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Tag: america do sul

Fernanda Takai – Onde Brilhem os Olhos Seus (+ 1 faixa bônus). [download: mp3]

Fernanda Takai - Onde Brilhem os Olhos SeusNão consigo achar o Pato Fu interessante. Não que eu odeie a banda, é mais uma sensação de tolerável indiferença: de passagem por algum lugar, não me incomodo em ficar ouvindo o som deles, mas jamais me disponho a tentar gostar de seu trabalho. Porém, um episódio recente angariou minha atenção para algo relacionado à banda mineira: descompromissadamente bisbilhotando a Saraiva Iguatemi em companhia de uma amiga, passei pela prateleira de lançamentos e me chamou a atenção o empacotamento elegante de um disco, que logo vi ser o primeiro álbum solo de Fernanda Takai – e, diga-se, só descobri naquele momento que ela tinha se arremessado em uma aventura destas. Olhando a lista de faixas, percebi logo que as composições não pareciam ser de sua autoria e foi então que dei atenção a música ambiente da loja: coincidentemente, era justamente Fernanda Takai cantando a penúltima faixa do disco. Me impressionei de imediato com o que parecia ser uma produção cuidadosa e muito delicada, e tratei logo de fazer um “bookmark mental” instantâneo para, chegando em casa, catar o disco e avaliá-lo.
Posso afirmar sem receio que Onde Brilhem Os Olhos Seus, por contar com a participação efetiva de dois outros membros da banda na produção do álbum e nos arranjos das músicas, é mais um side-project do Pato Fu do que propriamente um disco solo de Fernanda Takai. E no disco, Fernanda e seus companheiros regravam canções do repertório de Nara Leão com arranjos que muito pouco lembram a sua roupagem samba/bossa clássica – a exceção mais evidente fica por conta das faixas “Insensatez”, que ganhou uma versão linda e emocionante de Takai, mas parece nunca conseguir fugir do poderoso estigma do violão e do vocal nostálgico, e “Odeon“, que ainda remete ao chorinho gracioso de Nara -, vestindo-as em um pop/rock que as cobre de um manto brilhante, de textura nobre e macia. As músicas “Diz que fui por aí” – guiada por um piano elegante, conta com bateria suave e cheia de categoria, com farpas de uma guitarra tristonha e vocal dulcíssimo -, “Com Açúcar, com afeto” – que ganhou as cores luminosas e resplandecentes de um pop/rock feito de acordes de guitarra e baixo certeiros, teclado de toques ternos, e bateria de cadência firme e sutilmente ligeira – e “Descansa Coração” – que tem como companhia do teclado, da bateria, do violão e do baixo, este último responsável pela espetacular introdução pulsante, a esplêndida adição de um cravo cuidadosamente dedilhado – são todas abordadas nessa musicalidade que soa mais fluorescente e contemporânea. Duas faixas, contudo, ganham uma identidade mais afastada do que se convém imaginar tanto de Nara quanto de Fernanda e sua trupe: “Canta, Maria” ganhou traços sacros, devido à tristeza da programação etérea, que sintetiza a sonoridade cristalina de sinos e orgãos, e “Ta-hi” surge revestida em um silêncio no qual a programação quase cósmica e o cravo intensamente metálico criam uma ambiência dramática fabulosa.
Ao invés do caminho usualmente trilhado por bandas e cantores ao se debruçarem em projetos paralelos, que se divide entre se afastar da sua sonoridade oficial, pisando em terrenos mais estranhos, ou de adotar a sonoridade herdada das canções selecionadas, quando se trata de um projeto de regravações, Takai e companhia decidiram que o melhor era, no conjunto das canções do disco, aproximá-las daquilo que eles sabem melhor fazer – pop e rock, claro. E mesmo que vez ou outra alguma música do disco possa soar chata, os melhores momentos de Onde Brilhem Os Olhos Seus deram chance à Fernanda e seus comparsas do Pato Fu de se por à frente dos holofotes do pop/rock brasileiro mais elegante e culto, colocando os barbudos chatinhos do Los Hermanos bem sentadinhos na arquibancada para assistir à tomada desse palco, sem estardalhaço, bem à moda mineira, com a sensibilidade pop, a classe e, principalmente, a naturalidade que Marcelo Camelo e sua cria não conseguem obter, já que são muito mais afeitos ao uso de todo um exército de artíficios um tanto quando pedantes.
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“Tropa de Elite”, de José Padilha. [download: filme]

Tropa de EliteEm 1997, com o nascimento para breve de seu primeiro filho, Nascimento, capitão do BOPE do Rio de Janeiro, pretende arranjar um oficial a altura de substituí-lo no seu posto o mais breve possível. Mas antes disso é preciso colocar em prática a exigência do governo de tornar uma das favelas da cidade segura o bastante para que o Papa se instale por uma noite na comunidade vizinha à ela.
Antes de comentar qualquer polêmica, “Tropa de Elite” é um excelente longa-metragem de ação, mais um exemplo de que o Brasil está se especializando no cinema contemporâneo do gênero. A direção é competente e merece o devido crédito, mas a alma do filme reside mesmo no roteiro muito bem escrito, que amarra diversas subtramas no todo central sem causar confusão, sem cansar o espectador e sem nunca perder o seu caráter tenso e o seu ritmo eletrizante, e no elenco afinadíssimo, em especial Wagner Moura, que está soberbo no papel do controverso protagonista, expondo com impressionante precisão o pânico medonho de seu personagem de morrer e deixar sua mulher grávida desamparada – pânico este que se torna tão perigoso para os outros, quando revertido em stress quase sociopático nas suas missões nas favelas cariocas, quanto para ele próprio, quando desencadeia reações físicas intoleráveis.
Mas o diretor José Padilha não parece muito feliz com a repercussão de seu longa-metragem. Em uma entrevista no programa Roda Viva da TV Cultura, o diretor declarou estar sendo injustiçado, perseguido e incompreendido. Injustiçado porque a imprensa dita intelectualizada, a seu ver, escolhe arbitrariamente filmes para celebrar como obras-primas estabelecedoras de um novo paradigma no cinema brasileiro, e o seu filme, claro, não foi agraciado com tal unanimidade, chegando mesmo a confessar que não entende porque “Cidade de Deus” ganhou tal status, dando a entender que seu filme seria superior a este; perseguido porque essa mesma imprensa acusa “Tropa de Elite” de apologia fascista e, finalmente, incompreendido porque, segundo ele, o protagonista do seu longa está sendo confundido com um herói e seu filme está sendo mal-compreendido como defensor da truculência da polícia carioca. Sem parar para questionar a possibilidade de ele estar sendo injustiçado frente à algo como “Cidade de Deus” e ainda perseguido – o que não seria nada difícil -, enxergo como o verdadeiro problema a sua confessa sensação de estar sendo incompreendido. Segundo ele, capitão Nascimento, o protagonista, é um manipulador astuto, capaz de se utilizar dos sentimentos e dos pontos fracos alheios para obter o que quer e seu filme, por sua vez, condena tanto os exageros colossais da tropa de elite carioca quanto as ações condenáveis dos traficantes e dos consumidores de drogas ilícitas que, com isso, sustentam o mercado das drogas e, consequentemente, toda a desgraça desencadeada por ele. Que os consumidores de drogas, quer sejam usuários esporádicos ou viciados, sustentam a existência do tráfico, não há como eu discordar – pode não ser a única razão, e provavelmente não é, mas isso sozinho já responde por metade da culpa. Quanto ao seu filme fazer uma apologia da violência da tropa de elite do Rio de Janeiro, eu diria que pior seria fazer apologia da violência dos criminosos, também muito bem exposta em sequências do próprio longa-metragem de Padilha – entre os criminosos e os policias, com licença: eu fico com os últimos, por mais violentos que sejam seus métodos. Agora, sobre o filme conseguir criar, no espectador, um sentimento de identificação com o capitão Nascimento, assim como com os outros integrantes da tropa, quer ele goste ou não, isso é um fato – e não vejo problema algum quanto a isso. Mas o diretor vê. E é fácil perceber o porquê logo que você assista a qualquer entrevista de Padilha: o maior e único problema de “Tropa de Elite” é a febre de egolatria que se abateu sobre o seu diretor. A meu ver, a origem do conflito é que Padilha parece não querer entender que, apesar de a intenção do autor contar para o sentido de uma obra, quando esta encontra-se acabada ela fica livre para ser interpretada pelo seu público e o sentido dado pela maioria do público não deve nunca ser ignorado – e Padilha não apenas está o ignorando como está o rechaçando e depreciando, o que é, no mínimo, uma imensa falta de respeito com o seu público e, na pior das hipóteses, considerá-lo em boa parte ignorante. Não passa pela cabeça do diretor que existe a possibilidade de que ele próprio pode não ter se dado conta de que este sentido existe no seu filme, sendo devidamente captado pelo seu público. Pra mim parece óbvio que uma obra pode ter mais de uma interpretação adequada, e uma interpretação só se torna irrelevante e deslocada quando não há dados na referida obra que a suportem – dados que, no caso de “Tropa de Elite”, são de fácil observação e coleta até mesmo por conta da narração em off do protagonista, que não tem qualquer pudor de revelar para o público suas intenções e emoções – ou quando os dados de uma outra interpretação se mostram mais qualificados. E a interpretação que o diretor quer dar à “Tropa de Elite” em nenhum momento se torna muito mais relevante ou qualificada que a do público e crítica, que vê com satisfação as ações violentas do BOPE porque entende que o grupo não conseguiria agir de outra forma dada a realidade estúpida e caótica que é obrigado a enfrentar, e se mostra capaz de simpatizar com o capitão Nascimento porque, dada a situação em que se encontra, entende ele muito mais como alguém humano do que um sujeito frio, manipulador e aproveitador.
Padilha parece ter se afobado um pouco demais com o sucesso. Como jamais esperou receber tanta atenção de tão diferentes holofotes – os da imprensa, os dos intelectuais, os do público qualificado e os do “povão” – o diretor parece ter se arrependido do discurso categórico de seu filme e de seu fenômeno comercial, e resolveu amainar o peso destas duas coisas aproveitando toda e qualquer oportunidade para, aparentemente, posar de cineasta intelectualizado, e profundamente autoral ao dizer “vocês não entenderam nada” – ele chegou mesmo ao ponto de discordar das conclusões do maior contribuidor do argumento de seu filme que, para mim, seria, muito antes do diretor, o grande responsável pelo seu sentido e sua essência hiper-realista. Ao invés de demonstrar arrependimento das dimensões e da identidade que sua obra tomou o diretor devia assumi-la fervorosamente, afirmando-a como cinema comercial de excelência capaz de retratar a realidade caótica, dilacerante e selvagem de uma das maiores e mais famosas regiões urbanas do mundo. Mas, talvez isso seja só uma loucura temporária: acabo de ler neste site que Padilha foi bastante cordial ao responder o comentário gratuitamente grosseiro de Hector Babenco sobre o porquê do filme não ter sido selecionado como candidato brasileiro ao Oscar. Tomara mesmo que esses rompantes de egocentrismo confuso deste diretor tão promissor sejam apenas fruto de uma repentina febre “Lux Luxo” (ou, para quem não entendeu: “Sou uma Diva!”)
Utilize os links a seguir (na surdina porque sou capaz de ser perseguido pelo capitão Nascimento por conta disso – que meda!)

OBS: links funcionais mas não testados.

em 4 partes e bem menor:

Um

Dois

Três

Quatro

ou um desses maiores:

Opção Um

ou

Opção Dois

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Maria de Medeiros – A Little More Blue (+ 1 faixa extra). [download: mp3]

Maria de Medeiros - A Little More BlueRegravar canções dos compositores canônicos da música brasileira é o desejo confesso ou oculto da maior parte dos intérpretes da música brasileira e, como se viu nos últimos meses, também de algumas portuguesas: além da vocalista da banda Madredeus, Teresa Salgueiro, que lançou um disco interpretando canções de compositores brasileiros, a atriz e diretora portuguesa Maria de Medeiros também resolveu editar a sua contribuição ao vasto painel de “covers” de canções brasileiras no CD batizado com o nome de A Little More Blue, uma das faixas do disco, de autoria de Caetano Veloso. Projetos deste tipo tem a vantagem de já nascer com metade do trabalho feito, pois o risco de um disco com faixas tão emblemáticas de “monstros” (con)sagrados da música brasileira ser rechaçado pela crítica é mínimo – daria mais trabalho errar do que acertar com material de tanta qualidade nas mãos. E Maria de Medeiros, que é fina e elegante mas não é tola, resolveu também não arriscar na metade do trabalho que lhe competia: não apenas os arranjos trafegam no que poderia-se imaginar como tradicionalmente brasileiro, apenas trocando o violão pelo piano no papel de principal condutor das melodias, como a própria Maria decidiu caprichar no seu “brasileirês”, entoando os versos com um sotaque tão perfeito que a maior parte das pessoas juraria tratar-se de uma cantora genuinamente verde e amarela.
Algumas canções destacam-se dentre as faixas presentes no disco pelos contrastes que fazem com as versões clássicas que conhecemos. Ao interpretar “O Que Será”, por exemplo, Maria retirou a rítmica farta do samba triste, preferindo marcar a música por um tilintar um tanto fúnebre e intensificar o tom dramático com os acordes de um piano que cresce em desespero e ansiedade. Em “O Quereres”, então, some o andamento oitentista dado pelo baixo, por sintetizações e por uma guitarra ocasional e surge uma percussão sincrética e, por vezes, caótica, adornada por piano calmo e pelo vocal entre o docemente lírico e o impetuosamente ligeiro. E em “Acalanto”, a mudança não chega a ser tão grande no espírito inevitavelmente sofrido que esta canção sempre carrega, mas a versão ao piano e percussão surda de Maria de Medeiros surpreende pela sua imensa beleza, distante uma vida da medonheira conduzida pelo teclado barato do take original de Ivan Lins.
Em outras faixas, porém, a preocupação não foi conceber arranjos visivelmente diferenciados dos originalmente concebidos, mas conduzir uma interpretação que preserve a identidade original da canção ao mesmo tempo que a renova. Dois sambas clássicos de Chico Buarque foram assim tratados pela agora cantora portuguesa: “Samba de Orly” e “Samba e Amor”. A primeira, antes marcada pela percussão e vocais de fundo simbólicos do samba, foi ordenada na versão da portuguesa pelo piano e um vocal mais declarado, menos discreto que o de Chico; a segunda preserva a profunda delicadeza da esplêndida versão do compositor carioca, mas a leveza aqui é criada a partir dos acordes discretos do piano, contrabaixo e percussão e do vocal sutilmente travesso e lânguido de Maria. Além dessas faixas, outras ainda preservam parentesco com suas versões primeiras, como “Tanto Mar” e “A Noite do Meu Bem”. Para a canção de Chico, cuja harmonia agridoce festiva foi apenas atenuada por toques rápidos de piano, castanholas, percussão e, claro, pelo vocal macio da artista portuguesa – que vai ganhando mais força junto com o andamento da melodia -, a cantora decidiu apresentar as duas versões das letras, que tornou-se famosa em Portugal por ter sido lá o lugar onde foi feito o registro censurado pela ditadura militar; já na música de Dolores Duran, que fecha o disco, Maria de Medeiros tornou a melodia o mais límpida e silenciosa possível, permitindo que apenas acordes leves de piano e ruídos delicados de gotas e tilintares vítreos acompanhassem o seu vocal profundamente emotivo.
Apesar de querer priorizar alguns dos mais exemplares clássicos da música brasileira, Maria de Medeiras decidiu guardar um pouco de espaço para novas composições – ainda que elas sejam fruto do mesmo Chico Buarque que nos deu os clássicos. “Outros Sonhos” e “Ela Faz Cinema”, ambas faixas do mais recente disco de Chico Buarque, Carioca, também foram adaptadas para este projeto de Maria de Medeiros. Enquanto “Outros Sonhos” difere da atmosfera acústico-orquestral de Buarque por possuir um tom mais lépido na versão da atriz-cantora, com presença do tamborilar macio de uma bateria, “Ela Faz Cinema” preserva basicamente o mesmo espírito da gravação de Chico, apresentando como diferença mais notável o dueto de Maria com a voz sempre aconchegante e algo sedutora do uruguaio Jorge Drexler.
Maria de Medeiros formulou o projeto tendo uma coisa em mente: escolheu o repertório priorizando canções que remontam ao período da ditadura militar, com o intuito de mostrar que estas vão muito além da política – como ela mesmo declarou, acha a música engajada brasileira “a mais sensual do mundo”. Pelo resultado final, observa-se que ela teve tanto sucesso na com a idéia que, muitas vezes, o frescor sóbrio de seus arranjos e de suas de interpretações foi capaz de deixar até mais visíveis, mesmo nas audições mais displicentes, as várias matizes temáticas – políticas, afetivas, sociais – contidas nos versos das canções.
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Marina Lima – Pierrot do Brasil. [download: mp3]

Marina Lima - Pierrot do BrasilDe certo modo ignorado, Pierrot do Brasil permanece como um dos maiores êxitos autorais recentes de Marina devido à qualidade de seus arranjos e as letras que versam, claro, sobre amor e paixão de forma aberta. “Pierrot”, bem ao modo “comissão de frente”, apresenta um resumo das faixas mais swingadas que vem pela frente: com direito a introdução que cita “Delicado” de Waldir Azevedo e epílogo com um piano solo bem boêmio, a música tem melodia moderna, com uma programação eletrônica sincopada e dançante ocupando todo o fundo da faixa enquanto uma guitarra de acordes agudos faz frente ao vocal sempre sedutor da cantora. Aliás, sedutores são os versos de “Na Minha Mão” e “Leva (Esse Samba, Esse Amor)”. Na primeira, em cuja melodia a guitarra divide-se em uma face mais sensual e aflitiva e outra mais plácida e a bateria entre uma rítmica sexy e inquisidora e outra mais reflexiva, ouvimos Marina concluir na letra que comenta sobre feridas de amor que “se todo mundo é mesmo gay, o mundo está na minha mão”. Na segunda, cujo dueto com Sérgio Britto mais atrapalha do que ajuda, escutamos ao som de um loop de constante tilintar, bateria eletrônica bem marcada e orquestração de metais adicional, versos em que a cantora questiona algúem sobre seu modo de agir e encarar o amor.
Contudo, logo o ouvinte descobre que a verdadeira beleza deste disco está escondida nas baladas “Deixa Estar”, “Uma Antiga Manhã” e “Portos e Vinhos”, confissões tocantes da cantora sobre seus insucessos afetivos e excelentes amostras da simbiose bem-acabada entre melodia e letra: a música doce da triste “Deixe Estar”, com destaque para a bela comunhão melódica entre piano e bateria, fecha com perfeição com a letra cheia de metáforas muito bem colocadas sobre amantes que sofrem com o rompimento de um amor que, apesar de tão intenso e apaixonado, não iria para frente; a bateria suave que dá o andamento de “Uma Antiga Manhã” e abre terreno para sutis frugalidades do teclado e um solo melancólico de clarinete é a parceira ideal da letra em que a cantora comenta sobre a beleza traiçoeira de um amor que já acabou; e para os versos amargurados de “Portos E Vinhos” a melodia silenciosa, com pouca coisa mais do que o ecoar de alguns excassos acordes de guitarra, teclado e piano, abre terreno para que atentemos às letras, guiadas pela interpretação sem resvalos de Marina.
Em Pierrot do Brasil a malícia orgulhosa, a petulância sensual e as segundas intenções das canções mais agitadas são o que mais agrada o ouvinte no seu primeiro contato com o álbum, mas é a sentimentalidade sincera das baladas, nas quais Marina mergulha fundo em seus próprios conflitos e dramas, que faz este disco despontar como poucos na discografia da artista – não é à toa que a própria compositora diz que o disco, na realidade, era um modo de trabalhar o eterno remoer dos amores desfeitos.
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Vanessa da Mata – Sim. [download: mp3]

Vanessa da Mata - SimA moça de voz macia e cabelo farto nascida no Mato Grosso, Vanessa da Mata, com apenas dois discos lançados, conquistou espaço na MPB e já consagrou seu nome como uma compositora e intérprete de sangue azul no atual painel de nossa música. Com o lançamento de seu mais novo disco, Sim, Vanessa prossegue aplicando modificações gradativas em sua música, sem perder sua identidade musical particular. A maior novidade neste disco é a aromatização de algumas faixas na tradição do reggae, sempre de maneira elegante e respeitando o método de composição da cantora, bem como seu modo de cantar. Tanto na simplicidade de “Vermelho”, em que a cantora compara o aconchego e as dores do amor ao calor desta cor, na deliciosa balada “Ilegais”, onde a artista comenta sobre a paixão que insiste em esconder, vontade esta traída pelo desejo fremente que seus corpos denunciam, na fraca e desnecessária “Absurdo”, faixa de protesto que critica à ação humana contra a natureza, quanto no suavidade de “Boa Sorte/Good Luck”, com letras que falam sobre como uma relação chega ao seu limite, conseguimos reconhecer de modo inequívoco a cadência inconfundível do ritmo jamaicano. Mas se o reggae surge encaixado no modo da artista, o bolero, adotado por Vanessa na faixa “Meu Deus” surge da maneira mais tradicional: na letra, que não economiza no romantismo, a cantora fala sobre um homem deslumbrante que a conquistou de maneira avassaladora com sua luxúria e seu jeito forte. Já “Pirraça”, qualquer que seja o modo como a própria Vanessa tenha descrito seu ritmo – carimbó, juju, cumbio -, é das melhores faixas de todo o álbum: impossível não se identificar com a ironia de suas letras, que descrevem a sensação de que o tempo brinca com nosso cotidiano, voando nos momentos mais prazerosos e arrastando-se nos instantes mais maçantes, e com sua melodia tão bem apurada que, a revelia de qualquer relação que a artista tenha feito com ritmos mais exóticos, me soa como um calipso (por deus: falo do gênero, não “aquilo” que temos no Brasil!) menos esquizofrênico – e notem o cuidado com que a a percussão foi planejada, lembrando o ruído de um relógio, quase sempre um tanto surdo mas que também nunca passa despercebido. “Você Vai Me Destruir”, onde a cantora comenta os desejos conflitantes de paixão flutuante e ódio exacerbado despertados pelo amor um tanto displicente de um homem, é mais rockeira – mesmo com suas traquinagens eletrônicas e percussivas. Pra não deixar barato nos ritmos variados que povoam o disco, a canção em que a cantora ironiza o fim de uma relação antes tão calorosa, “Fugiu Com A Novela”, pisa brincalhona no terreno sempre gostoso do samba-bossa. Como se não fosse o bastante, “Minha Herança: Uma Flor” é uma daquelas canções de amor de Vanessa que, sem nenhuma pretensão e com toda sua placidez e simplicidade, consegue causar arrepios, tão plena é sua beleza.
Claro que Vanessa da Mata é a principal responsável pela qualidade do disco, mas seria díficil falar de Sim sem comentar a produção tão primorosa e competente de Kassin e Mário C., capaz de transformar “Baú”, uma faixa meio improvisada que surgiu de última hora, em algo excepcional. E é na companhia destes produtores e de músicos inspiradíssimos que a matogrossense consegue trafegar pelos variados ritmos de Sim sem abandonar a essência de seu trabalho como compositora e letrista. É, depois de uma estréia excelente, onde marcou muito bem qual era seu território dentro da rica e variada tradição da música brasileira, e depois de soltar um pouco mais as melodias de suas composições no terreno do pop em Essa Boneca Tem Manual, valeu a pena esperar por este terceirdo disco da artista, que com monossilábico título mostra que ela já percente ao primeiro escalão da música do Brasil.
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Ney Matogrosso e Pedro Luís e a Parede – Vagabundo. [download: mp3]

Ney Matogrosso e Pedro Luís e a Parede - VagabundoApesar de ser uma figura extremamente importante na história da MPB, Ney Matogrosso não está entre minha preferências. É fácil observar isto, visto que não eu não tinha nenhum álbum do artista no meio de minha coleção de CDs – até ontem. Ney, que vinha há muito tempo fazendo discos em que regravava uma pá de músicas de compositores reconhecidos, conseguiu com Vagabundo, execelente disco feito em parceira com Pedro Luís e a Parede, dar uma bela atualizada na sua carreira. O álbum começa com a deliciosa “A ordem é Samba”, música que fala sobre a importância deste ritmo em algumas regiões do país, e guiada por belos acordes de guitarra e excelente jogo de violas e percussão. “Seres Tupy” aborda, de maneira esplêndida, o universo dos miséraveis brasileiros. A melodia, assim como na primeira faixa, faz excelente uso de acordes cadenciados da guitarra, percussão e ótima participação de flauta. Em “Interesse”, temos mais uma percussão que se destaca, além dos metais que constroem a agitada sequência final da melodia. A letra é feita de versos em que alguém agradece, sem pena e com todo o orgulho, o desinteresse de um amor que não é mais cômodo. “Assim Assado”, clássico do Secos & Molhados, é uma boa regravação, mas fica aquém da versão original. “Noite Severina”, com melodia mais silenciosa do que a maior parte da músicas até aqui, é uma linda balada cujas letra poética, cantada em perfeito dueto entre Ney e Pedro, revela um amante platônico que observa, atônito diante de tanta beleza e algo triste, o sono da mulher que tanto ama. “Vagabundo” começa um pouco desinteressante, com melodia de samba pouco ortodoxa – pelo uso dos sopros rascantes do sax – mas cresce na sua metade final, quando entram os versos de negação de Pedro Luís. A percussão e bateria fortes são o que chama a atenção de imediato na melodia de “Inspiração”, assim como o alaúde árabe que aparece discreto na música. A letra é uma composição pós-moderna de versos que tratam do esforço criativo humano. “Disritmia”, uma das coisas mais belas já compostas por Matinho da Vila, ganha uma versão poderosa, ainda que algo minimalista e sorumbática, e cantada de forma esplêndida por Ney Matogrosso e Pedro Luís, acompanhados pela banda, inspiradíssima no uso do naipe de pratos e demais instrumentos. Em “Napoleão” temos uma letra irônica e divertida sobre o fim dos soldados deste governante francês. A melodia abusa do triângulo e da ótimo percussão, deixando no ouvido um gosto de música nordestina. A letra de “Jesus” trata do profeta cristão de maneira irônica – mas respeitosa – ao garantir que este não hesitaria em se render à dança ao ser retirado da cruz, bem como brinca com o uso que todos fazemos do nome de Cristo, ao quedarmos diante de qualquer adversidade. A melodia é agitasídíssima, com violões ligeiros e percussão alinhada com estes. “O mundo”, cuja letra revela a diversidade cultural e racial do mundo com versos algo pueris e cita o atual estado caótico da humanidade, é uma das músicas mais conhecidas do disco. A melodia investe, na sua metade final, em uma latinidade dissonante ao construir uma sequência agitada de acordes das violas, sax e da cadência da percussão.
Vagabundo é certamente o melhor disco de Ney Matogrosso em muito tempo, onde o artista acertou ao resolver aventurar-se em um projeto bem mais autoral e contemporâneo e abandonando, ao menos por algum tempo, o gosto pelos discos que celebram nostalgicamente a musicografia de grandes figuras da música popular brasileira. Espera-se que de tempos em tempos Ney arriscar-se em projetos tão surpreendentes como este. Baixe o disco usando o link e senha abaixo para descompactar o arquivo.

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Marina Lima – Lá nos Primórdios. [download: mp3]

Marina Lima - Lá Nos PrimórdiosApesar de não ser um fanzão de Marina, como um grande amigo meu, que se descobriu como tal ao perceber que estava sofrendo de um surto obsessivo de compras de CDs e LPs da artista, sei admitir os grandes méritos da cantora e compositora brasileira. Com a perda da potência e gradação vocal, que se acentuou há alguns anos, a cantora percebeu que suas canções deveriam ganhar em interesse melódico o que ela não poderia oferecer cantando. E assim foi que, desde O Chamado a cantora começou a compor melodias fantasticamente modernas, com uma elegância e classe ímpares. Lá nos Primórdios não é um disco excelente, mas vale pela mistura de canções inéditas e releituras de canções antigas que resultou em algumas faixas, de fato, excelentes. Um exemplo é “Três”, que apresenta a conhecidíssima construção de versos de Antônio Cícero, versos que falam de amor com uma entrega total, sobre uma soturna melodia de baixo e guitarra discreta, um baque eletrônico meio sujo como fundo, cordas sintetizadas em teclado e um piano de acordes cuidadosos, que ganha mais destaque no meio da canção. “Valeu” traz bateria e percussão acústica e sintetizada de tonalidades samba-bossa, junto com uma programação de sons delicada, assim como são os acordes do piano, que fecha a canção com toques breves mais sempre classudos ao extremo. O vocal de Marina é doce e algo sofrido, o que combina com as letras, que reclamam o sofrimento amoroso mas que, ao mesmo tempo, agradecem tudo o que já foi vivido. “Anna Bella” é um pop-rock elegante, com belo uso de guitarras, que apresenta solos mais genorosos e programação de teclados esperta, sobre o piano leve e animado. A letra, que parece uma conversa despretensiosa sobre amor, se revela, ao final, uma bela cantada. E como aconteceu em uma das canções de Pierrot do Brasil, temos nesta música uma das melhores e mais inusitadas tiradas do disco – ouça e me diga se a encontrou. “Difícil” fala sobre sexo casual e descompromissado, e apresenta uma bateria de compasso forte e seguro, com guitarras que crescem maravilhosamente ao longo da melodia, até explodir com mais vontade na sequência que fecha a canção – mais Marina que isso só mesmo com os metais de “Carne e Osso”. Os versos de protesto romântico, compostos pela própria Marina, são o retrato do abandono ao fim de um relacionamento e apresentam-se emoldurados por melodia rock agressiva, onde guitarras e baixos deixam-se usar de maneira absoluta. “Vestidinho Vermelho” é uma versão de Alvin L. para uma canção de Laurie Anderson, onde as letras são ponderações românticas e sexuais cantadas no refrão e apenas faladas fora destes. A melodia acompanha o vocal narcísico, petulante e malicioso de Marina, apresentando-se mais calma e intimista quando a cantora está falando e mais vigorosa e floreada quando ela canta o refrão. “$ Cara”, que inicia com um loop programado, logo revela melodia sonicamente forte com sua guitarra tempestuosa e bateria cheia de energia. O vocal de Marina, por vezes acompanhado por um dos músicos da banda que gravou o álbum, também está no seu melhor ao cantar os versos atualíssimos de amor e reflexão sócio-filosófica – sem dúvidas uma das melhores composições da cantora até hoje. Os remixes deste álbum estão mais elaborados: “Valeu”, em sua versão reeditada, ficou ainda melhor ao ganhar um supreendente solo de violoncelo algo nervoso e “Vestidinho Vermelho” tem melodia house-dance mais usual, mais ainda assim bem acima dos remixes normalmente produzidos.
Marina é em verdade a artista mais “cool” da música brasileira na atualidade, ao mostrar um trabalho que tem como marcas mais visíveis a real sofisticação e urbanidade de suas melodias e a malícia e poética das letras das canções, a cantora consegue passar ao largo de todas as tentativas mais falsas de parecer moderno e atual sem escorrergar um milímetro sequer e arriscar cair na vulgaridade. E a música brasileira é quem sai ganhando com isso. Baixe o disco utilizando o link a seguir.

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“Quanto vale ou é por quilo?”, de Sérgio Bianchi.

Quanto Vale Ou É Por_Quilo?Estórias de vários personagens se entrelaçam na sua relação com ONGs beneficentes e as falcatruas resultantes destas.
Não há muito como fazer um resumo de um filme do diretor brasileiro Sérgio Bianchi: seus filmes lembram a estrutura de alguns longas de Robert Altman e, no conteúdo, suscitam a ousadia de tratamento do tema que Lars Von Trier costuma ter. A diferença é que Bianchi enxerga o mundo – mais espeficamente o Brasil – de uma maneira ainda mais caótica e pessimista – alguns poderiam chama-lo de “porra louca”, e não estariam muito errados. No filme anterior, “Cronicamente Inviável”, Bianchi já fazia um ensaio sobre este seu novo longa, mostrando a miséria social e a inobservância governamental sobre os males que afligem o povo. Quando retratava as classes mais altas, ou mesmo aqueles que não eram ricos mas que não poderiam ser classificados como “miseráveis”, foi apenas para mostrar que na sua relacão com os párias da sociedade só poderia haver desprezo ou cinismo predatório travestido de caridade. No entanto, o filme não se concentrava em um único tema, discutindo de maneira caleidoscópica várias questões ao mesmo tempo.
Talvez por isso Bianchi tenha decido que em “Quanto vale ou é por quilo?” iria aprofundar sua investigação sobre esta relação e as suas consequências. Toda a crítica fundamentada neste seu último filme tem as organizações não-governamentais e seus inúmeros projetos socias como fio condutor e relacional: todos os personagens se encontram de alguma forma relacionados com estas entidades e suas ações. ONGs, para o diretor brasileiro, são apenas o mais novo mecanismo de exploraração social e econômica, a maneira legalizada daqueles que não pertencem a classe política de agir de maneira tão condenável quanto estes no exercício de suas funções.
Os personagens criados por Bianchi sempre agem movidos por intenções excusas, com o objetivo de lucrar – quaisquer que sejam os lucros – a todo custo. Todos acabam sendo corrompidos ou coniventes em algum momento por uma razão qualquer, e se causam algum benefício para o outro, isto acaba sendo puramente acidental, uma vez que a motivação sempre é o benefício próprio. Para Bianchi, as pessoas não costumam ter mais nenhuma ingenuidade ou inocência e, se por um acaso mostrem ter, eles a perdem tão logo o filme chegue ao seu final, independentemente de classe social ou raça ao qual pertençam: pobres, ricos, brancos, negros, qualquer pessoa acaba contribuindo para o conservação do estado de pobreza e violência em que se encontra a sociedade brasileira.
É bem verdade que isso acaba cansando, para não dizer ser bastante discutível, pois seu pessimismo e descrença no ser humano acaba sendo por demais radical e anárquico. No entanto, mesmo que você discorde da maneira como a gênese da inter-relação do problemas é pelo diretor vista, ninguém pode negar que Bianchi é dos únicos diretores que tem a coragem de realizar obras que devassam, de maneira tão sincera e crua, a realidade social brasileira – e por que não dizer, mundial? Tendo assistido apenas dois de seus filmes, posso ter alguma segurança em declarar que o diretor basicamente quer mostrar que muita coisa melhoraria se extinguíssemos duas coisas em nosso comportamento social/pessoal: o cinismo e a demagogia. São apenas duas atitudes com os quais podemos desenvolver nossa relação com o mundo, mas se livrar delas não é tão fácil quanto parece, como pode-se observar em “Quanto vale ou é por quilo?”. Infelizmente, sou obrigado a concordar pelo menos em um ponto com o diretor brasileiro: não há uma solução fácil para o caso. Isto se realmente existir alguma solução.

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Jorge Drexler – Eco 2. [download: mp3]

Jorge Drexler - Eco 2O Uruguaio Jorge Drexler foi revelado para os meios de comunicação de forma repentina através da indicação, e subsequente vitória, de sua composição, para o filme “Diários de Motocicleta”, para o Oscar de Melhor Canção. Quem é inteligente sabe aproveitar as oportunidades e reduzir um pouco mais a sua ignorância cultural. Visto que meus conhecimentos de música latina são irrisórios – e, por favor, não estou falando de Shakira -, aproveitei a ocasião para chafurdar a internet em busca de seu disco mais recente, e o maior responsável pela sua popularização, Eco/Eco 2.
Drexler mostrou-se, neste álbum, uma grata surpresa. Textos da internet comparam seu trabalho ao de Caetano Veloso, chamando a atenção para o uso de sutis ruídos eletrônicos. É certo que sua semelhança com o que de melhor há na MPB contemporânea salta aos ouvidos de qualquer brasileiro, mas a similiradede com a obra do mais famoso compositor baiano não é exatamente correspondente. A música de Drexler tem muito mais a ver com a poética sutil e o encantamento melódico de Adrina Calcanhotto e, em menor grau, com os últimos trabalhos de Marisa Monte. As composições do uruguaio transpiram delicadaza, classe, elegância e suavidade, tanto em seu caráter harmônico quanto lírico. A inspiração na sonoridade brasileira contemporânea fica bastante clara em “Don de Fluir”, com suave batida eletrônica e cadência deliciosa e elegante, na irresistível “Transporte”, com estupenda combinação de violões e bases eletrônicas, e na percussão macia e bem trabalhada dos versos doces de “El Monte y El Rio”. Porém, a qualidade da musicalidade de Jorge Drexler também revela-se nas sua composições de raízes mais românticas, como na reverberação algo cíclica da bela faixa-título, “Eco”, na harmonia que funde o melhor do pop com bases orquestradas e que adorna os versos de sincera sensiblidade de “Deseo”, e na linda melodia compassiva de “Todo se Transfoma”. A destreza do artista é tanta que ele conseguiu reservar espaços até para arroubos sonoros, com uso perfeito de instrumentação erudita em “Se Va, Se Va, Se Fue”, e também para demonstrar a sua habilidade como letrista nos versos de “Guitarra y Voz”, que guarda impressionante parantesco com as composições mais poéticas de Adriana Calcanhotto e Arnaldo Antunes e também no electro-contemporanismo explícito de “Oda al Tomate”. A latinidade, claro, está presente em todas as faixas, mas é sempre algo exposto de forma tranquila e plácida, como em “Milonga Del Moro Judio” e na música ganhadora do Oscar, “Al Otro Lado Del Río”, realmente uma das poucas merecedoras da premiação, com sua letra e melodia melancólicas, ainda que perseverantes. É ouvindo todo o disco que nota-se que Drexler não força jamais sua voz, entoando suas canções com um cantar suave, calmo e aveludado, poucas vezes levantando mais sua voz, como no refrão de “Polvo De Estrellas”, música que reúne de forma sublime todos os predicados do artista: música, melodia, poesia e raízes culturais.
Sem dúvidas Jorge Drexler é daqueles poucos artistas dos quais nos orgulhamos de ter em nosso país: se sentimos imenso prazer na brasilidade pós-moderna e literária da música de Adriana Calcanhotto e na elegância popular de algumas facetas de Marisa Monte, assim deve ser com Drexler no Uruguai, ainda mais agora, depois de conquistar um dos prêmios mais cobiçados do mundo, graças ao seu convite para deixar seu registro no filme do brasileiro Walter Salles. Depois de tanto tempo sem mostrar qualquer interesse pelos novos artistas da chamada nova MPB, só me restou mesmo ampliar minha busca além de nossas fronteiras culturais e linguísticas. Ainda bem que, geralmente, consigo superar certos preconceitos e me dar ao prazer de arriscar novas experiênciais musicais. Não fosse isso estaria ainda tentando entender o que há de tão bom em Max de Castro e Luciana Mello – deus me perdoe. Baixe o álbum utilizando os links que seguem depois da lista de faixas e use a senha para descompactar os arquivos.

senha: seteventos.org

http://www.badongo.com/pt/file/5321505

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Marisa Monte – Universo ao meu redor. [download: mp3]

Marisa Monte - Universo Ao Meu RedorE Marisa Monte renasceu. Foram anos lançando álbuns medianos ou absolutamente dispensáveis. Porém, sempre é tempo de demonstrar bom senso. E a cantora e compositora brasileira decidiu que já era hora de fazer isso. Universo ao meu redor, álbum-irmão de outro lançamento simultâneo de Marisa, é definido por ela como um disco que detém a “atmosfera do samba”. Isso é bobagem, é Marisa querendo ser pós-moderna ou pseudo-humilde, sendo que este último não cabe muito bem à ela. Se este não é um disco de samba eu não faço idéia do que poderia ser.
O álbum é composto de alguns sambas que, até então, tinham registros apenas orais, ao lado de composições recentes da cantora e seus parceiros habituais – e outros ainda que estréiam no repertório da cantora. De beleza tranquila, quieta, sem arroubos estilísticos-sonoros, o disco abandona a pretensão exibida pela cantora nos últimos anos e retorna à um som mais puro e despido, como o de seu melhor disco até hoje Verde, anil, amarelo, cor de rosa e carvão. Ao deixar de lado o irritantemente presunçoso delírio pop que mostrou sua sombra em Barulhinho bom, foi expandido em Memórias, crônicas e declarações de amor e que atingiu seu ápice em Tribalistas, Marisa deixa aflorar seus melhores predicados e exibe maturidade musical fulgurante. Assim sendo, todas as faixas tem valor e beleza, mas há composições de beleza infinda que se destacam, como “O bonde do dom”, que emociona com seus versos melancólico-urbanos e sonoridade que mistura o clássico do ritmo brasileiro com discretíssimos toques modernos, como um teclado Hammond sutilíssimo. “Vai saber?”, composta pela sempre fenomenal Adriana Calcanhotto, ganha arranjo à altura, com violas sofridas mescladas à harpas delicadas e vocais de fundo sobrepostos. A faixa que abre e dá nome ao disco, “Universo ao meu redor”, tem letras e melodias lírico-bucólicas, revelando a beleza imensa das pequenas coisas da vida que nos cercam. “Satisfeito” que traz mais bucolismo em suas letras, moderniza com uma batida eletrônica e acordes de guitarra que sabem seu lugar dentro de uma música que pisa forte no terreno do samba. E em mais uma bela canção de desapontamento amoroso e superação afetiva, “Lágrimas e Tormentos” segue a tônica melódica do disco, misturando a instrumentação tradicional do samba com toques suaves de sonoridades menos comuns ao ritmo, mas que se adaptam com maestria.
É maravilhoso, depois de tanta decepção, comprovar que uma artista do calibre de Marisa tem e teve sempre a capacidade de construir belas obras como o álbum em questão. Felizmente, os males da contemporaneidade – como a massificação, industrialização e populismo artístico, em voga desde meados da década de 90 – mostram que podem sim saturar os artistas que por eles se (des)aventuraram. Para o bem da arte e de todos nós. Baixe o disco usando qualquer um dos links que seguem depois da lista de faixas.

http://rapidshare.de/files/15366312/Universo_Ao_Meu_Redor.rar.html

http://d.turboupload.com/d/429298/Universo_ao_meu_redor.rar.html

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