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Tag: folk-canadense

Cowboy Junkies – Renmin Park e Demons (+ EP bônus) [download: mp3]

A banda canadense Cowboy Junkies até hoje não consegue a merecida projeção que a qualidade de sua música merece. Afora o seu próprio país, a banda dos irmãos Margot e Michael Timmins é conhecida e apreciada por bem poucos – o disco que mais chegou perto de um sucesso foi o espetacular Lay It Down, cuja resenha do Seteventos você conferir clicando neste link. Isso, porém, não parece incomodar os músicos, já que há 25 anos eles mantém o ritmo de gravações e shows. E foi justamente em comemoração à isto que a banda concebeu o projeto The Nomad Series, um conjunto de quatro discos que estão sendo lançados dentro de um período de dezoito meses refletindo e reunindo tanto novas inspirações para a banda como velhas influências da sua carreira. Destes, dois volumes já foram lançados.
Renmin Park, cujo nome faz referência aos belos parques que enfeitam grande parte das cidades da China, país no qual Michael passou um período de três meses enquanto providenciava e aguardava o processo de adoção de duas crianças, é o Volume 1 da série de discos. A estadia no país inevitavelmente influenciou as composições do primeiro disco do projeto: quase todas as músicas contam com o apoio de sons e ruídos gravados pelas ruas chinesas enquanto Michael passeava para conhecer melhor a cultura e costumes do país. A faixa “Intro” é tão somente isto: uma mistura do registro de sons ambientes para apresentar a atmosfera na qual o disco teve sua gênese. À exceção de “A Walk In The Park”, cantada em mandarim por um cantor chinês amigo da banda e que integra ritmos, vozes da cultura musical chinesa com a ambiência rock da banda, a maior parte das outras canções utilizam estes elementos em grande parte apenas como adorno, preservando em sua integridade a já conhecida mistura de folk e rock com uma pitada de country que caracteriza as músicas da banda. É o que ocorre na faixa título, onde somos surge os violão tão conhecido da banda o vocal sempre emocionante de Margot, entoado em um registro tão triste e amargurado quanto o violino solo em um lamento tipicamente oriental que faz a ponte melódica da faixa. Outras faixas que tem a inserção de ambiências orientais temperando a melodia são “Sir Francis Bacon At The Net”, com o gingado soturno da bateria e baixo, intensificados por reverberações metálicas de guitarra e pelo cantar misterioso dos irmãos Timmins, em uma rara participação conjunta nos vocais, “(You’ve Got To Get) a Good Heart”, intoduzida por uma climática reverberação de acordes de piano e que conta com bateria e baixo em evidência na cadência discretamente soturna na qual os vocais se mantém em um registro baixo e “Cicadas”, cujo base melódica é guiada por um baixo em pulso marcado e preenchida por uma combinação da captação de sons das ruas e parques chineses e de semi-silêncios em solos de violoncelo e violino enquanto a voz macia e determinada de Margot acompanha a harmonia e prepara a entrada da bateria e do violão.
Mas há canções no disco que se limitam apenas à fronteira da tradicional musicalidade rock da banda. Entre elas, “Stranger Here”, com riffs de guitarra, violão e bateria de harmonia firme e o orgão que promove com perfeição a liga da melodia, as baladas “I Cannot Sit Sadly By Your Side” e “Little Dark Heart”, a primeira com um dos vocais mais desesperançados de Margot sobre riffs cada vez mais emaranhados e desesperados de guitarra, bateria e baixo em lento pesar e um piano que corta o coração com suas notas que despedaçam-se na melodia enquanto a segunda conta com violões pronunciados e toques malemomentes de guitarra e orgão sobre cantar levemente anasalado da vocalista e também “My Fall”, cover em inglês de uma música chinesa que com a solidez country-rock da bateria, violões, baixo e o vocal limpo e claro de Margot, adoçado pelo fremir de alguns acordes de guitarra e ocasional arranjo de violino, bem passaria por uma música composta pela própria banda.


O Volume 2 do projeto é o disco Demons, uma compilação de covers de composições de Vic Chesnutt, americano cantor de folk, country e rock alternativo que morreu no final de 2009 e que era grande amigo da banda. A intimidade e liberdade dos canadenses ao lidar com o material composto pelo colega é tão grande que não há qualquer diferença realmente visível entre estas canções e o catálogo do próprio Cowboy Junkies de tão coloridas que foram pelo vigor e frescor rock dos canadenses: “Wrong Piano”, com bateria bem cadenciada sobre um órgão esfuziante e riffs caudalosos de guitarra, “Flirted With You All My Life”, com piano, bateria, guitarra, órgão e baixo em amálgama harmônico algo dançante e “Ladle”, com diversas camadas de guitarras alternando e contrapondo-se sobre a harmonia sólida de bateria e baixo e os vocais potentes dos irmãos Timmins no refrão, todas foram incrementadas com as estudadas melodias e entusiasmos sem arestas tão bem conhecidos da banda.
Porém, apesar do belo trabalho dos canadenses ao adaptar as canções mais ritmadas do amigo americano ao seu próprio estilo, é lidando com as canções mais desiludidas, onde ressaltava-se a essência mais despojada e instrospectiva e menos maciça de Vic, que o Cowboy Junkies mostra-se brilhante, refundando as melodias à luz de sua estupenda matiz musical. É o caso de “Betty Lonely”, linda balada no vocal abatido de Margot sobre um órgão melancolicamente sensual e a cadência imutável e macia da bateria e do baixo, entrecortados tão somente por algumas farpas de guitarra, de “Square Room”, que ganhou uma orquestração de cordas discreta que sopra ao fundo, solícita e triste, enquanto Margot guia o passo cálido da bateria, do violão e do órgão com seu vocal que sublima emoção, da esplêndida “Supernatural”, que também conta com uma orquestração serena e destaca-se pela viola de acordes chorosos como companhia ao vocal amargurado e resignado da cantora canadense, do contemplativo arranjo de “We Hovered With Short Wings”, com percussão que farfalha como uma brisa, acordes de um polido violão e um taciturno clarinete namorando o semi-sussurar de Margot numa espetacular comunhão sonora que toma delicadamente os sentidos, e também da cortante “Marathon”, cujos violões e percussão só não são mais plangentes que o vocal sofridíssimo de Margot e Michael Timmins, que dilaceram a alma tanto quanto o fremir glacial da guitarra solo.
Impressiona mesmo os que já conhecem a banda de longa data que os canadenses não apenas sustentem a qualidade musical que vem desde o início de sua carreira, mas que depois de tanto tempo ainda desfrutem de um frenesi criativo que transborda tamanho refinamento e densidade melódica tanto ao trabalhar com material de seu próprio punho quanto de outros artistas, um luxo o qual nem mesmo bandas mais populares e lendárias conseguem dispor por tanto tempo – abençoado seja o Cowboy Junkies!

ifile.it/pkbiv40/junkies_-_park_-_of_-_demons.zip

senha: seteventos

e mais um bônus: clique aqui e baixe “3rd Crusade”, uma das faixas de Sing In My Meadow, o Volume 3 da série que está planejado para ser lançado em Agosto.

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Timber Timbre – Creep On Creepin’ On. [download: mp3]

Taylor Kirk, cantor e compositor canadense que é a ponta criativa do triângulo que compõe a banda Timber Timbre, cujos outros vértices são Mika Posen e Simon Trottier, poderia bem ganhar a vida como intérprete de grandes clássicos do blues por conta de sua voz grave e macia, e nota-se facilmente o quanto o gênero influenciou suas composições, particularmente no seu último disco, Creep On Creepin’ On. Além da própria carga que existe em seu vocal, aquele vapor melancólico e nostálgico do blues também acaba contaminando boa parte das melodias. O piano de notas agudas e cristalinas que estala no ar em “Bad Ritual” é exemplo claro disto, há porém a companhia de algumas orquestrações e eletronismos lo-fi que lhe conferem também uma sonoridade bastante soturna. Esta atmosfera também circunda os acordes do piano, as inserções pontuais do saxofone e o órgão empoeirado de “Black Water”, conferindo à canção ares de balada de salão de festas de um hotel mal-assombrado. O saudosismo ganha um requebro mais dançante na cadência de teen party sessentista de “Too Old To Die Young”, que parece saída diretamente de um momento mais inspirado em que Chris Isaak incorpore o seu Elvis. A impressão no início desta faixa é que o ar sinistro possa ter ficado pra trás, mas a sensação evapora rapidamente quando o refrão soturno ataca sem hesitar a melodia. Esse caráter musical que desenha referências na música de meados do século passado floresce igualmente na faixa “Woman”, mas o obscurantismo dark não deixa de se fazer presente, insidioso e lembrando muito o trabalho dos britânicos do Portishead: impossível não fazer referência à biologia melódica do grupo inglês na intro que funde metais, guitarras e bateria em uma marcação aquosa de filme de ficção-científica tanto quanto no modo como isso é repentinamente revertido em uma singela harmonia tradicional em piano, vocal, baixo e bateria.
O parentesco de Timber Timbre com músicas de antigos filmes de sci-fi e terror não fica apenas na fusão feita com melodias que tem algo da boemia de um cabaret ou salão de festas de um hotel cinco estrelas, mas é exibido em toda sua intensidade na tecitura das faixas instrumentais que pontuam de modo dramático o disco assim como sequências de um filme são pontuados por sua trilha. Assim funcionam “Obelisk”, com o suspense armado pelo arranjo de cordas sobre um pulso ininterrupto da bateria e ruídos que rompem a melodia e reforçam o clima espectral, e “Swamp Magic”, que apesar do obscurantismo inicial nos acordes escandidos no violão, na ondulação das cordas e nas interferências indistintas, é banhada por uma luz orquestral em sua sequência final. Contudo, o mais belo interlúdio cinemático é o de “Souvenirs”: uma reverberação de cordas fulgurante que é reminescente das esplêndidas peças eruditas do hiper-vanguardista György Ligeti que sonorizaram a espetacular obra-prima “2001: Uma Odisséia no Espaço”, fechando no modo “egotrip transcendental” o singular setlist que cairia muito bem em uma festa – mas só naquela cuja anfitriã fosse Carrie White.

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Cowboy Junkies – Lay it Down. [download: mp3]

Cowboy Junkies - Lay It Down

Cowboy Junkies - Lay It DownEsta banda canadense, onde três dos quatros integrantes são irmãos, nunca obteve o sucesso que tanto almejou. O seu country-rock, suave, sutil e econômico mantém sua identidade quase intacta até hoje, e atingiu a perfeição no álbum “Lay it Down”, lançado em 1996. Este é um disco de difícil análise, por um motivo muito simples: as músicas mantém um estilo muito homogêneo, com os mesmos vocais macios de Margo Timmins e cujas melodias utilizam praticamente a mesma instrumentação e estrutura. No entanto, há algumas ligeiras diferenças nas melodias de algumas canções, com a destaque sutil para algum dos intrumentos utilizados. As guitarras, por exemplo, ganham uma tonalidade muito compacta, discreta e organizada, sem um mínimo de rebeldia, mesmo quando utilizada de maneira mais vistosa em “Something More Besides You” (que traz questionamentos sobre o amor que sempre esperamos encontrar, e se paramos de buscar algo a mais mesmo quando o encontramos) e na canção que a sucede, “A Common Disaster” (que mostra a altivez de uma mulher segura de que conquistará quem tanto deseja, mais cedo ou mais tarde). Na música-título do disco (cujos versos falam brevemente sobre uma estória de desgraças e resignação), temos a utilização episódica de irresistíveis riffs comportadinhos de guitarra, ao mesmo tempo que amplia-se ainda mais a quietude sonora que é a maior identidade do grupo. “Speaking Confidentially” (com versos repletos de metáforas e comparações muito bem compostas, retratando sentimentos de ódio, revolta e confusão) tem como seu diferencial a bateria mais claramente ritmada, cuja sonoridade foi trazida mais para o primeiro plano da melodia, assim como também destaca-se por utilizar de maneira mais ostensiva um arranjo de cordas que incrementa – e muito – a canção. No entanto, a homegenidade sonora predomina no disco, como podemos conferir nas clássicas baladas suaves e delicadas, que é uma das coisas que a banda faz de melhor. Exemplos disso são “Hold on to me” (que traz em seus versos o comportamento algo indiferente que as pessoas, por vezes, adotam no amor), “Lonely Sinking feeling” (com letras fabulosas, que revelam, atraves de diálogos e pensamentos de dois namorados, o eterno sentimento de confusa insatisfação que nos abate quando atingimos aquilo que mais almejamos no amor) e “Musical Key” (em cujas letras imensamente tocantes Margo canta, utilizando a tradição musical como mote, sobre lembranças doces da convivência com seus pais em sua infância). Porém, apesar do comportamento caráter conservador do trabalho da banda – o que, em nenhum momento, se configura como defeito -, ela ainda conseguiu perpretrar alguma ousadia, como podemos conferir na canção “Come Calling” (que fala sobre um casal cujo relacionamento amoroso está em suspenso) que tem duas versões de diferentes melodias mas com a mesmíssima letra: as versões “His Song” e “Her Song”. A primeira é a versão que retrata os sentimentos de arrependimento do homem, com melodia mais agitada e rápida, e a segunda transmite com exatidão a melancolia e sofrimento pelo qual passa a mulher, com sua música triste, quieta e lenta. Fechando o disco, e preservando o ritmo melancólico, da faixa anterior, temos “Now I know”, canção de curta duração cujo destaque na melodia fica para o violão e em cujas letras resume-se, em poucos versos, o âmago do que é sofrer.
“Lay It Down” é um disco de audição fácil, que mantém em seu todo uma textura tranquila e algo contemplativa, feito para ser escutado seguidamente no mesmo dia, desfiando nas audições cada detalhe elegante dentro das ligeiras diferenças melódicas das canções. Baixe já o disco utilizando o link abaixo e a senha para abrir o arquivo.

ifile.it/2dokwp7/junkies_-_lay.zip

senha: seteventos

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