Demorei um bocado, mas não vou deixar de colocar aqui minhas impressões sobre essa primeira temporada da estréia mais comentada do ano passado. Depois de assistir a todos os episódios de “Heroes”, produzido pelo canal americano NBC, não há como discordar do fato de que esta é mesmo uma das séries mais divertidas e cativantes em toda a produção recente da televisão norte-americana: protagonistas que detém enorme simpatia e personagens secundários tão ou mais interessantes quanto, episódios com estrutura altamente folhetinesca, repletos de desfechos com ganchos e viradas que seguraram a tensão e o interesse pela trama e efeitos especiais bem feitos e planejados formaram a base do sucesso deste projeto. Sem dúvidas, muito disso se deve à algumas sacadas que viraram verdadeiros trunfos de “Heroes”. E primeiro deles é a empatia do personagem Hiro Nakamura, que centraliza a veia cômica e as sequências mais espontâneas dos episódios e, acidentalmente, alimentou especulações entre fãs devido sua imensa amizade com o sempre presente Ando Masahashi: alguns não perderam tempo e já trataram de imprimir, com malícia, a imensa semelhança com Batman & Robin. Apesar dos produtores “darem corda” a idéia de que os dois personagens possam, mesmo que inconscientemente, ser algo além de amigos, a meu ver eles formam muito mais uma dupla no estilo Sherlock & Watson, com sua simultânea cooperação, complementação e aprimoramento de idéias e comportamentos. Mas os protagonistas mais “sérios” tem também seus méritos em tornar sucesso o seriado. Peter Petrelli centraliza os atos mais impulsivos da trama, muito devido a sua personalidade persistente e seus poderes complexos. Outro exemplo é Claire Bennet, popularizada já no início pelo motto “salve a líder de torcida, salve o mundo”, angariando então boa parcela da simpatia dos fãs, em grande parte devido à seus dramas pessoais e sua conexão com os personagens cruciais da trama. Aliás, a interconexão entre os habitantes do universo de “Heroes”, bem como sua trama composta de um mistério de natureza conspirativa, bem em voga atualmente, é outro componente que alavancou a popularidade do seriado. Crucial também foi a vontade que o público tinha de ver um seriado que não se centrasse em um único herói ou “mutante” – ou que partisse deste ponto para então aumentar seu leque de heróis -, mas que tratasse, desde o seu início, de um conjunto de personagens com superpoderes. À esta vontade foi adicionada a curiosidade do público em conferir uma série cujos “super-heróis” são pessoas “comuns” que se deparam com sua situação extraordinária, personagens criados para esta série e que não pertencem ao mundo dos quadrinhos – mesmo que sejam insuspeitamente inspirados e referenciados neles.Todo este conjunto de idéias e criações bem formuladas, com produção e direção competente, resultou no sucesso da série.
No entanto, algumas coisas impediram (e provavelmente continuarão impedindo) a série de galgar degraus mais ambiciosos e ganhar relevância como artefato cultural. Sua natureza e essência, por si só, não lhe permitem uma consideração mais séria sobre sua importância, já que super-heróis, mutantes e afins pertencem ao que há de mais pop dentro da indústria cultural. Filmes e artefatos que se utilizam desta temática ficam sempre com a lacre de “diversão pura e assumida” bem à mostra, pois o conflito básico que guia suas tramas, a luta entre bem e mal, não consegue desvencilhar-se de sua necessidade de personagens e situações caricaturais e impede a existência de qualquer pretensão de maior profundidade – salvar o mundo do seu fim ou do perigo representado por um grande vilão, a constante valorização, implícita ou explícita, de valores como altruísmo, coragem e honra, a presença sempre necessária de um personagem que guia seus atos pela sua ingenuidade e bondade, todos esses elementos intrínsecos ao gênero são também os que lhe retiram um valor de “obra maior” por deixar um rastro razoável de superficialidade e simplismo. E por estes componentes serem figuras tão marcadas, semelhantes e visíveis em histórias desta natureza é que fica fácil para o espectador, a certa altura, desenhar antecipadamente o desfecho básico da história – além da própria constituição da narrativa de “Heroes”, com suas constantes intervenções diretas ou indiretas no futuro fictício e possível da trama.
Assim, “Heroes”, por ser o que é, sacramenta seus próprios limites e estaciona no patamar da previsibilidade, do qual, provavelmente, não vai sair – claro, sempre é possível sermos surpreendidos na temporada seguinte, que chega no dia 24 de Setembro. Porém, dentro destes mesmos limites, nesta primeira temporada, ela figurou entre as melhores pela consistência da relação entre o que ela se propôs e do que entregou ao público: entretenimento com planejamento cauteloso, produção luxuosa e conceito infalivelmente atraente e divertido – seria difícil fracassar com um seriado que soube agregar tudo o que público desejava há muito tempo contemplar.
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Eita! E as séries dramáticas super produzidas e com elenco enorme e variado estão na moda desde o sucesso estrondoso de “Lost”. A mais nova candidata à adoração imediata do público é a ambiciosa “Heroes”, da rede de TV americana NBC. As semelhanças com o mega-hit do canal ABC não param por aí, a mais evidente, além do que já foi citado, é que os personagens estão ligados por algumas coincidências – que, claro, podem não ser apenas coincidências. Alguns já a criticam por achar que se trata de uma cópia-liquidificador de “Lost” com “X-men”. No entanto, mesmo considerando que a série se apropria dos elementos que atualmente arremessam seriados ao sucesso absoluto, isso não faz dela automaticamente uma obra ruim. “Lost”, como já discuti aqui mesmo no blog seteventos.org, também se apropriou de idéias anteriormente existentes. O segredo do sucesso da série está na forma como clichês e idéias pré-existentes foram transformadas e tratadas na construção do argumento e, em um do mais claros processos de antropofagia cultural na história da televisão americana, reverterem em uma obra com sua própria identidade. É cedo – apenas um episódio até o momento – para dizer que “Heroes” faz o mesmo, mas a impressão que fica é que os produtores vão trabalhar de maneira semelhante.
A estréia é apenas no dia 11 de setembro – opa, a data de lançamento é bem emblemática para uma série com esse nome, não? -, mas o episódio já vazou para a internet. E o primeiro capítulo é bastante promissor – fiquei animadíssimo para ver a sequência. Prefiro não revelar muito – como costumo fazer com minhas resenhas de filmes e até mesmo porque não há muito o que revelar sobre o capítulo: o piloto apenas apresenta o maior número de personagens possível e revela algumas das capacidade de cada um e um breve painel de seus dramas pessoais, bem como apresenta rapidamente um misterioso senhor que está tentando reunir informações sobre todos eles para propósitos não-altruístas e o seu oponente, o professor Xavier – ops! -, digo, o professor indiano. A abertura do capítulo – fenomenal – é claramente inspirada em uma das cenas mais famosas do mediano “Cidade do Anjos”, e repete-se com um climax absurdamente surpreendente no final do episódio. Com relação aos personagens, mesmo à primeira vista e sem a apresentação de todos os integrantes da estória, posso afirmar que, para uma primeira parte, eles cativaram bastante e os diversos mistérios que rondam a capacidade extraordinária de cada personagem, bem como o misterioso destino que eles juntos enfrentarão, consegue desperta a curiosidade do público. Entre os personagens, cuja extensão da capacidade mutante de alguns ainda não foi bem esclarecida, temos mais uma semelhança à moda “Lost”: assim como o Hurley daquela ilha perdida no oceano, o japonês que tem a capacidade de manipular o tempo e o espaço é a fonte de humor dos episódios – estranho como todo oriental aos olhos do ocidente, o cara é otaku e aficionado por quadrinhos. É ele, inclusive, que fica responsável pela citação, sem qualquer constrangimento, da fonte de inspiração maior do seriado, quando ele lembra em uma sequência um acontecimento relacionado à Kitty Pride, citando, inclusive, o número da edição de “X-Men” – número 143, para os que ficaram curiosos. Além do personagem que vai proporcionar a verve humorística dos episódios – se supõe, claro -, os outros também chamam a atenção: a líder de torcida dotada de invulnerabilidade não é apenas uma patricinha, ela tem lá seus dramas; a mãe solteira às voltas com um alter-ego violento no espelho é meio porra-louca; o pintor-vidente é um adicto algo masoquista, e os dois irmãos que se adoram mas não se entendem com facilidade, um enfermeiro altruísta e o outro um político supostamente egocêntrico, tem suas surpresas, particularmente no fim do episódio. O antagonista da trama deixou-me confuso, mas nada que dois ou três episódios não esclareçam. Caindo na mais desparatada superficialidade sobre os personagens, só o político, interpretado por Adrian Pasdar, tem seu charme para mim, até o momento – o irmão também não é de se jogar fora.
Obrigatória para qualquer um que ame seriados americanos, essa estréia é para ser acompanhada ansiosamente desde já, torcendo para que o seriado faça mesmo sucesso e ganhe fôlego para vencer o fantasma da primeira temporada. Se depender somente da dedicação da bárbara equipe do Lost Brasil, o sucesso já está garantido – à maneira do mega portal brasileiro sobre o seriado da ABC, “Heroes” também já tem espaço prometido na comunidade brasileira da internet. Então, agendem seus downloads e vamos preparar as dicussões.
E como seteventos.org é assumidamente a favor da divulgação de tudo o que tem qualidade na indústria cultural, aproveite o link abaixo e pegue já o badalado primeiro episódio de “Heroes”, no formato RMVB e já com legendas em português – eu amo a internet!
http://up-file.com/download/0bf811858393/Heroes.100.DVDSCR.rmvb.html
8 ComentáriosOBSERVAÇÕES:
Como baixar do UP-FILE:
a) procure, mais ou menos no meio da página, logo abaixo do logo do Firefox com Google Toolbar, três pequenos links azuis que parecem apenas propaganda. O último deles é o link que ativa a contagem regressiva. Clique nele;
b) após a contagem regressiva, que surge logo abaixo do mesmo logo do Mozilla Firefox, clique no texto “Click here to start download..”
c) salve o arquivoOU simplesmente clique com o botão direito do mouse SOBRE ESTE LINK e selecione do menu “salvar destino/arquivo como..”