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Tag: bill-nighy

“Notas sobre um Escândalo”, de Richard Eyre. [download: filme]

Notes On A ScandalBarbara, uma professora já na casa dos 60 anos, desenvolve um interesse obssessivo pela sua nova colega de trabalho, Sheba, que é casada e tem dois filhos. Quando ela descobre que Sheba se envolveu com um aluno de 15 anos, usa deste conhecimento para aprofundar sua ligação com ela.
Antes de qualquer coisa, é bom pontuar que a maior – se não a única – crítica que o longa-metragem recebeu foi sobre a música de Philip Glass: segundo os críticos, a trilha sonora composta por Glass é demasiadamente intrusiva e onipresente, atrapalhando os acontecimentos do filme. Sem dúvidas, a música composta por Glass já teve este efeito negativo muito vísivel, como aconteceu no fraco “As Horas”, do diretor Stephen Daldry, mas não é o que aconteceu em “Notas sobre um Escândalo”: Richard Eyre utilizou a música da maneira mais habitual possível. O filme realmente tem um grande problema, mas ele é bem outro.
A caracterização da personagem de Cate Blanchett, que seria a catalisadora de toda a polêmica e conflito no argumento, é o grande equívoco do roteiro adaptado do livro de Zoë Heller: Sheba é desenhada de maneira muito fraca pela atriz – sem dúvidas sua pior interpretação até hoje -, mas o próprio personagem carrega culpa em si, já que o envolvimento de uma professora casada, com dois filhos adolescentes, com um aluno de 15 anos, tão ordinário quanto qualquer outro, nunca se torna crível para o público. O roteirista até tenta mas não consegue, em momento algum, fundamentar adequadamente a razão da paixão de Sheba, uma mulher madura, por um adolescente tão comum quanto qualquer outro e, com isso, quanto mais a trama se desenvolve, mais a personagem parece infantil e inverossímil – para não dizer ridícula e patética.
Não é de se estranhar, portanto, que o filme acabe mesmo se concentrando na personagem de Judi Dench – que tem desempenho exemplar no papel. Barbara é uma mulher possessiva, dominadora, egoísta e egocêntrica, e não consegue desenvolver relações afetivas – as poucas que tem – sem excluir estes elementos do seu caráter, deixando-se sempre levar por ilusões amorosas que só fazem alimentar sua falta de limites. Ao conhecer Sheba, e afeiçoar-se por ela, Barbara adiciona ao seu comportamento a perfídia e a sordidez, particularmente ao utilizar-se do segredo de Sheba para fortalecer seu contato com ela. Deste modo, a infeliz, solitária e amarga Barbara de Judi Dench e o esquadrinhamento de seu comportamento sedimentado, incansável, imutável e calculado acabam sendo os únicos atrativos de um filme que se propôs abordar uma polêmica que não soube retratar. Richard Eyre deveria se sentir imensamente agradecido por contar com uma personagem intrigante e uma atriz inspirada, a única motivação para o espectador manter-se assistindo seu longa-metragem. De outro modo, seu filme soaria tão insosso quanto o romance adolescente de Sheba.
Baixe o filme utilizando o link a seguir.

http://d01.megashares.com/?d01=89446ce

legenda (português):
http://www.opensubtitles.org/pb/download/sub/3109648

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“Anjos da noite – A Evolução”, de Len Wiseman.

Underworld 2 - EvolutionOs problemas da vampira Selene e seu amado, o agora híbrido de vampiro e lobisomen Michael, acabam de aumentar consideravelmente: Marcus, o último vampiro ancião, e o primeiro de sua raça, acordou de seu sono secular e persegue os dois, procurando obter algo que está relacionado com William, seu irmão lobisomen, que está confinado há séculos e é o primeiro de todos os Lycans. Selene e Michael não sabem, mas contam com a ajuda de um senhor misterioso e seus soldados, que tenta encontrar os dois namorados antes que Marcus o faça.
Por mais incrível que possa parecer, o segundo filme da possível trilogia é bem melhor que o primeiro. A razão é bastante simples: depois de ter explorado suficientemente o conflito instaurado pelo surgimento de um híbrido vampiro-lobisomen e o platonismo Romeu-e-Julieta no primeiro filme, o diretor Len Wiseman resolveu desenvolver uma argumento menos açucarado, e portanto bem menos piegas do que o primeiro, abordando a estória dos antepassados destes seres sobrenaturais, agora acordados, e de sua ambição de dominar o mundo e subjugar a humanidade. Dizendo assim, parece algo bem batido – e não deixa de ser, é verdade – mas Wiseman soube intensificar as sequências de ação do longa e concentrar-se no desenrolar do conflito proposto, aprimorando um pouco mais o argumento – claro, não dá para fazer muita coisa, já que falamos de uma produção cujo argumento reedita estórias de fantasia já bastante exploradas. O único problema deste segundo longa da franquia de Wiseman é, a meu ver, a introdução, em diversos pontos dos 106 minutos do filme, de “flashbacks” do filme anterior: o recurso é adotado tantas vezes que isso cansa o espectador, que fica se perguntando se um dialógo simples não resolveria essa questão. De qualquer forma, esse aspecto negativo é apenas residual, e não interfere na diversão criada pelo filme. “Anjos da Noite – A Evolução” é garantidamente uma espécie de “melhoramento” do filme precursor, enfraquecendo a impressão negativa de diretor pouco inspirado que o primeiro filme tinha deixado, para a sorte de Len Wiseman – e graças ao seu próprio esforço, claro.

NOTA POUCO CULTURAL: e como brinde adicional, fica aqui o registro de que o diretor Len Wiseman, marido da protagonista Kate Beckinsale, é um tremendo de um gato. O que também confirma que Kate pode até não ser uma atriz tão fantástica, mas mostra que ela não é nada boba.

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“Underworld – Anjos da Noite”, de Len Wiseman.

UnderworldVampiros, que há séculos estão em guerra contra lobisomens, descobrem que estes não estão tão enfraquecidos quanto imaginavam. Selene, uma vampira caçadora, descobre que por alguma razão os lobisomens perseguem um jovem médico humano, que corre perigo de se transformar em um daqueles por quem está sendo perseguido. Enquanto tenta entender porque ele é tão cobiçado por seus inimigos, Selene tem que se esquivar da obsessão do atual líder de seu grupo, o ambicioso vampiro Kraven, e pensa seriamente em acordar o poderoso vampiro ancião Viktor de sua hibernação, o único em quem confiaria para ajudá-la na solução do conflito que imagina estar chegando.
O filme de Len Wiseman diverte, traz bons efeitos especiais, é bem produzido e dirigido, apresenta um clima interessante e uma estória bacaninha. Ou seja, “Anjos da noite” é puro entretenimento.
Porém, há dois problemas justamente nas duas últimas características citadas como qualidades do filme – e ambos, na verdade, resultam da inspiração em outra coisa, não sendo algo criado originalmente pela produção de Wiseman. Com relação ao “clima interessante”, não há sequer uma criatura no mundo que, assistindo aos primeiros instantes do filme, não recorde de uma famosa trilogia, tão adorada por aí. Antes mesmo de ser um enorme sucesso de bilheteria, a trilogia “Matrix” é uma enorme influência na cultura pop, e particularmente no cinema. Essa verdadeira praga infestou-se por uma enormidade de produções posteriores, e “Anjos da Noite” é, mais do que evidente, um dos longas influenciados por “Matrix”. Se não vejamos: mulheres com roupas de couro ou vinil preto, super aderentes, homens com enormes capas ou sobretudo, câmera lenta aos borbotões, armas poderosésimas, tiroteios para todos os lados – em câmera lenta, obviamente -, pulos e acrobacias que desafiam qualquer noção fundamental da física, e poses, meu bem, muitas poses de “mamãe sou cool”. Digamos que Len Wiseman tirou toda a referência cyber e do universo da ficção científica e substitui pela referência dark-gótica e pelo universo da fantasia, preservando todo o resto – o estilo cool/pop mais do que inconfundível que faz o filme parecer, como bem notou o pessoal do portal A-Arca, um mega videoclipe. Que trabalho criativo o do diretor, não? Com relação à “estória bacaninha”, o problema é quase tão grande quanto o do estilo. O argumento é, na verdade, o de Romeu e Julieta no mundo dos seres sobrenaturais, com algumas pitadas de ecumenismo racial. O plágio foi mesmo considerado como verdadeiro – uma editora de livros de RPG publicou uma estória muito semelhante, por sua vez inspirada no clássico de Shakespeare, entre as suas obras. Sendo assim, duas das maiores características deste longa-metragem resultam em algo derivado – para não dizer descaradamente copiado – de um filme e de um argumento de Role Playing Game. O que resta de original, de próprio da obra de Len Wiseman, então? Na verdade quase nada. Só o elenco, eu imagino.
Assim sendo, o filme resulta em um longa-metragem problemático. Apesar de divertido, “Anjos da Noite” é resultado de uma mistureba da cultura pop que não traz absolutamente nada de novo. Mas o público adorou e, com o sucesso, a filme que originalmente foi planejado como um só já foi transformado em uma trilogia, ora vejam. Ainda bem que estamos próximos do lançamento da terceira e última – será? – parte desta estorinha bonitinha mas ordinária. Só temos que aguentar mais um longa cheio de figurinhas bad-cool, com doses cavalares de jogadas de cabelo da Kate Beckinsale, e estaremos livres de mais um longa-metragem que recicla idéias que já tinham sido recicladas pelas suas fontes de inspiração. Contudo, não estamos salvos – mais filmes super-originais prometem sair dos estúdios e da cabeça dos produtores americanos. Esse círculo vicioso e nada criativo de Hollywood nunca acaba mesmo.

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“Piratas do Caribe: O Baú da Morte”, de Gore Verbinski.

Pirates Of The Caribbean 2Will Turner e Elizabeth Swann, no dia de seu casamento, são condenados à morte por terem auxiliado na fuga do pirata Jack Sparrow. O comodoro Cutler Beckett, responsável pela acusação, faz um acordo com Will, propondo a retirada de todas as acusações, caso o jovem lhe traga a bússola do Capitão Jack. Will aceita o trato, levando consigo um contrato de trabalho para a marinha mercante como oferta de barganha pela bússola. Porém, Jack está mais preocupado em salvar-se de cumprir o terrível acordo que fez com o lendário Davy Jones, capitão do lendário e temido navio “Flying Dutchman”. E, a essa altura, claro que Elizabeth já, partindo ao encontro de Will.
A sequência de um dos maiores êxitos do cinema americano nos últimos anos consegue ser tão divertida quanta a sua primeira parte, mantendo todos os predicados que fizeram seu sucesso. No campo das atuações, Johnny Depp está novamente impagável como o pirata Jack, Keira Knightley diverte como Elizabeth e Orlando Bloom não incomoda como Will – certamente sua atuação mais simpática até hoje. No que se refere aos aspectos técnicos, o filme prossegue impecável, com cenografia irretocável, efeitos especiais elaborados, maquiagem impressionante e fotografia que sustenta o clima de sobrenatural e fantasia até debaixo de sol escaldante. Quanto ao argumento, os roteiristas reservaram no novo longa uma enormidade de sequências de ação bem boladas que, certamente, irão satisfazer a platéia mais afeita ao cinema comercial. Contudo, é justamente no roteiro que residem os problemas deste longa-metragem. Primeiro, há de se admitir que esta sequência baseia-se em acontecimentos que assemelham-se muito aos do longa anterior, já que todos os eventos se desencadeiam pela maldição que aflige – mais uma vez – o pirata Jack e pela sua tentativa de barganahr para livrar-se desta ameaça. Segundo, o encadeamento das situações está por demais intrincado e, não raro, o expectador se pega tentando entender algum evento passado, ao mesmo tempo que tenta não perder-se naquilo que se desenrola na tela no momento. E mesmo com este esforço do público, um terceiro problema insiste em manter a confusão, já que há coisas que o filme não se dá ao trabalho de explicar mesmo – ao menos nesta segunda parte -, e perguntas como estas acabam persistindo: “Como ele foi parar nessa caixão?”; “Afinal de contas, esses dois mortos-vivos deveriam estar os ajudando?”; “Ops! Ele morreu, o que vão inventar agora?”; “Oooops! Esse aí não estava morto e acabado???”. É certo que o epílogo da trama pode se encarregar de responder algumas dessas questões, contudo, isso acaba problematizando o argumento, que acaba tendo que se virar em criar infindáveis rodeios para satisfazer as dúvidas – o que, a meu ver, acaba empobrecendo a trama e não convencendo o expectador mais exigente.
Assim sendo, o filme cumpre muito bem com o objetivo de entreter, enchendo os olhos com sequências empolgantes, mas peca por uma certa preguiça, bagunçamento e ansiedade argumentativa. Acaba funcionando mas, espera-se, mesmo que sem muita esperança, que a inevitável sequência da trama corrija ao menos alguns desses aspectos negativos do filme.

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“O Jardineiro Fiel”, de Fernando Meirelles.

The Constant GardenerDiplomata acomodado desconfia das circunstâncias da morte de sua esposa, uma ativista que lutava contra a exploração da miséria, e resolve investigar por conta própria o acontecido. Logo descobre que a versão oficial para a morte de sua mulher está longe de ser a verdade.
Meirelles quis, em seu primeiro filme de produção estrangeira, não pisar em falso em momento algum, equilibrando a produção de maneira que despertasse a atenção de público e crítica sem chamar muita responsibilidade para si. O ponto de equilíbrio é bastante claro: enquanto vê-se uma produção financeiramente generosa, bastante requintada visualmente e com locações na Europa e na África, percebe-se que o diretor decidiu que iria conseguir controlar os rumos de seu longa na escolha da atriz para o papel de Tessa. Foi recusando atrizes da maginitude pública de Nicole Kidman e Kate Winslet – com a desculpa de não terem a idade apropriada -, e escolhendo uma atriz competente mas sem notoriedade pública excessiva, que o diretor garantiu para si as rédeas do controle autoral de seu longa-metragem, evitando tanto que sua produção fosse eclipsada pela fome de auto-promoção de atrizes como estas quanto que a presença de uma destas mulheres gerasse expectativas em excesso com relação ao seu filme. Foi assim que Rachel Weisz acabou sendo a escolhida para o papel, e o filme ganhou os contornos pleanejados pelo diretor brasileiro.
Fernando Meirelles consegue manter o conhecido nível de qualidade de suas produções em sua primeira incursão pelo mercado internacional. Os atores estão muito bem em seus papéis, limitando de forma inteligente suas atuações para não prejudicar a atenção do público com relação à estória do longa. O roteiro adaptado consegue organizar a fragmentação de sua estória de modo que o conceito não atrapalhe a compreensão do seu conteúdo. A fotografia, a montagem e a edição tem algo de saturação, imediatismo e imersão, sensações que potencializam o envolvimento do público com o desenvolvimento dos acontecimentos do filme. E a direção de Meirelles sabe deixar o registro de seu estilo sem prejudicar a unidade de cada uma das características já citadas. A palavra que melhor define o mais recente filme do diretor brasileiro é, sem dúvidas, “equilíbrio”.
Desta forma, “O jardineiro fiel” é realmente um filme muito bom, mas não se configura como uma obra-prima. Primeiro, pelo obra em si, que mostra ser um filme acima da média, mesmo entre as produções estrangeiras, mas não se torna referência imediata. Segundo, porque o filme é menos um marco na estória de diretores brasileiros que arriscam carreira internacional e muito mais um degrau acima no caminho percorrido há anos pelo trabalho competente dos cineastas brasileiros – ou seja, não se trata de que ganhamos respeito e reconhecimento internacional agora, mas sim de que já o estamos fazendo há um bom tempo, e este filme representa um avanço ainda maior neste caminho.
Por tudo isso, deve-se assitir à “O Jardineiro Fiel” com o nível de exigência no ponto certo. Nem todo artista nasceu para fazer história: a grande maioria está aí para contribuir na medida certa para o engradecimento da cultura e da arte.

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