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Rachel Yamagata – Elephants…Teeth Sinking Into Heart. [download: mp3]

Rachel Yamagata - Elephants...Teeth Sinking Into HeartQuatro anos separam Happenstance, o disco de estréia de Rachel Yamagata, de seu mais novo lançamento, o álbum Elephants…Teeth Sinking Into Heart. E não há como não chegar à conclusão de que o tempo fez muito bem à artista: enquanto no primeiro a garota criou algumas boas faixas com enorme potencial de hits instantâneos, mas que não conseguiam ir mais fundo do que isto, neste seu segundo álbum Rachel traz à tona canções cuja sofisticação melódica, sabe-se, foi fruto de um amadurecimento que só se atinge com tempo suficiente para refletir e polir melhor aquilo que é gestado.
“Elephants“, a faixa que dá título ao primeiro disco deste álbum duplo, assim dividido por ser composto de duas atmosferas musicais distintas, é o retrato exato do aperfeiçoamento atingido por Rachel no cerne emocional das canções que compõe toda essa primeira parte de sua nova criação: para sonorizar a brilhante analogia entre as amarguras do amor e a selvageria predatória da cadeia alimentar das selvas, a garota explorou reverberações melancólicas em acordes de guitarra e piano, lançando mão também de uma bateria de andamento lento e pesairoso e de uma orquestração que preenche a melodia com matizes ainda maiores de sofrimento e mágoa. “Sunday Afternoon” é outra canção em que Yamagata e o produtor Mike Mogis operam com o emocional da canção sem resvalar um milímetro sequer da exacerbante classe e elegância que são a marca maior da primeira parte do álbum: guitarras de vibrações idílicas, bateria sorumbática, violão de acordes metálicos e uma orquestração de suave fulgurar tecem, na primeira parte da canção, nuances substancialmente pastorais que aos poucos são revertidas em um arranjo mais vigoroso e levemente sensual, finalizado por uma sequência plácida e serena. E apesar do trabalho primoroso no arranjo, muito da experiência fabulosa despertada ao ouvir a música é produzido pelo vocal da americana, que exprime a dor e tristeza de alguém que confessa tentar, de uma vez por todas, abandonar um amor que só lhe causa sofrimento cada vez maior – é a faixa que com mais intensidade sintetiza a atmosfera atormentada do disco.
Porém, ainda que ela subsista em todas as canções, essa atmosfera é suavizada em alguns tons em algumas faixas do disco, particularmente nas baladas. É o que ocorre nas canções “Over and Over”, que como a maior parte das músicas da primeira metade do álbum abusa do infalível arranjo de cordas, mas sem nunca deixar de apostar no protagonismo dos acordes de piano e bateria que exalam aroma de inequívoca paixão, e na extrema simplicidade de “Duet”, que emprega apenas um violão de acordes suaves para a composição harmônica que acompanha o vocal de Rachel e seu convidado, o cantor Ray Lamontagne.
Mas este é um álbum duplo, e o contraponto à melancolia rascante do primeiro disco é o furor faiscante de Teeth Sinking Into Heart, a segunda parte, composta de canções de um rock profuso, como se confere na fartura de guitarras, baixo, bateria e múltiplas camadas vocais de “Sidedish Friend”, na qual é declarada à aversão à qualquer tipo de compromisso afetivo, e na rítmica mais fechada e menos aguda produzida pela guitarra, bateria, baixo e marimba da faixa “Pause That Tragic Ending”, cujo acabamento é dado pelo arranjo de cordas algo febril.
Muito além do fato de que a artista explora as gradações de seu potencial artístico em cada uma das partes do disco – não há algo de muito novo nisso, pois Happenstance já encerrava no seu interior tanto a placidez de Elephants quando o frenetismo de Teeth Sinking Into Heart -, o grande diferencial deste novo lançamento para o primeiro é o testemunho de que o requinte que florescia na estréia foi tão aprimorado e amadurecido que ele torna-se palpável da primeira a última nota do álbum. Por isso que, diferentemente da própria Rachel, eu não me surpreendo que uma das maiores gravadoras do mercado dê suporte incondicional à um disco que se dá ao luxo de trazer uma faixa de quase dez minutos de duração. Posso apostar que para a Warner Records, o valor da artista não é o das cifras que ela possivelmente reverta nas vendas ou na popularidade que suas canções possam ganhar no rádio, TV ou cinema, mas o fato de que a presença de Rachel é um reforço considerável ao cast de artistas de primeiro escalão da gravadora, agregando ao selo a qualidade inquestionável de seu trabalho – algo bem mais duradouro do que o dinheiro fácil feito com o “gado” que compõe a maior parte dos contratados da indústria da música.
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Agradecimentos ao , que por vezes incorpora o meu feed musical.

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Emiliana Torrini – Me and Armini. [download: mp3]

Emiliana Torrini - Me and ArminiA islandesa Emiliana Torrini, depois de dois álbuns lançados internacionalmente – o primeiro, Love In The Time of Science, passeando pelo pop eletrônico enquanto o segundo, Fisherman’s Woman, divagando por sonoridades folk suaves – demonstra, com o lançamento do seu mais novo disco, que já não é mais uma artista com potencial, mas uma compositora amadurecida e em pleno controle e poder de sua capacidade criativa.
Em Me and Armini, a cantora exibe-se segura em compor não apenas dentro dos domínios do rock alternativo, que é a tônica maior do disco, mas de versar com toda tranquilidade e beleza em outros gêneros. A faixa título do disco, por exemplo, é um reggae recheado pela brandura do vocal de Emiliana, além do gingado tranquilo e carinhoso da bateria e guitarra – a letra também agrada aos ouvidos, tecendo uma ironia sutil ao dar voz à uma mulher que aguarda pacientemente que seu amante abandone a sua companheira em detrimento de sua própria companhia, a despeito de todos lhe dizerem que ela perde seu tempo. E as primeiras faixas só preparam os ouvidos para a qualidade inquestionável do trabalho que se testemunha à frente.
“Birds” chega arrasando sem qualquer necessidade de pisar fundo na melodia: com a segurança de quem sabe muito bem o que está fazendo, Torrini e seu produtor, Dan Carney, empregam no instrumental da canção violões, bateria, guitarra e baixo – este último dando um show à parte na “fuga” melódica da canção – manuseados com considerável parcimônia, além de algumas frugalidades à cargo de coisas como um teremin e piano, conferindo à canção uma tonalidade sonora que acaricia os ouvidos de modo fulminante. Faz sentido: a letra é de uma poesia ímpar, fascinando o ouvinte com a comparação tecida entre o desdobrar de um novo dia e a encenação de uma peça teatral a ponto de ninguém resistir acompanhar o canto da voz macia e doce de Torrini nestes versos. Na faixa seguinte, “Heard It All Before”, a islandesa já tinge o disco com as cores do seu rock: as guitarras, baixo, teclado e bateria escandidos com energia, as palmas e mandolim pra dar um tempero lúdico e o vocal no timbre e potência ideais servem como a carga inicial do armamento rock da compositora. Antes de prosseguir, porém, a garota faz graça ao colocar violão e guitarra ao mesmo tempo serenos e secos em “Ha Ha” para sonorizar o sarcasmo de uma mulher que desdenha de um sujeito que é incapaz de levar qualquer coisa à cabo, muito graças à sua boemia. “Jungle Drum” retoma a verve rock de Emiliana apresentando baixo, bateria e guitarra envenenados por um ritmo frenético, onde o vocal da cantora faz uma parceria imprescindível para compor o andamento e ilustrar com onomatopéias sonoras a louco pulsar de um coração intoxicado pela paixão, comparado nas letras à cadência feroz de tambores da selva. Mais à frente, “Gun” – que trata dos crimes e pecados de homens e mulheres mergulhados em relações fracassadas e ilegítimas – desacelera no ritmo, mas não no fervor de sua atmosfera rockeira: pontuada por gemidos, sussuros e por uma respiração ofegante carregados de erotismo, nada além de baixo e guitarras rascantes, com inserção ocasional de uma bateria febril, são usados como instrumentos para a concepção de uma melodia ferina e sensual. Algumas faixas a mais e chegamos ao fim do disco com “Bleeder”, uma canção profundamente delicada, que com a ajuda de piano de acordes ligeiros e distantes, de alguns acordes simples no violão e de uma orquestração de cordas de sutileza cativante serve ao propósito de registrar as confidências de uma mulher que tenta confortar o homem que ama, mostrando que ele é tão sujeito à ser rendido pela manifestação de emoções fortes quanto qualquer outro ser no mundo.
Comparada no ínício da carreira à conterrânea Björk por alguns críticos musicais apressados, Torrini logo reduziu essas declarações à vozes sem eco, afirmações sem relevância que merecidamente caíram em descrédito já no lançamento do seu segundo álbum. Com Me and Armini, Emiliana Torrini sedimenta de vez uma identidade musical própria – a de uma artista que ignorou o porto de idiossincrasias que a crítica musical enxerga existir na arte produzida na sua terra natal para singrar com sua nau à procura de mares e oceanos de sonoridades versáteis, porém mais simples, deixando para trás e à deriva o estereótipo com o qual os islandeses costumam ser embalados.

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Sharleen Spiteri – Melody. [download: mp3]

Sharleen Spiteri - MelodyExuberantemente pop. Essa é a definição mais breve e exata do primeiro disco de Sharleen Spiteri, vocalista da banda escocesa Texas. Com o lançamento de Melody, temos mais uma cantora se embrenhando no filão do pop nostálgico que virou a nova e mais rentável aposta das gravadoras e produtores da música britânica. E, se por um lado temos a repetição de uma fórmula já garantida de sucesso, por outro ela é feita com uma competência que garantiu um bom punhado de faixas irresistíveis no álbum – algumas até flertando com outras vertentes do pop, igualmente nostálgicas.
“It Was You”, que abre o disco, é uma delas: recheada com orquestrações de metal e sopros luxuosos em um swingue acelarado, puxado pela bateria, Sharleen já começa sem pudor de ser confessional, exorcizando o fim de um relacionamento de 10 longos anos ao declarar na letra da canção que, se algo morreu dentro dela, foi aquele que a abandonou. “All the Times I Cried”, onde vemos Sharleen dando voz à uma mulher desiludida com a mudança de comportamento do seu companheiro, continua investindo nas melodias cobertas de metais e cordas pomposas, ainda que agora, devido aos acordes delicados no piano, que é solicitado pela melodia no contraponto reflexivo da música, o tom seja ligeiramente mais triste. Já em “Stop, I Don’t Love You Anymore” a música não sossega um minuto sequer, já começando com arranjo de metais a pleno vapor e bateria e guitarra de pontuações dramáticas nos primeiros segundos da canção.
E já que se trata de um disco calcado na música pop, não poderia faltar em Melody baladas de fazer fechar os olhinhos e ficar perdido em devaneios românticos, certo? Sharleen sabe disso, pois caprichou em duas das baladas presentes no disco. Em “I Wonder” ela não deixa barato, colocando pra trabalhar um coro gospel, teclado, guitarra, baixo e bateria, todos com a malemolência do soul, dando ainda robustez ao refrão com orquestração de cordas e com o seu próprio vocal, crispando em sentimento, para sonorizar as queixas de uma mulher que diz ao companheiro que a abandonou que ela não esquecerá o sofrimento que passou quando eles se encontrarem novamente. E “Françoise” não faz por menos, explorando uma outra tonalidade, menos grandiloquente e mais sutil: apesar de ter sido feita em homenagem à cantora Françoise Hardy, o sabor que a brandura da guitarra e a docilidade do piano deixam é o daquelas músicas delicadas e de atmosfera idílica que ganharam fama em romances do cinema italiano dos anos 60, algumas das mais notórias na voz de Gigliola Cinquetti.
Contudo, é a vibrante alegria de “Don’t Keep Me Waiting” que faz desta a melhor faixa do disco: desavergonhadamente pop, a melodia transborda, sem medo de ser feliz, num ritmo intoxicante para o corpo, onde tudo, o arranjo pulsante de metais e cordas, a vivacidade do piano, da bateria e principalmente dos vocais, faz da vontade de dançar o imperativo ao ouví-la já nos seus primeiros segundos – e, diga-se, é difícil resistir à este convite.
Melody é um disco sem segredos: melodias harmonicamente perfeitas nos seus momentos inspirados, feitas sem qualquer ambição que não fosse a de colar nos ouvidos o dia inteiro e fazer quem as ouve cantarolá-las descontraidamente à qualquer momento – mesmo nos mais impróprios. Não é um álbum pra entrar na sua lista de obssessões favoritas, mas apenas pra ficar lá, na sua estante ou no seu acervo de mp3, prontinho a qualquer hora pra ser desfrutado pelo que ele é, um disco com algumas boas canções pop, sem surpresas e sem rodeios.
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Duncan Sheik – Phantom Moon. [download: mp3]

Duncan Sheik - Phantom MoonEu já disse por vezes aqui que alguns artistas e discos levam tempo pra crescer entre minhas preferências. Alguns eu conheço e ouço há anos, mas quando perguntado do que eu gosto, não chego a citá-los prontamente porque não atingiram ainda o ponto em que podem ser considerados artistas favoritos. Contudo, há pouco um deles saiu da minha lista de ostracismo cultural e se aproximou dos que perfazem as minhas preferências – o cantor e compositor americano Duncan Sheik. De todos os discos que lançou, só ouvi até hoje seus três primeiros álbuns – onde seu trabalho exibe uma enorme atmosfera pop/folk -, e apesar de que Humming é o que mais escutei, foi Phantom Moon que me fez olhar novamente para o artista, de lá de seu local de repouso na minha cultura musical. O disco é um trabalho requintado e cuidadoso tanto de melodias quanto de letras – estas, por sinal, escritas pelo dramaturgo e poeta americano Steven Sater -, nas quais ainda que variem consideravelmente em tonalidade e intensidade, acabam por compor um todo de homogênea melancolia. Na faixa “Mouth On Fire”, por exemplo, para transmitir na melodia a mesma magnânima estupefação do eu lírico das letras – que vê tudo o que entende e crê perder todo o seu sentido diante do que vive no momento -, Duncan pôs em serviço violões de acordes suplicantes e ligeiros para trabalhar com bateria, arranjo de cordas e com as várias camadas de seu vocal, construindo uma música que só reduz sua densidade melódica sôfrega no seu último minuto e meio. É justamente o oposto do que nos é apresentado em “Lo and Behold”, onde o cantor e compositor se utiliza de piano, orquestração de cordas e da beleza inequívoca de sua voz jovem, macia e pungente para, de modo supremamente fabuloso, construir na música e nos sentidos do ouvinte um crescendo melódico que suplanta de modo inevitável todas as suas sensações – algo que condiz com as letras, inspiradas na enorme emoção de Simão ao ser apresentado à Jesus no no templo de Jerusalém, passagem do evangelho de São Lucas. Em outras canções, no entanto, a variação é menos intensa, já que Sheik cultiva uma sutileza maior no andamento delas. Exemplos disso estão na melodia fulgurante de “Time and Good Fortune”, que com matizes criadas por violas, bateria e orquestrações evoca a placidez de um cenário bucólico esplendorosamente invadido pelos raios do sol, na cadência suave e gentil da guitarra, bateria e piano da balada “Far Away”, que exibe o calor ameno de uma paixão madura, na perfeição do compasso folk/rock graciosamente vigoroso entre violões, órgão, percussão e vocal da faixa “A Mirror In The Heart”, que imprime sensações de revelação e urgência, e na plangente serenidade dos violões e do vocal de Duncan em “Requiescat”, que explora sonoramente a mesma resignação da súplica, nas letras, pela paz de espírito de alguém que se foi, e pelo equilíbrio de quem ficou.
Phantom Moon é nitidamente daqueles discos que não se repetem na carreira de alguém – ficam lá aprumados em sua inatingível superioridade, resultado de um momento ímpar no qual o artista encontra-se imbuído de uma inspiração inigualável. Ao mesmo tempo que isso é uma verdadeira preciosidade para um músico, pelo simples fato de que tal obra foi concebida, também se converte em um empecilho, uma vez que dificilmente se consegue superar, ou mesmo atingir, igual nível de qualidade em obras posteriores. Mas essa busca é, felizmente, o “santo Graal” que é a força-motriz por trás de todas as expressões artísticas, o alimento mais que necessário para sua continuidade.
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Cartier – Love (Vários Artistas). [download: mp3]

Cartier - Love - Vários ArtistasProjetos musicais que reúnem cantores e bandas em prol de caridade ou causas sociais acabam nunca interessando de fato porque os artistas ligados ao projeto não se dão ao trabalho de produzir algo que tenha realmente qualidade, se contentando com covers ou, quando muito, liberando algo que não passou pelo seu próprio crivo. Mas a coisa pode ser ainda pior quando aquilo que vai ser produzido reúne os artistas em parcerias desiguais e sob as amarras criativas do tema em questão – geralmente causas sócio-ambientais. Felizmente, mesmo que algumas coisas acabem não sendo exatamente um atrativo, esse não é o caso do projeto, “Love Cartier” com o qual acabei me deparando há poucos dias, uma iniciativa bem pensada da famosa joalheria francesa que, como já indica o nome, tematiza sobre o amor. Parte de um projeto que inclui a produção e venda de jóias cujos ganhos são revertidos para a caridade, a “perna” artística do projeto compreende o lançamento gratuito na internet de 12 canções compostas e interpretadas, em sua grande maioria, por artistas da nova seara de música independente. E, devo confessar que muitos deles eu sequer tinha ouvido falar na minha vida. É o caso do britânico Dan Black, que contribuiu para o projeto com “Liz And Jonny”, um pop/rock com uma programação e um riff no teclado compondo uma síncope bem desenhada, daquelas realmente pegajosas que fazem o ouvinte entoar a letra em falsetes semelhantes ao timbre do vocal de Black, tamborilar os dedos no ritmo da música e fazer um beat-box imitando a pegada da bateria sem se dar conta. Outro ilustre desconhecido para mim é Hawksley Worksman, que trouxe para a coletânea de músicas da Cartier a faixa “The Ground That We Stand On”, uma balada muito inspirada e emocionante, com fartura de vocais de apoio ampliando o lirismo da melodia, acompanhados de um arranjo feito de toques firmes porém doces tanto nas cordas do violão quanto na superfície da bateria e percussão, além de algumas sintetizações que agem como uma cola, unindo todos os elementos sonoros sem deixar qualquer fresta. Pauline Croze, por sua vez, não é exatamente uma desconhecida para mim, mas como nunca tinha me dado ao trabalho de conferir alguma composição sua, acaba dando no mesmo. “Sur l’écorce” é a faixa que compôs para a Cartier, uma canção onde os acordes das várias e diferentes camadas de guitarra soam tão metálicos, agudos e um tanto rústicos quanto o é o vocal da cantora francesa, o que resulta em uma canção que causa estranhamento à primeira audição, mas que ganha simpatia depois que lhe é dada mais atenção.
Claro, como eu acabei desenvolvendo a síndrome do indie desde que este blog sedimentou sua existência na blogosfera, alguns dos ilustres desconhecidos não o são de todo para mim. Sol Seppy, por exemplo, é uma das artistas do mundo indie que mais adoro e admiro desde que ouvi sua única obra até hoje, o disco The Bells of 1 2. Sua composição para esta coletânea, “I Am Snow” é o simulacro do seu estilo espetacularmente doce, taciturno e etereamente difuso, construída com toques delicados e doces em um piano distante, um violão silencioso e uma programação que evoca tanto o conforto melancólico da escuridão da noite quando o contentamento radiante da claridade do dia, tudo acompanhado do vocal fabulosamente pacífico e terno desta artista que merece ser muito mais conhecida.
Mas entre os artistas de menor projeção podemos encontrar outros que já tem uma história bastante longa no mundo da música. Um deles é o compositor japonês Ryuichi Sakamoto, famoso pelas suas inúmeras contribuições na músicas pop, na música erudita e na composição de trilhas sonoras, sempre com incontáveis parcerias lhe fazendo companhia. Para o projeto Love Cartier, Sakamoto sentou-se no seu piano e trabalhou em uma de suas indefictíveis improvisações, produzindo uma peça de enorme placidez e serenidade acústicas. Sentindo necessidade de algo a mais, o compositor enviou a composição para um de seus muitos amigos e colaboradores, o compositor austríaco Christian Fennesz, que adicionou à peça suas conhecidas intervenções eletrônicas, compostas sobre guitarras trabalhadas, distorcidas e subvertidas em softwares de áudio – o resultado é “Mor”, uma composição delicada e sofisticada, transbordando ternura e melancolia.
Entre as doze composições escolhidas e ofertadas, sobrou espaço até para que alguém não tem exatamente uma carreira no mundo da música. A atriz francesa Marion Cotillard, apesar de ganhar fama com o Oscar que recebeu por um papel que tudo tem a ver com o mundo da música, na verdade, até hoje, só fez algumas poucas participações neste meio, assim como o faz aqui neste projeto, com a belíssima balada “The Strong Ones”, cuja melodia atinge em cheio os ouvidos com o vocal quente e macio da atriz e cantora sobre violão, bateria e guitarras de cadência lenta e melancólica – dá vontade de deitar no chão e dar vazão à toda sua sensibilidade acompanhando a cantora nas letras da canção, que falam sobre como mesmo aqueles que se julgam fortes se descobrem inequivocamente frágeis diante da força incomensurável do amor.
Mesmo que nem todas as músicas que integram o projeto possam agradar ao público, o projeto já tem grande utilidade ao dar à chance para que qualquer um tenha contato, de uma só vez, com artistas desconhecidos com um trabalho de qualidade, ao trazer novas composições de artistas que por ventura já conhecemos e adoramos e, de quebra, ao mostrar que nem todo projeto musical que advém de ideais de caridade pode ser chato, aborrecido e artisticamente pobre e cafona – esse, talvez por conta de sua idealizadora e patrocinadora, exibe uma elegância e charme gratificantes.
Baixe todas as faixas em um pacote único ou selecione aquelas que mais possam lhe interessar, utilizando o site oficial do projeto, o Love Cartier – e não deixe de comentar aqui no seteventos.org sobre suas próprias impressões com relação às canções.

Pacote único com as 12 músicas:

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Site oficial “Love Cartier” para seleção de faixas para download:

http://love.cartier.com/

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Joan As Police Woman – To Survive (+ 1 faixa bônus). [download: mp3]

Joan As Police Woman - To SurviveO segundo disco da banda de Joan Wasser não encanta tão prontamente quanto o primeiro, principalmente porque algumas poucas canções, como “Magpies”, um pop-soul setentista com direito inclusive aos vocais de apoio e arranjo de metais que remetem ao estilo da época, ensaiam conquistar o gosto do ouvinte mas se perdem tanto em descaminhos melódicos tão inócuos e aborrecedores, quando não absolutamente irritantes, que acabam interferindo na apreciação adequada das demais faixas do disco. No entanto, superada a irritação que essas canções causam por algum tempo, as outras faixas revelam logo os seus enormes predicados, algumas de modo lento e crescente, liberando paulatinamente sua beleza à cada apreciação – é o que acontece com “To Be Loved”, faixa que envereda de modo mais sutil no mesmo pop-soul nostálgico de “Magpies”, mas que é mais feliz ao ser balanceada com um teclado de cores quentes e um piano de notas graves, ambos dedilhados de modo suave e apoiados por uma guitarra e bateria que aquecem discretamente a melodia tanto quanto o próprio vocal macio de Joan -, outras de modo mais imediato e impactante – como “Holiday”, que une acordes deliciosos no violão, no piano, e na bateria para compor uma melodia ao mesmo tempo ágil e graciosa, que cede bastante espaço para a voz encantadora da cantora americana. Sempre inspirada por referências musicais de décadas passadas, Joan é capaz de compor faixas que lembram desde a romântica melancolia da “new wave” do final dos anos 80 e início dos 90 – falo aqui da esplêndida “Start of My Heart”, cuja música é guiada por uma bateria e baixo de cadência lenta, salpicada por uma guitarra de acordes extensos e serenos e preenchida por uma sintetização que cria ondulações ao ser continuamente sobre e sobposta à instrumentação restante – até ao glamour do pop americano que sonorizou bares, discotecas e qualquer festa que se prezasse há cerca de 40 anos – claro que me refiro à faixa “Furious”, marcada por um compasso ligeiro de bateria e teclado, reforçado por piano de acordes dramáticos e prodigiosos e um coro de palmas que recheia o fundo da melodia, além dos vocais adicionais que adensam ainda mais o nostalgia sonora – tudo, porém, com um senso de naturalidade e graça que torna esse caldo saudosista algo de muito bom gosto. No final do disco ainda sobra ânimo para um dueto delicioso com Rufus Wainwright em “To America”, que é introduzida por um piano algo desolado e logo subvertida por um arranjo fabuloso que toma de assalto a música com saxofones, guitarras e sintetizações enormemente melódicas e verborrágicas, fechando de modo brilhante este disco que, a esta altura, faz esquecer qualquer possível menção de tropeço que inicialmente o marcasse.
Baixe o disco utilizando o link a seguir e a senha para descompactar os arquivos – e não esqueça de baixar logo depois a faixa bônus “Take Me”, liberada com exclusividade na web aqui pelo seteventos.org.

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Faixa bônus “Take Me” (do single “To Be Loved”):
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Beth Rowley – Little Dreamer (+ 1 faixa bônus). [download: mp3]

Beth Rowley - Little Dreamer
Little Dreamer, disco de estréia de Beth Rowley, inglesa de loiríssimos cabelos cacheados vistosos, tem faixas que enveredam por caminhos distintos, algumas vezes mesclando várias referências – há algo de soul e rhythm & blues, muito de blues com generosas doses do estilo gospel, algo de um pop nostálgico. Pra ser bem sincero, a maior parte dos gêneros musicais por ela explorados, isolados ou em combinação, normalmente não me inspira qualquer atenção, porém vez por outra o carisma do músico consegue transpor as limitações pessoais. E é com a graça e o charme que impõe à essa fusão de estilo em suas composições e covers que permeiam o disco que Beth consegue angariar a simpatia do ouvinte, mesmo que, aqui ou ali, cometa um resvalo qualquer no caminho – como é o caso da canção “So Sublime”, onde bateria, guitarra, piano e orgão, lacejadas pelo vocal afetuoso e adocidado de Beth, tentam resgatar o charme gostoso do inofensivo pop-setentista americano, mas conseguem mais é tecer uma melodia pop animadinha, mas um tanto quanto apagada e aborrecida.
Contudo, os acertos pagam o troco dos erros com uma folga considerável. O primeiro deles é a versão de de Beth para “Nobody’s Fault But Mine”, canção gravada por Nina Simone que ficou popular na regravação da banda Led Zeppelin: com guitarra, orgão, piano e bateria elegantemente tristes compondo o arranjo blues e um vocal inspirado da bela loirinha inglesa, a melodia, que já soava formosa, é cravejada de emoção com a participação de um coro gospel de andamento lento e consternado na metade final da música. Mais à frente, duas faixas sustentam os melhores momentos do álbum formando um conjunto pop requintado e delicioso: o single “Oh My Life”, abusa do sax que percorre toda a melodia sedutora da bateria, piano e guitarra, com direito até à um solo na ponte sonora, além do vocal da garota, que se mostra potente na canção, e não muito depois a faixa “You Never Called” recorre à semelhante companhia, criando uma cadência bem arranjada entre piano e bateria, com a inserção discreta mas importante de alguns acordes de guitarra e orgão, além de apresentar ainda o mesmo sax em participação ocasional e bem-vinda no refrão da canção. Por sua vez, as faixas “Almost Persuaded” e “When The Rains Came” garantem ao gospel a sua parte no que de melhor há em Little Dreamer: a primeira com uma música que explora a emoção fazendo uso unicamente de piano e vocais, com alguns suspiros do orgão ao fundo, enquanto a segunda puxa a influência para a atmosfera típica de um hino religioso com as clássicas e irresistíveis palmas e o orgão indefectível de toques expansivos e alegres. E são três covers que, cada um ao seu modo, na cadência certeira do pop, soam marcantes no ouvido de quem aprecia a estréia de Beth: o dueto de Beth com Peter Wilson, conhecido pelo pseudônimo Duke Special, em “Angel Flying Too Close”, preenche os ouvidos com uma melodia delicada e terna, feita de toques cálidos na guitarra, orgão e vibraphone, além de sopros graves mas suaves e do vocal intensamente sensível de ambos os artistas; o cover de “I Shall Be Released”, de autoria de Bob Dylan, tempera a melodia plácida com um pouco de reggae de cadência charmosa e animada; e a faixa bônus, uma revisão de “Be My Baby”, clássico dos anos 60, suaviza os contornos pop da canção preservando a sua doçura ao focar-se apenas no vocal de Beth e seu coro de apoio e em um discreto contrabaixo manejado com parcimônia.
Deve-se lembrar que é um terreno minado e difícil este em que Beth Rowley se embrenhou: a garota é boa e sua música seduz, mas ainda que explore campos mais vastos e diversos, inevitavelmente esta sua sonoridade trafega pelo estilo de Amy Winehouse e suas inúmeras contrapartidas, estilo este que já virou moeda corrente no mundinho da música e, assim, vai ser bem pouco provável que seu nome se torne realmente popular dentre as ínúmeras aspirantes à mais nova estrela em um terreno que já virou lugar comum. Paradoxalmente, é justamente por ser uma aspirante que seu trabalho soa mais fresco e interessante do que aquele que já foi ostensivamente laureado por crítica e público.
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Camille – Music Hole (+ 1 faixa bônus). [download: mp3]

Camille - Music HoleCom o que fez no álbum Le Fil, seu segundo disco solo, Camille Dalmais chamou tanto a atenção de crítica e público do mundinho da música alternativa que, não é exagero afirmar, alavancou para si o posto de maior sensação da música francesa nos últimos anos. Por esse motivo, o seu álbum subsequente vinha sendo aguardado ansiosamente pelos fãs que não sabiam o que esperar da francesa depois do experimentalismo pop de Le Fil. Com o lançamento de Music Hole nesta segunda-feira a curiosidade foi saciada: no seu novo projeto, Camille dá continuidade à exploração da musicalidade desenvolvida no disco anterior, que esquadrinhou, com temperança, as possibilidades da voz humana como instrumento melódico. Na canção “Cats and Dogs”, Camille mostra isso de forma deliciosa, povoando a segunda metade da faixa, até então constituída apenas de um piano de acordes doces e uma “tuba vocal”, com um almanaque de vozes que mimetizam festivamente toda uma variedade de grunhidos, gritos e urros do mundo animal: pássaros, porcos, elefantes, macacos, cabras, sem esquecer, claro, dos personagens que são a tônica da música – cães e gatos. Mas, além de retomar a pesquisa musical produzida até Le Fil, a cantora e compositora francesa adiciona ao seu repertório experimental a percussão corporal, um novo elemento melódico que incrementa ainda mais a experimentação desenvolvida por ela em suas composições. A utilização deste novo elemento na construção das melodias pode ser conferida em toda sua glória na faixa “Canards Sauvages”: para emular um samba frenético, Camille contou com a ajuda de participantes do grupo brasileiro Barbatuques, que tamborilaram no próprio corpo para produzir a sonoridade percussiva acelerada que faz a base da melodia, composta ainda de ruídos de água nervosamente agitada e de múltiplas camadas da voz de Camille – capaz até de simular uma impagável cuíca vocal.
E já que estamos falando de voz – e como não falar disso, quando tratamos de Camille? -, vamos falar de uma consequência sua: a língua. Ao contrário dos discos anteriores, Music Hole privilegia o inglês. Porém, as letras contam sempre com algumas boas rajadas da língua pátria da cantora quando a idéia é imprimir uma fluidez ao ritmo – algo fácil de notar no vocal de suporte que introduz a faixa de abertura “Gospel With No Lord”, cheia da já conhecida vitalidade sonora da francesa, que joga jovialidade na música com boas doses de estalar de dedos, palmas e, na sequência final, um piano discreto e uma percussão seca encorpando a melodia.
No entanto, quem conhece Camille sabe que a garota não sabe fazer só festa: sua capacidade de emocionar com composições tristes é também algo notável. Neste caráter, destacam-se a faixa “Winter’s Child” – que explora vocais melancólicos em trama algo arábica, sustentada na base por um vocal grave a la Le Fil, e no primeiro plano por uma combinação de versos em inglês e francês, com os quais a cantora abusa da sensibilidade espetacular de sua voz – e as baladas “Waves” – com um piano de acordes esparsamente dramáticos acompanhado por um arranjo vocal encantador que simula em sua rítmica a ondulação oceânica – e “Home Is Where It Hurts” – que é introduzida com um conjunto cativante de acordes de piano e baixo beat-box, que logo ganha a companhia de uma programação com cadência densa e vocais de apoio envolventes.
Ao invés de mudar de curso sem respeitar a coerência do que já produziu, tentando reinventar a si própria, em Music Hole, Camille mostra porque é considerada uma das artistas mais importantes da música pop contemporênea mundial ao, de modo perspicaz, dar um passo a frente com prudência, brincando com o seu vibrante vanguardismo pop ao mesmo tempo que cuida não ultrapassar os limites que estabeleceu para tornar seu trabalho sempre deliciosamente acessível. Deste modo, Music Hole é, ao mesmo tempo, um disco arrojado e simples, cujas texturas melódicas soam inovadoras sem nunca perder a sensatez e bom gosto – um bálsamo pop para ouvidos cansados das agressões deselegantes que, infelizmente, são comuns à muito do que é feito no gênero atualmente.

E aproveite para baixar “I Will Never Grow Up”, a faixa bônus de Music Hole que o seteventos.org está disponibilizando com exclusidade na web. Comentários de agradecimento serão muito apreciados, viu? Agradeçam, em particular, ao meu cartão de crédito internacional – sem anuidade!

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Portishead – Third. [download: mp3]

Portishead - ThirdDepois de um longo hiato de dez anos, a mais emblemática banda de trip-hop, o Portishead, retoma a sua carreira lançando o seu terceiro disco de estúdio, apropriadamente entitulado Third. O disco, que vazou na web no início deste mês, tem sido avaliado pelos fãs como fruto de um Portishead bem mais experimental, cujas letras e melodias soam menos melancólicas e sofridas do que nos dois álbuns anteriormente lançados. Depois de ter cautelosamente apreciado o disco um número razoável de vezes, posso afirmar com toda a tranquilidade que esta não é a minha impressão de Third. Canções como “Plastic”, programada sobre um loop em que bateria e demais ruídos apresentam um crescendo breve e firme e finalizado por uma bateria esmurrada de modo esquizofrênico, e “Threads”, que sustenta, ao fundo, uma nota aguda de violinos do início ao fim, apresentando também uma bateria e baixo que alternam uma cadência exausta com outra que, no refrão, transforma a exaustão em vigorosa ira, ajudam a desfazer tal impressão, pois trazem as mesmas letras um tanto depressivas, a mesma morbidez obscura e o mesmo vocal amargurado que os fãs da banda já mapearam, nos seus mínimos detalhes, nos dois registros anteriores da banda. Mas há sim alguns elementos novos neste Portishead dez anos envelhecido.
A diferença que se mostra mais visível no primeiro contato com o disco é a influência do trabalho mais famoso da vocalista Beth Gibbons fora do Portishead, lançado na exata metade do hiato da carreira da banda: “Deep Water”, com seu banjo country-folk, seu coro de tom grave, porém de tonalidade doce e plácida, e “The Rip”, que na sua metade inicial baseia sua melodia em um violão gentilíssimo, acompanhado por um vocal distante, algo atemporal, tem os traços inconfundíveis do folk sereno e nostálgico de “Out of Season”, parceira de Beth Gibbons com Paul Webb.
Mas é só depois de algumas apreciações mais atentas que o elemento distintivo que foi classificado como “experimentalismo” pelos que se apressaram a comentar o disco mostra contornos mais definidos: de algum modo, a essência sonora de algumas canções compostas pelo Portishead em Third tem bem menos densidade do que aquela presente em Dummy, disco de 1994, e em Portishead, de 1997. Em faixas como “Machine Gun” e “We Carry On” prevalece uma programação que focaliza-se em uma gama menor de fontes sonoras, que tende a trabalhá-lhas em samplers e loops de variação menor, mais curta e mais repetitiva, o que acaba por produzir uma monotonia melódica um tanto cansativa, algo um tanto distante das bases mais elaboradas, estudadas, rebuscadas e de instrumental mais moderadamente variado das composições dos dois primeiros discos – e ambas as canções só se sustentam mesmo pela interferência de programações adicionais: na primeira, pela introdução ocasional de uma programação com uma guitarra de riffs matadores e uma bateria mais encorpada e sólida; na segunda, pela sintetização mais intensa que surge sobre a base seca e suja, bem no minuto final da faixa. No entanto, em uma música esta abordagem mostrou que pode mesmo resultar em algo que agrade mais os sentidos: a base sonora de “Nylon Smile” tem mais apelo aos ouvidos, produzindo uma cadência hipnótica e homogênea, parceira ideal dos acordes leves, lentos e esporádicos da guitarra e das vocalizações macias, levemente sensuais de Gibbons no fundo da melodia.
Apesar de um ou outro equívoco na concepção de algumas faixas, Third tem músicas suficientemente boas para recolocar o Portishead no mundo da música, um lugar bem diferente daquele em que a banda lançou o seu segundo e, até então, último álbum de inéditas. Nesta realidade que se apresenta, na qual bandas modestas, muitas vezes quase “caseiras”, ganham notoriedade cada vez mais rapidamente, mesmo bandas consagradas como o Portishead, um ícone incontestável do estilo que ocupa, tem que mostrar serviço e um interesse sincero pelo seu público e pelo seu próprio trabalho. Afinal de contas, há sempre o risco – hoje mais do que nunca – de ser colocado em segundo plano até mesmo pelos fãs mais fiéis, seduzidos por artistas um tanto mais prolíficos e menos displicentes com sua produção musical.
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Keren Ann. [download: mp3]

Keren AnnKeren Ann, jovem pertencente aquela seara de artistas europeus multi-étnicos que está cada vez se tornando mais comum, tem já uma discografia considerável, mesmo tendo iniciado sua carreira apenas neste novo século. Seu mais recente álbum é um trabalho onde a elegância e simplicidade são sugeridas já no contato mais imediato e superficial com o disco: tanto a ausência de título para o trabalho, que se contenta em levar o nome da artista, quanto a fotografia escolhida para ser a capa do álbum, uma bela mas discreta imagem da cantora e compositora em tons predominantemente claros, conseguem transmitir a idéia de um disco despido de quaisquer ambições que ultrapassem seu objetivo mais visível, a sinceridade das emoções. E é justamente nelas que a linda morena, de olhar sedutor, altivo e misterioso, conquista o ouvinte. Faixas como a balada “In Your Back” – onde o violão de leve pesar, a orquestração de cordas de inspirada ternura na ponte da canção, e a programação suavemente cintilante abrem caminho para que a voz cheia de mágoa de Keren materialize-se com maciez imediata -, a sutil “The Harder Ships Of The World” – que, ornada por violão, guitarra, piano e programação serenas, compara as turbulências e o destino de um romance à uma jornada àrdua que parece sem rumo e fadada ao fracasso – e a plácida “Where No Endings End” – onde o arranjo delicado e cuidadoso composto de violão, flauta, piano, guitarra e orquestração de sopros e cordas breves e eventuais ambientam a letra que fala sobre um amor que fatalmente encontra seu fim – sucedem em cativar os ouvidos ao expor sentimentos sem muitos volteios, de modo franco. Músicas de cunho pop mais animado também ganham seu posto no disco da artista de origem indo-européia que nasceu em Israel mas que cresceu na França – como “Lay Your Head Down”, uma canção que fala sobre a entrega completa ao amor e que traz um arranjo farto feito de guitarra, baixo, bateria, gaita, orquestração de cordas e sampler de palmas que entra parar intensificar a vibração positiva da canção, principalmente na sua metade final -, assim como há espaço na ambiência mais reflexiva do disco para um momento ácido e lânguido – caso de “It Ain’t A Crime” que, com vocal sensual de Keren, traz as impressões do que parecer ser uma garota de programa sobre o comércio da luxúria em meio à toques firmes na bateria e nas guitarras rascantes. De brinde ainda temos “Liberty”, canção que tanto em sua melodia – feita de toques tépidos no piano, acordes adocicados no violão, orquestração suavemente reluzente de cordas e algum sopro e o backing vocal etéreo posto sobre sussurros indistintos e brandos -, quanto em sua letra “emula” a atmosfera das composições de Björk para o seu disco Vespertine. Esse é sem dúvidas um disco para se ouvir refastelado no sofá, saboreando de modo tranquilo e preguiçoso o inabálavel gosto de Keren pelas melodias pacatas e pelos romances bem ou mal-aventurados.
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