Vampiros, que há séculos estão em guerra contra lobisomens, descobrem que estes não estão tão enfraquecidos quanto imaginavam. Selene, uma vampira caçadora, descobre que por alguma razão os lobisomens perseguem um jovem médico humano, que corre perigo de se transformar em um daqueles por quem está sendo perseguido. Enquanto tenta entender porque ele é tão cobiçado por seus inimigos, Selene tem que se esquivar da obsessão do atual líder de seu grupo, o ambicioso vampiro Kraven, e pensa seriamente em acordar o poderoso vampiro ancião Viktor de sua hibernação, o único em quem confiaria para ajudá-la na solução do conflito que imagina estar chegando.
O filme de Len Wiseman diverte, traz bons efeitos especiais, é bem produzido e dirigido, apresenta um clima interessante e uma estória bacaninha. Ou seja, “Anjos da noite” é puro entretenimento.
Porém, há dois problemas justamente nas duas últimas características citadas como qualidades do filme – e ambos, na verdade, resultam da inspiração em outra coisa, não sendo algo criado originalmente pela produção de Wiseman. Com relação ao “clima interessante”, não há sequer uma criatura no mundo que, assistindo aos primeiros instantes do filme, não recorde de uma famosa trilogia, tão adorada por aí. Antes mesmo de ser um enorme sucesso de bilheteria, a trilogia “Matrix” é uma enorme influência na cultura pop, e particularmente no cinema. Essa verdadeira praga infestou-se por uma enormidade de produções posteriores, e “Anjos da Noite” é, mais do que evidente, um dos longas influenciados por “Matrix”. Se não vejamos: mulheres com roupas de couro ou vinil preto, super aderentes, homens com enormes capas ou sobretudo, câmera lenta aos borbotões, armas poderosésimas, tiroteios para todos os lados – em câmera lenta, obviamente -, pulos e acrobacias que desafiam qualquer noção fundamental da física, e poses, meu bem, muitas poses de “mamãe sou cool”. Digamos que Len Wiseman tirou toda a referência cyber e do universo da ficção científica e substitui pela referência dark-gótica e pelo universo da fantasia, preservando todo o resto – o estilo cool/pop mais do que inconfundível que faz o filme parecer, como bem notou o pessoal do portal A-Arca, um mega videoclipe. Que trabalho criativo o do diretor, não? Com relação à “estória bacaninha”, o problema é quase tão grande quanto o do estilo. O argumento é, na verdade, o de Romeu e Julieta no mundo dos seres sobrenaturais, com algumas pitadas de ecumenismo racial. O plágio foi mesmo considerado como verdadeiro – uma editora de livros de RPG publicou uma estória muito semelhante, por sua vez inspirada no clássico de Shakespeare, entre as suas obras. Sendo assim, duas das maiores características deste longa-metragem resultam em algo derivado – para não dizer descaradamente copiado – de um filme e de um argumento de Role Playing Game. O que resta de original, de próprio da obra de Len Wiseman, então? Na verdade quase nada. Só o elenco, eu imagino.
Assim sendo, o filme resulta em um longa-metragem problemático. Apesar de divertido, “Anjos da Noite” é resultado de uma mistureba da cultura pop que não traz absolutamente nada de novo. Mas o público adorou e, com o sucesso, a filme que originalmente foi planejado como um só já foi transformado em uma trilogia, ora vejam. Ainda bem que estamos próximos do lançamento da terceira e última – será? – parte desta estorinha bonitinha mas ordinária. Só temos que aguentar mais um longa cheio de figurinhas bad-cool, com doses cavalares de jogadas de cabelo da Kate Beckinsale, e estaremos livres de mais um longa-metragem que recicla idéias que já tinham sido recicladas pelas suas fontes de inspiração. Contudo, não estamos salvos – mais filmes super-originais prometem sair dos estúdios e da cabeça dos produtores americanos. Esse círculo vicioso e nada criativo de Hollywood nunca acaba mesmo.
Tag: america do norte
Um escritor fracassado, agora professor de literatura, e sua mulher, que descobriu seu talento como escritora, acabam se separando e transferindo seus dramas para seus dois filhos, o que acaba fazendo com que cada um tome as dores de um lado do problema: o mais novo se compadece com a situação de sua mãe, e o mais velho se alia ao seu pai. Logo os dois filhos vão começar a enfrentar dramas que já pareciam nutrir quando suspeitavam da separação de seus pais.
O filme de Noah Baumbach foi aplaudido e elogiado em inúmeros festivais e saudado como um filme excepcional pela crítica. Eu não sei o que os festivais e a crítica viram de tão sensacional nele. Há dois problema sérios ali: o primeiro é uma certa falta de razão para os dramas pessoais de cada um deles, o segundo o fato de você nunca simpatizar totalmente com nenhum dos personagens para, aí sim, compadecer de seus dramas. O expectador até consegue entender porque o caçula desenvolveu uma obsessão e uma tara desmedida por sexo e porque seu irmão sofreu o agravamento da sua falta de discernimento cultural e afetivo e da sua atitude esnobe, que foi herdada, mas isso nunca atinge as emoções do espectador. É evidente que os personagens, durante a maior parte do filme, reprimem suas emoções, mas mesmo quando se pretende emocionar a platéia com o exteriorização de seus dramas e dores, a tentativa não obtém sucesso. Por parte do diretor e roteirista faltou criar traços mais interessantes e idílicos na construção da personalidade dos personagens e acentuar a veia cômica do filme com situações mais idiossincráticas; no que tange aos atores, faltou uma maior emotividade em suas atuações. Partindo-se da informação de que um dos produtores do filme é o cineasta Wes Anderson, conclui-se que este quis impulsionar a carreira de Noah Baumbach dentro da linhagem das comédias mais inteligentes. O problema, no entanto, é que a tentativa não sucede por faltar na concepção do filme de Baumbach o que o maior sucesso de Anderson, “Os Excêntricos Tenenbaums” tem de sobra: charme, inteligência, personagens e situações realmente cativantes e engraçadas e intepretações que, apesar de partirem de um certo ar blasé, transmitem muito claramente grande emotividade. Há alguns desses traços no longa-metragem de Noah, mais o diretor não consegue desenvolvê-los suficientemente e, assim, o filme acaba não indo à frente. O filme termina e você se pergunta: “tá…e daí?”. É, no máximo, uma estória bacana sobre uma família de pessoas cultas que enfrentam um período de desintegração. Não é um filme ruim, mas eu não me daria ao trabalho de indicá-lo para premiação alguma. O único prêmio que o filme merece, ao meu ver, é o de “Maior frustração em tentativa ilusioramente promissora do ano“. E palmas para Noah Baumbach pois, depois desse prêmio, o destino de seu longa-metragem é o limbo amedrontador da “Sessão da Tarde”.
A agente especial do FBI Clarice Starling, fragilizada por uma missão mal-sucedida e com sérios problemas no Bureau devido ao incidente, recebe uma oferta de um representante do alto escalão do governo, numa tentativa de ajudar a resolver um sério problema, ao mesmo tempo que poderia ganhar respeito e reconhecimento pelo seu trabalho novamente: a agente voltaria ao caso que a tornou famosa dez anos antes para resolver um pequeno detalhe deixado para trás: o Dr. Hannibal Lecter. E este encontra-se em Roma, Itália, onde tenta obter o emprego de “marchant” em uma importante biblioteca do país. Mas como Lecter voltou a figurar na lista dos dez mais procurados do FBI, é uma questão de tempo para que alguém descubra sua verdadeira identidade.
Eu poderia dizer que este é um filme desnecessário mas “assistível”, isso se ele terminasse logo quando o Dr. Hannibal Lecter foge da Itália. Porém, o diretor Ridley Scott não se conteve e foi muito, mas muito além. A partir da saída do canibal culto da Itália, o que se vê no filme é uma sucessão de sequências inconcebivelmente exageradas, que tem o objetivo claro de chocar. Um exemplo apenas, dentre vários possíveis: a cena final, o “jantar” arquitetado por Lecter para Clarice, não é apenas absurda em sua total inverossimilhança, mas também absolutamente desnecessária para a construção dos personagens. O que me faz pensar que tais sequências chocam muito mais pelo desgosto de destruir dois personagens, construídos com tanto cuidado e esmero no filme anterior, do que pelo horror das cenas em si. Isso, por si só, seria imperdoável. No entanto, este não é o único dos defeitos do filme. Saindo do roteiro, temos o problema dos atores e dos rumos de seus respectivos papéis. Apesar de Juliane Moore fazer o papel de Clarice de forma bastante eficiente, não há como não sentir falta de Jodie Foster: Clarice Starling ficou na memória com o jeito frágil e ao mesmo tempo seguro injetado por Foster, e o público nunca acaba sendo totalmente convencido de que Clarice agora é Juliane Moore, que transformou a personagem numa mulher amarga e fechada. O próprio Anthony Hopkins comete um erro ao carregar nas tintas de Hannibal Lecter nesta sequência, saturando no nível da altivez e petulância do personagem. O livro de Thomas Harris, e por consequência o roteiro de David Mamet, também tem seus méritos na destruição dos dois personagens, pela idéia do argumento em si. Basta comparar o argumento do filme de Johnatan Demme com o de sua sequência para enxergar o problema deste último: o filme anterior não era exatamente sobre Hannibal, mas sobre uma jovem agente que buscava pistas sobre um perigoso criminoso através do perfil desenhado por outro criminoso, igualmente perigoso. Assim sendo, Hannibal, apesar de ter destaque na trama, dividia espaço com dois personagens igualmente interessantes – o assassino que sonhava em se vestir, literalmente, com uma pele de mulher, e a agente do FBI, inexperiente mas absolutamente competente. O roteiro de “Hannibal” não foi tão engenhoso, resumindo-se a uma estória de crimes hediondos e suspense contínuo, apoiado pela incursão do sangue na tela orquestrada pelo exacerbação do responsável por estes atos. À primeira vista o roteiro parece engenhoso, devido ao nível de requinte das barbaridades perpetradas por Hannibal, mas isso é pura enganbelação, uma vez que o filme se resume somente à isto. E não adianta argumentar declarando que neste longa-metragem há um maior aprofundamento na personalidade dos protagonistas: o escritor, o roteirista e o interprete do personagem-título fizeram apenas potencializar – desnecessariamente – os traços da personalidade do Dr. canibal, pegando apenas o exemplo mais evidente. E isso fica muito nítido ao observar que, durante várias passagens do filme, tenta-se fazer crêr em um enorme – e acreditem, realmente enorme – poder de sedução, controle e domínio do senhor Lector sobre qualquer outro mortal, obtendo sucesso ao ordenar qualquer um de mutilar a si próprio, por exemplo. E, convenhamos, isso não dá para engolir da maneira que é posto no filme. O que me leva à minha observação final sobre a natureza do longa-metragem “Hannibal”: a sequência de o “Silêncio dos Inocentes” não passa de mais um filme que se resume à glamourizar um assassino e os seus crimes, jogando para escanteio toda a profundidade, pluralidade argumetativa e riqueza na concepção dos personagens que tornou o primeiro filme tão adorado e celebrado. É, no mínimo, uma tentativa lastimável de levar à frente uma “franquia” cinematográfica. Não foi por mero acaso que Johnatan Demme e Jodie Foster não quiseram fazer parte da empreitada. Isso seria imperdoável. Só sobrou Anthony Hopkins, que insistiu – ou foi convencido por um polpudo cachê – em devorar, no mau sentido, o personagem lapidado com tanto cuidado no primeiro filme.
Depois de ter presenteado os fãs com o álbum duplo de canções originais e registros ao vivo, o disco to venus and back, boatos de que o novo trabalho de Tori Amos seria um álbum de covers surgiram na net. Como de costume com a cantora, os detalhes foram revelados muito lentamente, e os fãs se surpreenderam ao descobrirem, aos poucos, que o disco estava mesmo tomando esta forma. Apesar do desânimo de alguns, ao constatarem que se trataria de um disco sem sequer uma canção nova, de autoria da própria compositora, outros mostraram-se muito animados, pois a cantora é reconhecidamente uma artista que apresenta covers fantásticos, completamente renovados de sua forma original. E, em se tratando de Tori Amos, este não seria mesmo um simples álbum de covers.
Strange Little Girls vai mais muito mais longe do que apresentar regravações de canções: o disco traz reinvenções e reinterpretações de cada uma de suas 12 músicas, todas compostas por homens, sob o ponto de vista feminino. Para incrementar o projeto e melhor delinear a reinterpretação das músicas, Tori Amos criou um personagem feminino para cada canção e, desta forma, cantou cada verso da música interpretando tal personagem. Os personagens também foram criados visualmente, pois cada um deles apresenta-se no encarte do disco – todos encarnados pela própria Tori -, obtendo, na caracterização de cada um deles, a ajuda do maquiador Kevyn Aucoin. O resultado são 13 personagens, um para cada canção, dentre eles dois – irmãs gêmeas – para uma das músicas.
O disco abre com um clássico da banda Velvet Underground: “New Age”. A versão de Tori, ao mesmo tempo que é moderna, remete à época em que a música foi composta – os anos 70 – devido a presença de acordes de guitarra deliciosamente espaçados, bem ao estilo da trip altenativa daquela década, mas que ganham corpo com o avançar da melodia. Nos vocais, a cantora também não deixa pedra sobre pedra: do início ao fim da música, quando entoa o verso, Tori emposta a voz, como uma mulher apaixonada e cheia de desejo pelo que vive no momento. O verso final da canção, “it’s the beginning of a new age”, torna-se um mantra orgásmico tão intenso que consegue levar qualquer um a berrar junto com ela. Em “’97 Bonnie and Clyde” Tori Amos decidiu liquidir o ritmo da canção original de Eminem – se é que seria possível retirar alguma melodia dali – e o recriou em algo que lembra uma trilha sonora digna de um filme clássico de terror. A melodia inicia com uma sonoridade propositalmente estranha repetida à cada vez que Tori Amos entoa “just the two of us”, o refrão da canção. Quando não se encontra nesse momento, a música tem ao fundo sopros em tom grave e de sonoridade minimalista e cíclica e cordas de acordes que sugerem um suspense contínuo, que parecem antever com temor o horror do acontecido – o trecho melódico que estes intrumentos constroem se repete continuamente pela música toda. Aos poucos também surge uma percussão sincopada em tom marcial, ampliando uma certa sensação de claustrofobia claudicante. Os vocais de Tori são repletos de um sentimento de dor e impotência diante do destino e são susurrados como num esforço repremido em alguns trechos – é, sem dúvidas, uma melodia incomum até mesmo dentro que Tori apresentou até hoje em sua carreira.
Na sua versão da canção do Stranglers, “Strange Little Girl”, é deliciosamente a mais pop do álbúm:guitarra gingadíssima, bateria esperta e vocais charmosamente raivosos. A letra não foi sequer tocada, mas a personagem que Tori Amos criou para a canção consegue modificá-la totalmente: a mulher da canção é, na verdade, a criança que inadverditamente participou do despojo do corpo de sua mãe junto com seu pai – o assassino desta – na canção anterior à esta, “97 Bonnie and Clyde”. e a garota, evidentemente, vive um eterno conflito do qual não consegue escapar – essa é a canção que melhor mostra a maneira absolutamente fenomenal como Tori Amos conseguiu tornar completamente sua uma canção que não foi por ela composta, sem mexer em uma letra sequer da composição. Preparando a ambientação da música cuja personagem é uma showgirl de um cassino qualquer em Las Vegas, que testemunha diariamente os abusos sofridos pelas suas jovens colegas de trabalho, Tori Amos despiu “Enjoy The Silence” de seus trajes tecnopop, e resolveu aplicar-lhe um traço de simplicidade, fazendo-o até mesmo quando colocou violinos e violoncelos ao fundo para acompanhar o piano. O vocal que segue o mesmo tom da instrumentação, com Tori cantando os versos com resignado sofrimento. “I’m not in love”, canção da personagem algo dark que se encontra envolvida com um homem casado é, junto com “’97 Bonnie and Clyde” uma das canções que foi mais alteradas de sua melodia original. Aqui, Tori arremessou a quilômetros de distância a famosíssima melodia pop-anos-80 dessa música e concebeu uma melodia com um pé no trip-hop mais soturno e silencioso, baseando-se em acordes e tons minimalistas de bateria e programação eletrônica. Os vocais são tentam ironizar o amante apaixonadao, mas ao mesmo tempo deixam transparecer exatamento o oposto daquilo que é cantado, ou seja, ela também está apaixonada, apesar de não admiti-lo – é uma das canções mais maravilhosamente viciantes do disco. Em “Rattlesnakes”, Tori Amos recompõem a melodia com todos os instrumentos a que tem direito, com farto uso de violões como fundo para os acordes adocicados do teclado, tudo acompanhado por uma bateria e percussão tranquilas. Para melhor personificar na melodia a personalidade impetuosa, fascinante e independente da “girl” desta música, ela utilizou um chocalho, ou algo que o valha, mimetizando o som que o rabo de uma cobra faz ao chacoalhar – charmosíssimo. A versão de Tori Amos para “Time”, de Tom Waits, é profundamente emocionante: o piano Bösendorfer, enfim, dá o ar de sua graça com peso semelhante ao das canções clássicas da cantora, acompanhando com sensibilidade e complacência as notas que compõe esta música e p vocal entristecido de Tori. “Time” é interpretada do ponto de vista de um personagem fascinante: a Morte. Através dela, são cantados os versos de uma canção extremamente triste, que desfila a rotina de alguns personagens com uma vida bastante infeliz, que parecem fazer nada mais do que esperar o seu dia final. Para a canção que apresenta irmãs gêmeas como personagens, criminosas de altíssimo gabarito que trabalham com espionagem econômica, Tori abandonou o sorumbatismo da faixa anterior e sacode o ouvinte com uma melodia rock de sonoridade cinematográfica, altamente hollywoodiana, que serviria com perfeição como tema dos melhores filmes de James Bond – guitarras absurdamente enlouquecidas, gingadíssimas e baterias ritmadas em um dia pra lá de inspirado fazem a base de toda a canção e duelam com a voz duplicada de Tori Amos, que faz frente à toda essa chacoalhante energia rock. Eu não estou exagerando, a mulher arrebentou: a versão de “Heart of Gold” de Tori Amos, com sua melodia gritante, funciona como um hino hedonista, despertando no ouvinte uma vontade irrefreável de levantar-se para dançar como nunca na vida ou, bem no estilo das personagens da canção, pegar uma reluzente pistola automática cromada e sair pela noite invadindo o escritório de uma importante multinacional, sem pensar nas consequências do fato. Ouça: é garantia de gozo múltiplo total. “I Don’t like Mondays” volta à uma temática menos feliz, apresentando como personagem uma policial que vive um drama típico de sua profissão: ela é uma das oficiais que chega à uma escola, depois de ocorrido um daqueles inexplicáveis massacres que só algum norte-americano armado até os dentes, e sem qualquer sinal de sanidade, seria capaz de produzir. A melodia e o vocal da Tori Amos procuram não atrapalhar a atenção do ouvinte à letra canção, sendo utilizados como instrumentos apenas baixo e teclado de acordes suaves e o vocal sendo guiado de forma delicada, conferindo-lhe à canção uma atmosfera de inocência e ingenuidade, o que se contrapõe à violência da realidade ali apresentada. Em “Happiness is a Warm Gun”, Tori Amos ignorou a letra da canção composta por John Lennon e Paul McCartney, à exceção de alguns poucos versos, repetidos como um mantra de intenções políticas, e mergulhou numa instropecção sonora que tranformou a canção numa elegia ao desarmamento mundial. Isso já fica claro quando a faixa se inicia, trazendo falas de personalidades da política americana, como o atual presidente George Bush e seu pai, o ex-presidente Bush, sobre a venda legalizada de armas no país. Melodicamente a musica já começa ritmada, com guitarras, baixos, bateria e um teclado nostálgico. A música proseegue desta forma, enquanto as falas dos políticos dão lugar aos poucos versos entoados por Tori. De repente, a melodia dá uma guinada – algo que lembra muito “Dàtura”, do álbum to venus and back, mas é algo mais no estilo eletro-blues -, e segue diminuindo o ritmo cada vez mais, numa lógica inversa à da maior parte das canções, concluindo de maneira esplêndida. A personagem aqui tem tudo a ver com os compositores da música: ela é a prostituta que esteve com o assassino de Lennon, horas antes de seu assassinato. “Raining Blood”, com sua melodia soturna e mórbida, trazendo um Bösendorfer dark e apoiado por ruídos eletrônicos fatalistas, apresenta como personagem uma artista de clube parisiense assistindo, horrorizada, seu clube ser invadido por soldados da alamanha nazista. Nos vocais, o tom é equivalente ao da melodia dos instrumentos: Tori entoa os versos em tonalidade sofrida e algo etérea, enchendo a melodia de terror e suspense ainda maior. O suspiro de total desfalecimento perpretado pela cantora ao final da canção atesta ao ovinte a certeza de que se não soubesse se tratar de um álbum de regravações, podería-se afirmar de pés juntos que essa canção foi composta pela própria Tori. Trazendo como personagem uma figura andrógina, que questiona ironicamente nos versos que canta a maneira de ser e de agir socialmente imposta para o homem, “Real Men”, mais uma vez, ludibria o ouvinte com uma música que foi totalmente transformada para o estilo próprio de Tori Amos: a melodia, baseada na grandiosidade do piano, além de discretíssimas participações de baixo e guitarra, é suave e delicada, mas ganha um toque de sarcasmo e ironia devido ao vocal certeiro de Tori Amos. Foi a escolha perfeita para fechar esse projeto denso e indispensável, que surpreendeu até mesmo os menos animados à primeira hora e que mostrou o quanto a cantora e compositora americana é uma artista complexa, de fabulosa genialidade.
Baixe o disco completo utilizando o link e a senha abaixo:
senha: seteventos.org
http://www.megaupload.com/?d=36588HL2
1 comentárioJovem recém-formada e aspirante a jornalista disputa o emprego de segunda assistente da editora-chefe da mais influente revista de moda do mundo, apesar de ser abertamente desinteressada pelo mundo da moda. Mesmo sabendo disso, a editora-chefe, de personalidade egocêntrica e insensível quase intratável, a contrata. A agora jovem assistente vai enfrentar um mundo de obstáculos e contratempos por conta das exigências, muitas vezes absurdas, de sua chefe. O filme é baseado no romance parcialmente auto-biográfico da escritora Lauren Weisberger, já que ela trabalhou por anos como assistente da editora da revista Vogue americana. Sendo assim, muitos dos personagens – particularmente as duas protagonistas – são versões ficcionais de figuras reais.
Começo a resenha com uma pergunta por demais simples: é mesmo necessário dizer que Meryl Streep tem uma bela atuação no longa-metragem? Acho isso redundante, uma vez que a atriz americana raramente sai de um filme sem elogios. Por sua vez, Anne Hathaway, a jovem assistente Andrea Sachs, tem desempenho tranquilo como a sua personagem e consegue cativar a platéia com sua beleza delicada mas altiva. No entanto, o argumento do filme de David Frankel não prima pela originalidade: é mais uma estória de alguém superando desafios, convivendo com uma pessoa de personalidade difícil, passando a compreendê-la com a convivência, e que acaba atravessando um processo de auto-avaliação do que deseja para o seu futuro e de como vê a si própria – há uma pá de filmes que lidam com essa mesma linha argumentativa. Um segundo ponto relacionado à isto, e que acaba problematizando as chances dessa produção surpreender o expectador, é a variedade limitadíssima de conclusões da estória: ou o indivíduo se rende ao mercado, esquecendo o que antes almejava, e entra no grupo dos que sacrificam sua vida pessoal para manter o sucesso em um cargo altamente invejável ou a pessoa, ao final, joga tudo para o alto e volta a buscar e lutar por aquilo que sempre desejou. Tanto em uma possibilidade quanto na outra, o final do longa-metragem acaba caindo no lugar comum pela própria natureza da estória, que costuma limitar e evitar um epílogo de conteúdo excepcional e surpreendente. Porém, esses defeitos não chegam a fazer deste um longa-metragem ruim, eles apenas o impedem de se destacar entre os filmes do gênero. A produção caprichadíssima ajuda o filme: bela fotografia, trilha sonora bem escolhida, composta de canções pop/rock, elenco afinado, direção tranquila e, como não poderia deixar de ser, um figurino espetacular. Contudo, a personagem cativante construída por Hathaway e a composição novamente acertada de mais uma personagem de Streep é que levam o filme a frente, divertindo e segurando a platéia mesmo com uma estória já bem batidinha. É um passatempo divertido e descompromissado, que mostra o quanto bons atores podem ser, sozinhos, toda a razão de ser de uma produção. Assista sem muitas expectativas – as duas atrizes merecem isso.
Dois policiais de Miami disfarçam-se como transportadores de drogas para entrar em um cartel internacional, com o objetivo de melhor atingir seus compradores em Miami. Contudo, os dois decidem por entrincherar-se ainda mais no grupo, com o objetivo de também tentar desmantelá-lo. Ao agirem desta forma, os dois acabam envolvendo-se perigosamente, colocando suas vidas e as daqueles que os cercam em perigo.
Não sou um fã do seriado original – nunca assisti sequer um capítulo deste que foi um dos seriados mais ícônicos dos anos 80 e possuo conhecimento puramente periférico. Sendo assim, estou impossibilitado de estabelecer qualquer comparação mais aprofundada entre ele e o longa-metragem, seu derivado.
Se o seriado primava pelo estilo e pela produção, construindo estórias envolventes e cheias de adrenalina mas apresentando personagens e situações caricatas e “clichéticas”, então o filme é bastante fiel à sua fonte de inspiração: policiais destemidos que ao se envolverem, sem hesitação, em um cartel poderosíssimo e extremamente perigoso, não demonstram temer, em momento algum, as consequências de tal relação; sexo algo videoclípico e glamourizado; uma cena de combate longa, arquitetada em cada mínimo detalhe. Tudo isso não perfaz, de modo algum, um longa-metragem original e supreendente, constituindo-se, na verdade, em uma abordagem já mais do que vista no cinema e TV. No entanto, apesar de ter montado um filme nada inovador, o diretor explora um pouco mais a fundo as situações e os seus personagens – mesmo sendo eles caricatos -, e suponho que ele tenha feito isso de maneira um pouco mais aprofundada do que algum episódio do seriado original normalmente o faria. Além disso, Michael Mann concebe seu filme de maneira competente, e não recheia o filme de cenas de ação – o que eu vejo como uma decisão acertada -, tentando apenas encobrir um roteiro frágil. Um dos pontos chaves do roteiro de um filme policial são os crimininosos, e estes estão bem representados no filme de Mann: o cartel apresentado no filme é bastante convincente e realista, pois atualiza criminosos que por ventura habitavam o seriado dos anos 80 para aqueles que infectam o século XXI – altamente globalizados, com conexões em diversos países do mundo e agindo de maneira organizada e com o apoio que a tecnologia atual dá à estes. Claro que a idéia de que dois policiais de Miami, com a ajuda de mais alguns colegas, organizando sozinhos uma operação internacional que tem a pretensão de desmantelar um grupo criminoso tão poderoso faz o realismo ficar um pouco mais distante, mas trata-se de uma adaptação do seriado “Miami Vice” – portanto, não havia como não fazê-lo desta forma. A decisão de produzir o filme em vídeo digital, incluindo cenas noturnas que apresentam imagem granulada, com algum ruído bem visível – ocasionado pelo aumento da sensibilidade na captação da imagem no escuro – também foi certeira, pois iajuda a incrementar o estilo do filme e compensa, na composição visual, o realismo perdido pela certa inverossimilhança da operação que é a base do roteiro, e que já citei logo acima.
Deste modo, o filme de Mann não se apresenta como um marco do gênero, mas é, acima de tudo, uma produção requintada que mistura algumas boas idéias de roteiro à outras na identidade estética do longa-metragem. Como filme policial, ele faz o que deve: diverte, explora bem a tensão do expectador e consegue mostrar um bom romance proibido – mas não vai além disso e, como já disse, nem sei se poderia mesmo ir, já que se trata da adaptação de um seriado que também não era muito diferente. E, como isso é Hollywood, mesmo depois de todo o carnaval, temos um final que, podemos ousar dizer, é feliz. E isso, definitivamente, não é nada realista.
Rose, tentando entender o que aflige seu filha adotada de seis anos, vai com ela para a única pista que tem da origem da criança, uma cidade chamada Silent Hill, há muitos anos abandonada por conta de uma catástrofe. Mesmo sabendo destes eventos, e contra a vontade de seu marido, Rose ruma para a cidade.
A tão aguardada adaptação do famoso e idolatrado jogo de horror da game house Konami é bastante fiel à criação original. A cidade tem a atmosfera bem próxima da que os fãs conhecem tão bem, graças ao trabalho de fotografia e cenografia de profissionais que já trabalharam com Gans e até com David Cronenberg; a trilha sonora, composta pelo mesmo Akira Yamaoka do jogo original e por Jeff Dana, foge bastante das trilhas típicas do gênero – mais baseadas em orquestrações de corda – e segue o espírito do jogo, sendo construída muito mais em cima de ruídos e sons sintetizados; as atuações são suficientemente competentes e o argumento adaptado da estória original do game foi bem bolado, já que mudanças eram necessárias na transposição de uma mídia – vídeo game – para outra – cinema que tem suas próprias particularidades e exigências argumentativas.
Porém, uma das principais críticas ao filme, feita pelo portal brasileiro A-Arca, tem o seu embasamento, ainda que eu considere-a apenas parcialmente. No texto do dito site, é comentado que o principal ponto negativo do filme é não despertar medo no expectador, o que seria um grande defeito da adaptação, visto que o filme é justamente baseado em um jogo que é considerado dos mais competentes em explorar e causar horror – o autor do texto chega a mesmo a citar uma comparação com a clássica série “Além da Imaginação” por conta disto. Como disse no início, eu concordo em parte. Explico: de fato, o filme não causa medo, mas compará-lo com o citado seriado não é adequado, visto que “Silent Hill” é um longa muito mais violento. Desta forma, eu concordo que o filme de Chistophe Gans não cause medo, mas acho que o diretor consegue explorar consideravelmente a tensão do expectador e causar mesmo horror em algumas sequências do filme. É um defeito, mas não chega a estragar o filme. A meu ver, há outros três defeitos muito maiores no filme. O primeiro deles é a ausência do famoso e espetacular tema musical do jogo, umas das características mais importantes da identidade de “Silent Hill” – é de causar pena em qualquer fã não ouvi-lo em nenhum momento do filme. O diretor e o compositor Yamaoka perderem, no mínimo, uma grande oportunidade de homenagear a criação original da Konami. O segundo defeito é a mudança de protagonista do enredo, no lugar de Harry Mason entra Rose Da Silva (que sobrenome pouco norte-americano, não?). O diretor e o roteirista Roger Avary chegaram mesmo a conceber a estória sem um papel paterno, mas devido à reclamação do estúdio, introduziram Christopher Da Silva no argumento. Entendo que a mudança tem suas vantagens na adaptação, uma vez que uma mãe conseguiria cativar mais o público com o seu desespero e emotividade em relação à situação de sua filha, bem como o fato de transformar a mãe na protagonista aproxima o filme da leva atual de filmes de terror de sucesso, baseado em estórias originalmente criadas no oriente. No entanto, aos olhos dos fãs – me incluo aí no grupo -, isso não vai deixar de ser, de alguma forma, uma heresia algo desnecessária. Um trabalho de roteiro e atuação bem compostos tornaria um protagonista masculino tão cativante quanto um feminino. O último dos três defeitos, sob o meu ponto de vista, é a conclusão da estória. Não vou aqui ser insensato o bastante para revelar o fim do filme, basta dizer que o fato de Silent Hill ainda persistir no destino de Rose e da menina Sharon – esta mesmo de maneira provavelmente irreversível – é desnecessário. Adotar o final clássico do game, mesmo pensando em uma posterior sequência, não faria mal algum.
Mas eu diria que, entre mortos e feridos, o filme ainda tem como resultado final o mérito de manter, na adaptação, toda a atmosfera do jogo – toda a composição visual é excelente. E, além disso, o roteirista e o diretor ousaram uma modificação considerável, tornando o filme ainda mais violento do que o jogo que, se eu bem me lembro – já que o joguei há muitos anos -, explora e causa horror sem usar muito a violência gráfica. E, definitivamente, a sequência final na igreja impressiona pela violência – é uma verdadeira orgia de sangue. Isto é uma característica que difere bem a estória e a composição do filme daquelas que compõem o jogo, mas eu acho que a mudança entrou bem no roteiro concebido para o filme – a Alessa do longa-metragem sofreu tanto no seu passado que merecia realizar aquela vingança diabólica, de fato.
Assim sendo, é evidente que alguns fãs vão reclamar depois de assistir ao “Silent Hill” de Christophe Gans, mas é preciso entender que simplesmente transformar o que é um jogo em um filme apresentaria um resultado final pouco convincente e profissional – na mudança de mídia é necessário conceberem-se algumas adaptações, sempre. E, mesmo com alguns defeitos que não passam despercebidos e algumas liberdades criativas, “Silent Hill” é uma boa adaptação de um game e, provavelmente, uma bela introdução para uma série cinematográfica. Ou alguém aí duvida de “Silent Hill 2”?
A banda Smashing Pumpkins tem uma história de existência meio turbulenta e confusa, brigas internas levaram a banda a perder membros, que mais tarde retornarm depois de algum tempo. Tendo sido declarado o fim da banda depois do lançamento de Machina/The Machines of God. Neste ano foi declarado o retorno da banda, que grava neste momento um novo disco – resta saber quem é o Smashing Pumpkins agora, já que James Iha e D’arcy já declararam não estar interessados em fazer parte do retorno.
O início da queda da formação original da banda foi com o disco Adore, lançado em 1998. A mudança foi grande: com a demissão do baterista Jimmy Chamberlin na turnê que promoveu o disco Mellon Collie and the Infinite Sadness, a banda retornou como um trio, apresentando como membros apenas Billy Corgan, James Iha e D’arcy Wretzky. O álbum que este trio concebeu foi sutilmente influenciado pela eletrônica, porém ainda mais repleto de silêncios e soturnismos disolutos, algo que difere bastante da sonoridade primordialmente rock dos discos anteriores, onde as guitarras conduziam a melodia.
“To Sheila” abre o disco e dita as normas melódicas: quietude, placidez e beleza depressiva, atmosfera esta composta por alguns acordes de piano, riffs suavíssimos de guitarra e ainda mais discreta orquestração de cordas e harpas. As letras da música, que falam sobre como a paixão intensa por Sheila muda a realidade de seu amante, também seguem a tônica do disco, e são de um rebuscamento poético quase simbolista. Depois da refinamento sonoro da primeira faixa, a eletrônica mostra um pouco mais de seu influência no disco em “Ava Adore”, belíssima música em que a guitarras e a bateria – em boa parte sintetizada – surgem com presença mais marcante. Os vocais anasalados de Billy Corgan estão igualmente mais empostados em um formato mais rock nesta faixa, e as letras formam uma ode estranha à um amor de certa forma doentio e dependente. “Perfect” surge gostosamente ritmada, com bateria e eletrônica ritmada e esparsas guitarras de fundo; a letra, prossegue na temática do disco, sobre as reflexões de um homem ao declarar o fim de seu relacionamento afetivo. Em “Daphne Descends” temos uma eletrônica composta por ruídos chapados e camadas de instrumentos que confundem o ouvinte e compõem com exatidão a atmosfera das letras da canção, onde Daphne vê-se dominada por um amor contra o qual não consegue lutar. Com melodia brilhantemente emotiva, composta por violões e bateria melancólicos e sutis iluminuras eletrônicas – que constroem a sensação de distanciamento e perda -, “Once Upon a Time” seja talvez uma maneira de Corgan de exteriorizar o seu sofrimento pela perda de sua mãe, já que a letra fala justamente de um filho que já não consegue mais levar à frente a sua vida sem a presença daquela que o criou – a canção é uma das músicas mais lindas já gravadas pela banda. “Tear” é uma das canções mais emblemáticas deste álbum: sua música tem trabalhadíssima harmonia grandiloquente, que se dá ao luxo de ser pontuada por dois momentos de inquietante calma sonora, um deles logo após a abertura dramática, que é o tema que é extendido ao longo da canção. A letra, que trata do sentimento de desnorteamento diante da morte de alguém amado em uma fatalidade, é lírica ao extremo, digna de ser considerada um poema apócrifo do “Eu” de Augusto dos Anjos. E a tristeza, solidão e sofrimento prosseguem na letra de “Crestfallen”, que trata mais uma vez de uma relação afetiva turbulenta e apoiada na dependência mútua; sua melodia faz uso delicado de toda sua instrumentação, mas sua identidade é marcadamente sintetizada. “Appels + Oranjes” se utiliza do eletronismo sincopado que marca também a terceira faixa do álbum, e tem letras baseadas quase que totalmente em questionamentos reflexivos a vagos. “Pug” tem uma melodia desigual mais deliciosa, meio rock, meio eletrônica, com uso saboroso tanto de riffs de guitarra quanto de bateria eletrônica, assimo como acontece na esplêndida “Ava Adore”. As letras são forjadas no desejo intenso despertado por uma paixão devassante. Mais à frente temos, “Annie-Dog”, canção com melodia mais acústica, baseada quase que primordialmente em um piano de acordes graves e bateria econômica e com letra um pouco confusa, mas que novamente fala sobre o amor á uma mulher. “Shame”, “Behold! The Nightmare” e “Blank Page” por outro lado, utilizam-se de letras mais lineares – sendo que as duas últimas são um pouco mais elaboradas e poéticas -, compostas basicamente por versos de lamentação romântica. A melodia delas também investe em eletrônica e acústica simplificadas, onde tudo foi muito bem organizado para não escapar à atmosfera de melancolia romântico-saudosista das letras – “Blank Page” sendo a mais sorumbática e contemplativa das três. Porém, Adore guarda uma pequeno acalento para os que sentiram falta de composições que remetessem ao estilo que consagrou a banda: a suavidade cadenciada do piano, bateria e vocais em grande parte da melodia de “For Martha”, bem como o repentino soar seguro das guitarras, lembram muito algumas músicas do álbum anterior da banda, Mellon Collie and the Infinite Sadness.
Não há como entender porque um disco tão bem trabalhado não tenha feito sucesso entre os fãs do grupo, fracasso esse que, junto com as divergências internas, levou a banda a separar-se. A única resposta que imagino possível é a de que a maior parte dos fãs dos Smashing Pumpkins à época era feita não de fãs da banda propriamente dita, mas do rock guiado pelas guitarras do grupo. Desta forma, faz sentido que estes “fãs” tenham abandonado o Smashing Pumpkins em dretimemento de uma outra banda qualquer no estilo, tão logo tenham verificado a mudança de sua sonoridade. Isto é, no mínimo, uma tremenda limitação cultural desses fãs ocasionais da banda, uma vez que não possuem a maturidade e flexibilidade musical necessárias em sua personalidade para entender que todo artista vai apresentar mudanças em sua produção artística ao longo de sua carreira. Isto é inegável. Acorrentar-se à um único estilo é muito mais danoso aos que apreciam a arte do que àqueles que a produzem: o resultado disso, bem sabemos hoje, são pessoas que não tem qualquer tipo de conhecimento sobre o mundo exterior à seu micro-universo de preferências, sendo incapazes de compreendê-lo e avaliá-lo adequadamente. Os guetos musicais, culturais e comportamentais estão todos aí para nos demonstrar isso todo santo dia. Graças à tudo que é sagrado – não necessarriamente aquilo que é divino -, eu venci esta limitação tão logo a percebi insidiosamente querendo estar em minha personalidade. E “vive la différance!”
senha: seteventos.org
http://www.megaupload.com/?d=LIKV9K1Z
3 ComentáriosPara burlar o sistema de limite de download do Megaupload para o Brasi faça o seguinte:
no navegador Mozilla Firefox:
a) instale esta extensão para o firefox: http://addons.mozilla.org/firefox/59/
b) reinicie o neavegador
c) vá no menu “Ferramentas” > “User Agent Switcher” > “Options” > “Options” >, selecione “User Agents”, clique em “Add”
d) no campo “Description” digite (sem as aspas) “MEGAUPLOAD”
e) no campo “User Agent” coloque Mozilla/4.0 (compatible; MSIE 6.0; Windows NT 5.1; SV1; Alexa Toolbar)
f) dê “OK e “OK” novamente.
g) agora, quando quiser baixar algo do Megaupload, vá no menu “Ferramentas” > “User Agent Switcher” e escolha “Megaupload”. Depois disso você pode digitar o endereço do Megaupload para baixar o arquivo.no navegador Windows Internet Explorer 7 (beta):
a) clique no menu “Iniciar”, “Executar” e digite (sem as aspas) “regedit”. Clique em OK
b) Navegue no menu lateral de pastas do editor de registro que você acaba de abrir usando o seguinte caminho:
HKEY_LOCAL_MACHINE>SOFTWARE>Microsoft>Windows>CurrentVersion>Internet Settings>User Agent>Post Platform
se você usa uma versão anterior do Internet Explorer, o caminho é o seguinte:
HKEY_LOCAL_MACHINE >SOFTWARE>Microsoft>Windows>CurrentVersion>Internet Settings>5.0>User Agent>Post Platform
c) clique com o botão direito do mouse sobre a coluna maior, à direita, e selecione o seguinte no menu do mouse que surgir: “Novo> Valor da sequência” e digite como nome do arquinho que surgir o seguinte: Alexa Toolbar
d) reinicie o navegador e agora acesso o enderelço desejado do Megaupload.
No período das sessões de from the choirgirl hotel, disco soturno e intimista, e da turnê Plugged ’98, que teve enorme sucesso, Tori Amos resolveu colocar um fim na vida de solteira, casando-se com seu engenheiro de som, e conseguiu ter uma filha. Em uma artista cujo trabalho é altamente influenciado por acontecimentos de sua vida pessoal e de sua visão de mundo, isso não iria passar sem ter reflexos em sua música. Como a cantora americana entrou definitivamente em um período de tranquilidade e ausência de conflitos, esta calma e plenitude se refletiu na trabalho como um todo: os dramas pessoais, que antes envolviam cada disco tematicamente, agora cedem lugar a uma variação maior de temas mais universais e menos relativos tão somente à realidade de Tori.
O primeiro disco, entitulado “Venus: Orbiting”, traz músicas novas, enquanto o segundo disco, chamado “Venus: Still Orbiting”, traz as perfomances ao vivo mais esfuziantes da turnê de 1998. E é com “Bliss” (lançado como o primeiro single) que Tori Amos abre o disco de música inéditas. Com um piano bem menos retumbante e clássico, que disputa lugar na melodia em pé de igualdade com os outros instrumentos, também encontramos frugalidades eletrônicas que encorpam as cores opressivas de algumas canções do álbum, “Bliss” sendo uma delas. A letra, de dífícil compreensão literal até mesmo em inglês – uma das marcas da genialidade de Tori -, fala sobre como lutamos, muitas vezes sem sucesso, para superar as influências daqueles à quem descendemos – no caso específico da música, a figura paterna. “Juárez” amplia ainda mais a variedade temática do álbum, tratando do drama da exploração sexual, violência e assassinato de jovens mulheres na cidade mexican que dá nome a canção. A inspiração para a música surgiu quando Tori fez shows de sua turnê próximo à fronteira com o México. A melodia amplia a macabrez, medo e claustrofobia da letra ao aplicar um filtro no vocal da cantora, tornando-o mais sôfrego e perturbador. O piano, de um minimalismo excruciante, repete acordes curtos e breves durante toda a música, o que amplia muito mais o seu efeito do que se tivesse sido utilizada uma harmonia mais variada. A bateria e percussão são construídas em uma mistura de eletrônico e acústica, conferindo um ritmo fanstático à canção. A letra da belíssima “Concertina” fala de como, as vezes, podemos nos revelar diferentes de como normalmente somos, como se fossemos feitos de diferentes personalidades. A melodia investe em uma orquestração sintetizada de cordas e na mistura da acusticidade do piano com uma bateria de aroma eletrônico, fechando-a de maneira perfeita com o cantar extremamente doce de Tori na canção. “Glory of the 80s” é uma ode às cafonices da miscelânea cultural, bem como à ingenuidade que ainda sobrevivia na década de 1980. Figuras das mais exóticas e simbólicas habitam uma típica festa oitentista na letra da música. A melodia é sincopadamente pop, cheia de frugalidades eletrônicas que soam nostálgicas. Em seguida temos a beleza introvertida de “Lust”, cuja melodia é de uma espetacular sensualidade contida, mais uma vez misturando o som acústico do piano com uma bateria eletrônica extremamente minimalista – é nesta canção que sentimos mais a força do piano de Tori na música, fugindo da sonoridade mais contemporânea da cantora. A letra fala de como o amor nos transcende, misturando paixão e sexo, carne e espírito – é, no disco, o sinal mais claro da influência do casamento sobre o trabalho musical de Tori. Com melodia que segue o mesmo caminho trilhado na faixa anterior, apenas com o diferencial de construir uma sensualidade menos latente, mais sutil, “Suede” fala sobre o poder que as pessoas tem – particularmente as mulheres – ao construírem jogos de sedução. “Josephine”, uma das canções mais lindas já compostas por Tori, é de fazer chorar de emoção qualquer fã da bárbara compositora americana. A melodia da canção foi separada em dois canais: uma para a bateria – em delicado tom marcial – e outro para todo o restante. O resultado disso são duas versões para a mesma canção: a oficial, com a instrumentação completa, e outra sem a bateria – que mais tarde surgiu na internet como versão alternativa. Na canção, Tori explora sua voz com suavidade, deliciando o ouvinte com a beleza dos versos que falam sobre a primeira esposa de Napoleão Bonaparte – a música é explêndida, chegando a dar pena por ser tão curtinha. “Riot Poof” surpreende os fãs de Tori com sua sonoridade esquisita, que lembra um reggae eletronizado – e o mais próximo que consigo chegar de uma definição para melodia, cheia de eletronismos do teclado de Tori e nenhum Bösendorfer – para os leigos em Tori Amos, o piano retumbante da cantora. A letra preserva a esquesitice da melodia, sendo constituída por inspiradíssimos versos indecifráveis que falam sobre uma fictícia explosão da homossexualidade – especialmente a masculina – e o modo como os homens heterossexuais normalmente a recriminam. Mas nada no disco consegue ser tão experimentalista quanto a canção “Dátura”. A letra da música mistura uma lista enorme de nomes de plantas – Dátura sendo uma delas -, recitadas à esmo, com versos cantados em um tonalidade algo mântrica sobre Canaã. A melodia não é menos viajante, sendo dividida em dois momentos distintos, um onde vocais múltiplos de Tori se fundem à acordes cíclicos de piano e à bateria eletrônica e acústica compassadas, e outro, quase sem conexão melódica com o momento anterior, leva a melodia construída com sonoridades do teclado e bateria acústica para algo ainda mais transcendental, ampliando a encriptação de significados da canção. “Spring Haze” abandona as experimentações, voltando-se para uma construção melódica mais tradicional, e não por isso menos bela. O piano, assim como em “Lust”, ganha destaque novamente, tendo presença elevada na harmonia da canção, algo etérea e diáfana, como sugere o título. A letra fala exatamente disto, sobre como as coisas tendem a acontecer sem que percebamos que elas lentamente estão se formando e definindo nosso destino. E o primeiro disco fecha com a fantástica “1,000 oceans”, outra balada espetacular composta por Tori, com um piano arrepiantemente hiper-emocional. A compositora já explicou que a gestação da canção foi das mais difíceis, onde a melodia e certos trechos da letra surgiram em um sonho, pela madrugada, cantada por uma anciã africana. Ela levantou, gravou o que lembrava da música e ficou semanas tentando transforma-la em algo que não sabia ao certo o que era. A forma final da melodia e letras só surgiu quando seu marido, Mark Hawley, se sentiu profundamente ligado à canção, que de alguma forma amenizava o sofrimento pela perda recente de seu pai. E foi aí que Tori entendeu sobre o que era a música: a dor de perder alguém. É uma das canções mais acessíveis de Tori Amos, e certamente a música “mais fácil” do álbum de estúdio.
O segundo disco, “Venus: Still Orbiting”, composto de rendições ao vivo de canções de Tori na turnê do disco from the choirgirl hotel, inicia com um dos maiores clássicos da cantora, sempre presente nos seus shows: a poderosa “Precious Things”. E o Böse revela todo o seu poderio na gravação ao vivo, repleto de emotividade. A bateria, guitarra e baixos também estão perfeitos e acompanham com perfeição as loucuras improvisacionais de Tori nos vocais e nos acordes de piano. Em seguida temos “Cruel”, que é uma das faixas mais simbólicas da mudança de sonoridade na música de Tori Amos, iniciada em from the choirgirl hotel. Ao contrário da versão mais eletrônico-gótica feita em estúdio, “Cruel” ganhou dançante esplendor eletro-rock, particularmente na delirante sequência de improviso da performance ao vivo – e Tori improvisa como ninguém em seus shows. A terceira faixa leva o público ao delírio, pois é uma das canções mais adoradas de Tori, “Cornflake Girl”. E, como normalmente faz, é nesta faixa que Tori se mostra mais relaxada com o público, brincando desprentensiosamente com seus vocais. “Bells for Her” ganha, ao vivo, um piano mais sorumbático e pesado do que no álbum Under The Pink. “Girl”, por sua vez, preserva muito de sua identidade original, da forma como a conhecemos em Little Earthquakes, preservando a eletricidade dos acordes da guitarra e a presença inconfundível do piano. Na faixa seguinte, Tori toca um de seus esplendorosos B-sides, “Cooling”, explicando para o público, no seu típico informalismo, como ela “não quis” entrar em nenhum dos álbuns e preferiu sempre ser executada ao vivo. E é assim que ela mostra toda o seu apelo emocional, com voz e Bösendorfer tão somente. A próxima faixa capta o deslumbramento do público ao perceber, depois da introdução algo lúdica que Tori faz, que a canção executada seria a pequena mas sempre marcante “Mr. Zebra”. “Cloud on my Tongue” também é fiel à sua versão no disco, resumindo sua melodia aos belos acordes de piano. E mais um B-side revela toda a sua plenitude em uma versão ao vivo, retratada durante a passagem de som. “Sugar” ganha aqui uma sonoridade muito mais marcante do que a gravada em estúdio, com bateria e piano encorpados e inesquecívies vocais gritantes – amamos Tori mais ainda quando ela solta a voz com vontade. Depois desse delírio todo, ouvimos “Little Earthquakes” e “Space Dog”, ambas bastante parecidas com suas originais, ainda que adaptadas para execução ao vivo. A penúltima faixa é (The) Waitress, surgindo como uma perfomance “turbinada” da versão de estúdio, intercalando, à imagem daquela, momentos de calma com sequências de absoluta ira rock. É nesta faixa que Tori dá vazão total à sua habilidade improvisacional, construindo uma sequência final espetaculosa, explosiva e orgásmica – sim, ou aquele delírio vocal no final não é praticamente um orgasmo? Fechando este fantástico registro ao vivo, temos o último B-side gravado na passagem de som, “Purple People” (Christmas in Space). O que impressiona neste registro ao vivo da música é a forma como, mesmo preservando a maior parte da estrutura da música gravada em estúdio, Tori consegue conceber uma versão ainda mais plena de emoção e sensibilidade. Mais uma vez, o disco é fechado de maneira genial.
to venus and back foi o último trabalho de Tori com composições inéditas de sua autoria na gravadora Atlantic Records. E foi um presente e tanto de Tori para os seus fãs. Na sua primeira parte tivemos o ampliamento da pesquisa melódica iniciada em from the choirgirl hotel, e que foi aprofundada ainda mais em to venus and back: Orbiting. Aqui, o piano volta a emparelhar sua sonoridade com os outros instrumentos, sendo que até mesmo os vocais, algumas vezes distorcidos, cedem lugar para experimentalismos com frugalidades eletrônicas, criando uma atmosfera algo opressiva em algumas canções e compassivo-melancólica em outras. As letras da canções são tão audaciosas quanto a melodia que as completa, fazendo deste disco um dos mais liricamente complexos da cantora americana. A segunda parte do trabalho, por sua vez, faz o registro definitivo da energia da performance ao vivo desta esplêndida artista que, percebe-se, sente-se mesmo realizada neste momento de contato tão íntimo e emocional com aqueles que a idolatram. É uma obra fenomenalmente completa e imperdível. Baixe já o álbum duplo através dos links abaixo.
senha: seteventos.org
Disco 1: Venus: Orbiting
http://rapidshare.de/files/29922526/tvab_venus_orbiting_01.zip.html
http://rapidshare.de/files/29924919/tvab_venus_orbiting_02.zip.html
http://rapidshare.de/files/29927288/tvab_venus_orbiting_03.zip.html
Disco 2: Venus: Still Orbiting
http://rapidshare.de/files/29931050/tvab_venus_still_orbiting_01.zip.html
http://rapidshare.de/files/29932884/tvab_venus_still_orbiting_02.zip.html
http://rapidshare.de/files/29934686/tvab_venus_still_orbiting_03.zip.html
http://rapidshare.de/files/29937384/tvab_venus_still_orbiting_04.zip.html
Em um pequeno vilarejo da Espanha, onde a vida é ditada pelo prefeito carola, uma mulher, mãe solteira e nômade assumida, chega na cidade para montar sua “chocolateria” e choca a sizuda população com seu estilo de vida despreocupado e inconsequente. Porém, a medida que a população se rende aos encantos dos chocolate e à simpatia de quem os produz, todos começam a questionar suas vidas e começam a modificá-las.
“Chocolate”, de Lasse Hallström tinha razões suficientes para ser um bom filme: Um elenco de bons atores, com estrelas européias e norte-americanas, um diretor reconhecidamente adorado pela crítica e um estúdio e distribuidora que usufurem de muito prestígio na atualidade, desde a indicação de “O Paciente Inglês” para o Oscar. O problema é que “Chocolate” não é um bom filme.
Começando pelos aspectos menos problemáticos, o elenco até está bem, mas nenhum dos papéis é bom o suficiente para merecer qualquer destaque: até uma atriz excelente, como Juliette Binoche, não chama a atenção do público com sua atuação, já que um personagem como o seu não exige muito esforço do ator. A fotografia do filme dá para o gasto, e a cenografia faz o seu papel. Mas o maior problema é mesmo a estória de “Chocolate”. O roteiro, como vocês podem conferir na sinopse acima, tem uma estorinha tão prevísível, tão batida e repleta de clichês que qualquer expectador de cinema mais experiente já sabe o que vai acontecer no filme inteiro. Não bastasse isso, esse mesmo espectador via ficar com um gosto nada doce na boca, já que é impossível evitar uma certa sensação de dèja vú com o argumento do filme de Hallström, por demais semelhante à um clássico do cinema de arte europeu, “A Festa de Babette” e mesmo com o recente “Como água para chocolate”. E, além de tudo isso, “Chocolate” ainda carece de franqueza: porque tentar fazer o filme passar por um filme de arte, quando todo mundo percebe que um longa metragem cheio de estrelas e astros do cinema, bancado por um estúdio americano que de uma hora para a outra viu-se endinheirado, jamais seria um filme de arte ou mesmo uma produção “independente”? A razão, na verdade, é bem óbvia: porque o engodo tem efeito. A maioria massiva do público termina de ver o filme jurando que, agora, também aprecia cinema de arte – tenha santa paciência. Contudo, àqueles que tem uma maior percepção artística não vão deixar de notar um outro grande problema: o filme inteiro deixa patente uma produção apressada e descuidada. A cenografia não convence direito, soando tão falsa como numa produção novelesca da TV, e o descuido chega em níveis tão absurdos que, se você prestar atenção na parte superior da tela, vai descobrir uma participação especial no filme, não creditada entre os nomes do elenco: o microfone suspenso. É de cair o queixo a maneira como o dito instrumento faz um verdadeiro baile na tela, totalmente à vontade e com uma naturalidade ainda maior do que muitos dos atores em seus papéis. Isso é o sinal cabal de que o longa-metragem foi feito sem qualquer apuro e com enorme falta de cuidado e atenção. A impressão que fica é de que o diretor Lasse Hallström fez o seu filme em meio à outras atividades que julgava mais importantes no momento, enquanto tomava café, via TV ou conversava no telefone celular, concluindo-o de maneira absorta, como o faz um colegial qualquer com um trabalho escolar. No final, a verdade é uma só: todos queriam apenas fazer um falso filme de arte que enganasse o bastante apenas para angariar um bom dinheiro e algumas premiações. E isso, definitivamente, não é fácil de engolir, como o seria um chocolate.