Walter Sparrow, funcionário do controle de animais com vida pacata e confortável, perde a noção de realidade e começa a agir de forma paranóica depois que lê o livro “O Número 23”, com o qual se deparou por mera casualidade.
Joel Schumacher é um diretor cujo melhor resultado obtido foi o filme “Tempo de Matar”, baseado no tenso romance de John Grisham. Tirando-se este longa-metragem excelente, o diretor sossobra entre produções lamentáveis – alguém ai lembra dos dois filmes do homem morcego dirigidos por ele? – e filmes interessantes e bem feitos – como o clássico thriller “Linha Mortal” e “8MM”, única coisa boa que Nicholas Cage fez depois de ter ganhado um Oscar. Seu mais recente longa-metragem lançado por aqui, “Número 23” se encaixa neste último caso.
As coisas que mais incomodam, dentro dos aspectos problemáticos de “Número 23”, são as inseridas pelo diretor e seu roteirista como tentativa de conferir à produção algum caráter distintivo: as referências diretas as histórias de detetive e ao cinema “noir” – fruto da história do livro que Walter lê durante toda a duração do longa-metragem – soam artificiais e tolas, pois não possuem densidade suficiente dentro do argumento do roteirista Fernley Phillips. Mas questões exteriores as tentativas de estilo do filme também resultaram em problemas razoáveis: a trama principal do longa-metragem – ou seja, os acontecimentos não-fictícios da vida do protagonista – parece um tanto amadora, já que a medida que o filme avança ela vai paulatinamente tornando-se mais forçada e fácil; as relações entre os personagens também careceram de um pouco mais de aprofundamento, sendo que a química entre Jim Carrey e a atriz Virginia Madsen nunca chega a atingir o nível ideal. Dos elementos que conferem qualidade ao filme temos a boa interpretação de Jim Carrey – em um papel que distancia-o definitivamente de qualquer parentesco com a gênero cômico -, a essência da trama básica, que consegue segurar o interesse do espectador até sua conclusão – mesmo que, como já foi dito acima, ela não chegue a convencer de todo – e a crescente e bem delineada obsessão do protagonista com o enigma que insiste em tentar desvendar.
Porém, o mais interessante de tudo acaba sendo o modo como os defeitos e qualidades do filme não apresentam-se suficientemente intensas para qualifica-lo de modo categórico como um filme bom ou ruim – apesar das críticas americanas terem sido impiedosas com o resultado final de “Número 23”. Ao fim de tudo, a única coisa que este longa-metragem consegue afirmar de fato é o quanto Joel Schumacher permanece como um “operário” dos mais clássicos da indústria cinematográfica americana: se recebe um material excepcional em suas mãos, consegue superar sua falta de predicados para que a trama não sofra com o caráter um tanto ordinário de seu trabalho; se obtém um material fraco e derrapante, acaba descortinando suficientemente tudo o que lhe desmerece como cineasta. Via de regra, Scuhmacher amaina um pouco suas falhas intrínsecas, criando, na maior parte das vezes, filmes que mergulham na abordagem mais tradicional possível cujo resultado é uma diversão com defeitos bem aparentes.
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legenda (português):
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