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“Últimos Dias”, de Gus Van Sant. [download: filme]

Last DaysJovem músico sai de clínica de tratamento e ruma, através de uma floresta, até sua mansão mal-conservada. Lá chegando ele tenta isolar-se dos amigos que ocupam a casa e evita contato com seu agente, sua gravadora e até um detetive, que o procuram para que dê continuidade as turnês de sua banda. Livremente baseado nos últimos acontecimentos da vida de Kurt Cobain, vocalista do grupo Nirvana.
Desde 2002, Gus Van Sant redirecionou sua carreira para o rumo independente e alternativo que teve no início, voltando também o seu olhar para as atribulações juvenis urbanas. Por isso, não é surpresa alguma o seu interesse em biografar os últimos momentos de vida do rockeiro Kurt Cobain, ícone do rock grunge dos anos 90 que encerrou ele mesmo sua vida com um tiro na cabeça – sem considerar, claro, as inevitáveis teorias de homicídio dissimulado.
Por ser substancialmente uma biografia, assim como também o era “Elefante” – mas que o era muito mais de um evento em si do que de personagens -, o diretor decidiu manter a abordagem adotada no filme anterior, ficcionalizando a superfície mais aparente de sua história, através da modificação de alguns personagens e acontecimentos, mas mantendo intacta, na essência do evento e de seus protagonistas, a fidelidade com os acontecimentos reais. Desta forma, se os afazeres, o comportamento e as atitudes modorrentas de Blake no filme reproduzem com algum apuro as de Kurt Cobain, então a pergunta feita na filme por Kim Gordon para ele deixa de ser uma dúvida e passa a ter um caráter incontestável de afirmação: Blake/Cobain era um cliché do rock. Para piorar, ao importar, junto com o modo de compor a história, a técnica narrativa singular do filme anterior – que guarda semelhanças com a tradição documental – Gus Van Sant transforma o estigma da juventude transviada em algo ainda mais pueril do que já é: ao contrário do que aconteceu em “Elefante”, onde esta técnica ajudou a trazer ainda mais a superfície a natureza e a multiplicidade do evento narrado, o encadeamento improvisado de ações cotidianas, que tomam o lugar do roteiro, a edição que prolonga as sequências, evitando ao máximo os cortes nas cenas, a câmera que quase não produz closes, preferindo perseguir os passos do protagonista da sequência de maneira distante, e o silêncio que tem maior preponderância do que as falas – quase sempre irrelevantes – só faz tornar ainda mais visíveis e intensos o vazio, a ausência de sentido e a obviedade presentes no evento e no personagem que são a razão de ser de “Últimos Dias”.
Penso que o desnudamento do lado mais pessoal e íntimo de um ídolo, via de regra, não traz qualquer benefício: não apenas lhe destitui esse caráter sempre interessante mas acaba também revelando que, na realidade, eles podem ser o tipo de pessoa para quem não dispensaríamos a menor atenção e apreço. Infelizmente, para os fãs de Kurt Cobain, esse é o único mérito do filme de Gus Van Sant.

OBS: links funcionais mas não testados.

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legendas disponíveis (português):
http://www.legendas.tv/info.php?d=41026cdf3eebe2767a87c0c53955f24b&c=1
http://www.opensubtitles.org/pb/download/sub/3093676
http://www.opensubtitles.org/pb/download/sub/103521

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“Paris, Je T’aime”, (direção coletiva). [download: filme]

Paris, Je T'aimeDezoito histórias de cinco minutos, cada uma ocorrendo em um canto diferente de Paris e não necessariamente relacionadas entre si, formam, em conjunto, o longa-metragem “Paris, Je T’aime”, idéia e conceito dos franceses Tristan Carné e Emmanuel Benbihy, respectivamente. A natureza deste longa-metragem torna impraticável uma homogeneidade em termos qualitativos, já que alguns dos curtas que o integram, se não são realmente ruins e equivocados, soam um tanto previsíveis: com “Porte de Choisy”, o diretor de fotografia Chistopher Doyle procura mimetizar o magnetistmo das estorias delirantes de Jean Pierre-Jeunet, mas seu sucesso não vai além da questão estética; Vincenzo Natali, igualmente capricha no visual de “Quartier de la Madeleine”, mas seu conto de humor-negro sobre um homem que encontra uma vampira parece um videoclipe teen; os diretores Joel e Ethan Coen fazem uma caricatura de seus próprios trabalhos com o segmento na estação de metrô de “Tuileries”, cujo artificialismo exagerado dos maneirismos visuais mais irritam do que divertem; Walter Salles e Daniela Thomas, por sua vez, também recorrem a essência dos seus maiores êxitos, mas ao invés de utilizar a paródia como tom, o fazem como quem apresenta um cartão de visitas, tornando a crítica social de ambientação (sub)urbana – que fez a fama da dupla – ecoar com certa obviedade. Por sorte, há mais segmentos bons do que ruins. Para alguns deles, o charme ficou por conta dos diretores e roteiristas utilizarem-se do elemento surpresa como atrativo: tanto o breve conto de amor entre uma jovem atriz e um estudante de línguas cego do distrito de “Faubourg Saint-Denis”, dirigida por Tom Tykwer, a estória escrita e dirigida por Alfonso Cuarón, que sustenta-se no diálogo dúbio entre um homem de meia-idade e uma jovem francesa em “Parc Monceau” e o flerte entre um jovem artista e um belo funcionário de uma casa de artigos para pintura de “Le Marais”, a cargo do diretor Gus Van Sant, escoram-se de modo compentente em um elemento chave que destrincha o entendimento do evento e que era responsável por, intencionalmente, causar confusão no espectador. Porém, os curtas mas simples, que contentam-se apenas em contar sua breve história, são os que conseguem melhor captar a idéia básica que deu vida à “Paris, Je T’aime”: o encontro acidental entre dois solitários parienses, em meio à seu cotidiano anestésico no trecho “Montmartre”, dirigido e co-estrelado por Bruno Podalydès; o rapaz que, em “Quais de Siene”, de Gurinder Chadha, encanta-se por uma simpática garota mulçumana, mesmo sutilmente receoso da óbvia diferença cultural; a delicada mistura de história de amor à primeira vista e crítica social, em “Place des Fêtes”, de Oliver Schmitz, emocionam pela maneira com que o amor é abordado pelo modo que seus personagens são tomados por ele. Mas é o último segmento do longa-metragem, o conto solitário “14th arrondissement”, dirigido por Alexander Payne, em que uma funcionária do correio americano narra sua estadia de uma semana em Paris, que o público testemunha a melhor, mais sincera e mais emocionante homenagem de amor à cidade luz. Não se engane pelo início algo ordinário do segmento – a história ganha emoção cada vez maior à medida que avança para o seu fim.
Ainda que, em alguns momentos, a única coisa que una as histórias seja apenas o seu cenário, o saldo final de “Paris, Je T’aime” é muito positivo: todos os diretores, cada um à seu modo, tentam expor a fascinação que o mundo tem pela capital francesa, que acaba realmente atraindo gente não muito diferente de grande parte dos personagens que povoam este filme. Alguns diretores, inevitavelmente, fracassaram, da mesma forma como muitos dos que buscam uma vida melhor em Paris também fracassam. Mas, aqui, ao menos, os êxitos brilham bem mais do que os insucessos.
Baixe o filme utilizando os links a seguir.

primeira parte:
http://d01.megashares.com/?d01=5d9b2af

segunda parte:
http://d01.megashares.com/?d01=3896cff

legenda (português):
http://legendas.tv/info.php?d=5b9e410ddbcc9aa937ce0d908067912c&c=1

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“Elefante”, de Gus Van Sant.

ElephantEm uma típica escola secundária americana, temos contato com alguns de seus funcionários e alunos, retratados nos instantes que precedem uma tragédia.
O cineasta americano Gus Van Sant é capaz de tolices como “Gênio Indomável” e coisas deploráveis pela simples idéia da existência, como a refilmagem de “Psicose”. No entanto, ele é um cineasta talentoso, o que lhe falta de quando em quando é bom senso em seus projetos. E, felizmente, um dos seus últimos trabalhos demonstra isso. “Elefante” é ficção apenas no que compete aos personagens e o local da tragédia, já que retrata um dos eventos que mais chocou a sociedade americana, o massacre da Columbine High School por dois de seus alunos. Tendo projetado este filme como um retorno seu ao chamado “cinema idependente” – retorno que na verdade iniciou-se com “Gerry” -, o diretor faz as escolhas técnicas exatas para sustentar este clima. Os atores são todos amadores, recrutados na região em que foi rodado o filme e exibem a naturalidade ideal para seus papéis. As sequências são, em sua maioria, filmadas em ininterruptos planos longos, muitas vezes com o personagem central da cena caminhando e sendo filmado de costas para a câmera. A trilha sonora é quase inexistente, excetuando-se alguns trechos sonorizados, em grande parte, por peças de Beethoven. Os diálogos retratam situações e temas cotidianos de uma escola e seus “habitantes”, sem qualquer ligação entre si, já que os personagens retratados não necessariamente se conhecem. A fotografia do filme é de uma assepsia esplendorosa, deixando na tela uma imagem limpa e cristalina. A cenografia, por sua vez, retrata um ambiente repleto de angulos retos e corredores intermináveis, o que reforça a idéia de um ambiente frio e sisudo. Todos estes elementos, junto com essa fotografia tão asséptica, montam o painel de um ambiente onde, teoricamente, impera a inocência e a inexperiência. Contudo, Van Sant consegue expor em breves momentos todo tipo de conflito que faz parte da faixa etária dos personagens retratados: a rejeição e a perseguição por outros alunos e mesmo por professores, o isolamento daqueles que são vistos como diferentes, o flerte e as festas inconsequentes, a bulimia adolescente, os problemas com membros da família, cujos integrantes adultos as vezes se mostram mais imaturos e problemáticos do que os mais jovens, a reciprocidade e carinho entre colegas, a descoberta e experimentação sexual. Isso tudo acaba criando um contraste com a placidez composta pela parte técnica do longa-metragem e retratando o que de fato compõe o ambiente escolar, cujo cotidiano é, para alguns, repleto de injustiça, sofrimento e incompreensão. Porém, Gus Van Sant é inteligente o bastante, ao menos neste seu retorno ao cinema independente, para ignorar com veemência a tola mania americana de buscar razões, “porquês” e motivos para tudo, coisa que só satisfaz ao puritanismo do povo americano, que busca sempre usar esta metodologia para construir uma comparação com si mesmos para que entendam-se como “saudáveis” e “normais”. Assim sendo, o diretor expõe possíveis mazelas, mas não as torna motivos determinantes: talvez as injustiças e a violência cotidiana que os personagens sofressem tenha servido de motivação torpe para cometer uma atrocidade, talvez seja consequência do seu ambiente familiar algo desajustado ou indiferente, talvez a pueril sociedade americana, construída em cima da idéia de que o mundo se divide em vencendores e perdedores, onde estes últimos sempre são considerados como tal por não se encaixarem nos moldes definidos, talvez seja ainda a obssessão americana por armas e pela cultura do medo, que propicia a capacidade de compra de armamento pela internet e de entregá-las, pelo correio, nas mãos do primeiro que abrir a porta, ou talvez nada disso justifique e os que perpetraram tamanha desgraça sejam apenas desajustados. Junto com esta característica, o outro grande trunfo do filme é conseguir sustentar um clima de contínuo suspense, usando como artimanha um roteiro muito bem construído que mostra praticamente todas as sequências como acontecimentos simultâneos com diferentes personagens, todos tendo como desenlace o massacre que encerrou a vida de muitos, e levando as cenas até o seu limite apenas para cortá-las no momento crucial. Isso resulta em um desnorteamento do expectador, que não faz idéia de quando a desgraça cairá sobre aquele lugar repleto de aparente tranquilidade e com algo incomodamente opressivo.
“Elefante” é um ótimo representante da técnica, raciocínio e inteligência, que são marcas do cinema que interessa, mostrando que muitas vezes os cineastas deixam seu talento ser eclipsado pela sede comercial, que produz espetáculos milionários e desmiolados. Gus Van Sant tomou a decisão de dar uma nova guinada em sua carreira na hora certa, conseguindo com este belo filme fazer com que críticos e fãs de cinema do mundo inteiro esquecessem o imenso erro que cometeu ao regravar o grande clássico de Alfred Hitchcock. E não é sempre que algum artista consegue superar um estigma tão negativo – ponto para a competência quase destituída do cineasta americano, que acordou de um longo sono e mostra-se, novamente, promissora.

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