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Tag: musica europeia

Hoje – Amália Hoje. [download: mp3]

Hoje - Amália Hoje

Criação paralela de quatro músicos de diferentes bandas do cenário atual da música portuguesa, o projeto Hoje, muito semelhantemente ao disco solo de Fernanda Takai, foi criado especialmente com a idéia de produzir regravações de faixas emblemáticas gravadas por uma das mais célebras cantoras de fado, a portuguesa Amália Rodrigues. Para a nada fácil tarefa de dar voz aos versos tornados famosos por Amália, foram chamados Fernando Ribeiro, parte da banda Moonspell, Paulo Praça e Sónia Tavares, esta última membro do The Gift e detentora de uma voz grave, de matizes líricas, que ecoa fundo nas músicas. A caprichadíssima produção do disco, a cargo de Nuno Gonçalves, também membro do The Gift, mistura o transbordamento luxuoso de arranjos orquestrais com o sutil experimentalismo de elementos eletrônicos. É o caso exemplar de “Abandono”, que com um andamento acelerado de bateria, acordes marcantes de piano e várias camadas de vocais é mergulhada em sintetizações espiralantes e em um arranjo de violinos incessante e vertiginoso. “Grito”, que é iniciada com uma base suave de um bolero, mas em pouco tempo é inundada por um onda de violinos intensamente melancólica e dramática que é a combinação ideal à voz triste de Fernando e ao vocal de apoio de Sónia, e “Gaivota”, cuja melodia pomposa devido à programação e acordes de piano espalhados pela canção vai crescendo paulatinamente e ganha um acabamento cada vez mais épico pela orquestração farta, pela percussão em tom marcial na ponte sonora e pelo arranjo escandalosamente cinematográfico de cordas, são também faixas que aliam camadas sinfônicas com intervenções eletrônicas sutis.
Há, porém, momentos em que um elemento sonoro sobressai na melodia, como em “Formiga Bossa Nova”, famosa neste lado do Atlântico na voz de Adriana Calcanhotto, que apesar de não ter ganho dos portugueses uma versão tão lúdica quanto a da brasileira, recebeu um tratamento modernoso e upbeat, cujo ritmo sutilmente swingado da percussão eletrônica e do solo de trompete é salpicado por ruídos, distorções e iluminuras sonoras que aquecem a melodia. Já na belíssima versão de “Medo” acontece o oposto: é a veia sinfônica do álbum que se projeta dona da melodia, acompanhando a espetacular interpretação teatral do vocal de Sónia, que se debulha em sofrimento para fazer frente ao arranjo orquestral inacreditavelmente impecável da London Session Orchestra.
Mas é talvez a sensibilidade na seleção das faixas a grande sacada deste projeto português, como bem se percebe na abertura e fechamento do álbum do grupo: enquanto a suntuosa versão de “Fado Português” apresenta ao conhecimento dos ouvintes uma das prováveis origens deste gênero musical, que dizem deter em si tanta melancolia e nostalgia porque foi criação daqueles que lançaram-se aventureiros ao mar há tantos séculos atrás para desbravar os oceanos, “Foi Deus” fecha o disco chorando admirada as belezas do mundo e divagando sobre a melancolia do fado em uma melodia elegante, que inicia calma e balanceada com o vocal de Paulo Praça e avoluma-se repentinamente ao ser tomado pela extensão do vocal esplêndido de Sónia Tavares e ganhar o peso do arranjo orquestral soberbo que encerra o disco majestosamente.
Muitos em Portugal, em sua maioria fãs de Amália Rodrigues, torceram o nariz para o disco, isso quando não fizeram questão de vociferar toda sua ira por considerar uma heresia regravar deste mito da música portuguesa. A revolta faria algum sentido se o projeto não tivesse respeitado a essência original das canções e resultasse em um apanhado de covers equivocados e de mau gosto, mas não é este o caso de Amália Hoje, que consegue preservar a aura do fado mesmo embalando as canções em uma produção requintada e instrumentalmente rica – o resultado, claro, é gritantemente pop, mas isso nunca vai ser um defeito quando é de bom gosto, não?

senha: seteventos

ifile.it/ik6js4t/amalia_-_today.zip

a dica da banda foi dada pelo leitor raukai – levou 10 meses, mas eu resenhei, viu?

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Madredeus – Faluas do Tejo. [download: mp3]

Madredeus - Faluas do TejoFaluas do Tejo, lançado em 2005, é mais um disco que pode ser definido como um dos melhores do grupo Madredeus, ao lado de Ainda, trilha sonora do filme “Céu de Lisboa”, de Win Wenders. Plácido e tranquilo, o disco parece ter sido fruto de um momento iluminado da banda, onde a inspiração para composição apresentou-se no mais alto grau de sofisticação, a sensibilidade dos músicos surgiu extremamente apurada e a clareza e emoção da voz de Teresa Salgueiro encontravam-se ideais. Talvez toda essa conjunção de estados perfeitos deva-se à grande inspiração temática do disco: o encanto da cidade de Lisboa. Três das melhores composições do disco citam diretamente as belezas da capital portuguesa em suas letras: tanto “Lisboa Rainha do Mar”, que recorda a era dourada da cidade, quando Portugal lançava-se mar adentro a desvendar velhas e novas terras, fascina com violões e vocais gentios e suavíssima programação ao fundo, fruto de um orgão Hammond divinamente discreto, quanto “Adoro Lisboa”, uma declaração apaixonada à cenários e paisagens da cidade sobre alguns violões de acordes doces e marolantes e outros dedilhados com ligeireza e maestria que fazem com o teclado, cuja sonoridade lembra flautas distantes que preferem nunca aproximar-se muito, e “Faluas do Tejo”, que com enorme nostalgia melódica, aguçada pelo orgão, violões e vocais tristes, rememora o tempo em que embarcações singravam tranquila e solicitamente as correntes do rio Tejo, buscam inspiração nos cenários da cidade, reconstruindo-os com perfeição em seus versos e tons.
Mas não necessariamente as cores de Lisboa são passagem obrigatória em cada faixa deste álbum tão bem cuidado do Madredeus. Há espaço para outros “sítios”, outras sensações, outros temas, como mostram as canções “Na Estrada de Santiago” – que concilia dois vocais de Teresa, um cantado a afastado bem ao fundo, e outro falado e seguro de si, no primeiro plano, enquanto ouve-se um ruído constante como o caminhar dos peregrinos pela estrada de chão batido de Santiago de Compostela – e “Lá de Fora” – com melodia alegre, levemente festiva dos violões de agudas notas trotantes e do teclado de sons malemontes, tudo condizente com os versos que falam sobre sensações furtivas de contentamento e prazer que nos invadem durante o dia.
Para quem conhece com seus próprios olhos a cidade de Lisboa, bem como o restante deste país maravilhos que é Portugal, o disco deve ter um sabor especial, mas mesmo quem não conhece pessoalmente as terras de além mar consegue, ainda assim, sentir o farfalhar delicado de seu vento, o leve ondular de suas águas doces e salgadas e as cores suaves de seus campos em cada nota, verso e timbre de Faluas do Tejo, em uma viajem sonora cortezmente conduzida pelo melhor grupo português da atualidade.

rapidshare.com/files/364709052/madredeus_-_tejo.zip

senha: seteventos.org

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Madredeus – Ainda. [download: mp3]

Madredeus - AindaWin Wenders inspirou-se inteiramente na música da banda Madredeus para conceber o excelente filme “O céu de Lisboa”, uma ode à beleza do cinema e da capital portuguesa. A parceria não foi frutífera tão somente para o diretor alemão, já que Ainda é, na minha opinião, o melhor disco da banda portuguesa.
Tranbordando sensibilidade e lirismo, composto por uma sonoridade sofisticada e melancólica, o disco é um pequeno esboço da alma portuguesa, faixa a faixa. Em “Guitarra”, que abre o disco, somos remetidos aos primórdios do cantar português – as cantigas medievais -, em uma letra que declara o amor daquele povo à música popular e uma melodia que faz uso delicioso do instrumento que dá nome a canção – conhecido aqui no Brasil como “violão”. As músicas “Milagre” e “Alfama” cantam as alegrias e tristezas afetivas – a primeira bela introdução instrumental e sonoridade triste, complementada pelo canto fenomenal de Teresa Salgueiro; a segunda apresentando belíssima melodia que explora soberbamente os instrumentos de câmara e acordeão, que constroem a sonoridade básica das músicas de Madredeus. Já nas faixas “Céu da Mouraria” – com melodia delicada ornada pelo vocal nostálgico – e “O Tejo” – que inicia-se com harmonia triste, para logo iluminar-se com sutil alegria em seu refrão – constatamos o orgulho do povo português com relação à história de seu país, além da celebração das belezas lusitanas. “A cidade e os campos” versa sobre a tristeza do camponês, ao ver-se abandonado da vida rústica do campo e inserido na frieza cotidiana da metrópole – nesta faixa, enormemente melancólica, a voz de Teresa exibe dor e arrependimento ainda mais intensos. Mesmo nas faixas instrumentais, em que não temos a presença da voz exuberante da vocalista, a banda mostra conseguir cativar o ouvinte – é o que sentimos ao ouvir “Miradouro de Santa Catarina”, que consegue mesmo inspirar a visão plácida do lugar cujo nome lembra, e em “Viagens Interditas”, que guarda em sua melodia a saudade despertada pela partida.
Ao constatar a beleza da música da banda em “Ainda”, não há como não desejar conhecer o povo e a terra que inspira tamanha sensibilidade musical. Em especial para nós, brasileiros, o sentimento é ainda mais verdadeiro, já que herdamos algo desse bucolismo, placidez e nostalgia lusitanas. Mesmo para àqueles que não tem a oportunidade de fazer esta viagem literalmente, ouvir a música da banda portuguesa já confere muito das sensações que tal jornada despertaria. No entanto, muito além do sensorial, a capacidade da música de Madredeus de despertar a reflexão do ouvinte sobre o preconceito com relação à cultura portuguesa, e superá-lo, é o maior ganho de todos – e fazer isso ouvindo composições de qualidade é um prazer inegável. Baixe já o disco pelo link que segue depois da lista de faixas.

http://rapidshare.de/files/8290566/MADREDEUS_-_CD-_Ainda.rar.html

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