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Tag: cinema mexicano

“E Sua Mãe Também”, de Alfonso Cuarón. [download: filme]

Y Tu Mamá TambiénTenoch e Julio, dois adolescentes em férias escolares, o primeiro pertencente à uma família abastada e o à classe média, decidem aproveitar as férias ao máximo depois da viagem de suas namoradas para a Itália, mas frustran-se logo pela insucessos em sua investidas, principalmente com relação ao sexo oposto. É em uma festa de casamento, no entanto, que encontram Luísa, mulher casada com um primo de Tenoch e que decide, depois da descoberta de fato que muda completamente o seu futuro, embarcar em uma viagem México adentro rumo à uma praia fictícia.
Foi depois de ter assistido o fabuloso “Filhos da Esperança” que minha vontade de conhecer melhor o cinema de Alfonso Cuarón realmente ganhou impulso. Elogiadíssimo mundo afora, “E Sua Mãe Também” me causava certo temor justamente pelo consenso de sua qualidade – parecia ser bom demais pra muita gente. Felizmente, se trata de uma daquelas excessões raríssimas, que conseguem agradar a gregos e troianos a despeito de não cometer concessões – ao menos não de forma gratuita. Talvez seu sucesso seja fruto de sua camada mais aparente, o “road-movie” em ebulição contínua onde dois garotos, ajudados por uma mulher com quase o dobro de sua experiência e idade, começam realmente a conhecer a si mesmos, à um ao outro e as complexidades da vida – coisa que tanto o conforto da adolescência quanto o de suas condições financeiras não os permitia conhecer. A fartura de cenas de nudez e sexo, com certeza, agradou boa parte do público menos reflexivo – e isso deve ter lhes bastado como atestado de qualidade. Mas Cuarón, não é trouxa e sabe cobrar em dobro aquilo que oferece: assim como Tenoch e Julio, em troca de um pouco de diversão e sexo, foram obrigados a finalmente encarar verdades e fatos da vida que o conforto de sua rotina camuflava, o diretor oferece ao público a diversão mais pueril e lhes obriga a testemunhar ou, se possível, refletir sobre um sem número de coisas por vezes salpicadas – pelo narrador da história – e em outras costuradas aos próprios protagonistas – como a verdadeira condição de Luisa – à este rito de passagem da adolescência para a vida adulta. Histórias que deflagram a fugacidade de nossa existência, fatalidades repentinas, a condição miserável de grande parte do povo, o êxodo em busca de novas oportunidades de emprego, o rolo compressor da indústria do turismo contemporâneo, a natureza sórdida de fatos políticos, tudo é colocado diante de Tenoch, Julio e até mesmo da experiente Luisa, para que atestassem que uma vida de prazeres inconsequentes não duraria tanto e fossem obrigados a confessar que mesmo a fraternidade e cumplicidade que imaginavam ter, imagine, não era tão real e sincera assim. Depois de tamanha jornada pelo que era, até então, conhecido mas ignorado – ignorado até na relação que desfrutavam entre si – as coisas, mudam, claro. E tudo o que parecia menos provável, se não completamente inaceitável, se mostra como o rumo a ser tomado – não é de se estranhar, dado que, na essência, eles sempre tiverem uma atitude compassiva e conformista quando se deparavam com qualquer situação que lhes exigia uma reflexão mais cuidadosa. Calar-se e não pensar sempre é mais conveniente.
Tanto na construção da dinâmica do filme, em cujo engendramento o narrador tem papel principal ao exibir consciência plena não só sobre o passado, presente e futuro de quem quer que apareça na tela, mas também sobre os detalhes mais sutis, passageiros e reveladores do comportamento dos protagonistas, quanta na técnica, cuja fotografia, cenografia e montagem exibe a mesma prerrogativa por preservar um senso mais natural – que Cuarón apuraria ainda mais em “Filhos da Esperança” – tudo serve para dar apoio à malha temática complexa do longa-metragem, que entrelaça crítica política e social com a investigação de distúrbios relacionais e dramas pessoais e universais. “E Sua Mãe Também” é um armadilha saborosa e necessária: pintando seu cinema de picardias estudantis, os mexicanos agarram o público e o expõem ao que objetivam de fato – a reflexão sobre como nossas menores atitudes podem ter efeitos decisivos sobre a nossa vida e a alheia.
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OBS: links funcionais mas não testados.

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legendas disponíveis (português):
http://legendas.tv/info.php?d=c88e6c8003ebb8a2996c3197027abc68&c=1 (via legendas.tv)
http://www.opensubtitles.org/pt/download/sub/3093671 (opensubititles.org)

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“Babel”, de Alejandro González Iñárritu. [download: filme]

BabelDois garotos marroquinos, perigosamente lidando com um rifle pela primeira vez, um casal de turistas americanos, vivendo uma crise conjugal, uma babá, de origem latina, tentando comparecer ao casamento do filho, uma adolescente japonesa muda, em conflito silencioso com o pai – todos estes personagens, ocupando diferentes espaços e vivendo diferentes realidades, estão, em algum nível interligados por um incidente que que terá consequências para todos.
“Babel”, filme que fecha a trilogia desenhada por Iñárritu, sofre com as decisões equivocadas do diretor e seu roteirista, Guillermo Arriaga. Nos dois filmes anteriores, pelo fato de os personagens ocuparem o mesmo espaço geográfico, era desnecessário que eles se conhecessem antes do evento que os envolvia (como acontece em “21 Gramas”) ou mesmo que travassem algum tipo de relação após o evento que atingia a todos (como foi em “Amores Brutos”). Neste último longa-metragem, o diretor decidiu misturar as duas diferentes formas de abordar os personagens e desenvolver o argumento e, ainda, distribuiu os personagens em diferentes pontos do mundo, o que acaba por enfraquecer a fragmentação e a não-linearidade, tão bem arquitetada nos filmes anteriores. É por conta disso que o incidente, característica maior da trilogia, já não envolve todos os personagens e, consequentemente, eles não chegam a travar contato, mesmo que momentaneamente, tendo muitas vezes uma ligação indireta e fraca: um exemplo claro é a ligação dos personagens do núcleo japonês com o incidente, tão tola e desnecessária que fica muito difícil de aturar.
Mas, se evitarmos comparar este filme com os dois anteriores de Iñárritu ele acaba não sendo tão problemático, repousando na categoria dos filmes com qualidade regular – graças ao bom desempenho dos atores, à qualidade técnica e à direção competente. Porém, ainda vamos encontrar pelo menos uma característica incômoda, já que o grande diferencial que o diretor e o roteirista planejaram para este filme não tem qualquer efeito de importância para a trama: a impossibilidade de comunicação entre pessoas de diferentes línguas e culturas não apenas não acontece como não tem qualquer razão de ser no longa-metragem, já que os eventos da trama tomam lugar sem qualquer relação de causa desta falta ou dificuldade comunicativa e cultural.
A impressão que se tem, ao terminar de ver a película – que além de tudo é desnecessariamente longa -, é que tudo o que há de marcante e original nos filmes anteriores diluí-se demasiadamente em aqui, tornando o longa-metragem bastante insípido. Como disse minha melhor amiga, com a inteligência que lhe é tão cotidiana, “Babel” é o resto de história de “Amores Brutos” e “21 Gramas”.
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“O Labirinto do Fauno”, de Guillermo del Toro.

El Laberinto Del FaunoNa Espanha da Guerra Civil, uma garota fascinada por contos de fada acompanha a mãe grávida para o campo, onde viverá na companhia do padrasto, um capitão do regime fascista de Franco. Lá, em meio a insurgência dos rebeldes contra o regime ditatorial, a truculência de seu padrasto e a gravidez de risco de sua mãe, a menina Ofélia descobre um labirinto cujo habitante é um fauno, que afirma ela ser muito mais do que já imaginou na sua vida.
Guillermo del Toro é mexicano, mas tem visível predileção por criar estórias ambientadas na terra que colonizou seu país natal. Foi assim que ele ganhou fama com “A Espinha do Diabo”, um filme que misturava atmosfera de horror com um fundo político, e cujo argumento fazia de crianças as protagonistas do longa-metragem. Em “O Labirinto do Fauno”, del Toro volta a seguir igualmente a fórmula que lhe consagrou: este filme é em parte uma fábula, em outra um filme de horror-suspense, e em outra ainda um drama político. Todas estas facetas de gênero estão embricadas no argumento, fazendo desta, portanto, uma fábula que não almeja o público infantil. Decorre-se daí alguns defeitos e igualmente as qualidades do filme. No caráter negativo eu diria que o fato de ser em parte uma fábula atrapalha consideravelmente e gera os dois maiores problemas do longa-metragem. Por ser basicamente uma fábula é que a construção dos personagens não vai muito longe, muitas vezes resumindo-se aos estereótipos mais planos: o vilão é cruel, sanguinário e insensível como ninguém, e os “mocinhos” da trama são bons ao ponto de fazerem mal apenas quando necessário, sempre de forma justificada. A faceta política do filme, por consequência disto, fica um tanto óbvia, resumindo-se a pintar o regime do ditador Franco como o inferno que todos já sabemos de pronto ser, e a revolução popular como a tão idealizada solução para esta situação. Longe de mim fazer qualquer elogio a ditadura, mas a guerra é bem mais complexa que isto – mesmo a civil, como nossos tempos bem nos mostram. Por outro lado, justamente por ser um filme tão hibrído, é que isso possa ser justificado, sob outro ponto de vista: pode-se dizer também que os horrores e a maldade constrastam tanto com a bondade devido ao filme ser centrado na mente ingênua de uma criança, ainda acostumada e enxergar a vida sob a ótica do preto e branco. Dentro de uma fábula, mesmo uma meia-fábula para adultos como esta, não há muito como fugir da construção mais plana do bem e do mal, já que elas se baseiam nesta dicotomia. Um segundo aspecto interessante é o fato do roteiro de del Toro trabalhar o tempo todo com a ambiguidade, sem revelar se o aspecto fabular da estória é verdadeiro ou apenas uma enorme ilusão da mente criativa de Ofélia – há pequenos detalhes durante o longa-metragem que deixam o público sem saber o que pensar, visto que eles tanto negam quanto afirmarm ser tudo verdadeiro. Além do mais, as ótimas atuações do elenco, cenografia e direção de arte primorosa, suspense muito bem sustentado, os belos enquadramentos da câmera na sequência inicial e final, a trilha sonora soberba e emocionante e a estória sensível fazem, no conjunto, toda a qualidade do filme.
Considerando-se as avaliações da crítica como exageros – há desde “o filme do ano” até afirmações de que esta é “a obra-prima de del Toro” – e levando em conta os aspectos intrínsecos da fábula tanto como defeitos ou qualidades deste longa-metragem multi-gênero, há de se concordar ainda assim que este é um filme acima da média, tanto por possuir as caractérísticas já conhecidas do cinema de del Toro – o uso de sequências de violência gráfica bastante explícita, mistura de gêneros competente e visual onírico – quanto por ter conseguido o que poucos cineastas conseguem: ter sido bancado, em parte, pelos Estados Unidos, para produzir um filme que fala sobre eventos não-americanos utilizando uma língua outra que não a inglesa. E isso só já é um ponto muito positivo – para o cinema como um todo.

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