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Tag: america do norte

Estréia: “Lost”.

LostSucedendo a 4ª temporada de “24 horas”, “Lost” estréia na Rede Globo no mesmo horário infame de sua antecessora. Tratadas como simples solução para ocupar o horário do apresentador Jô Soares durante suas férias, a mais popular televisão do país não sabe fazer uso do que tem em mãos: tanto a série produzida pela Fox quanto pelo canal americano ABC são sucesso absoluto em seu país e são exibidas, com justiça, em horário nobre. Porém, seriados estão para os americanos como as novelas estão para os brasileiros. E enquanto aqui as TVs tentam enfiar garganta abaixo produtos que se repetem uns aos outros sucessivamente e que tem exibição inédita diária – daí a impossibilidade de qualidade -, nos Estados Unidos o produto tem exibição semanal e ideías que se não são absolutamente inovadoras tem, ao menos, a virtude de as reciclar muito bem. É o caso de “Lost”: depois de um desastre aéreo, os sobreviventes, perdidos numa ilha oceânica, tentam levar em frente à vida tendo que lidar uns com os outros – até então meros desconhecidos entre si -, enfrentando a possibilidade de que talvez nunca sejam resgatados e, aí está o pulo do gato da série, convivendo num ambiente sinistro, que é palco de eventos inexplicáveis.
Essa é a mistura bem costurada de séries como “Arquivo X”, e da dinarquesa “The Kingdom” – na qual se inspirou Stephen King para a versão americana, “Kingdom Hospital” -, com uma ambientação tropical e uma vestimenta Robson Crusoé. Não dá para chamar o resultado disso de simples cópia, trata-se muito mais de um produto novo, derivado da inspiração de inúmeras outras idéias. E o resultado é fenomenal: elenco ideal – que mistura estreantes e veteranos, que é o caso do gatíssimo e excelente ator Matthew Fox -, produção que se esmera no capricho, direção exata, roteiro preciso. É a irmã mais rica de uma supreendente “tsunami” de séries de conteúdo excepcional – como “House”, “Nip/Tuck”, “Desperate Housewives” e a já citada “24 horas”), depoia da “aposentadoria” de séries veteranas de qualidade, como “Arquivo X” e “Sex and the City”. E é um mérito da obra conseguir sacudir até o seu público cativo – o viciado em cinema e seriados, como eu.
“Lost” superou todas as minhas expectativas, pelos já citados motivos e também por conseguir criar momentos de tensão absoluta sem apelações: um exemplo disso foi a cena final do episódio piloto duplo: alguns do personagens reunidos no topo de um morro e ouvindo uma mensagem absolutamente sinistra e enigmática num comunicador e que teve origem há cerca de 16 anos. Recordo que poucas vezes uma única cena, em todos esses anos assistindo filmes e séries, conseguiu instaurar em mim um terror tão absoluto como esta. E, como uma legítima e honrosa irmã da saudosa “Arquivo X”, só faz deixar ainda mais confusos os expectadores a cada novo capítulo exibido. Mais do que imperdível.

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Tori Amos – Boys for Pele. [download: mp3]

Tori Amos - Boys For PeleQuem achou que Tori tinha chegado ao limite da complexidade tomou um susto com o lançamento de seu terceiro álbum. Neste disco, Tori Amos eleva à enésima potência a complexidade dos primeiros dois álbuns – tanto melódica como liricamente. Se Under the Pink tratava do mundo feminino, Boys for Pele se ocupa de sua contraparte – o homem, sua personalidade e comportamento é que se constituem na linha condutora deste terceiro disco. A motivação para o dissecamento por Tori do “eu” masculino foi o fim de seu relacionamento afetivo com Eric Rosse, que também co-produziu os discos anteriores. É essa a razão de o álbum soar tão passional, como se tivesse sido composto com a cantora divertindo-se ao ver alucinada seu mundo virar de cabeça para baixo, ao mesmo tempo que tenta desesperadamente atingir o seu prumo e encontrar o seu próprio rumo. O resultado é um verdadeiro magma fervente de 18 canções – 19, se contarmos a primeira faixa como duas – de concepção ousadíssima que beira o conceitual e o ineditismo puro: quanto as letras, elas se apresentam tão cifradas que até hoje geram discussões entre os fãs sobre seu verdadeiro significado; quanto à melodia, instrumentos usuais da música popular – como bateria e guitarra – formam uma mistura fabulosamente esdrúxula com instrumentos como cravos e harpas, muitos mais comuns na música erudita. A atmosfera inusitada do trabalho foi reforçada ainda mais pela decisão de gravá-lo inteiramente dentro de uma igreja, o que reforçou também o seu caráter absolutamente profano.
De classificação impossível – por vezes tem raízes jazz, outras no blues, em outros ainda rock, e muitas vezes clássico – este é o trabalho mais inovador de Tori Amos e, ouso dizer, da história do rock. Tanta dedicação da artista em seu trabalho lhe rendeu bons frutos: o álbum lhe consagrou como uma das mais importantes artistas da música mundial e transformou a sua fiel legião de fãs em uma verdadeira horda ávida por novas peripécias musicais da cantora americana.
E só para concluir, uma nota breve sobre o nome do álbum: “Boys for Pele” é uma referência aos sacrifícios de garotos- arremessados garganta do vulcão abaixo – em nome de uma deusa havaiana chamada “Pele”. E Tori, que perde uma província inteira de fãs mas não perde a oportunidade de exercitar a sua elegante ironia, colocou na capa do álbum dois garotos presos dentro de uma cabana enquanto ela mantém a guarda lá fora, munida de um belo rifle de caça e serpentes diversas aguardando o momento do sacrifício.
Clique com o botão direito do mouse sobre o nome da faixa e selecione “salvar destino como…” para baixar cada faixa do disco.

1. Beauty Queen/Horses
2. Blood Roses
3. Father Lucifer
4. Professional Widow
5. Mr. Zebra
6. Marianne
7. Caught a lite sneeze
8. Muhammed my friend
9. Hey Jupiter
10. Way Down
11. Little Amsterdam
12. Talula
13. Not the Red Baron
14. Agent Orange
15. Doughnut Song
16. In the springtime of his voodoo
17. Putting the damage on
18. Twinkle

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“Casa De Areia e Névoa”, de Vadim Perelman.

House Of Sand And FogKathy arrasta-se em seu cotidiano absorta em um longo surto de autocomiseração: abandonada pelo marido há dois anos, cria desculpas para evitar que sua mãe descubra que sua vida parou no tempo. Porém, ela é despejada pela prefeitura da casa em que mora, e que pertence à sua família, sendo informada de que a residência irá à leilão para pagar os impostos comerciais nãO quitados. Kathy, apesar de não dar qualquer valor para o imóvel, decide tentar reaver a casa antes de que sua mãe chegue à cidade para visitá-la e, desta forma, descubra como a filha está. Mas o imóvel é vendido já no dia seguinte em que ela foi despejada para uma família de iranianos, cujo pratiarca, ex-militar em seu país, trabalha em empregos de baixa qualificação e sustenta uma vida luxuosa com o lucro que obtem da revenda dos imóveis que compra. E esse é o motivo pelo qual ele decide não sucumbir à interferência de Kathy.
Ns primeira cena do filme um policial pergunta à personagem de Jennifer Connelly se “essa casa é sua”. Essa é a pergunta que permeia todos os acontecimentos do filme. A casa aqui, na verdade acaba sem pertencer a ninguém pois é o personagem que testemunha o viver dilacerado daqueles que a habitam: a primeira ocupante, uma mulher que é mais culpada do que vítima pala vida desistimulante que leva; os últimos, imigrantes do oriente-médio que, apesar de tentarem adaptar-se à realidade de um país que pouco lhes tem de comum e não os compreende, guardam o desejo silencioso de um dia retornar à terra de onde fugiram. Com a entrada de um policial que vive um casamento conformista, e que tem personalidade instável e dependente, a briga pela casa que já foi de Kathy acaba ganhando contornos ainda mais passionais e desesperados.
O choque entre as duas culturas – a ocidental e a oriental – não chega a se constituir na tônica do filme, mas ganha importância nos trágicos eventos finais da estória. Da maior importância, no entanto, é que se compreenda que a luta dos personagens, não é por uma casa como algo tangível e concreto, mas pelo rumo que desejariam que sua vida tivesse tomado e por raízes que jamais conseguiram firmar. É está “casa”, no sentido mais metafórico, que eles buscam. Aí está o porque do título do filme: a “casa” é tão difícil de se obter porque é de areia e névoa, duas coisas que, apesar de serem plenamente visíveis aos olhos, são impossíveis de serem retidas nãos mãos. Assista.

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Howie Day – Stop All the World Now. [download: mp3]

Howie Day - Stop All the World NowNão dou qualquer crédito à esta geraçãozinha de músicos “cool” da música internacional. Estou falando destes artistas que cantam com uma voz empostadamente sussurrante – estilo Vera Fischer mesmo – e que se assemelha muita à uma pessoa com a cabeça no travesseiro, acabando de acordar. Para você ter uma idéia mais precisa de qual estilo muscial eu estou me referindo, saiba que os maiores representantes desta geração – que se acha a cereja do sorvete, o último pacote do biscoito, ou seja, o maior acontecimento musical dos últimos tempos – são o asmático John Mayer e a anêmica Norah Jones.
No entanto – sempre tem um porém – conheço há algum tempo um artista que se enquadra nessa categoria e para o qual nunca dei a devida atenção. Voltando meus ouvidos para os mp3 aqui arquivados, devo declarar que é o único que consegue me cativar.
Howie Day, com seu álbum Stop all the world now, apresenta todos os artífícios utilizados por essa geração de artistas Lexotan: o já citado cantar “cool” sussurrante, o piano como instrumento prevalecente, as pés fincados num pop sen arroubos performáticos. Mas Howie cativa por conseguir ser comedido nestas artificialidades e, vez por outra, soltar a voz com mais vontade. Seu pop de sutilezas melódicas satisfaz com a beleza de canções como “You & a Promise”, que tem base agradavelmente sincopada e retrata o momento final de uma relação. “Collide” é a canção mais famosa do disco, um típico single com refrão certinho. Contudo, é a faixa “Come lay down” a música mais bonita do disco: com frases de estímulo de alguém que tenta encorajar seu amor à confiança e seguir em frente, a melodia também surpreende com sua harmonia que se constrói sobre um crescendo absoluto. E é justamente nesta faixa que Howie consegue se libertar mais dos vocais sôfregos, provando que está muito à frente de seus companheiros de profissão mais famosos. Não deixa de ser um atrativo a mais também o fato de que Howie é um tremendo de um gatinho. Tá certo, já estou pensando no bem que deve fazer uma voz suave dessas no uvido quando deitado…
Baixe pelo link a seguir.

1. Brace Yourself
2. Perfect Time Of Day
3. Collide
4. Trouble In Here
5. Sunday Morning Song
6. I’ll Take You On
7. She Says
8. Numbness For Sound
9. You & A Promise
10. End Of Our Days
11. Come Lay Down

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“Munique”, de Steven Spielberg.

MunichBaseando-se nos acontecimentos das Olímpiadas de 1972, onde um atentado palestino nos aposentos de atletas israelenses resultou em inúmeras mortes de ambas as partes, Spielberg desenvolve a estória dos agentes israelenses encarregados de eliminar palestinos supostamente involvidos no acontecimento.
O filme tem sido criticado pela imprensa especializada, e ainda mais por palestinos e israelenses, por não se aprofundar e não retratar adequadamente as minúcias das motivações do conflito entre os dois povos. Não endosso estas opiniões. Acho que Spielberg se saiu muito bem no retrato de um conflito no qual é um estranho – apesar da origem judia e, por consequência, raízes israelenses, seu olhar sempre será o do povo americano. O que israelenses e palestinos esperavam de “Munique”? Que o americano Spielberg decifrasse a verdade e a razão de ser de um conflito que os próprios envolvidos não conseguem, apesar dos esforços, analisar?
Tecnicamente o filme também é caprichado: o elenco está muito bem, a fotografia de Janusz Kaminski é sutilmente granulada e sépia – o que eleva a sensação de passado -, a direção é precisa. O roteiro adaptado de Tony Kushner e Eric Roth consegue ser preciso ao retratar a insensatez de toda violência – tenha ela alguma justificativa ou não – e realista ao mostrar que espiões assassinos não são um poço de frieza, charme e profissionalismo. Durante todo o filme a impressão mais forte é a de que aqueles agentes contratados, que no final são tidos como especialistas, não passam de corajosos amadores. Deve-se dar o dveido crédito ao elenco, claro, também responsável por transmitir adequadamente tal impressão.
No final das contas, este acaba sendo o filme mais bem acabado e relevante de Spielberg em muito anos. E a prova de que, atualmente, o diretor consegue ser mais efetivo em produções sérias do que em filmes repleto de efeitos digitais e pirotecnias derivadas.

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Prévia: “Silent Hill”, de Christophe Gans. [download: vídeo & mp3 ]

Prévia - Silent HillNo dia 21 de abril – Tiradentes no Brasil – fãs americanos de um dos mais fabulosos jogos de horror para a plataforma Playstation já tem compromisso marcadíssimo – é a estréia da versão cinematográfica do primeiro jogo da série Silent Hill. Assisitindo o trailer já se percebe que os realizadores conseguiram atingir grande parte da atmosfera sonora e visual do game e, no seu fim, ouve-se um breve trecho da música tema do jogo – e a indicação de que ela será igualmente utilizada no longa-metragem. Essas são as boas notícias. O que talvez possa aborrecer os fãs seja o fato de que a protagonização da estória foi trocada: no jogo é o pai que enfrenta os perigos da cidade-fantasma em busca de sua filha; no filme, por sua vez, quem parte nessa jornada de horror é a mãe – que é meramente citada no jogo. Isso é, notadamente, um artíficio para atrair o público, já que aproxima o longa da recente onda de sucesso de filmes de horror como “O chamado” , “Escuridão” e “Dark Water”. Eu disse cidade-fantasma? Este é justamente o segundo problema: enquanto no game a cidade é habitada apenas e tão somente por uns poucos personagens desavisados ou que se encontram sub o jogo demoníaco de Silent Hill, no trailer vemos um bom número de habitantes – o que não quer dizer gente “normal”, entenda-se. Porém, há de se compreendeer que esses são efeitos do instrumento de adaptação da estória – poucas adaptações que o fazem linha por linha de texto resultam em boas obras. Resta saber se esse é o caso do filme Silent Hill. Não há outro remédio: o jeito é esperar a estráia no Brasil e torcer que as modificações não destruam uma estória das mais ricas e inteligentes do horror no mundo dos games. Ficou curioso? Baixe já o trailer usando o link abaixo e não deixe de baixar no segundo link duas músicas da aclamada trilha sonora do jogo, composta por Akira Yamaoka.

trailer: http://mp3content02.bcst.yahoo.com/pub06root3/Pub06Share12/yahoointernal/8/21763902.mov

mp3: http://rapidshare.de/files/12162128/sh_theme_tears_of_pain.zip.html

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Tori Amos – Under the Pink. [download: mp3]

Tori Amos - Under The PinkEm Under The Pink, como o título já sugere, o condição feminina serviu como mote para a composição do disco. As relações afetivas, os conflitos, o modo da mulher encarar o mundo. Depois do primeiro álbum solo, Tori volta mostrando que tudo o que fez em Little Earthquakes pode ser ainda reelaborado, revertido e recriado, tanto melodicamente quanto liricamente falando. Isso faz o segundo álbum de Tori parecer uma espécie de segmento do primeiro disco, mas com uma exploração ainda mais profunda de tudo que foi abordado antes. Isso não significa perda de qualidade, bem pelo contrário. Do ódio entre mulheres ao ódio à religião, tudo acaba caindo na boca irônica e sarcástica da pianista americana. Arranjos ainda mais elaborados, melodias sofisticadas (tão únicas que até hoje não encontram precedentes no mundo da música) e letras complexas e confessionais continuaram sendo o tom da compositora norte-americana: em “Cornflake Girl” é feita uma crítica mordaz a mãe da “família do comercial de margarina” e “God”, por sua vez, não poupa nem mesmo deus com seus versos irônicos que questionam se o poder divino não precisaria de uma ajuda feminina. Em “Yes, Anastasia”, Tori constrói, sem pressa, uma verdadeira sinfonia, o que constrasta diretamente com alguns momentos da sua letra, que falam sobre atos dos mais ordinários. O confessionalismo é ainda mais impactante neste segundo disco: em “Icicle”, por exemplo, Tori fala sobre o que fazia em seu quarto – intimidades sexuais solitárias, para fazer uso de um eufemismo – enquanto pessoas, sob o comando de seu pai – um reverendo metodista -, oravam inocentemente mais abaixo. São letras como essas, e de todos os seus albuns posteriores, que fazem artistas como Madonna parecerem ingênuos se comparados a ousadia inteligente – e nada vulgar – de Tori Amos. Baixe já o álbum completo e comece a entender porque Tori Amos é o alvo da idolatria mais passionalmente apaixonada do mundo da música.

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“Alexandre”, de Oliver Stone.

AlexanderOliver Stone, além de sua fixação por retratar a guerra – especialmente a do Vietnã – é um biógrafo por excelência – no sentido quantitativo: Talk Radio, The Doors, JFK, Nixon, Evita são todas obras com a direção ou participação de Stone e todas apresentam algum nível biográfico em seu conteúdo. A mais recente figura escolhida pelo cineasta para figurar em sua galeria de personalidades por ele tratadas foi Alexandre, o Grande. Com quase três horas de duração, o filme conta a história de Alexandre de sua infância até sua morte, aos 33 anos de idade, usando como artíficio a narração de Ptolomeu para confecção de uma biografia. Através do uso dessa artimanha, Stone faz sua a voz do narrador para, em alguns momentos, deixar elucidado que há alguns aspectos da vida de Alexandre que não passam de suposições.
Mas a certeza mais clara que surge logo que se começa a assistir o mais recente filme de Oliver Stone é que ele nunca decola. Apesar de ser muito bem produzido e ter boas atuações o longa sofre com dois fatores de certa forma externos ao próprio filme. O primeiro seria o desgaste de filmes épicos como este, onde grande parte da duração da obra é composta por violentas cenas de batalha ultra-realistas e onde muito de sua realização deve aos efeitos digitiais. Essa fórmula já se tornou tão banal no milionário cinema americano que já não serve para garantir o sucesso de filme algum do gênero. O segundo problema seria o próprio personagem de Alexandre: em momento algum do filme a figura do grande conquistador conseguiu me cativar, faltou muito na composição do personagem para gerar a atração necessária. E não podemos simplesmente culpar Colin Farrell pela falta de empatia – ele faz o que pode, dentro dos limites de sua atuação que não é fantástica, mas também não é ruim como insistentemente comentaram -, isso seria simplificar demais o problema. É muito mais um problema de composição do personagem na confecção do roteiro do que de sua intepretação pelo ator: Alexandre aborrece por sua teimosia, insegurança e sua personalidade confusa. Se o objetivo era reforçar estas características para humanizar ou desmisitifcar esta figura histórica o efeito ultrapassou a intenção de seus realizadores e Alexandre acabou por ser retratado como um conquistador de certa forma alienado e caprichoso.
Além de tudo isso, a tão falada bissexualidade de Alexandre que seria por esse filme abordada é tão insípida e heterossexualizada que pode ser considerada mera citação. Não há qualquer ousadia no tratamento da questão – e não estou falando aqui de colocar os atores em intermináves cenas de sexo no decorrer do filme. Falo aqui de um tratamento mais natural da suposta bissexualidade de Alexandre, algo que não foi feito pelo diretor em nenhum momento, apesar da insistência, no plano teórico/retórico, em querer mostrar que isso era encarado com certa normalidade na época.
Ao terminar de ver o filme a impressão que fica é que o maior mérito de Oliver Stone é ter conseguido gastar milhões de dólares e centenas de minutos num filme que gera menos interesse do que um documentário do History Channel. E isso é realmente um feito e tanto.

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Tori Amos – Little Earthquakes. [download: mp3]

Tori Amos - Little EarthquakesO primeiro álbum solo de Tori Amos é totalmente marcado pela verve confessional, uma das coisas que tornou Tori famosa e que tantas outras celebridades da música copiaram sem dó nem piedade, e muito menos vergonha na cara. Pouco depois de lançar o fracassado álbum Y Kant Tori Read, quando dirigia seu carro para voltar para casa, Tori foi estuprada. O acontecido levou a cantora à meses de depressão e o seu primeiro álbum solo é o retrato da dor e da já famosa ironia da cantora sobre o que sentia. Com algumas músicas já prontas, Tori levou o material que já tinha composto para os executivos da Atlantic Records, que já tinham lhe dado à oportunidade de lançar o fracassado primeiro álbum. No entanto, ao conferirem o que Tori tinha feito, resolveram lhe dar mais uma oportunidade e pediram a ela que fizesse mais canções. Não deu outra: o álbum estourou como um sucesso incontrolável de crítica e público, arrecadando legiões de fãs ensandecidos e fidelíssimos a cantora americana. Little Earthquakes foi um sopro de vida – pedindo licença para parafrasear Clarice Lispector – no início da década de 90: enquanto a cena musical era infestada por bandas alternativo/grunge como Nirvana e Perl Jam, que se grudavam numa guitarra, Tori inundou tudo com suas melodias elaboradíssimas e letras complexas, com referências quase criptografadas à sua vida particular, e uma imensidão de outras coisas – como religião e mitologia -, que até hoje confundem os fãs: canções como “Mother” e “Silent all these years” são exemplos de letras e melodias rebuscadas, quase sinfônicas. Porém, há também músicas com melodias épicas e retumbantes e letras repletas de sarcasmo e ódio como acontece em “Precious Things” e a faixa-título do disco. Mas é impossível terminar este texto sem citar a música-símbolo do início da carreira de Tori Amos. “Me and a Gun”, melodicamente seca – é cantada “à capella” -, fala com ironia sobre o que passa na cabeça de uma mulher estuprada – antes e depois de ocorrida a violência. Um disco fabuloso e que pode ser considerado a pedra fundamental da inspiração de toda uma geração de cantoras/compositoras – para não falar sobre àquelas que descaradamente clonaram a persona genial de Tori Amos. Não deixe de baixar já esta preciosidade musical.

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“Buena Vista Social Club”, de Win Wenders.

Buena Vista Social ClubO compositor Ry Cooder, que vem costumeiramente trabalhando com o diretor alemão Win Wenders, declarou que sempre se sentiu atraído pela música cubana, aproximando-se dela nas visitas que fez ao país à trabalho. Algum tempo depois, seguindo a sugestão de sua gravadora, decidiu levar à frente o projeto de unir músicos cubanos e africanos para gravar um disco. No entanto, depois de tudo acertado, os músicos que vinham da África foram impedidos na Europa de embarcar para Cuba. Apesar de frustrado, Cooder resolveu resumir o projeto aos músicos cubanos. O disco Buena Vista Social Club, resultado das gravações coordenadas por Cooder, tornou-se um grande sucesso de crítica e público, levando os músicos à apresentações dentro e fora do seu país.
De forma sucinta, o processo de construção do disco Buena Vista Social Club é mostrado no documentário homônimo dirigido por Win Wenders. O diretor alemão foi convencido pelo amigo Cooder a retratar a experiência e transformá-la em um filme. A crítica de cinema rasgou-se em elogios infinitos à película. E o filme está longe de ser uma obra prima mas é, de fato, tocante. Wenders leva grande parte do filme seguindo uma mesma estrutura: faz uma rápida apresentação do artista no estúdio para, logo depois, mostrar um pouco do seu cotidiano e revelar como foi trajado o seu caminho até a música. Além disso, sessões de estúdio são mescladas com apresentações ao vivo dos músicos na Europa e Estados Unidos.
Cooder e Wenders conseguem no filme demonstrar que os esquecidos músicos cubanos tinham ainda, apesar da idade avançada, muita vitalidade para mostrar sua música suave e nostálgica. E o público brasileiro se sente particularmente identificado com suas composições, pois muito do que se vê ali pode ser identificado com o nosso samba-canção: a melodia, as letras, a impostação vocal, que era característica desse gênero da música brasileira, se assemelha muito àquilo que fizeram os cubanos. Não sou um grande conhecedor de música brasileira, mas poderia arriscar e dizer que nosso samba-canção guarda algum tipo de parentesco com a música latina, particularmente à cubana.
No entanto, algumas ressalvas ficam a partir da expectação do filme, e elas nãO estão relacionadas ao documentário em si. Durante boa parte dos 105 minutos de Buena Vista Social Club, Wenders percorre as ruas da capital cubana Havana. E o que ele mostra não pode, de forma alguma, ser demagogicamente chamado de belo. Tanto no centro quanto na periferia da cidade, o que se vê são sobrados que apresentam aspecto nada agradável, nitidamente expostos à mercê do efeito temporal, sem qualquer sinal de terem, algum dia, sido reformados. Talvez eu mesmo esteja sendo insistentemente eufemista: o que quero dizer é sinais de pobreza visível saltam aos olhos, sendo impossível terminar o filme sem comentá-la. Em contraste, ainda dentro do aspecto das edificações, os únicos edíficios que exibem a beleza e o frescor de cuidados constantes são, notadamente, edifícações sob os cuidados do governo cubano. A humildade financeira do povo cubano não fica clara apenas no exterior de suas casas: nas gravações feitas na residência de alguns dos músicos vemos que a pobreza é a constante, e os depoimentos dos artistas confirmam o fato.
Não quero aqui estipular posicionamento algum sobre a realidade sócio-política deste país que tem sido prazerosamente o santo Graal de infindas arguições dos defensores e detratores do regime socialista/comunista. Seria ingenuidade da minha parte expor um posicionamento contrário ou favorável, já que sabemos que o regime cubano também apresenta alguns aspectos positivos. Trato apenas aqui de expor um fato retratado com cuidado e sem qualquer posicionamento nítido, pelo menos à primeira vista, no filme de Wenders. A música cubana é sem dúvidas bela, mas a realidade daqueles que a fazem, aparentemente não é.

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