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Tag: cinema

“O Diabo veste Prada”, de David Frankel.

The Devil Wears PradaJovem recém-formada e aspirante a jornalista disputa o emprego de segunda assistente da editora-chefe da mais influente revista de moda do mundo, apesar de ser abertamente desinteressada pelo mundo da moda. Mesmo sabendo disso, a editora-chefe, de personalidade egocêntrica e insensível quase intratável, a contrata. A agora jovem assistente vai enfrentar um mundo de obstáculos e contratempos por conta das exigências, muitas vezes absurdas, de sua chefe. O filme é baseado no romance parcialmente auto-biográfico da escritora Lauren Weisberger, já que ela trabalhou por anos como assistente da editora da revista Vogue americana. Sendo assim, muitos dos personagens – particularmente as duas protagonistas – são versões ficcionais de figuras reais.
Começo a resenha com uma pergunta por demais simples: é mesmo necessário dizer que Meryl Streep tem uma bela atuação no longa-metragem? Acho isso redundante, uma vez que a atriz americana raramente sai de um filme sem elogios. Por sua vez, Anne Hathaway, a jovem assistente Andrea Sachs, tem desempenho tranquilo como a sua personagem e consegue cativar a platéia com sua beleza delicada mas altiva. No entanto, o argumento do filme de David Frankel não prima pela originalidade: é mais uma estória de alguém superando desafios, convivendo com uma pessoa de personalidade difícil, passando a compreendê-la com a convivência, e que acaba atravessando um processo de auto-avaliação do que deseja para o seu futuro e de como vê a si própria – há uma pá de filmes que lidam com essa mesma linha argumentativa. Um segundo ponto relacionado à isto, e que acaba problematizando as chances dessa produção surpreender o expectador, é a variedade limitadíssima de conclusões da estória: ou o indivíduo se rende ao mercado, esquecendo o que antes almejava, e entra no grupo dos que sacrificam sua vida pessoal para manter o sucesso em um cargo altamente invejável ou a pessoa, ao final, joga tudo para o alto e volta a buscar e lutar por aquilo que sempre desejou. Tanto em uma possibilidade quanto na outra, o final do longa-metragem acaba caindo no lugar comum pela própria natureza da estória, que costuma limitar e evitar um epílogo de conteúdo excepcional e surpreendente. Porém, esses defeitos não chegam a fazer deste um longa-metragem ruim, eles apenas o impedem de se destacar entre os filmes do gênero. A produção caprichadíssima ajuda o filme: bela fotografia, trilha sonora bem escolhida, composta de canções pop/rock, elenco afinado, direção tranquila e, como não poderia deixar de ser, um figurino espetacular. Contudo, a personagem cativante construída por Hathaway e a composição novamente acertada de mais uma personagem de Streep é que levam o filme a frente, divertindo e segurando a platéia mesmo com uma estória já bem batidinha. É um passatempo divertido e descompromissado, que mostra o quanto bons atores podem ser, sozinhos, toda a razão de ser de uma produção. Assista sem muitas expectativas – as duas atrizes merecem isso.

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“Miami Vice”, de Michael Mann.

Miami ViceDois policiais de Miami disfarçam-se como transportadores de drogas para entrar em um cartel internacional, com o objetivo de melhor atingir seus compradores em Miami. Contudo, os dois decidem por entrincherar-se ainda mais no grupo, com o objetivo de também tentar desmantelá-lo. Ao agirem desta forma, os dois acabam envolvendo-se perigosamente, colocando suas vidas e as daqueles que os cercam em perigo.
Não sou um fã do seriado original – nunca assisti sequer um capítulo deste que foi um dos seriados mais ícônicos dos anos 80 e possuo conhecimento puramente periférico. Sendo assim, estou impossibilitado de estabelecer qualquer comparação mais aprofundada entre ele e o longa-metragem, seu derivado.
Se o seriado primava pelo estilo e pela produção, construindo estórias envolventes e cheias de adrenalina mas apresentando personagens e situações caricatas e “clichéticas”, então o filme é bastante fiel à sua fonte de inspiração: policiais destemidos que ao se envolverem, sem hesitação, em um cartel poderosíssimo e extremamente perigoso, não demonstram temer, em momento algum, as consequências de tal relação; sexo algo videoclípico e glamourizado; uma cena de combate longa, arquitetada em cada mínimo detalhe. Tudo isso não perfaz, de modo algum, um longa-metragem original e supreendente, constituindo-se, na verdade, em uma abordagem já mais do que vista no cinema e TV. No entanto, apesar de ter montado um filme nada inovador, o diretor explora um pouco mais a fundo as situações e os seus personagens – mesmo sendo eles caricatos -, e suponho que ele tenha feito isso de maneira um pouco mais aprofundada do que algum episódio do seriado original normalmente o faria. Além disso, Michael Mann concebe seu filme de maneira competente, e não recheia o filme de cenas de ação – o que eu vejo como uma decisão acertada -, tentando apenas encobrir um roteiro frágil. Um dos pontos chaves do roteiro de um filme policial são os crimininosos, e estes estão bem representados no filme de Mann: o cartel apresentado no filme é bastante convincente e realista, pois atualiza criminosos que por ventura habitavam o seriado dos anos 80 para aqueles que infectam o século XXI – altamente globalizados, com conexões em diversos países do mundo e agindo de maneira organizada e com o apoio que a tecnologia atual dá à estes. Claro que a idéia de que dois policiais de Miami, com a ajuda de mais alguns colegas, organizando sozinhos uma operação internacional que tem a pretensão de desmantelar um grupo criminoso tão poderoso faz o realismo ficar um pouco mais distante, mas trata-se de uma adaptação do seriado “Miami Vice” – portanto, não havia como não fazê-lo desta forma. A decisão de produzir o filme em vídeo digital, incluindo cenas noturnas que apresentam imagem granulada, com algum ruído bem visível – ocasionado pelo aumento da sensibilidade na captação da imagem no escuro – também foi certeira, pois iajuda a incrementar o estilo do filme e compensa, na composição visual, o realismo perdido pela certa inverossimilhança da operação que é a base do roteiro, e que já citei logo acima.
Deste modo, o filme de Mann não se apresenta como um marco do gênero, mas é, acima de tudo, uma produção requintada que mistura algumas boas idéias de roteiro à outras na identidade estética do longa-metragem. Como filme policial, ele faz o que deve: diverte, explora bem a tensão do expectador e consegue mostrar um bom romance proibido – mas não vai além disso e, como já disse, nem sei se poderia mesmo ir, já que se trata da adaptação de um seriado que também não era muito diferente. E, como isso é Hollywood, mesmo depois de todo o carnaval, temos um final que, podemos ousar dizer, é feliz. E isso, definitivamente, não é nada realista.

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“Terror em Silent Hill”, de Chistophe Gans.

Silent HillRose, tentando entender o que aflige seu filha adotada de seis anos, vai com ela para a única pista que tem da origem da criança, uma cidade chamada Silent Hill, há muitos anos abandonada por conta de uma catástrofe. Mesmo sabendo destes eventos, e contra a vontade de seu marido, Rose ruma para a cidade.
A tão aguardada adaptação do famoso e idolatrado jogo de horror da game house Konami é bastante fiel à criação original. A cidade tem a atmosfera bem próxima da que os fãs conhecem tão bem, graças ao trabalho de fotografia e cenografia de profissionais que já trabalharam com Gans e até com David Cronenberg; a trilha sonora, composta pelo mesmo Akira Yamaoka do jogo original e por Jeff Dana, foge bastante das trilhas típicas do gênero – mais baseadas em orquestrações de corda – e segue o espírito do jogo, sendo construída muito mais em cima de ruídos e sons sintetizados; as atuações são suficientemente competentes e o argumento adaptado da estória original do game foi bem bolado, já que mudanças eram necessárias na transposição de uma mídia – vídeo game – para outra – cinema que tem suas próprias particularidades e exigências argumentativas.
Porém, uma das principais críticas ao filme, feita pelo portal brasileiro A-Arca, tem o seu embasamento, ainda que eu considere-a apenas parcialmente. No texto do dito site, é comentado que o principal ponto negativo do filme é não despertar medo no expectador, o que seria um grande defeito da adaptação, visto que o filme é justamente baseado em um jogo que é considerado dos mais competentes em explorar e causar horror – o autor do texto chega a mesmo a citar uma comparação com a clássica série “Além da Imaginação” por conta disto. Como disse no início, eu concordo em parte. Explico: de fato, o filme não causa medo, mas compará-lo com o citado seriado não é adequado, visto que “Silent Hill” é um longa muito mais violento. Desta forma, eu concordo que o filme de Chistophe Gans não cause medo, mas acho que o diretor consegue explorar consideravelmente a tensão do expectador e causar mesmo horror em algumas sequências do filme. É um defeito, mas não chega a estragar o filme. A meu ver, há outros três defeitos muito maiores no filme. O primeiro deles é a ausência do famoso e espetacular tema musical do jogo, umas das características mais importantes da identidade de “Silent Hill” – é de causar pena em qualquer fã não ouvi-lo em nenhum momento do filme. O diretor e o compositor Yamaoka perderem, no mínimo, uma grande oportunidade de homenagear a criação original da Konami. O segundo defeito é a mudança de protagonista do enredo, no lugar de Harry Mason entra Rose Da Silva (que sobrenome pouco norte-americano, não?). O diretor e o roteirista Roger Avarychegaram mesmo a conceber a estória sem um papel paterno, mas devido à reclamação do estúdio, introduziram Christopher Da Silva no argumento. Entendo que a mudança tem suas vantagens na adaptação, uma vez que uma mãe conseguiria cativar mais o público com o seu desespero e emotividade em relação à situação de sua filha, bem como o fato de transformar a mãe na protagonista aproxima o filme da leva atual de filmes de terror de sucesso, baseado em estórias originalmente criadas no oriente. No entanto, aos olhos dos fãs – me incluo aí no grupo -, isso não vai deixar de ser, de alguma forma, uma heresia algo desnecessária. Um trabalho de roteiro e atuação bem compostos tornaria um protagonista masculino tão cativante quanto um feminino. O último dos três defeitos, sob o meu ponto de vista, é a conclusão da estória. Não vou aqui ser insensato o bastante para revelar o fim do filme, basta dizer que o fato de Silent Hill ainda persistir no destino de Rose e da menina Sharon – esta mesmo de maneira provavelmente irreversível – é desnecessário. Adotar o final clássico do game, mesmo pensando em uma posterior sequência, não faria mal algum.
Mas eu diria que, entre mortos e feridos, o filme ainda tem como resultado final o mérito de manter, na adaptação, toda a atmosfera do jogo – toda a composição visual é excelente. E, além disso, o roteirista e o diretor ousaram uma modificação considerável, tornando o filme ainda mais violento do que o jogo que, se eu bem me lembro – já que o joguei há muitos anos -, explora e causa horror sem usar muito a violência gráfica. E, definitivamente, a sequência final na igreja impressiona pela violência – é uma verdadeira orgia de sangue. Isto é uma característica que difere bem a estória e a composição do filme daquelas que compõem o jogo, mas eu acho que a mudança entrou bem no roteiro concebido para o filme – a Alessa do longa-metragem sofreu tanto no seu passado que merecia realizar aquela vingança diabólica, de fato.
Assim sendo, é evidente que alguns fãs vão reclamar depois de assistir ao “Silent Hill” de Christophe Gans, mas é preciso entender que simplesmente transformar o que é um jogo em um filme apresentaria um resultado final pouco convincente e profissional – na mudança de mídia é necessário conceberem-se algumas adaptações, sempre. E, mesmo com alguns defeitos que não passam despercebidos e algumas liberdades criativas, “Silent Hill”é uma boa adaptação de um game e, provavelmente, uma bela introdução para uma série cinematográfica. Ou alguém aí duvida de “Silent Hill 2”?

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“Gritos e Sussurros” de Ingmar Bergman.

Viskningar Och RopKarin e Maria cuidam de sua irmã Agnes em seus momentos finais de vida, com a ajuda integral de Anna, a empregada desta família abastada.
Muitos críticos afirmam que “O Sétimo Selo” seria a obra-prima máxima de Ingmar Bergman. No entanto, que validade tem tal afirmação diante de um cineasta cujas obras são quase sempre geniais? “O Sétimo Selo” é apenas uma das grandes obras de Bergman, e “Gritos e Sussurros” é uma das suas obras-primas mais contundentes.
De estrutura teatral, mas tecnicamente luxuoso, o longa-metragem é um dos retratos mais cruéis do estertor físico e mental humano, um painel sem concessões da mesquinharia e egoísmo, mas também um testemunho da resignação, fé, compaixão e placidez espiritual. Explorando um pensamento cristão com destreza, o filme mostra a vida como palco do sofrimento e dos defeitos humanos mais condenáveis e a morte como o encontro com aquilo que define nosso destino inevitável, quer este encontro ocorra com resignação ou não. Enquanto Maria, mimada e fútil, e Karin, fria e distante, não conseguem estabelecer contato entre si como membros de uma mesma família e vivem uma vida de conformismo social, avaliando-se sempre como infelizes e incompletas, Agnes, mesmo com todas as crises de sofrimento físico e psicológico, exige muito pouco do que lhe resta de vida, desejando apenas algum companheirismo e um pouco de afeto. Como já se pode prever, suas irmãs nunca seriam capazes de lhe oferecer isto, uma vez que encontram-se ali apenas por conta da mesma formalidade social que as colocou em seus casamentos de aparência, e apresentam-se mais preocupadas com o que julgam ser seus dramas pessoais do que em auxiliar a diminuir o sofrimento da irmã. À Agnes só resta Anna, a empregada que, tendo há alguns anos perdido a única filha por conta de uma enfermidade, lhe oferece o conforto e amor maternal necessários neste momento, com implacável compreensão e afeto. O luxo e a impecabilidade técnica não são pura frivolidade ou esteticismo vazio do diretor. Para expressar esse mundo de aparências e convenções sociais, era mesmo necessário retrata-lo de maneira convincente, em todos os seus detalhes: o guarda-roupa esplêndido e inacreditável, a arquitetura soberba e a mobília irretocável só confirmam esta realidade tão cheia de cerimônias e frivolidades. O uso intenso de um tom de vermelho vivo nas paredes dos cômodos também tem seu objetivo: esta é cor do sangue, portanto cor que remete à vida – e não há como falar de vida sem falar também em morte.
Dois momentos no filme mostram o quão espetacular um cineasta pode ser. Primeiro, a longa seqüência que apresenta um dos momentos de maior sofrimento de Agnes, em que permanece horas com uma respiração cortante e ríspida. A cena é de uma agonia quase insuportável, e quem sobrevive a esta cena, por si só, pode considerar-se vitorioso como espectador de cinema. A segunda é a cena em que as irmãs Karin e Maria ensaiam, enfim, um entendimento e aproximação: é espetacular a consciência de Bergman de manter privado o conteúdo da conversa entre estas duas mulheres, substituindo-o por uma peça musical soberba e mantendo apenas a imagem das duas irmãs trocando carinhos.
Porém, o momento mais tocante do filme é mesmo a sua cena final, quando Anna nos apresenta uma lembrança de Agnes, registrada em seu diário: em um dos seus poucos momentos de tranqüilidade física, passeando no jardins da mansão da família em companhia de Anna e suas duas irmãs, ela reflete, mesmo consciente de sua situação terminal, o quanto sente-se feliz só por estar vivendo aquele momento de união com suas irmãs, a quem amava tanto. Tendo testemunhado, momentos antes, a indiferença de Karin ao seu amor e o nojo de Maria com a situação da enferma, é impossível evitar lágrimas nos olhos diante do testemunho da elevação espiritual de Agnes, do alto de todo o sofrimento pelo qual passava e passaria. Não há mais o que dizer depois disso – e Bergman, soberbamente genial, entende que só lhe resta encerrar o filme ali mesmo.

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“Chocolate”, de Lasse Hallström.

ChocolatEm um pequeno vilarejo da Espanha, onde a vida é ditada pelo prefeito carola, uma mulher, mãe solteira e nômade assumida, chega na cidade para montar sua “chocolateria” e choca a sizuda população com seu estilo de vida despreocupado e inconsequente. Porém, a medida que a população se rende aos encantos dos chocolate e à simpatia de quem os produz, todos começam a questionar suas vidas e começam a modificá-las.
“Chocolate”, de Lasse Hallström tinha razões suficientes para ser um bom filme: Um elenco de bons atores, com estrelas européias e norte-americanas, um diretor reconhecidamente adorado pela crítica e um estúdio e distribuidora que usufurem de muito prestígio na atualidade, desde a indicação de “O Paciente Inglês” para o Oscar. O problema é que “Chocolate” não é um bom filme.
Começando pelos aspectos menos problemáticos, o elenco até está bem, mas nenhum dos papéis é bom o suficiente para merecer qualquer destaque: até uma atriz excelente, como Juliette Binoche, não chama a atenção do público com sua atuação, já que um personagem como o seu não exige muito esforço do ator. A fotografia do filme dá para o gasto, e a cenografia faz o seu papel. Mas o maior problema é mesmo a estória de “Chocolate”. O roteiro, como vocês podem conferir na sinopse acima, tem uma estorinha tão prevísível, tão batida e repleta de clichês que qualquer expectador de cinema mais experiente já sabe o que vai acontecer no filme inteiro. Não bastasse isso, esse mesmo espectador via ficar com um gosto nada doce na boca, já que é impossível evitar uma certa sensação de dèja vú com o argumento do filme de Hallström, por demais semelhante à um clássico do cinema de arte europeu, “A Festa de Babette” e mesmo com o recente “Como água para chocolate”. E, além de tudo isso, “Chocolate” ainda carece de franqueza: porque tentar fazer o filme passar por um filme de arte, quando todo mundo percebe que um longa metragem cheio de estrelas e astros do cinema, bancado por um estúdio americano que de uma hora para a outra viu-se endinheirado, jamais seria um filme de arte ou mesmo uma produção “independente”? A razão, na verdade, é bem óbvia: porque o engodo tem efeito. A maioria massiva do público termina de ver o filme jurando que, agora, também aprecia cinema de arte – tenha santa paciência. Contudo, àqueles que tem uma maior percepção artística não vão deixar de notar um outro grande problema: o filme inteiro deixa patente uma produção apressada e descuidada. A cenografia não convence direito, soando tão falsa como numa produção novelesca da TV, e o descuido chega em níveis tão absurdos que, se você prestar atenção na parte superior da tela, vai descobrir uma participação especial no filme, não creditada entre os nomes do elenco: o microfone suspenso. É de cair o queixo a maneira como o dito instrumento faz um verdadeiro baile na tela, totalmente à vontade e com uma naturalidade ainda maior do que muitos dos atores em seus papéis. Isso é o sinal cabal de que o longa-metragem foi feito sem qualquer apuro e com enorme falta de cuidado e atenção. A impressão que fica é de que o diretor Lasse Hallström fez o seu filme em meio à outras atividades que julgava mais importantes no momento, enquanto tomava café, via TV ou conversava no telefone celular, concluindo-o de maneira absorta, como o faz um colegial qualquer com um trabalho escolar. No final, a verdade é uma só: todos queriam apenas fazer um falso filme de arte que enganasse o bastante apenas para angariar um bom dinheiro e algumas premiações. E isso, definitivamente, não é fácil de engolir, como o seria um chocolate.

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“Antes do Pôr do sol”, de Richard Linklater.

Before SunsetEm 1995 o diretor Richard Linklater produziu um clássico cult chamado “Antes do Amanhecer”. O projeto, apesar de independente, extremamente simples e concentrar-se em apenas dois jovens atores – o americano Ethan Hawke e a francesa Julie Delpy – era super ambicioso: o argumento resumia-se tão somente a um casal de estrangeiros que se “esbarram” por um acaso em uma viagem de trem para Viena e decidem – já que dispõe de tempo livre até o próximo amanhecer, quando retornarão para seus respectivos países – passear pela capital austríaca e travar um desvendamento de suas personalidades – tudo na brevidade do tempo que eles dispõe. Nove anos depois, uma sequência é produzida, preservando praticamente a mesma estrutura do primeiro filme: os dois personagens se reencontram, ambos mais velhos, bem menos ingênuos e com uma experiência de vida já formada; Jesse é um escritor, tem um filho, casado por puro conformismo social e Celine é uma ativista ambiental algo neurótica e compositora nas horas vagas. Assim, enquanto eles passeiam pela cidade, travam discussões sobre uma vastidão de assuntos, filosofando sobre política, sexo, amor, a condição humana, a morte, o envelhecimento, relações afetivas, desilusão, frustação, a inevitabilidade de pequenas decisões na vida futura. É a repetição da mesma fórmula do primeiro filme. E, deste modo, a sequência repete o mesmo erro do filme original: o universo da discussão é tão vasto que tudo soa forçosamente intelectualizado e pretensioso. Como o filme inteiro não passa disso, o longa fica bastante chato e, apesar de toda a pretensão discursiva, desinteressante. Há apenas duas coisas que podem manter a atenção do expectador durante o longa, em meio ao falatório. Primeiro, o carisma dos atores e de seus personagens, já que estes são construídos e vividos com muita naturalidade. Segundo, o interminável discurso fica menos pesado e arrastado para aqueles que assistiram os dois longas da maneira que foi planejado, ou seja, tendo experimentado nove anos de intervalo entre o lançamento de um e do outro, o mesmo intervalo de tempo que os personagens enfrentaram até reencontrarem-se. Isso porque os personagens são reflexo do tempo que vivem e da faixa etária em que se encontram e, assim, o expectador que assistiu o primeiro filme em 1994 e a sequência no seu ano de lançamento vai se identificar com os sentimentos e com a visão de Jesse e Celine sobre o estado das coisas hoje. Tirando estes dois aspectos, “Antes do Pôr do sol” se torna um pouco irritante, assim como já era “Antes do Amanhecer”, há praticamente dez anos atrás. É uma experiência interessante a de acompanhar o amadurecimento e as mudanças na vida de dois personagens, bem como avaliar as mudanças pelo qual passa o mundo, através da conversa destes – porém, nunca passa de apenas um interesse sem muita relevância. Mais do que qualquer coisa, é um filme feito para os fãs da primeira parte. De resto, não arrebata.

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“Elefante”, de Gus Van Sant.

ElephantEm uma típica escola secundária americana, temos contato com alguns de seus funcionários e alunos, retratados nos instantes que precedem uma tragédia.
O cineasta americano Gus Van Sant é capaz de tolices como “Gênio Indomável” e coisas deploráveis pela simples idéia da existência, como a refilmagem de “Psicose”. No entanto, ele é um cineasta talentoso, o que lhe falta de quando em quando é bom senso em seus projetos. E, felizmente, um dos seus últimos trabalhos demonstra isso. “Elefante” é ficção apenas no que compete aos personagens e o local da tragédia, já que retrata um dos eventos que mais chocou a sociedade americana, o massacre da Columbine High School por dois de seus alunos. Tendo projetado este filme como um retorno seu ao chamado “cinema idependente” – retorno que na verdade iniciou-se com “Gerry” -, o diretor faz as escolhas técnicas exatas para sustentar este clima. Os atores são todos amadores, recrutados na região em que foi rodado o filme e exibem a naturalidade ideal para seus papéis. As sequências são, em sua maioria, filmadas em ininterruptos planos longos, muitas vezes com o personagem central da cena caminhando e sendo filmado de costas para a câmera. A trilha sonora é quase inexistente, excetuando-se alguns trechos sonorizados, em grande parte, por peças de Beethoven. Os diálogos retratam situações e temas cotidianos de uma escola e seus “habitantes”, sem qualquer ligação entre si, já que os personagens retratados não necessariamente se conhecem. A fotografia do filme é de uma assepsia esplendorosa, deixando na tela uma imagem limpa e cristalina. A cenografia, por sua vez, retrata um ambiente repleto de angulos retos e corredores intermináveis, o que reforça a idéia de um ambiente frio e sisudo. Todos estes elementos, junto com essa fotografia tão asséptica, montam o painel de um ambiente onde, teoricamente, impera a inocência e a inexperiência. Contudo, Van Sant consegue expor em breves momentos todo tipo de conflito que faz parte da faixa etária dos personagens retratados: a rejeição e a perseguição por outros alunos e mesmo por professores, o isolamento daqueles que são vistos como diferentes, o flerte e as festas inconsequentes, a bulimia adolescente, os problemas com membros da família, cujos integrantes adultos as vezes se mostram mais imaturos e problemáticos do que os mais jovens, a reciprocidade e carinho entre colegas, a descoberta e experimentação sexual. Isso tudo acaba criando um contraste com a placidez composta pela parte técnica do longa-metragem e retratando o que de fato compõe o ambiente escolar, cujo cotidiano é, para alguns, repleto de injustiça, sofrimento e incompreensão. Porém, Gus Van Sant é inteligente o bastante, ao menos neste seu retorno ao cinema independente, para ignorar com veemência a tola mania americana de buscar razões, “porquês” e motivos para tudo, coisa que só satisfaz ao puritanismo do povo americano, que busca sempre usar esta metodologia para construir uma comparação com si mesmos para que entendam-se como “saudáveis” e “normais”. Assim sendo, o diretor expõe possíveis mazelas, mas não as torna motivos determinantes: talvez as injustiças e a violência cotidiana que os personagens sofressem tenha servido de motivação torpe para cometer uma atrocidade, talvez seja consequência do seu ambiente familiar algo desajustado ou indiferente, talvez a pueril sociedade americana, construída em cima da idéia de que o mundo se divide em vencendores e perdedores, onde estes últimos sempre são considerados como tal por não se encaixarem nos moldes definidos, talvez seja ainda a obssessão americana por armas e pela cultura do medo, que propicia a capacidade de compra de armamento pela internet e de entregá-las, pelo correio, nas mãos do primeiro que abrir a porta, ou talvez nada disso justifique e os que perpetraram tamanha desgraça sejam apenas desajustados. Junto com esta característica, o outro grande trunfo do filme é conseguir sustentar um clima de contínuo suspense, usando como artimanha um roteiro muito bem construído que mostra praticamente todas as sequências como acontecimentos simultâneos com diferentes personagens, todos tendo como desenlace o massacre que encerrou a vida de muitos, e levando as cenas até o seu limite apenas para cortá-las no momento crucial. Isso resulta em um desnorteamento do expectador, que não faz idéia de quando a desgraça cairá sobre aquele lugar repleto de aparente tranquilidade e com algo incomodamente opressivo.
“Elefante” é um ótimo representante da técnica, raciocínio e inteligência, que são marcas do cinema que interessa, mostrando que muitas vezes os cineastas deixam seu talento ser eclipsado pela sede comercial, que produz espetáculos milionários e desmiolados. Gus Van Sant tomou a decisão de dar uma nova guinada em sua carreira na hora certa, conseguindo com este belo filme fazer com que críticos e fãs de cinema do mundo inteiro esquecessem o imenso erro que cometeu ao regravar o grande clássico de Alfred Hitchcock. E não é sempre que algum artista consegue superar um estigma tão negativo – ponto para a competência quase destituída do cineasta americano, que acordou de um longo sono e mostra-se, novamente, promissora.

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“Má Educação”, de Pedro Almodóvar.

La Mala EducaciónDois jovens que tiveram breve contato em escola católica, o cineasta Enrique e o aspirante a ator Ignácio, se reencontram na vida adulta e relembram os abusos sofridos por Ignácio por um dos padres. Ignácio, no reencontro, apresenta um roteiro de cinema escrito por ele e inspirado na infância que os dois compartilharam.
Pedro Almodóvar não está entre meus cineastas favoritos – mesmo. De suas obras, até hoje, apenas “Ata-me” e “Mulheres à beira de um ataque de nervos” tem, para mim, algum interesse. “Má educação” não me causou qualquer curiosidade logo que descobri tratar-se de mais um filme totalmente calcado na temática homossexual, além da transsexual, coisa que me lembra muito “A Lei do desejo”, filme do diretor que pago para não assistir novamente nunca mais. No entanto, depois de muita relutância, resolvi que solucionaria a questão de uma vez por todas.
E o meu sexto sentido cultural não me enganou: “Má educação”, apesar de não ser horroroso como “A lei do desejo”, é bem dispensável. Trata-se de mais um dos filmes do diretor espanhol que tentam mesclar o exotismo dos personagens com uma trama policial. A mistura até que funciona, em alguns poucos momentos, mas há um problema, nada tolerável, que interfere de maneira efetiva neste ponto. Para que você acompanhe com a devida atenção e se envolva com o suspense construído por um filme policial, é necessário que o longa-metragem consiga obter a empatia do público com relação aos seus personagens, e isso não ocorre em “Má educação”. A razão é muito simples: como simpatizar com um travesti porra-louca, ganancioso e trambiqueiro, que chega a pilhar a própria mãe, seu irmão não menos ganancioso e mercenário, tipinho capaz de qualquer coisa para atingir seus objetivos, e um ex-padre pedófilo, de personalidade lamentável? O único personagem que consegue obter alguma simpatia é mesmo o do cineasta Enrique, mas como ele, mesmo sabendo que estava sendo enganado, acaba se acomodando com a situação em troca dos favores sexuais de Angel/Juan, a empatia desenvolvida não chega ao nível necessário. Desta forma, o filme falha ao não criar no público o envolvimento necessário com os personagens para que acompanhem com interesse os acontecimentos da trama policial. E, se a faceta policial do filme é deficiente, em consequência de os personagens também o serem, já que não despertam empatia, o que resta em “Má educação” para que seja configurado como um bom filme? Nossa, nada. O que me leva a refletir, desde muito tempo, porque Almodóvar é visto como um cineasta genial: seria por expor personagens exóticos – travestis, homossexuais, mulheres hiperbólicas? Seria por expor um suposto retrato da latinidade? Seria pelas suas tramas, por vezes estapafúrdias? Não entendo, de fato. Nem mesmo os seus filmes mais celebrados ultimamente, como “Fale com ela”, conseguiram me tocar adequadamente – por sinal, estou devendo um texto sobre este longa. Ao cabo de tudo, “Má educação” sofre do mesmo mal de “Carne trêmula”: os dois simplesmente não arrebatam, não me tocam, não me interessam. Quando os acontecimentos da trama policial são revelados, o que deveria acabar como uma fulgurante catarse acaba simplesmente levando o expectador mais exigente a se perguntar, insensível ao destino infeliz de um personagem qualquer: “Tá, e daí?”. Definitivamente, a Europa tem diretores mais sensíveis do que este, se é sensibilidade o que os fãs de Almodóvar julgam ser sua genialidade.

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“Piratas do Caribe: O Baú da Morte”, de Gore Verbinski.

Pirates Of The Caribbean 2Will Turner e Elizabeth Swann, no dia de seu casamento, são condenados à morte por terem auxiliado na fuga do pirata Jack Sparrow. O comodoro Cutler Beckett, responsável pela acusação, faz um acordo com Will, propondo a retirada de todas as acusações, caso o jovem lhe traga a bússola do Capitão Jack. Will aceita o trato, levando consigo um contrato de trabalho para a marinha mercante como oferta de barganha pela bússola. Porém, Jack está mais preocupado em salvar-se de cumprir o terrível acordo que fez com o lendário Davy Jones, capitão do lendário e temido navio “Flying Dutchman”. E, a essa altura, claro que Elizabeth já, partindo ao encontro de Will.
A sequência de um dos maiores êxitos do cinema americano nos últimos anos consegue ser tão divertida quanta a sua primeira parte, mantendo todos os predicados que fizeram seu sucesso. No campo das atuações, Johnny Depp está novamente impagável como o pirata Jack, Keira Knightley diverte como Elizabeth e Orlando Bloom não incomoda como Will – certamente sua atuação mais simpática até hoje. No que se refere aos aspectos técnicos, o filme prossegue impecável, com cenografia irretocável, efeitos especiais elaborados, maquiagem impressionante e fotografia que sustenta o clima de sobrenatural e fantasia até debaixo de sol escaldante. Quanto ao argumento, os roteiristas reservaram no novo longa uma enormidade de sequências de ação bem boladas que, certamente, irão satisfazer a platéia mais afeita ao cinema comercial. Contudo, é justamente no roteiro que residem os problemas deste longa-metragem. Primeiro, há de se admitir que esta sequência baseia-se em acontecimentos que assemelham-se muito aos do longa anterior, já que todos os eventos se desencadeiam pela maldição que aflige – mais uma vez – o pirata Jack e pela sua tentativa de barganahr para livrar-se desta ameaça. Segundo, o encadeamento das situações está por demais intrincado e, não raro, o expectador se pega tentando entender algum evento passado, ao mesmo tempo que tenta não perder-se naquilo que se desenrola na tela no momento. E mesmo com este esforço do público, um terceiro problema insiste em manter a confusão, já que há coisas que o filme não se dá ao trabalho de explicar mesmo – ao menos nesta segunda parte -, e perguntas como estas acabam persistindo: “Como ele foi parar nessa caixão?”; “Afinal de contas, esses dois mortos-vivos deveriam estar os ajudando?”; “Ops! Ele morreu, o que vão inventar agora?”; “Oooops! Esse aí não estava morto e acabado???”. É certo que o epílogo da trama pode se encarregar de responder algumas dessas questões, contudo, isso acaba problematizando o argumento, que acaba tendo que se virar em criar infindáveis rodeios para satisfazer as dúvidas – o que, a meu ver, acaba empobrecendo a trama e não convencendo o expectador mais exigente.
Assim sendo, o filme cumpre muito bem com o objetivo de entreter, enchendo os olhos com sequências empolgantes, mas peca por uma certa preguiça, bagunçamento e ansiedade argumentativa. Acaba funcionando mas, espera-se, mesmo que sem muita esperança, que a inevitável sequência da trama corrija ao menos alguns desses aspectos negativos do filme.

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“Superman – O Retorno”, de Bryan Singer.

Superman ReturnsDepois de uma ausência de cinco anos à procura de reminescências de seu planeta natal, Superman/Clark Kent retorna à Terra, encontrando um planeta que rapidamente se adaptou à esta situação. Para sua maior surpresa, Lois Lane, seu grande amor, casou-se e teve um filho durante este tempo, sendo ainda premiada por um artigo que questiona a importância de Superman na Terra. Não bastasse estar sofrendo com isto, Superman vai logo descobrir que seu arquinimigo, Lex Luthor, está livre da prisão – por sua culpa – e tramando, em segredo, um plano para destruir o continente americano e construir um novo, tudo com a ajuda dos cristais kryptonianos.
Bryan Singer capitulou a produção do terceiro episódio da cinesérie “X-Men”, em detrimento da criação do ambicioso e quase desacreditado projeto do retorno do Homem de Aço, que passou anos na “geladeira”. Ao ser divulgada a entrada do diretor na produção, os fãs dos herói dos quadrinhos e do cinema tiveram a certeza de que, desta vez, o “novo” filme se tornaria realidade, mas tiveram uma pequena ponta de desconfiança pelo que sairia dali, visto que a produção se arrastava há anos e vários roteiros foram escritos, somente para serem descartados pelo texto de outro roteirista. Essa espera, por sinal, deve ter sido a maior contribuição para composição deste roteiro um pouco confuso, que não se decide entre ser uma readaptação do primeiro filme ou uma recriação da estória do super-herói. Essa característica é o mote maior dos críticos mais ferrenhos, que declaram que esta estória não passa de um “maquiamento” do roteiro da primeira aventura do herói no cinema. De fato, a crítica faz algum sentido, já que a obsessão de Luthor continua sendo a construção de um novo continente, e os meios para tanto acabam sendo semelhantes aos adotados pelos personagem no filme de 1978. Isso acaba sendo, de alguma forma, repetitivo, claro. Porém, apesar deste fato acabar prejudicando um pouco a originalidade da estória, deve-se também reconhecer que este roteiro tem como suas maiores qualidades justamente a simplicidade, descartando um argumento voltado para a ação ininterrupta e com intermináveis cenas de batalha, sem deixar de apresentar sequências repletas de tensão e com excelentes efeitos especiais, e dando ênfase ao lado mais emocional do roteiro, conseguindo cativar e emocionar o expectador justamente ao apresentar os conflitos pessoais do herói – é este, sem dúvidas, o mote maior do filme. Talvez por isso mesmo o personagem que mais cative neste novo longa – novo ou como queira classifica-lo – seja o próprio Superman, além do garoto que faz o filho de Lois, que tem pequena mais importante participação. E já que falamos nos personagens, é bom informar que os atores tem boas atuações, sem nenhum grande arroubo, justamente porque este não é um filme onde as atuações tenham a obrigação de serem excepcionais ou arrebatadoras, mas apenas de serem feitas de maneira calculada à se encaixarem no perfil dos personagens: Brandon Routh encarna tão bem o super-herói quanto o seu interprete mais famoso, Christopher Reeve; Kate Bosworth faz a sua Lois Lane da maneira certa, bem como James Marsden fazendo um marido obrigatoriamente apagado e sem sal e o filho do casal, cujo ator consigue obter a simpatia do público e não apresenta o artificialismo corriqueiro dos atores mirins. O maior defeito do longa-metragem, na minha opinião é o Lex Luthor de Kevin Spacey: é certo que a presença do vilão na tela é bem menor do que a do protagonista – mesmo porque, como eu já disse, isso é consequência da ênfase nos conflitos pessoais do Superman/Clark Kent -, mas também é verdade que este Luthor não chega próximo da graça, ironia e charme do intepretado por Gene Hackman em 1978, acabando como um vilão meio apático. Contudo, não posso deixar de frisar um aspecto importante relacionado à este problema: é fácil competir com Christopher Reeve, mas não é uma tarefa das mais traquilas fazê-lo contra Gene Hackman – justiça seja feita.
Sendo assim, “Superman – o Retorno” traz algumas surpresas e novidades para o desenvolvimento futuro da estória do herói nos cinemas, mas chega bastante calcado na segurança e na cautela de não alterar radicalmente a mitologia do personagem, o que me leva à discordar da maior parte das críticas, resenhas e comentários formulados até agora, que afirmam que parte do público pode não gostar das consequências da estória no rumo do personagem ou da falta de ação no filme. Isso é bobagem, não há nada ali que vá descontentar efetivamente mesmo os fãs mais ferrenhos: não há nenhuma audácia que vá ofender os mais puristas e, para os desinformados, Superman sempre foi um herói mais emotivo e humano – apesar de, a rigor, não sê-lo -, sendo seus filmes muito mais voltados para este aspecto do que para a pancadaria pura e simples. O diretor Bryan Singer cumpriu o seu papel, trazendo um belo longa-metragem que, certamente, vai emocionar o público com o sofrimento de um dos heróis mais famosos do mundo. Não cometa o deslize de perder a oportunidade de ver este longa nos cinemas e vá aguardando desde já a sequência desta retomada do Homem de Aço, prometida para 2009.

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