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Tag: estados unidos

“Aniquilação”, de Jeff Vandermeer [livro, download: ebook]

aniquilacao-livro-2014

Um grupo de quatro especialistas, de diferentes segmentos, são treinadas por uma agência governamental afim de explorar a “Área X”, uma região abandonada há muitos anos após um evento indeterminado deixá-la tão exuberante quanto ameaçadora.
Minha experiência na leitura deste livro foi tão surpreendente que senti aquela necessidade, em mim antigamente tão presente – hoje tão rara – de escrever sobre ele. Me interessei pelo livro ao ter contato com resenhas e comentários breves sobre a obra em alguns sites que eu costumava visitar há algum tempo – e que, curiosamente (mas com razão), nem visito mais. Todos que falavam sobre o livro o faziam sempre tecendo elogios à sua singularidade e bizarria. Não havia como, mais cedo ou mais tarde (e no caso foi mais tarde), eu não me aventurasse em descobrir o que de tão espetacular havia em suas páginas. De fato, encontrei idéias admiráveis ao percorrer as primeiras páginas de “Aniquilação”, no entanto, infelizmente, a medida que avançava, fui me deparando cada vez mais com algo que não deveria nem de perto ter encontrado: frustração.
Devo reconhecer que Jeff Vandermeer consegue, inicialmente, sustentar no leitor um interesse na história de seu livro devido ao engendramento de uma premissa fascinante e de uma atmosfera intrigante que, trabalhando juntas com os primeiros elementos do enredo, incutem uma curiosidade necessária para que a leitura prossiga em bom ritmo. Porém, esse efeito vai se esvaindo, aos poucos, a partir da segunda metade do livro, até que, no fim, quase nada resta a não ser uma considerável decepção. A razão para isso é apenas uma: os personagens, mal desenvolvidos, não exibem qualquer traço de carisma, elemento essencial para que o leitor sinta-se realmente conectado com o livro. É verdade que isso deve-se à própria natureza do enredo (e não há como ilustrar isso sem revelar parte da trama), mas um escritor experiente e criativo encontraria uma forma de construir a empatia entre personagens e leitor sem prejudicar a dinâmica do enredo que criou. Jeff, ao que parece, ainda não chegou nesse ponto de sua carreira, pois mesmo a protagonista do livro é despida de qualquer espécie de carisma, apesar da tentativa infrutífera de Vandermeer, lá pelas últimas cinquenta páginas de sua obra, de vestí-la em alguma sombra de encanto – e a situação só piora quando o leitor começa a notar que nem mesmo as criaturas que permeiam o mundo criado por Vandermeer, que deveriam ser formidáveis e aterradoras, não vão muito além de uma descrição confusa e pueril.
Com certeza os fãs de Jeff Vandermeer consideram que o mundo onírico criado pelo escritor americano é razão suficiente para colocá-lo entre os mais importantes do gênero na atualidade, e devo reconhecer que suas idéias, a princípio, seduzem. Porém, a meu ver, premissa e atmosfera alguma, não importa quão espetaculares sejam, serão suficientes se o leitor terminar o livro sem se importar com o destino dos personagens – tanto pior se o livro for parte de uma série, como é o caso deste, o primeiro de uma trilogia. Sim, a beleza, idiossincrasia e os mistérios da “Área X” intrigam, mas é necessário mais do que isto para que o leitor (ou um leitor como eu, ao menos) invista seu tempo em vários livros para descortinar seus segredos, isso sem falar que ele corre um risco nada desprezível de não obter a solução de boa parte daquilo que o intriga – e pelos comentários que li sobre os dois livros subsequentes, são grandes as chances de este leitor terminar a trilogia com o gosto amargo da insatisfação. É uma pena que Jeff, tão embebido em sua própria engenhosidade, tenha esquecido que sem personagens cativantes, não há paraíso que fique de pé.

Baixe (em português): https://www.mediafire.com/file/83ve3trvdwhpopp/ani-jeff.zip

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Menomena – “Heavy is As Heavy Does” (single)

Duas notícias para os que, como eu, são fãs dos rapazes de Portland da banda Menomena, uma ruim e outra boa. A ruim, que nem é notícia por ser já um tanto velha, é que um de seus três componentes, Brett Knopf, deixou a banda para dedicar-se ao seu projeto particular, Ramona Falls, depois de não conseguir mais se entender com os companheiros Justin Harris e Daniel Seim. Apesar de inicialmente nutrirem dúvidas se deveriam ou não seguir juntos, ambos chegaram a conclusão de que valeria a pena tentar. E aí é que temos a notícia boa: Moms, o novo álbum da agora dupla de Portland, será lançado dia 18 de Setembro. A partida de Knopf abriu a possibilidade para a dupla remanescente enveredar por um trabalho mais pessoal, sem receios de destrinchar intimidades particulares, daí o nome do álbum, que é focado em experiências e histórias relativas à vivência de ambos e de suas respectivas famílias. “Heavy is as Heavy Does”, uma das faixas do novo disco, foi liberada hoje e já dá aos fãs um pequeno aperitivo de qual será a musicalidade da banda, agora que Seim e Harris podem trabalhar de modo mais focado. A bem da verdade, ela não difere muito da musicalidade mais harmoniosa e menos esquizofrênica de parte das faixas de Mines, o disco anterior: um piano em registro baixo revira ciclicamente os mesmos acordes enquanto versos como “Heavy are the branches hanging from my fucked up family tree, and heavy was my father, a stoic man of pride and privacy” descortinam a intimidade de Justin Harris sobre uma percussão mais organizada e solícita – mas apesar do saxofone hipnótico do Menonema que todos amamos não desempenhar mais do que um papel pontual nesta nova música, um solo rascante de guitarra e uma bateria ensandecida não se fazem de rogados e transbordam no outtro melódico da faixa – bom saber que os rapazes ainda tem gosto por estripulias.

Menomena - "Heavy Is As Heavy Does" (Audio)

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“Gente como a Gente”, de Robert Redford. [download: filme]

Ordinary People, de Robert Redford

Depois de retornar de hospital psiquiátrico, onde foi internado após tentativa de suicídio ao sentir-se culpado pela morte do irmão em um acidente, Conrad tenta retomar sua vida ao lado do carinhoso pai e da mãe com quem não consegue estabelecer uma ligação mais profunda.
“Gente como a Gente”, baseado no livro Ordinary People de Judith Guest, felicíssima estréia na direção do ator Robert Redford, é um drama americano à moda antiga: não há ousadias estéticas ou formais, apenas uma história muito bem contada com personagens cativantes e os atores ideais os interpretando, e é justamente o trio de protagonistas, composto por Donald Sutherland, Mary Tyler Moore e o então estreante Timothy Hutton como o angustiado Conrad que sobressaem logo aos olhos do público por conta da grande cumplicidade destes com seus papéis – a começar por Mary Tyler Moore, na caracterização impecável da mãe distante, fria, egocêntrica e egoísta. A personagem não é apresentada imediatamente com todas estas características, mas inicialmente como uma mulher que tenta vencer sua falta de afinidade com o filho caçula, algo que logo descobrimos ser a manifestação mais visível de sua total indisposição e inabilidade com as responsibilidades da maternidade e do matrimônio – um papel que não é apenas difícil porque distanciava-se e muito daquilo com o qual o público estava habituado a vê-la, até então conhecida por uma série familiar cômica da TV, mas porquê é o retrato de uma mulher não necessariamente má, mas que visivelmente não consegue vencer suas limitações para encarar o papel de mãe e esposa quando a vida deixa de ser o plano perfeito que se imaginava antes. Claro que para obter o tom ideal desta complexa personagem, sua composição deveria ter afinidade com o personagem do filho, e nisto Mary não teria do que reclamar: Timothy Hutton, ganhador do Oscar por esta performance, é o complemento perfeito. A composição do jovem Conrad, no começo arredio com sua mãe e por vezes com a tendência de magoá-la provocando-a ao alfinetar sua inabilidade, mas que logo tenta, com sinceridade, estabelecer um elo afetivo concreto com ela, é feita pelo ator como a de um jovem conturbado e angustiado, mas que ao mesmo tempo tenta incansavelmente buscar de volta a paz, alegria e prazer que tinha na vida – uma interpretação complexa, repleta de nuances sutis e mudanças graduais que poderiam acabar mal para um estreante, mas que teve a felicidade ser realizada pelo ator certo no seu momento ideal. Já Donald Sutherland , que era então já um ator bastante experiente que trabalhou com diretores consagrados como Altman, Pakula, Kaufman e mesmo Fellini, surge aqui em um papel bastante comum à sua trajetória cinematográfica até hoje: a do personagem que ocupa um lugar discreto na maior parte da história do filme, algo que, por sinal, impede até hoje o ator de tornar-se um rosto mais conhecido pelo público. Se ficasse a cargo de um ator menos competente, provavelmente teríamos ou um pai muito apagado ou então um homem resistindo visivelmente para não tomar para si a atenção, mas na pele de Sutherland temos a medida exata do personagem: um homem que nutre imenso carinho e preocupação pelo seu filho, mas que luta com sinceridade consigo mesmo para permitir que o garoto supere suas dores e traumas por si próprio – uma interpretação extremamente complexa porque nasce nos pequenos detalhes e preenche apenas os espaços permitidos, um feito nada menos que brilhante.
Quanto ao trabalho de Redford na direção, claro que não se deve desconsiderar a condução dada por ele à seu filme. Além da delicadeza e sensibilidade no tratamento da trama imensamente emocionante, Redford teve a sensatez e sabedoria de não usurpar o material excelente que tinha em mãos, preservando fielmente no roteiro escrito por Alvin Sargent a estrutura original da história, que centra-se nas conturbações após os eventos que desintegraram a estabilidade da família de Conrad – a morte do filho mais velho e a tentativa de suicídio dele próprio – fazendo assim um verdadeiro estudo da erosão familiar após acontecimentos que abalaram suas estruturas em uma abordagem não muito comum no cinema, mas que, ironicamente, é que normalmente acaba tendo os melhores resultados. Porém, esta que é inquestionavelmente uma das maiores obras-primas sobre dramas familiares concebidas até hoje no cinema americano é mais fruto de uma conjunção incomum de oportunidades e talentos do que da aptidão de Robert Redford como cineasta, já que depois deste longa-metragem a pequena filmografia do criador do Sundance Festival está tomada de filmes medianos e insossos que nem se comparam à estréia. É aquela velha história da obra que se torna muito maior do que o artista – e, provavelmente, até mesmo Redford concordaria com isso.

OBS: legenda em português embutida.

megaupload.com/?d=DYPXLPKA

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“Cisne Negro”, de Darren Aronofsky. [download: filme]

Black Swan, de Darren Aronofsky

Nina, bailarina de famosa companhia de New York luta para encontrar a interpretação perfeita de dois dos mais famosos personagens do mundo do ballet enquanto, ao mesmo tempo, é aterrorizada por situações estranhas. Darren Aronofsky é um cineasta que costuma ter idéias promissoras e muito bem realizadas, porém, em algum ponto de sua execução o diretor americano acaba sempre cometendo equívocos que atrapalham o conjunto final do longa-metragem e frustrando, portanto, as expectativas do público. Foi assim com praticamente todos os seus filmes anteriores, sem dúvidas sendo o pior caso o de “A Fonte da Vida” – praticamente uma hecatombe. Todo o entusiasmo gerado por “Cisne Negro” me fez pensar que finalmente ele tinha encontrado a medida. Infelizmente, a tradição se manteve mais uma vez.
“Cisne Negro” é, como já poderia se prever, mais um filme de impecável realização na filmografia do diretor. Mas isso não é de causar surpresa alguma, já que Aronofsky é conhecidamente um daqueles cineastas que conseguem achar o tom certo para tramas de naturezas diversas que decidem abordar, o que se configura na principal contribuição para que seus filmes sustentem um clima sólido durante toda a sua duração e para lhe conferir a ótima reputação que detém estréia após estréia – reputação um tanto quanto exagerada, já que beira o hype que cerca David Fincher, por exemplo, mas na maior parte é justificável a celeuma em torno de Darren já que isso se deve à sua competência ao lidar com as diferentes camadas de uma produção cinematográfica, técnicas e artísticas, e conceber um todo mais coeso e coerente. Com o apoio da interpretação em grande parte física e gestual de Natalie Portman, a sedutora composição de Mila Kunis, a presença sempre magnética do francês Vincent Cassel, além da fotografia e cenografia frias e depressivas e da trilha sonora climática, o diretor consegue encenar com considerável precisão o avançar de um surto psicótico e paranóico em uma mulher de personalidade reprimida e fragilizada sem que ninguém, à exceção de seu ente mais próximo, se dê conta disso – algo, diga-se, bem comum de se ocorrer. Sob esse ponto de vista, o diretor obteve sucesso e atingiu plenamente seu objetivo.
Há, porém, dois pontos que mudam consideravelmente esta avaliação, ambos da ordem da promoção e também concepção do longa-metragem que acabam, em consequência, problematizando a trama por trair prováveis expecativas do espectador. O primeiro está relacionado ao gênero ao qual o filme foi enquadrado inicialmente, o terror. Aronofsky se utiliza de alguns artifícios do cinema de horror, mas eles não apenas não são suficientes para caracterizá-lo como pertencente ao gênero como são, a meu ver, um tanto desnecessários e desconcertados. Segundo, e em parte relacionado ao primeiro, o diretor de “Cisne Negro” parece ter considerado por algum tempo durante a produção do longa-metragem sustentar nele um caráter de mistério – e “Cisne Negro” até chegou a ser promovido com tais pretensões -, o que daria sustentação à utilização das poucas e frágeis sequências de horror, mas em cerca de 20 minutos de sessão do filme já não há, intencionalmente, qualquer segredo sobre a natureza dos estranhos eventos da trama e o público já se dá conta de que qualquer perturbação experimentada pela protagonista é fruto de seu crescente estado de desequilíbrio, o que torna o filme não mais do que o retrato do gradual avançar de um surto de ordem psicótica e a platéia, portanto, a sua testemunha silenciosa. Isso de modo algum faz deste um filme ruim, mas a meu ver o longa deixaria de ser apenas um bom filme e poderia se revelar uma experiência muito mais impactante se de fato a dúvida fosse seu elemento chave e toda a subversão comportamental perpretada por Nina não ficasse quase completamente no plano do delírio. Claro que por ser fruto de expectativa, isso não é inteiramente culpa de Aronofsky. Contudo, se desta forma considerado, o filme, que ainda assim não deixa de ser um êxito, o é sobre o alicerce de falsas ousadias escondidas sob um manto de ortodoxia dissimulada – bastava somente suprimir e inserir alguns elementos aqui e ali e o ballet mórbido de “Cisne Negro” seria convertido de um grasnido breve e tímido para um canto que ecoaria bem mais triunfante, trágico e perene.

OBS: legenda embutida em português

http://fileserve.com/file/GZ4v8cV/CisneNegroLeg.rmvb

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“A Passagem”, de Marc Forster. [download: filme]

Stay, de Marc Forster

Sam Foster, psiquiatra, assume o caso de um homem amargurado e transtornado depois que a encarregada do tratamento se afasta por questões pessoais. Inicialmente contrariado, Henry Letham, o paciente, logo mostra seu apego por Sam, que não muito depois começa a se sentir envolvido em eventos incomuns relacionados à Henry.
Filme imediatamente anterior à “Mais Estranho que a Ficção”, no longa-metragem “A Passagem”, o diretor Marc Forster traz novamente personagens que atravessam juntos uma trama pontuada por elementos que destoam do plano real – porém, diferentemente do filme seguinte, onde desde o início se tem a certeza sobre o que está ocorrendo, é a dúvida que envolve o espectador neste longa-metragem com roteiro escrito por David Benioff. O texto mergulha o psiquiatra de Ewan MacGregor pouco a pouco nos aparentes devaneios do paciente com tendências suicidas de Ryan Gosling, homem torturado pela culpa relativa à um acidente que pode ou não ser real tanto quanto os distúrbios que o psiquiatra começa a vivenciar, todos relacionados ao paciente e aqueles que são de suas relações. Dando apoio à estes componentes que contrariam a percepção da realidade, além do trabalho excepcional dos protagonistas Ewan McGregor e Ryan Gosling, que projetam a alma torturada e a certeza fragilizada de seus personagens, respectivamente, e da presença magnética de Naomi Watts, a fotografia com contraste forte e ostensivo uso de halos luminosos e a edição que funde a cenografia de uma cena à seguinte e amplia a desorientação narrativa materializam fenomenalmente a sensação de incerteza do médico, levando esta sensação também ao público, que se vê o tempo todo intrigado por micro-flashes repetitivos de um evento que pode ser ilusão ou lembrança, “déjà vus” misteriosos de acontecimentos aparentemente sem importância e episódios bizarros. A narrativa, assim, ao mesmo tempo que é linear, avança entrecortada por uma série de sequências, eventos e falas que negam a veracidade do que está sendo visto, interrompendo a compreensão da narrativa com um pulso contínuo de dúvida cujos elementos não necessariamente se interligam, o que torna difícil, durante a desenrolar da trama, materializar uma teoria suficientemente sólida que negue ou confirme a realidade do que se vê. É só na surpreendente e emocionante conclusão da história, após alguns instantes que o espectador leva pondo em ordem o que está ocorrendo, que é elucidada a dinâmica da trama e sua razão de ser, revelando que a narrativa obtusa e todo o exercício de estilo exposto na edição e fotografia que se vê durante todo o filme não é maneirismo gratuito, e sim um trabalho muito bem pensado que tenta “fotografar” um mecanismo complexo de um evento cujo retrato é certamente impossível de se obter, mas que nas mãos de Forster e seus colaboradores tornou-se o mosaico impressionante de um momento único e definitivo na vida de um ser humano. É mais um pequeno brilhante longa na filmografia de um diretor um pouco irregular, como muitos em Hollywood. Porém, como costuma acontecer, são cineastas com filmes bem menos intrigantes e relevantes que recebem todo o hype de público e crítica – se é que estes foram um dia relevantes.

legendas (português):
legendas.tv/info.php?d=28b66f1c7fde469199a2a6cbd0e04b76&c=1

http://hotfile.com/dl/69966664/975dca7/Staoy.2005.DvDrip.AC3-aXXo.part1.rar.html http://hotfile.com/dl/69966862/b576bf7/Staoy.2005.DvDrip.AC3-aXXo.part2.rar.html

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Spoon – Transference. [download: mp3]

Spoon - Transference

Como aqueles Fiatzinhos à álcool do início dos anos 90 numa fria manhã de inverno, certos discos não dão partida logo de primeira – ao menos é essa minha impressão com Transference, o mais recente álbum dos americanos do Spoon. A faixa de abertura do disco, “Before Destruction”, com bateria e acordes de guitarra embaçados e uma melodia morna construída sobre um pulso maçante, não exatamente oferece de entrada o que de melhor a banda pode fazer. Em “Is Love Forever” a banda já tem uma melhora de desempenho com a injeção maior de ânimo da melodia pela batida mais forte e as guitarras de notas mais marcadas e vibrantes, mas ainda não é suficiente para remover a indiferença que resiste em quem se dispõe a ouvir o disco. Contudo, é bem quando você já considera descartar o álbum que os rapazes americanos salvam a própria pele: a terceira faixa “The Mystery Zone”, chega como a tábua de salvação ao mostrar o talento da banda em inundar os ouvidos com uma melodia onde o baixo exala charme com sua vibração sutil, a guitarra e a bateria hipnotizam com a parceria em uma marcha firme e contínua e o orgão faz o arremate final ao preenche-la com o calor agradável de suas notas. “Who Makes Your Money”, tira o pé do acelerador e baixa a rotação do motor uns bons ciclos com uma música onde o baixo novamente faz a liga da melodia que traz acordes de guitarra equilibrados, teclado sutil e uma bateria contida mas segura, mas o refrão um tanto monótono traz de volta a sensação de que a banda não vai conseguir convencer. Mas como aconteceu antes, “Written in Reverse” captura novamente a atenção do público com seu swing inequivocamente sexy: o vocal deliciosamente solto e latente de libido, as guitarras arfantes, os acordes suplicantes ao piano e a bateria potente seduzem completamente os sentidos e despertam uma vontade violenta de eleger um belo alvo para arrancar a roupa em um strip-tease fulminante e algo mais. Logo em seguida, a banda não falha em sustentar o ânimo do ouvinte em “I Saw The Light”, faixa armada em dois tempos que parte de uma vertente de acordes de guitarra em uma base de bateria em cadência firme e breve e reverte-se abruptamente em um compasso bem marcado e contínuo junto com o piano, organizando um crescendo no qual a guitarra é reincorporada à melodia em clima de jam session. Em “Out Go The Lights” o grupo muda a tonalidade para uma melodia mais melancólica com um que vocal vagueia entre o tom suplicante e o ressentido, assim como os acordes da guitarra, que surgem em um lamento metálico que se sobrepõe à bateria em cadência discreta. Mas, ao que parece, a tristeza de “Out Go The Lights” foi apenas um intervalo para o compasso infalível da bateria de “Got Nuffin”, penúltima música do álbum, atravessada por volteios de guitarra e um piano de notas reprimidas e breves ao fundo. Fechando Transference com “Nobody Gets Me But You”, na qual a banda mergulha em um melodia minimalista, explorando com esmero variações discretas e detalhes harmônicos tanto na base construída pela bateria, baixo e guitarra quanto no toques prodigiosos ao piano que temperam o pulso da faixa, fica a certeza de que a banda poderia ter investido na faceta sutilmente experimental desta e de outras faixas e talvez conceber assim um disco mais homogêneo, já que como está, Transference sofre de uma certa incosistência ao intercalar sequências aborrecidoras com momentos enormemente inspirados e felizes – estes últimos valem cada byte do download, mas baseado apenas neste álbum, ainda assim não há como apagar a impressão de que o Spoon é mesmo daquelas bandas cuja irregularidade frustra imensamente seu desejo de ser acolhido como fã – na próxima, quem sabe.

senha: seteventos

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“A Origem” (“Inception”), de Christopher Nolan. [download: filme]

Inception, de Christopher Nolan.Grupo que rouba segredos industriais de grandes executivos invadindo seus sonhos tenta fazer com que o filho de um grande empresário do ramo da energia divida o conglomerado de empresas invadindos os sonhos deste para inserir a idéia.
Antes e mesmo depois de assistir “A Origem”, as poucas críticas ao filme das quais tive notícia afirmavam que Christopher Nolan, também roteirista do longa-metragem, se apropriou ou mesmo plagiou conceitos de outros filmes, como “Cidade das Sombras” e o “Ano Passado em Marianbad” e até mesmo, em tom de brincadeira, que teria se inspirado em uma história dos quadrinhos do Pato Donald. No que tange ao primeiro filme citado, muito pouco ou nada pode ser encontrado para apontar algum indício de plágio e, no caso de “O Ano Passado em Marianbad”, não faz muito sentido fazer esta acusação por uma razão um tanto quanto óbvia. Se houve influência, Nolan e seu filme não estão sozinhos: por ser daquelas obras únicas que estabeleceram novos paradigmas para o cinema, do lançamento deste ousadíssimo longa-metragem nos anos 60 até hoje, há incontáveis, inúmeros filmes que podem igualmente ser apontados como tendo se apropriado da dinâmica da narrativa complexa e difusa criada pelo diretor francês Alain Resnais – a apropriação da idéia criada por Resnais é moeda corrente ininterrupta do cinema hollywoodiano há coisa de duas décadas, já que, digamos, ao menos meia dúzia de longas são concebidos todo ano a partir desta idéia. Os problemas de “A Origem” são outros e poucas pessoas devem ter dado à devida atenção à eles porque estão escondidos sob a carapaça visual e narrativa que tanto fascinou a platéia.
Claro que “A Origem” é um filme ardilosamente bem realizado – quanto à isso, não há onde apontar problemas. Nolan é já há um bom tempo um diretor dotado de grande argúcia: sempre consegue reunir um bom elenco em uma produção que organiza em seus mais diversos elementos de modo a atingir o clima por ele almejado. Isso, unida à sua grande capacidade em arquitetar belas sequências de ação e de efeitos especiais é sempre garantia de entretenimento – e este seu novo filme é provavelmente a sua criação mais divertida até hoje. Porém, à medida que sua competência técnica aumenta, a artística vem diminuindo em igual proporção: desde “O Grande Truque” que a incapacidade de Nolan em aliar emoção com diversão vem degringolando – isso quando ela não escorrega na pieguice mais desprezível, como aconteceu na última hora de duração de “Batman – O Cavaleiro das Trevas”. No caso de “A Origem”, na composição cada vez mais intrincada de seu roteiro, Nolan vai despindo-o de seu cerne emocional: a cada mergulho na dinâmica cíclico-labiríntica do seu argumento, o diretor-roteirista vai nivelando o longa à sua própria natureza material, cada vez mais assemelhada à trama de um videogame (os “níveis” dos sonhos no filme são claramente análogos à tradicional arquitetura em níveis ou fases da maior parte dos games produzidos até hoje). Intoxicada por si própria, pela beleza de sua concepção intrincada, a história termina vazia da fabulosa camada emocional que continha e que anunciava poder explorar e, por isso, apesar de Leonardo DiCaprio basicamente repetir o papel de homem cheio de culpa e amargor pela perda do amor que vimos em “Ilha do Medo”, tanto não há espaço em meio à trama narcisística para ele ou qualquer dos personagens terem sua camada emocional explorada como a própria vaidade do personagem afasta a possibilidade de empatia deste com o público – e isso parece ser uma sina de Christopher Nolan, pois justamente este é o maior problema de “O Grande Truque”.
É evidente que se restringirmos a análise do filme às suas artimanhas narrativas e técnico-criativas o resultado será facilmente favorável à Nolan e sua obra: as diferentes partes que compõe o argumento são bem costuradas e concatenadas, auxiliadas ainda por uma edição que aproveita esta característica da história, uma trilha que funciona como eixo que as aproxima e unifica e uma concepção visual que expande e ilustra soberbamente as idéias que nascem do roteiro. No entanto, se nos desvencilharmos do estado de fascínio que esses elementos como um todo causam, defeitos também surgem. No campo narrativo, ainda que o trabalho seja bom, a bem da verdade ele é calcado na repetição do seu mote inicial – os sonhos de um personagem servem como palco à ação e este dá partida ao próximo nível, que terá como arena os sonhos de outro personagem que, por sua vez, dará a partida ao próximo nível, e assim sucessivamente enquanto alguns imprevistos surgem para injetar algum suspense. Pensando objetivamente, isso acaba sendo um pouco monótono e deixando, a certa altura, a história e seu desfecho bem previsíveis. E isso acaba nos levando à frente técnico-criativa: uma vez que a idéia base do roteiro deixa em aberto cada um dos níveis para serem preenchidos com uma série de alternativas visuais, Nolan dá vazão à sua já conhecida megalomania e os inflaciona com a soluções e efeitos tão adorados pela maior parte do público – é a grande diversão do filme, sem dúvidas, mas é por isso mesmo que acabam por tonar-se a sua tônica, o que, volto a dizer, infelizmente o reduz à sua mera materialidade e destrói todo o aspecto humano da história – isso pra não ser mais criterioso e considerar que, deste modo, Nolan desperdiça seu roteiro e o usa apenas como desculpa para dopar a platéia com um espetáculo visual que, entorpecida e, não raro, viciada que se torna, pouco se esforça ou mesmo se nega a encontrar os problemas apontados. Ou ao contrário, extasiada pelos prazeres oferecidos pelo visual requintado e pela história aparentemente intrincada, mergulha em análises delirantes sobre a suposta profundidade do longa-metragem – que ele até poderia ter, mas descarta em detrimento de seu caráter comercial. Por essa razão, sou obrigado a admitir que, em se tratando de técnicas de inserção de idéias e convencimento, o diretor é bem mais eficiente do que seu elenco: enquanto o grupo leva mais de dez horas pra convencer uma pessoa por vez, Nolan lobotomiza toda uma platéia em coisa de duas horas e meia – é um mestre.

hotfile.com/list/721922/27bb0b9

legendas (português):
opensubtitles.org/pt/subtitles/3755975/inception-pb

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“Direito de Amar”, de Tom Ford. [download: filme]

A Single Man, directed by Tom FordGeorge, professor universitário que tenta lidar com a perda do namorado com quem conviveu longos 16 anos, encontra o caminho para dissolver a rotina dolorosa que enfrenta há 8 meses.
Se ao observar os créditos iniciais do primeiro projeto cinematográfico de Tom Ford, estilista dos mais famosos e gabaritados do mundo, não se tem sinais suficientes de que este quis estabelecer absoluto controle sobre os rumos de “Direito de Amar”, ao constatar que Ford também co-produziu e foi co-autor do roteiro adaptado, não há como não se dar conta disso ao iniciar-se o longa-metragem: a fidelidade com que a cenografia, figurino e direção de arte remontam a atmosfera elegante dos personagens de classes abastadas dos anos 60 e a fotografia esplêndida e cristalina que ressalta ainda mais a perfeita caraterização de época demonstram o quanto o agora cineasta americano, quando não foi direto responsável por algum aspecto de sua produção, teve certeza de cercar-se apenas de quem o fizesse com o apuro que certamente trouxe de sua ocupação principal até antes de aventurar-se no cinema. E apesar de dedicar-se com tanto afinco para garantir a excelência técnica que enche os olhos em cada mínimo detalhe de seu filme, Ford não deixou de dar a atenção necessária à esfera artística de sua produção. O roteiro, composto por ele e David Scearce a partir do livro homônimo de Christopher Isherwood, cadencia com muito cuidado e enorme inteligência as experiências simples do cotidiano que ganham nova e singular importância neste dia crucial da vida de George com as lembranças de momentos importantes e felizes que ele viveu ao lado do homem que tantou amou e com quem partilhou grande parte de sua vida. Isso, claro, foi de enorme auxílio à caracterização segura, precisa e enormemente emocionante dos atores ao desempenhar seus personagens – em especial Colin Firth que, em atuação escandalosamente irretocável apoiada em uma caracterização econômica e comedida, consegue expor em gestos mínimos toda a carga de sofrimento que o personagem carrega desde que perdeu aquele que dava sentido à sua existência, expressando também de modo delicado toda a intensidade de sensações que experimenta neste dia.
O único senão, talvez, esteja justamente nos artifícios cinematográficos aos quais Tom Ford recorreu para retratar o vigor sensório que George experimenta neste dia de sua vida que o filme retrata: os enquadramentos – closes, em particular – e a utilização desnecessária de câmera lenta em conjunto com a aplicação da trilha sonora – que diga-se, é de uma beleza ímpar – em algumas sequências do filme acabam por fazer o oposto do que objetivava o cineasta, reduzindo tais experiências à sua mera superfície – ou seja, por conta deste maneirismo estético, a atenção do espectador acaba desviada do sentido para a imagem em si. Não é difícil supor que nestes momentos falou alto a alma de estilista do novo diretor. Isso, porém, é mero detalhe, talvez até uma implicância gratuita. Diante da abismal delicadeza que a história ganhou nas mãos de Tom Ford, que conseguiu explorar toda a enorme carga de emoções da narrariva de um homem cansado do amargor e sofrimento trazidos pela perda de seu amor sem acometer a história um instante sequer com pieguices e emoções baratas, as pequenas obsessões estéticas do diretor não são nem de longe suficientes para desmerecer os imensos méritos de Ford e deste seu esplêndido filme de estréia – é a alvorada de um cineasta extremamente promissor que, sem dúvidas, já ganha a sensibilidade como a sua mais valorosa e representativa marca.

megaupload.com/?d=FAZIW9NU

legendas (português):
http://legendas.tv/info.php?d=4f554cd750621cca869bc3b0a3e5d3e9&c=1

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“Personal Che”, de Douglas Duarte e Adriana Mariño. [download: filme]

Personal Che, de Douglas Duarte e Adriana MarinoDois cineastas saem por vários cantos do mundo para obter informações sobre a relação que diferentes pessoas tem com a figura de Che Guevara.
Nos últimos anos, Che Guevara ganhou o foco de alguns projetos de cinema que abordaram desde o retrato de sua juventude anônima até a completa biografia de sua mítica vida de guerrilheiro revolucionário. Documentários também o redescobriram, como “Chevolution”, que se ocupa de desvendar todo o poder que envolve a emblemática foto tirada do revolucionário argentino pelo fotrógrafo cubano Alberto Korda, conhecida pelo nome “Guerrillero Heroico”. Porém, é provavelmente, >”Personal Che”, o filme dirigido e produzido pelo brasileiro Douglas Duarte e a colombiana Adriana Mariño que conseguiu encontrar um ponto de vista diferenciado para a realização de um documentário sobre Che Guevara. Partindo sempre da identificação que diferentes pessoas de vários cantos do mundo tem com a poderosa imagem feita por Korda, os dois cineastas mostram como, por conta de uma singular conjunção de fatos, aquela fotografia criou um mito único, só comparável, talvez, às imagens de Jesus Cristo. Porém, enquanto Cristo é, de modo geral, visto, conhecido, admirado e idolatrado de não mais do que dois modos diferentes, Douglas e Adriana mostram, ao entrevistar anônimos, que a adoração pelo guerrilheiro argentino desdobrou-se em diversas possibilidades, partindo da imagem óbvia de guerrilheiro comunista audaz, surpreendendo ao ser assumido como status de ícone revolucionário nazi-fascista, gerando incompreensão ao ser usado como estandarte oposicionista à regimes de esquerda, não impressionando ao ser considerado ídolo pop e causando enorme espanto ao ser visto literalmente como santo. Os dois cineastas, porém, não se limitam a puramente relatar o fenômeno das diversas personalidades que a figura de Che Guevara tomou. Paralelamente ao registro destas encarnações do revolucionário argentino, fazendo uso de um trabalho excepcional de montagem, o brasileiro e a colombiana inserem trechos de entrevistas feitas com historiadores, escritores e estudiosos do assunto explicando como isso acaba sendo possível devido ao poder singular que a foto de Korda agregou e, consequentemente, à capacidade das pessoas de tomarem esta imagem e a adequarem àquilo que lhes é mais apropriado, ignorando consciente ou inconscientemente, neste processo, todo o resto ou, ao menos, boa parte do que marcou a trajetória de Che. É deste modo que os dois diretores vão, pouco a pouco, desconstruindo a imagem que as pessoas fazem de Che Guevara e descortinando as revelações que são a grande sacada do filme: primeiro, mostram que, a bem da verdade, nenhum dos grupos citados o conhece de fato ou alimenta a sua idolatria considerando todas as facetas da vida do revolucionário latino-americano, ainda que conheçam mais de que uma parte delas; segundo, mostram que boa parcela dos que o idolatram ou admiram o fazem por inércia e impulso, ou seja, muito mais por influência da construção da figura de Guevara por agentes externos – a indústria cultural ou quaisquer que sejam – do que por um trabalho próprio de reflexão – é por essa razão que, quando estas pessoas são indagadas sobre o porquê de sua admiração, não se recebe delas, fundalmentalmente, uma resposta convincente.
Baseado neste conjunto de metamorfoses, apropriações e reversões da imagem e do mito de Che Guevara, os diretores concluem o filme sustentando a idéia lançada pelos estudiosos entrevistados de que, a partir daquela emblemática imagem, Che Guevera tornou-se provavelmente o primeiro protótipo das supercelebridades modernas, já que pouco importa o que Che realmente foi ou fez, importa a imagem que se pode produzir de Che a partir do “Guerrillero Heroico” e de toda a lenda construída a partir daquele instante único do argentino que Alberto Korda registrou quase que casualmente em suas lentes. Parece tolice considerar este evento como a gênese de uma das molas mestras do jornalismo de entretenimento das últimas décadas, mas se este não foi o evento gerador, foi e ainda é, ao menos, o mais notório e perfeito exemplo de como construir, explorar e perpetuar uma supercelebridade – para inveja da grande maioria das estrelas pop da atualidade, só Che Guevara continuará, sem esforço algum, imortalizado em camisetas trajadas orgulhosamente – ainda que não saibam bem porque – dos jovens que vieram, vem e estão por vir nas muitas décadas à nossa frente.

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OBS: legendas em português já embutidas.

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Mates of State – Crushes (The Covers Mixtape). [download: mp3]

Mates Of State - CrushesVendo o casal de cantores americanos que compõe a dupla Mates of State fazendo biquinho na capa do seu disco de covers, a impressão mais imediata não é exatamente relacionada à um sentimento de confiança e credibilidade, mas a sensação que acompanha esta, de que o disco envereda descaradamente pelo pop rasgado, não está errada – e a foto escolhida não tenta esconder isso, pelo contrário. Vencendo, porém, a resistência deixada por essa impressão, o público vai descobrir que as versões elaboradas por Jason Hammel e Kori Gardner, que entraram também pela primeira vez na produção do lançamento, concedem às faixas uma jovialidade extraordinária e um clima de contentamento irrefreável – é quase herético, por exemplo, o modo como o melancólico folk-country de Tom Waits em “Long Way Home” foi subvertido sem pudor em uma faixa festiva, literalmente um “yeah-yeah-yeah” esfuziante recheado de riffs caudalosos de guitarra e salpicado por trompetes gloriosos, ou então como em “Son Et Lumiere”, faixa-intro do primeiro álbum do The Mars Volta, trocou-se guitarras por pianos e teclados, revertendo a escalada de suspense original em um trotar delicado que lança-se ao sabor do arranjo de metais e backing vocal celestial. Fleetwood Mac também foi alvo dos pombinhos em “Second Hand News” que teve a sua aura upbeat não apenas preservada, mas consideravelmente ressaltada no arranjo que borbulha sintetizações crispantes e toques cálidos nos teclados. Em “Love Letter” a dupla se livrou da belíssima orquestração de cordas e do piano da versão original e, inevitavelmente, substitiu o vocal imponentemente melancólico de Nick Cave por um dueto que investe em um registro mais calmo e adocidado, acompanhando a melodia crivada de órgãos de tonalidades tão confortantes quanto uma morna noite de primavera. “Technicolor Girls”, de autoria de Death Cab for Cutie, teve a sua simplicidade acústica transposta para um pop de irresistível delicadeza marcado pelo lirismo do backing vocal que pontua brevemente a canção e pela meiguice dos teclados e xilofones que espocam por toda a música. Abrindo o disco, “Laura”, música dos californianos da banda Girls, e fechando-o, “True Love Will Find You in the End”, do compositor marginal Daniel Johnston, também ganharam banhos melódicos que, em ambos os casos, só fez bem as músicas: a primeira perdeu todo o ranço de banda indie da esquina e vestiu-se em scratches de disk jockey e teclados e sintetizações redondinhos, ganhando até direito a um gracejo do casal na letra da canção; a segunda teve o caráter embaçado de folk-rock-gravado-em-K7-Basf magneticamente apagado pelo beat pop saltitante e pelo ukelele e piano elétrico de acordes afetuosos da dupla.
Por uma contradição que so é possível no tempo das facilidades da hiperconectividade, o pop de ontem é o alternativo de hoje e, assim sendo, música como essa que a dupla fez seria em outras épocas muito mais popular por conta desta despretensiosa autenticidade que afasta qualquer menção à profundas – e infundadas – ambições artísticas, coisa tão em voga nos top-ten de MTVs e estações de rádio de hoje em dia. Mas não existe drama: essa mesma hiperconectividade é responsável por esse infindável mundo de opções que temos hoje pra nos salvar dos embustes pop que nos atacam sem piedade – porque, convenhamos, leituras histórico-sociológicas em videoclipe dirigido por uma diva fashionista é uma coisa difícil de engolir.

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