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Tag: literatura norte-americana

“Aniquilação”, de Jeff Vandermeer [livro, download: ebook]

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Um grupo de quatro especialistas, de diferentes segmentos, são treinadas por uma agência governamental afim de explorar a “Área X”, uma região abandonada há muitos anos após um evento indeterminado deixá-la tão exuberante quanto ameaçadora.
Minha experiência na leitura deste livro foi tão surpreendente que senti aquela necessidade, em mim antigamente tão presente – hoje tão rara – de escrever sobre ele. Me interessei pelo livro ao ter contato com resenhas e comentários breves sobre a obra em alguns sites que eu costumava visitar há algum tempo – e que, curiosamente (mas com razão), nem visito mais. Todos que falavam sobre o livro o faziam sempre tecendo elogios à sua singularidade e bizarria. Não havia como, mais cedo ou mais tarde (e no caso foi mais tarde), eu não me aventurasse em descobrir o que de tão espetacular havia em suas páginas. De fato, encontrei idéias admiráveis ao percorrer as primeiras páginas de “Aniquilação”, no entanto, infelizmente, a medida que avançava, fui me deparando cada vez mais com algo que não deveria nem de perto ter encontrado: frustração.
Devo reconhecer que Jeff Vandermeer consegue, inicialmente, sustentar no leitor um interesse na história de seu livro devido ao engendramento de uma premissa fascinante e de uma atmosfera intrigante que, trabalhando juntas com os primeiros elementos do enredo, incutem uma curiosidade necessária para que a leitura prossiga em bom ritmo. Porém, esse efeito vai se esvaindo, aos poucos, a partir da segunda metade do livro, até que, no fim, quase nada resta a não ser uma considerável decepção. A razão para isso é apenas uma: os personagens, mal desenvolvidos, não exibem qualquer traço de carisma, elemento essencial para que o leitor sinta-se realmente conectado com o livro. É verdade que isso deve-se à própria natureza do enredo (e não há como ilustrar isso sem revelar parte da trama), mas um escritor experiente e criativo encontraria uma forma de construir a empatia entre personagens e leitor sem prejudicar a dinâmica do enredo que criou. Jeff, ao que parece, ainda não chegou nesse ponto de sua carreira, pois mesmo a protagonista do livro é despida de qualquer espécie de carisma, apesar da tentativa infrutífera de Vandermeer, lá pelas últimas cinquenta páginas de sua obra, de vestí-la em alguma sombra de encanto – e a situação só piora quando o leitor começa a notar que nem mesmo as criaturas que permeiam o mundo criado por Vandermeer, que deveriam ser formidáveis e aterradoras, não vão muito além de uma descrição confusa e pueril.
Com certeza os fãs de Jeff Vandermeer consideram que o mundo onírico criado pelo escritor americano é razão suficiente para colocá-lo entre os mais importantes do gênero na atualidade, e devo reconhecer que suas idéias, a princípio, seduzem. Porém, a meu ver, premissa e atmosfera alguma, não importa quão espetaculares sejam, serão suficientes se o leitor terminar o livro sem se importar com o destino dos personagens – tanto pior se o livro for parte de uma série, como é o caso deste, o primeiro de uma trilogia. Sim, a beleza, idiossincrasia e os mistérios da “Área X” intrigam, mas é necessário mais do que isto para que o leitor (ou um leitor como eu, ao menos) invista seu tempo em vários livros para descortinar seus segredos, isso sem falar que ele corre um risco nada desprezível de não obter a solução de boa parte daquilo que o intriga – e pelos comentários que li sobre os dois livros subsequentes, são grandes as chances de este leitor terminar a trilogia com o gosto amargo da insatisfação. É uma pena que Jeff, tão embebido em sua própria engenhosidade, tenha esquecido que sem personagens cativantes, não há paraíso que fique de pé.

Baixe (em português): https://www.mediafire.com/file/83ve3trvdwhpopp/ani-jeff.zip

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“Firmin”, de Sam Savage

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Firmin é um rato nascido de uma ninhada de treze outros de uma mãe alcoólatra e boêmia e criado no porão de uma livraria em um bairro antigo de Boston. Foi do contato com as páginas de livro roídas que formavam o ninho da família e sua fonte inicial de alimento que o pequeno roedor adquiriu a capacidade da leitura, maravilhando-se com o mundo de histórias contadas e criadas pelos homens. Encantado, Firmim sonha comunicar-se com eles para adentrar no seu mundo complexo e fascinante.
“Firmin”, primeiro livro publicado por Sam Savage, conta a história da demolição do distrito que cercaneava a praça Scollay, repleto de pontos de entretenimento, num bairro tradicional da cidade de Boston que foi aos poucos deteriorando-se até ser considerado pelos administradores da cidade um subúrbio marginalizado. Contudo, a ruína do bairro, a bem da verdade, é o pano de fundo para a narrativa apresentada em primeiro plano, a história do ratinho Firmin, cuja singularidade contraditória serve de analogia ao próprio distrito de Scollay: dotado da capacidade de leitura, adquirida pelo contato com páginas roídas que lhe serviam de berço e alimento, Firmin afasta-se das inflexões básicas de animal irracional e nutre afinidade com os humanos pela sede por informação e pela capacidade imaginativa que com estes partilha, assim como pela admiração que alimenta pela beleza feminina exposta em filmes do mais alto até o mais baixo nível. As suas particularidades “humanas”, porém, não superam aquela que é um dos traços mais representativos que rege o comportamento dos ditos seres irracionais: a ingenuidade. É por isso o pequeno roedor fantasia estabelecer de algum modo comunicação com os humanos para poder dividir com estes o amor que tem pelo seu mundo de conhecimento, mesmo tendo consciência de viver uma condição muito distante daquela que pertence aos seres que tanto admira, e que não apenas o impede de poder falar com os seres humanos, mas o impossibilita também de realizar todas as coisas que sonha poder. É por isso que essa inteligência incomum à constituição de seus iguais acaba funcionando para o ratinho mais como um imenso fardo do que uma benção, mergulhando-o em ilusões que nunca poderá fazer reais e em ambições impossíveis de ser atingidas.
Assim, a história criada por Sam Savage, por narrar os infortúnios de um protagonista que tem consciência de suas limitações, e também a ruína do bairro que é seu lar, revela já nas suas primeiras linhas a sua natureza duplamente melancólica, tonalidade esta que vai se intensificando a medida que o distrito de Scollay vai se aproximando de seu destino inevitável. Ao final, ao testemunhar a devastação do local que aprendeu a amar em cada detalhe, por mais vulgar que fosse, o pequeno ratinho acaba também tendo consciência de que seus desejos nunca se tornarão realidade e, arrasado, recolhe-se naquele que foi o lugar onde conheceu o mundo – o seu e o dos humanos que tanto o fascinavam. E o leitor, tendo ele próprio observado a trajetória deste pequeno grande personagem, acaba a última linha do livro tão arrasado quanto o próprio Firmin.

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