Jovem recém-formada e aspirante a jornalista disputa o emprego de segunda assistente da editora-chefe da mais influente revista de moda do mundo, apesar de ser abertamente desinteressada pelo mundo da moda. Mesmo sabendo disso, a editora-chefe, de personalidade egocêntrica e insensível quase intratável, a contrata. A agora jovem assistente vai enfrentar um mundo de obstáculos e contratempos por conta das exigências, muitas vezes absurdas, de sua chefe. O filme é baseado no romance parcialmente auto-biográfico da escritora Lauren Weisberger, já que ela trabalhou por anos como assistente da editora da revista Vogue americana. Sendo assim, muitos dos personagens – particularmente as duas protagonistas – são versões ficcionais de figuras reais.
Começo a resenha com uma pergunta por demais simples: é mesmo necessário dizer que Meryl Streep tem uma bela atuação no longa-metragem? Acho isso redundante, uma vez que a atriz americana raramente sai de um filme sem elogios. Por sua vez, Anne Hathaway, a jovem assistente Andrea Sachs, tem desempenho tranquilo como a sua personagem e consegue cativar a platéia com sua beleza delicada mas altiva. No entanto, o argumento do filme de David Frankel não prima pela originalidade: é mais uma estória de alguém superando desafios, convivendo com uma pessoa de personalidade difícil, passando a compreendê-la com a convivência, e que acaba atravessando um processo de auto-avaliação do que deseja para o seu futuro e de como vê a si própria – há uma pá de filmes que lidam com essa mesma linha argumentativa. Um segundo ponto relacionado à isto, e que acaba problematizando as chances dessa produção surpreender o expectador, é a variedade limitadíssima de conclusões da estória: ou o indivíduo se rende ao mercado, esquecendo o que antes almejava, e entra no grupo dos que sacrificam sua vida pessoal para manter o sucesso em um cargo altamente invejável ou a pessoa, ao final, joga tudo para o alto e volta a buscar e lutar por aquilo que sempre desejou. Tanto em uma possibilidade quanto na outra, o final do longa-metragem acaba caindo no lugar comum pela própria natureza da estória, que costuma limitar e evitar um epílogo de conteúdo excepcional e surpreendente. Porém, esses defeitos não chegam a fazer deste um longa-metragem ruim, eles apenas o impedem de se destacar entre os filmes do gênero. A produção caprichadíssima ajuda o filme: bela fotografia, trilha sonora bem escolhida, composta de canções pop/rock, elenco afinado, direção tranquila e, como não poderia deixar de ser, um figurino espetacular. Contudo, a personagem cativante construída por Hathaway e a composição novamente acertada de mais uma personagem de Streep é que levam o filme a frente, divertindo e segurando a platéia mesmo com uma estória já bem batidinha. É um passatempo divertido e descompromissado, que mostra o quanto bons atores podem ser, sozinhos, toda a razão de ser de uma produção. Assista sem muitas expectativas – as duas atrizes merecem isso.
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A hiper-produzida minissérie da HBO, baseada em peça de Tony Kushner e lançada no Brasil em 2 DVDs, é divertida o bastante para não aborrecer o espectador, mesmo em uma expectação ininterrupta de suas 6 horas de duração. O elenco é ótimo, a produção é requintada, a direção precisa. No entanto, há problemas.
Primeiro e, inevitavelmente, a obra cansa um pouco por ser exaustivamente gay e política: são muitos os personagens mal ou bem resolvidos sexualmente, e em ainda maior número os diálogos intricadamente políticos. Apesar de muitos possivelmente não concordarem, é especialmente cansativo o personagem Louis: gay, judeu e excessivamente politizado. É muita coisa em uma única pessoa. Não há como evitar de, a certa altura acha-lo, no mínimo, um chato concursado.
Segundo, apesar de despertar um certo interesse, o painel político tão discutido ali é o da rivalidade entre republicanos e democratas. Não há quaisquer impedimentos para o público brasileiro (ou qualquer outro não-americano) compreender a tônica da discussão. No entanto, a realidade ali apresentada não é a sua, e uma certa indiferença cresce na mesma medida em que os 2 DVDs se esgotam.
Por último, não saberia dizer se a retirada dos episódios celestiais/apocalípticos acarretaria em algum decréscimo da qualidade da obra. Talvez até ela ficasse mais enxuta, centrando mais seu interesse nas relações humanas e afetivas apresentadas e nos conflitos éticos e morais por elas acarretadas. Toda aquela coisa de anjos e profetas pode parecer fascinante num primeiro instante, mas ao cabo das 6 horas não há como não compara-las ao arremedo kitsch do além-vida da América de Glória Perez.