras bruscas.
No ano 2000, a Real Filarmônica Inglesa, entre tantos outros compositores regravados por ela, lançou um disco em que reinterpreta algumas peças de Nyman, entre elas algumas que compõe a trilha de “Prospero’s Books”. E é impressionante a forma como a Filârmônica concebeu um novo arranjo à canção “Cornfield” ressaltando sua beleza romântica e iluminando ainda mais sua harmonia extraordinária – impossível terminar uma audição desta versão da música sem lágrimas nos olhos e arrepios pelos corpo. Além de ter rearranjado alguns temas do filme baseado na peça de William Shakespeare – que ganham uma interpretação mais refletida, já que trabalhados por toda uma orquestra -, a Filarmônica refez outras composições famosas de Nyman, como os 4 movimentos do “The Piano Concert”, derivados da trilha do filme de Jane Campion – que foram retrabalhados anteriormente, como um concerto, pelo próprio Nyman – e ainda duas peças de outros dois filmes diferentes de Peter Greenaway; uma de “Zoo – Um Z e dois Zeros” e outra do clássico “O Cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante”. As composições ganham do filme “O Piano” ganham unidade sonora na interpretação da Real Filarmônica – tem continuidade e sonoridade homogênea, ainda que sejam, essencialmente, peças melodicamente diferentes. “Angelfish Decay”, mistura tons fugazes com momentos de contemplação, como em sua versão original, mas aqui acaba ganhando feições mais delicadas, devido à multiplicação de sua sonoridade por diversos intrumentos diferentes – é bom lembrar que a banda que acompanha Nyman tem um número reduzido de instrumentistas. E, por fim, “Miserere Paraphrase” simula, com violinos, a melodia que antes era cantado por um garoto soprano – preservando ainda muito de sua sombria idiossincrasia.
Barroca, romântica, renascentista, contemporânea, a música de Michael Nyman é tão complexa que consegue exibir facetas que se aproximam de diversos estilos artísticos ao mesmo tempo, com andamentos que vão do minimalista ao musicalmente opulento, superando com genialidade, arrojo e lirismo a limitação da “música de filme”, que muitos compositores conformam-se em compor. Nyman é dos poucos músicos que, ainda hoje, conseguem consolidar em seu trabalho uma mistura absolutamente homogênea de pós-modernidade e beleza clássica, conseguindo construir uma música que é um verdadeiro festival de sensibilidade, sem soar datada ou piegas – o que por si só, hoje em dia, já valeria a audição. Link para download depois da lista de faixas.

– Royal Philarmonic Collection:
parte 1: http://rapidshare.de/files/22106170/royal_michael_nyman_1.zip.html
parte 2: http://rapidshare.de/files/22108229/royal_michael_nyman_2.zip.html
parte 3: http://rapidshare.de/files/22109544/royal_michael_nyman_3.zip.html
parte 4: http://rapidshare.de/files/22110581/royal_michael_nyman_4.zip.html
senha: seteventos.org

– Prospero’s Books:
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Madredeus – Ainda. [download: mp3]

Madredeus - AindaWin Wenders inspirou-se inteiramente na música da banda Madredeus para conceber o excelente filme “O céu de Lisboa”, uma ode à beleza do cinema e da capital portuguesa. A parceria não foi frutífera tão somente para o diretor alemão, já que Ainda é, na minha opinião, o melhor disco da banda portuguesa.
Tranbordando sensibilidade e lirismo, composto por uma sonoridade sofisticada e melancólica, o disco é um pequeno esboço da alma portuguesa, faixa a faixa. Em “Guitarra”, que abre o disco, somos remetidos aos primórdios do cantar português – as cantigas medievais -, em uma letra que declara o amor daquele povo à música popular e uma melodia que faz uso delicioso do instrumento que dá nome a canção – conhecido aqui no Brasil como “violão”. As músicas “Milagre” e “Alfama” cantam as alegrias e tristezas afetivas – a primeira bela introdução instrumental e sonoridade triste, complementada pelo canto fenomenal de Teresa Salgueiro; a segunda apresentando belíssima melodia que explora soberbamente os instrumentos de câmara e acordeão, que constroem a sonoridade básica das músicas de Madredeus. Já nas faixas “Céu da Mouraria” – com melodia delicada ornada pelo vocal nostálgico – e “O Tejo” – que inicia-se com harmonia triste, para logo iluminar-se com sutil alegria em seu refrão – constatamos o orgulho do povo português com relação à história de seu país, além da celebração das belezas lusitanas. “A cidade e os campos” versa sobre a tristeza do camponês, ao ver-se abandonado da vida rústica do campo e inserido na frieza cotidiana da metrópole – nesta faixa, enormemente melancólica, a voz de Teresa exibe dor e arrependimento ainda mais intensos. Mesmo nas faixas instrumentais, em que não temos a presença da voz exuberante da vocalista, a banda mostra conseguir cativar o ouvinte – é o que sentimos ao ouvir “Miradouro de Santa Catarina”, que consegue mesmo inspirar a visão plácida do lugar cujo nome lembra, e em “Viagens Interditas”, que guarda em sua melodia a saudade despertada pela partida.
Ao constatar a beleza da música da banda em “Ainda”, não há como não desejar conhecer o povo e a terra que inspira tamanha sensibilidade musical. Em especial para nós, brasileiros, o sentimento é ainda mais verdadeiro, já que herdamos algo desse bucolismo, placidez e nostalgia lusitanas. Mesmo para àqueles que não tem a oportunidade de fazer esta viagem literalmente, ouvir a música da banda portuguesa já confere muito das sensações que tal jornada despertaria. No entanto, muito além do sensorial, a capacidade da música de Madredeus de despertar a reflexão do ouvinte sobre o preconceito com relação à cultura portuguesa, e superá-lo, é o maior ganho de todos – e fazer isso ouvindo composições de qualidade é um prazer inegável. Baixe já o disco pelo link que segue depois da lista de faixas.

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MUSE-me, Baby!

Muse-Me, Babe!É certo que nem todo mundo está preparado para mudanças – alguns chegam mesmo a odiar qualquer tipo de investida do tipo. Atualmente, o melhor lugar para constatar isto como fato é o Orkut e suas inúmeras comunidades – basta que você escolha, por exemplo, algum artista, de qualquer meio, que tenha decidido mudar os ramos de sua carreira e suas obras. Pronto: com certeza você vai se deparar, nos fóruns das comunidades dedicadas à figura de sua escolha, com tópicos furiosos, iniciados por fãs revoltados com as mudanças. Essas, geralmente, são as postagens com as discussões que mais se prolongam, repletas de discursos contra e a favor da atitude tomada pelo ídolo da comunidade.
Obviamente, não introduzi o tópico com esta explanação gratuitamente – eu mesmo tenho minhas motivações. Fãs dos britânicos MUSE – isso se realmente algum destes estiver entre os visitante do seteventos.org – já devem saber que a banda prepara o lançamento de seu mais novo álbum, já entitulado Black Holes and Revelations, para o dia 3 de julho. E logo após do anúncio da disponibilização, via dowload pago na internet, do primeiro single do disco, a canção “Supermassive Black Hole”, o arquivo em mp3 da música já tinha vazado para sistemas de armazenamento temporários da rede. O efeito da música foi bombástico – arrisco o palpite de que, ao menos, metade dos fãs odiaram profundamente a faixa. Obviamente que se trata, justamente, das já citadas pessoas que não são exatamente defensores de mutações artísticas. Em parte, compreendo o posicionamento destes, já que motivos para tanto eles tem: a canção é, definitivamente, é MUITO diferente do que o trio britânico já fez ao longo de três álbuns lançados. No entanto, estou ao lado dos entusiastas da questão – como você pode observar pela foto acima.
O que considero fricote obssessivo-compulsivo é a atitude de alguns de, sem nem ao menos ter uma idéia do conteúdo de todas as outras faixas do disco, reprovar de pronto as mudanças – reza a lenda que a comunidade mais antiga e ativa da banda no Orkut foi simplesmente apagada pelo seu criador logo depois que este ouviu “Supermassive Black Hole” – chega a ser engraçado isso. Além deste acontecimento altamente reprovável – imagine se começassemos a tocar fogo em todos os filmes clássicos de Woody Allen por conta de seus mais recentes deslizes cinematográficos. Mesmo que se trate de um disco totalmente fora dos padrões musicais adotados pela banda até então, isto não significa demérito de qualidade, e mesmo que a perda de qualidade se confirmasse, isso não tornaria a banda desprezível – há um histórico de produção musical anterior à isto. Porém, prefiro nem me prolongar sobre este ponto da questão: qualquer pessoa minimamente esclarecida já tem isto internalizado. Acho mais relevante questionar o que há de tão ruim no medo de muitos fãs de que a banda se popularize em nosso país – coisas como clipes na MTV, músicas em rádios com audiência mais vasta, matérias em veículos abrangentes da imprensa e, inevitalvemente, fãs menos experientes declarando seu gosto pela banda. Alguém aí tem alguma dúvida que artistas como os da banda MUSE não afetariam seu trabalho por conta de uma repentina popularidade no Brasil ou qualquer outro país que, até então, não tivessem atingido? Ou alguém aí acredita mesmo que, se Absolution se tornasse popular no Brasil, o trio britânico gravaria um disco de Axé ou, na mais feliz da hipóteses, um disco de Electro-Bossa? É muito mais provável que qualquer mudança no rumo da produção seja mesmo por gosto dos próprios artistas.
Por isso, é bom controlar os ânimos e a impaciência – esperemos até o início de Julho para rechaçar ou não “Black Holes and Revalations”– até mesmo eu posso odiar o disco, por que não? Não obstante, até lá, só resta aos fãs fundamentalistas destilar seu discurso de eterna lamentação. Quanto aos mais tolerantes, arrastem os móveis da sala para os cantos e preparem o quadril: “Supermassive Black Hole” tem clara inspiração nos trabalhos mais gostosamente gingados de Prince, conseguindo ser pop – bem, algo entre o pop, o electro-funk – sem perder a elegância e intensidade já conhecidas da banda. Os fãs da banda que ainda não escutaram a música vão levar um susto: não sei onde foram parar a bateria acústica de Dominic e o baixo de Chris, mas a guitarra de Matthew está tão presente em “Supermassive Black Hole” quanto estava antes – seus acordes compõe um musicalidade diferente, mas a destreza é a mesma.
Sendo assim, deixe a intolerância um pouco de lado e aposente aqueles disquinhos chinfrins que você escuta só para tomar o embalo e cair na noite – a nova canção do MUSE faz isso por você e ainda te dá a chance de fazer um comentário super esnobe para os bárbaros ignorantes desse tipo de ambiente, do tipo, “É, o MUSE decidiu fazer isso para elevar o nível da música pop.”
Baixe!

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Fiona Apple – Extraordinary Machine (versões 2003 e 2005). [download: mp3]

Fiona Apple - Extraordinary MachineDepois de um hiato de quatro anos, Fiona entrou em estúdio para gravar, junto com o então parceiro Jon Brion, o álbum que planejava lançar em 2003 – mas percalços mudaram a estória de seu terceiro disco. Reza a lenda que a gravadora apresentou boa dose de má vontade em lançar o disco na versão que se apresentou primeiramente e “sugeriu” mudanças. Com toda a problemática que surgia, a artista acabou se desestimulando – e abandonou o projeto por algum tempo. No entanto, como o disco foi produzido sob a égide da era digital, o inevitável aconteceu: o disco vazou inteiro na internet. Os fãs da cantora ensadeceram, deliraram, gritaram, protestaram. A gravadora, observando o interesse gerado pelo acontecimento, chamou Fiona e decidiu por não tolher sua liberdade de criação. E a cantora, surpreendentemente, decidiu reconstruir praticamente todo o disco, contando com nova produção de Mike Elizondo e Brian Kehew, e compor uma nova canção que integraria a forma da segunda versão do álbum.
O primeiro nascimento do disco, em 2003, foi dramático e pomposo. Muitas músicas possuem orquestração e metais presencialmente nostálgicos, que remetem às trilhas de filmes clássicos – caso de “Not about love” – canção com fantástico andamento que brinca entre o lento e o ligeiro e letras irônicas e cheias de ressentimento, reforçadas pelo vocal primoroso da cantora que reflete sobre um relacionamento fracassado -, “Red, Red, Red” – com orquestração magistral e piano suntuoso, onde a cantora se utiliza de cores para demonstrar a confusão e dor amorosa em que se encontra -, “Waltz” – onde, como numa valsa, Fiona canta a sua impaciência com rodeios afetivos, que quase sempre levam a nada – “Oh, Well” – melancólica e rancorosa, onde a cantora complementa o coloramento triste da espetacular melodia com um cantar sofrido e arrependido sobre um amor no qual ela que se oferece por inteiro mas onde só recebe intolerância e dor. Além disso, o piano apresenta-se frequentemente em tons graves, ligeiros e as vezes ansiosos com reverberação fugaz – como em “Please, Please, Please”, onde o piano se sobressai em uma melodia equilibrada, com letras que protestam contra o comportamento repetitivo e previsível de alguém que não falha em cometer erros -, acompanhando algumas vezes sonoridades sintetizadas ou arranjadas em instrumento artesanal que lembram sinos – assim é “Used to love him”, onde a cantora revela, com boa dose de humor tanto na melodia quanto na letra, o inconformismo de render-se imoderadamente à uma paixão. A bateria e percussão tem muitas vezes a vivacidade e energia já apresentadas por Matt Chamberlain no segundo disco da cantora – “Window”, com melodia e vocal opressivos e rancorosos, soa aqui como um grito de revolta, ira e inconformismo contra a traição e abandono afetivo. Por sua vez, a versão lançada em 2005 é bem menos vistosa e mais retraída, ressaltando mais a voz grave de Fiona Apple. Onde havia bateria e percussão suntuosas, melodias de sinos e metais, entram bateria acústica e metais mais planos e equilibrados, breves e sutis sintetizações eletrônicas e guitarras, por vezes, rascantes – como na igualmente deliciosa segunda versão de “Not about love”. Além disso, os vocais de Fiona apresentam-se refeitos em algumas canções, e mesmo em toda sua perfomance dramática, surgem mais seguros, limpos e certos – como na nova versão de “Used to love him”, agora chamada de “Tymps” e menos ambiciosa e mais balanceada e enxuta. Curiosamente, apesar de todo o apreço pela reconstrução das canções, duas faixas permaneceram irretocadas – a faixa-título do disco e “Waltz”, que ganhou um título sobressalente (“Better than fine”). E, talvez para não sentir-se como que apenas lustrando os móveis antigos da casa, Fiona compôs uma nova canção para o disco, a elegantemente revoltosa “Parting Gift” – onde a compositora disseca o comportamento de seu companheiro, “estripando” sua personalidade verso à verso.
Raramente os fãs de qualquer ídolo rock tiveram a oportunidade de ter contato com dois estados diversos de uma mesma obra artística, tendo a chance de comparar, criticar, elogiar ou apenas acompanhar a mutação sofrida na obra daqueles que adora tanto. E os fãs de Fiona se esbaldaram quando a sua vez chegou – se foram privados por anos de poder apreciar um novo trabalho de Fiona, por sua vez foram premiados, pela luta incessante que travaram, não com um álbum, mas com duas versões bastante distintas deste. E, podem ter certeza, apaixonados estes que são – muitos vão ouvir incessantemente uma versão em seguida da outra.

senha: seteventos

Extraordinary Machine 2003: mediafire.com/?4gl88vr5oed8rtr

Extraordinary Machine 2005: mediafire.com/?j2xk20ahm48oyp1

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Fiona Apple – When The Pawn. [download: mp3]

Fiona Apple - When The PawnEm 1999, Fiona Apple retornou com seu segundo álbum, When the pawn… – disco vigoroso já no seu título, composto por 90 (!) palavras -, onde novamente demonstra composições cujas letras prosseguem cheias de rancor e estórias de conflito afetivo. No entanto, diferentemente de Tidal, When the pawn… é sonoramente mais vigoroso e forte, adequando-se muito mais ao gênero rock, já que as músicas apresentam-se melodicamente mais sincopadas pela influência do gênero. É o que acontece em “On the bound” – canção despida de qualquer esperança, com acordes curtos, secos e cortantes de piano, acompanhado de bateria e metais fortes -, “To your love” – com letras que falam sobre um amor que causa, simultaneamente, dependência e repulsa, sonorizadas por um piano minimalisticamente ritmado e fundo composto por percussão pontual e bateria que salta aos ouvidos – “A mistake” – melodicamente mais equilibrada, onde a cantora tece letras que pretendem justificar, ou ao menos mostrar indiferença, à sua tendência de cometer erros – e “The way things are” – balada com radiantes acordes de piano, onde Fiona solta a voz no refrão que canta lindamente o desestímulo e a lamentação de um amor sem muito futuro.
Mas há duas canções que conseguem impor ritmo ainda mais ligeiro e enérgico, e que foram melodicamente construídas meio que uma ao inverso da outra: enquanto “Limp” – onde Fiona responde ao cansaço de um amor tempestuoso, e em cuja melodia a bateria e percussão frenéticas de Matt Chamberlain são um espetáculo adornado pelos acordes breves do piano – inicia vagarosa, saltando bruscamente para uma sonoridade rápida, “Fast as you can” – outra canção de amor conflituoso, onde a compositora volta a ressaltar sua auto-suficiência e orgulho – surge cheia de vontade, para logo construir uma sequência mais tranquila.
Reminiscências da sonoridade de coloração mais preponderantemente blues/jazz também surgem durante a audição do disco, especialmente na delicadeza e frescor da harmonia triste de “Love Ridden” – com letras sofridas sobre uma mulher que desiste de um amor que sempre acabava lhe causando mágoas – e na beleza intensa da melodia deprimida que ecoa do piano, cordas e da própria voz grave e confessional de Fiona em “I know” – que versa sobre uma mulher que aceita, por amor, os erros e traições de seu amado, aguardando silenciosa e resignada obter um pouco de sua atenção.
Artista primorosa, Fiona mostrou neste seu segundo álbum ser uma compositora muito mais versátil e completa do que as atuais estrelas do pop/jazz, que vendem milhões de cópias e são celebradas pelos críticos musicais, mesmo repetindo-se infinitamente a cada novo lançamento. Fiona não se deixou levar pelo comodismo artístico: When the pawn… mostrou que a artista preferia arriscar um redesenho de suas composições do que lucrar com as facilidades do que já foi trilhado. Link para download do disco depois da lista de faixas.

http://rapidshare.de/files/19185707/2–When_The_Pawn.zip

E, para aqueles que ficaram curiosos, este é o título completo do disco: “When The Pawn Hits The Conflicts He Thinks Like A King What He Knows Throws The Blows When He Goes To The Fight And He’ll Win The Whole Thing ‘Fore He Enters The Ring There’s No Body To Batter When Your Mind Is Your Might So When You Go Solo, You Hold Your Own Hand And Remember That Death Is The Greatest Of Heights And If You Know Where You Stand, Then You Know Where To Land And If You Fall It Won’t Matter, Cuz You’ll Know That You’re Right”

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Dido – Life for Rent. [download: mp3]

Dido - Life For RentEm No Angel, a britânica Dido fez sua estréia, revelando sua voz aveludada e sua elegância pop. Como a regra das gravadoras, ao apostar muitas das suas fichas em um artista revelação, é estabelece-lo entre os artistas já veteranos e consagrados, faz sentido que mantenha-se o trabalho deste no rumo que garantiu o sucesso inicial ou que se recheie o disco com tons ainda mais cativantes.
É isso que faz Life for Rent parecer uma espécie de parte 2 turbinada do álbum anterior, tantas são as canções com cara de single. Temos a presença de músicas com a vestimenta de hits clássicos imediatos – caso de “White Flag”, com sonoridade pop segura que fala sobre uma mulher que insiste em lutar pela relação que já chegou ao seu fim, e “Don’t leave home”, passionalísima declaração de submissão e dedicação amorosa com instrumentação generosa em que se sobressaem belos acordes de violão. Há, como no disco anterior, as faixas com bases eletrônicas assumidas sem perder a coloração pop – caso de “Stoned”, com eletrônica sincopada, onde Dido canta sobre o desejo de um amor mais vigoroso, de “Who makes you feel”, com melodia eletro-pop de elegante sensualidade e letras onde a cantora dirige-se ao amante questionando e mostrando que ele não encontrará ninguém que o ame mais do que ela, e também de “Do you have a little time”, música de sonoridade mais suave, mas que igualmente exala sensualidade, onde uma mulher implora pela atenção de seu amor, que parece não dedicar muito do seu tempo para os prazeres da vida. E há também as canções com tecitura mais acústica – como “This land is mine”, com acústica acompanhada de uma instrumentação pop sutil, onde uma mulher declara à seu amado, quando ele retorna de um período de ausência, que ele poderá intervir, desde que saiba que agora ela tem o controle de sua vida, e também de “Mary’s in India”, definitivamente a canção mais linda e de harmonia mais simples do álbum, com violões doces e melancólicos e onde a voz de Dido ressalta toda a saudade e o crescer de um sentimento amoroso de uma história sobre dois amigos que encontram-se para matar a saudade de uma amiga em comum, de espírito aventureiro, e se descobrem pouco a pouco apaixonados.
Todas essas características me levam a pensar que Dido, talvez, tenha algo do trabalho da brasileira Bebel Gilberto – tirando o fato de que Dido não tem ambições jazz/bossa, substituindo isto por uma herança mais pop. Talvez seja só uma impressão, uma postura vocal, ou uma “aura” – na falta de termo mais apropriado – musical. Mas é algo que surge devido à suavidade das músicas de ambas as artistas e de ambas terem seus discos reconstruídos por remixagens. E ao concluir a audição observa-se que se trata de um álbum de letras que expressam primordialmente melancolia e entrega amorosa, todas embaladas em melodias pop luminosas, algumas com o eletrônico mais ressaltado, outras com a veia pop mais aberta, e outras ainda que se entregam a simplicidade acústica, e que acabam resultando nas melhores canções do disco. Para os fãs assumidos da música pop mais clássica, este é um álbum de paixão à primeira escuta. No entanto, a presença de harmonias eletrônicas suaves agradam também os fãs do chamado “chill” ou “lounge”. Baixe o disco através dos links que seguem depois da lista de faixas.

Baixe: https://www.mediafire.com/file/8l6c612npzq89s2/di-life-do.zip

Ouça:

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Fiona Apple – Tidal. [download: mp3]

Fiona Apple - TidalA cantora e compositora Fiona Apple tinha apenas 18 anos quando lançou seu álbum de estréia, Tidal. Para alguém que tem constante contato com os adolescentes de hoje, ainda causa surpresa tal lembrança – já que mais da metade destes jovens, hoje, estão insuflados por um imenso vazio cultural. o trabalho da garota é de uma profundidade e complexidade inimaginável para alguém de sua idade. Melodias sofisticadas e repletas de sutilezas jazzisticas, letras que tratam de temas como amor e culpa com elegante ironia e um vocal em estilizadíssimo tom grave são coisas que fazem este disco soar estranhamente atraente para qualquer ouvido disposto a iniciar uma imensa evolução sonora em sua cultura musical.
Fiona não é uma artista de meios-termos: suas composições são intensas – até barrocas – na sua maneira desmedida de expressar emoções e atitudes. Assim é “Criminal”, que fala de uma mulher cheia de culpa que implora perdão ao seu amante, enquanto os acordes do piano assumem um belíssimo duelo com ons tons charmosamente graves da voz de Fiona e a bateria assume o papel de impor ritmo forte à canção. Em suas “baladas”, por sua vez, Fiona consegue compor melodias esplêndidas, sendo uma das únicas compositoras que conheci até hoje que emoldura letras cheias de rancor e sofrimento amoroso em harmonias que são um híbrido de melancolia e sensualidade. É o caso das canções “Sullen Girl” – que revela, com ironia, uma mulher melancólica e afetivamente amargurada que aguarda, com certo desespero, que algo a tire de sua criogenia – e “Slow Like Honey” – delírio irresístivel que transforma o flerte em uma verdadeira ode à arte da sedução. Em “The First Taste”, Fiona mostra ainda que uma música pop pode ser enriquecida com harmonias finas e elegantes, sem perder seu apelo imediato. “Carrion”, canção que fecha o CD, tem em suas letras um misto de desejo de resgate e fuga de uma relação amorosa, tudo embebido em uma melodia que inicia-se silenciosa e sutil, para arrebentar em uma harmonia luminosa e fulgurante. No entanto, é mesmo “Sleep to dream, faixa que abre o disco que resume o tom da composição lírica da cantora. Nos vocais desta canção, vemos uma mulher que se dispõe a abandonar uma relação, muito segura de si e completamente enfastiada com a fato de que aquele que amava não estava à sua altura. É justo. Não é qualquer um mesmo que pode com essa mulher. Baixe o disco utilizando os links a seguir.

http://rapidshare.de/files/15457981/Xile-Tidal-Apple.part1.rar

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Marisa Monte – Universo ao meu redor. [download: mp3]

Marisa Monte - Universo Ao Meu RedorE Marisa Monte renasceu. Foram anos lançando álbuns medianos ou absolutamente dispensáveis. Porém, sempre é tempo de demonstrar bom senso. E a cantora e compositora brasileira decidiu que já era hora de fazer isso. Universo ao meu redor, álbum-irmão de outro lançamento simultâneo de Marisa, é definido por ela como um disco que detém a “atmosfera do samba”. Isso é bobagem, é Marisa querendo ser pós-moderna ou pseudo-humilde, sendo que este último não cabe muito bem à ela. Se este não é um disco de samba eu não faço idéia do que poderia ser.
O álbum é composto de alguns sambas que, até então, tinham registros apenas orais, ao lado de composições recentes da cantora e seus parceiros habituais – e outros ainda que estréiam no repertório da cantora. De beleza tranquila, quieta, sem arroubos estilísticos-sonoros, o disco abandona a pretensão exibida pela cantora nos últimos anos e retorna à um som mais puro e despido, como o de seu melhor disco até hoje Verde, anil, amarelo, cor de rosa e carvão. Ao deixar de lado o irritantemente presunçoso delírio pop que mostrou sua sombra em Barulhinho bom, foi expandido em Memórias, crônicas e declarações de amor e que atingiu seu ápice em Tribalistas, Marisa deixa aflorar seus melhores predicados e exibe maturidade musical fulgurante. Assim sendo, todas as faixas tem valor e beleza, mas há composições de beleza infinda que se destacam, como “O bonde do dom”, que emociona com seus versos melancólico-urbanos e sonoridade que mistura o clássico do ritmo brasileiro com discretíssimos toques modernos, como um teclado Hammond sutilíssimo. “Vai saber?”, composta pela sempre fenomenal Adriana Calcanhotto, ganha arranjo à altura, com violas sofridas mescladas à harpas delicadas e vocais de fundo sobrepostos. A faixa que abre e dá nome ao disco, “Universo ao meu redor”, tem letras e melodias lírico-bucólicas, revelando a beleza imensa das pequenas coisas da vida que nos cercam. “Satisfeito” que traz mais bucolismo em suas letras, moderniza com uma batida eletrônica e acordes de guitarra que sabem seu lugar dentro de uma música que pisa forte no terreno do samba. E em mais uma bela canção de desapontamento amoroso e superação afetiva, “Lágrimas e Tormentos” segue a tônica melódica do disco, misturando a instrumentação tradicional do samba com toques suaves de sonoridades menos comuns ao ritmo, mas que se adaptam com maestria.
É maravilhoso, depois de tanta decepção, comprovar que uma artista do calibre de Marisa tem e teve sempre a capacidade de construir belas obras como o álbum em questão. Felizmente, os males da contemporaneidade – como a massificação, industrialização e populismo artístico, em voga desde meados da década de 90 – mostram que podem sim saturar os artistas que por eles se (des)aventuraram. Para o bem da arte e de todos nós. Baixe o disco usando qualquer um dos links que seguem depois da lista de faixas.

http://rapidshare.de/files/15366312/Universo_Ao_Meu_Redor.rar.html

http://d.turboupload.com/d/429298/Universo_ao_meu_redor.rar.html

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Rufus Wainwright – Want Two (+ 5 faixas bônus) [download: mp3]

No segundo volume de seu projeto Want, Rufus Wainwright deixou os ares barrocos da primeira parte, no qual compôs canções mais operísticas e rebuscadas, para trabalhar a complexidade de suas músicas de uma forma mais contida e concisa. Tanto é assim que nota-se facilmente que a maior parte dos cantos de Want Two são mais acústicos, reflexivos e equilibrados.
A faixa que abre o disco, “Agnus Dei”, possui toda a pompa e circunstância já conhecidas em Rufus – é uma versão em latim da prace “Cordeiro de deus” -, mas desenvolve sua melodia com sutil inspiração oriental, e baseada em instrumentação de cordas, com delicadeza e lentidão. “The One You Love” tem uma levada pop/rock irresistívelmente sincopada, e letras que retratam um amante arrependido tentando reaver a confiança perdida. A belíssima “Little Sister”, que já era conhecida em apresentações ao vivo do cantor, emociona o ouvinte com sua melodia com algo de renascentismo e versos que mostram a rivalidade e os pequenos desentendimentos típicos entre dois irmãos que, no final das contas, se amam muito. “The Art teacher”, grava ao vivo, tem melodia simples, baseada apenas em piano, e revela a paixão de uma jovem por seu professor de Arte ao fazer uma visita com sua turma ao Museu Metropolitano de New York – e mostra que esta paixão adolescente lhe deixou marcas para o resto da vida. “This Love Affair” é uma balada de melodia belissimamente simples e absolutamente desesperançada sobre um homem que abandona uma relação amorosa, sem qualquer rumo e completamente desnorteado – é uma das canções mais tristes já compostas por Rufus. No entanto, a canção mais polêmica do disco é mesmo “Gay Messiah”. Nesta música Rufus despe-se de quaisquer tabus ao construir uma ironia pesada sobre a figura maior do cristianismo – sim, Jesus – e o estilo de vida dos gays mais despojados e materialistas – no sentido sexual: o messias aqui é um verdadeiro adônis gay que renasce de uma das famosas revistas pornôs dos anos 70. A canção choca um pouco no início, mas entende-se a crítica do cantor à vida desregrada de alguns homossexuais mais levianos. A única canção que reverbera a concepção melódica mais ostensiva de Want One é “Old Whore’s Diet”, que apresenta o cantor Antony junto com Rufus. Com letras que só podem ser entendidas como um mantra ensandecido repetidas “ad eternum”, a longa melodia repleta de cordas e violões é vívida, apresentando mudanças feitas suavemente e também de maneira brusca e repentina. Depois da orgia sonora apresentada em Want One é surpreendente que o cantor nos traga em sua segunda parte um álbum cheio de sonoridades plácidas e contemplativas, ainda que em boa parte continue sendo um retrato do sofrimento amoroso. Faz sentido: me parece que em Want One temos um homem que sofre sem saber, já que esta mergulhado na euforia de vícios e prazeres momentâneos. Em Want Two esta euforia se foi, e resta agora aprender a conviver e superar o inevitável sofrimento posterior.

Baixe: http://www.mediafire.com/file/jgvo3c4rbjqb5iv/rufus-wtwo.zip

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Placebo – “Twenty Years” (dir. Simon Cracknell). [download: vídeo]

Placebo - Twenty YearsSem dúvidas a belíssima música que foi lançada para promover a coletânea Once more with feeling, da banda Placebo, ganhou um curta repleto de lindas imagens: nelas alguns acrobatas, entre outros personagens, movimentam-se com energia enquanto a banda entoa, impávida, os versos tristes da música. Imagens idílicas não poderiam deixar de ser mostradas, bem ao gosto do estilo musical da banda: uma mulher que cai em uma cama elástica e é arremessada por ela para o alto para não mais voltar e uma trupe de senhoras que dança o “cancan”, vestidas à carater e com um certo amargor no olhar. Não se trata de um vídeo inovador mas, com certeza, ilustra muito bem a poderosa canção da banda britânica. Download do vídeo no formato .WMV através do link abaixo.

http://www.joeyansah.co.uk/downloads/Placebo.wmv

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