Se as críticas a frugalidade de The Beekeeper, de Tori Amos, me soam bastante exageradas, eu não me atreveria a tentar amaciar qualquer uma que surgisse sobre Medúlla e Drawing Restraint 9, já que neles Björk passou um tanto além da conta, tornando-os, na maior parte do tempo, de dificílima digestão. Quando decidiu preparar um novo disco, a islandesa, sentindo-se um tanto cansada de tornar sua música cada vez mais idiossincrática, resolveu investir em algo que não pusesse a experimentação acima da beleza melódica e lírica. Assim nasceu Volta, que como o American Doll Posse de Tori Amos, também funciona, coincidentemente, como um verdadeiro cruzamento de todas as experiências que Björk agregou ao longo de sua carreira. Apesar de “Pneumonia”, que clama a superação das tristezas na vida, ser uma das faixas do disco que sofre influência quase somente dos dois mais recentes disco de Björk – já que ela adota o mesmo exotismo sonoro dos últimos trabalhos, sendo composta apenas de vocal e orquestração de metais lentos e consternados – em outras a introspeção é suplantada por uma sonoridade que conhecemos mais do início da carreira solo da artista. Não é difícil sentir isso em “Vertabrae by Vertabrae”, que recorre as experiências de Selmasongs e Drawing Restraint 9 mas desfaz-se das agudezas resultantes da contaminação pelo trabalho de Matthew Barney e retorna à vivacidade dos primeiros anos: apesar da orquestração de metais, da percussão e dos versos abstratos citarem muito das duas trilhas sonoras feitas por Björk, a base eletrônica levemente suja e os vocais remetem ao calor de discos como Homogenic e Post. Já que falei de Homogenic, “Declare Independence”, um brado eletrizante contra a dominação, não deixa de ser uma Pluto-punk: ela conta com costura melódica feita por samplers de guitarras dissonantes – o que lhe confere uma tecitura punk-rock ruidosa -, além de percussão e bateria eletrônica sincopadíssima e uma introdução composta de sirenes de navio. Por sinal, depois que se escuta todo o disco, percebe-se que o ruído de navios é um recurso recorrente em Volta, já que a faixa inicial, “Earth Intruders”, há quase um minuto e meio de ruídos ambientais indistintos de um porto – marulho e, novamente, sirenes de navio sendo os mais perceptíveis – na sequência final. A música, que fala sobre uma invasão e ataque de seres alienígenas, tem a energia fulgurante de Debut e Post, com sua mistura de eletrônico e percussivo lembrando “Army of Me”, mas difere-se desta justamente porque grande parte de seus samplers e loops tem muito de acústico. A agitação prossegue de forma semelhante em “Wanderlust” (sobre a compulsão de abandonar-se em viagens oceânicas), que possui forte base de samplers e loops e nova experimentação com ruídos que fecham a música com uma transposição das sensações presentes nas letras para os sons – a diferença é que aqui Björk investe também em uma histérica orquestração de metais para a melodia. “Innocence”, que fala do quanto podemos controlar e conviver com a inocência e o medo, tem base construída sobre uma eletrônica prolixa, com um pulso constante de samplers e loops de piano e ruídos indistintos, incuindo aí um sampler vocal – a única sombra de Medúlla nesta faixa.
Depois de alguns anos aumentando gradualmente o nível de experimentação de sua música, não seria muito difícil prever que, em dado momento, a cantora e compositora voltasse sua atenção para algo menos diletante, na tentativa de relaxar novamente seu processo criativo. Faz todo sentido que isso tenha acontecido agora, uma vez que, durante essa longa fase experimental, possivelmente, Björk esgotou o uso de toda e qualquer excentricidade existente – pelo menos por algum tempo. Isso torna este projeto o mais comercialmente ambicioso da artista – o que, por sinal, foi assumido pela própria gravadora em sua campanha de promoção do disco.
Baixe o disco utilizando o link a seguir e a senha para descompactar os arquivos.
versão de 128kbps:
senha: seteventos.org
http://www.gigasize.com/get.php/1231166/zutzut.zip
versão de 320kbps:
senha: seteventos.org
http://www.gigasize.com/get.php/1257387/vrumvrum.zip
faixa extra (128kbps) – “Earth Intruders (Mark Stent Extended Mix)”:
http://www.gigasize.com/get.php/1257635/12_Earth_Intruders_Mark_Stent_Exten.mp3
faixa extra (128kbps) – “Innocence (Mark Stent Mix)”:
http://www.gigasize.com/get.php/1257634/13_Innocence_Mark_Stent_Mix.mp3
2 ComentáriosOBS: o arquivo de 128 kbps inclui três versões alternativas de faixas já presentes no disco: “I See Who You Are (Mark Bell Mix)”, “Earth Intruders (Mark Stent Extended Mix)” e “Innocence (Mark Stent Mix)”. O arquivo de 320kbps não possui as duas últimas, dentre estas 3 faixas, com esse bitrate alto, por isso elas estão disponíveis para download separadamente.