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Tag: oceania

Howling Bells – Radio Wars. [download: mp3]

Howling Bells - Radio WarsSegundo afirmação da vocalista do grupo australiano Howling Bells, Radio Wars, disco gravado com o produtor Dan Grech-Marguerat no estado da Califórnia, difere bastante do primeiro por emanar muito mais cor e calor sonoro por influência do local escolhido para sua produção. Apesar de isso não deixar de ser verdade em certa medida, a meu ver a característica que fica por mais tempo suspensa pelo álbum nos ouvidos é outra. Há um certo sentimento de tristeza fulgurante que emana das melodias rock da banda, como fica claro na ambiência da tocante balada “Nightingale”, em cujas letras Juanita Stein identifica o seu cantar ao de um rouxinol. A relação é mais do que justa, pois assim como o cantar deste pássaro se mistura ao ruídos naturais do ambiente que o cerca, o vocal da cantora, ao mesmo tempo doce, triste e sensual, entra em sintonia perfeita com a melodia que extrai melancolia do colorido dos sintetizadores, dos riffs radiantes da guitarra e baixo e da batida sutilmente suntuosa da bateria. Outra balada na qual a melodia resplandecente pavimenta o caminho para a linda voz de Stein emanar um certo ar de pesar é “How Long”: os vocais que acolchoam a música ao fundo, a bateria de toques firmes e em compasso bem marcado e a guitarra e sintetizações que florescem com o caminhar da melodia vertem, juntos, um esplêndido desaguar de paixão e romance.
A banda, porém, convence também quando investe em melodias mais agitadas, ainda que a sua agitação sempre rescinda a melancolia que é característica da banda, como mostram as faixas “It Ain’t You”, que brilha particularmente no arranjo que introduz e pontua com elegância a melodia na forma como a bateria cadenciada e os breves toques no piano e na guitarra se complementam e especialmente em “Into The Chaos”, que reverbera no ar com o charme dos seus múltiplos riffs de guitarra e baixo e com as várias camadas de sintetização que envolve a bateria de andamento mais ligeiro.
Mais do que simplesmente ser uma característica, a melancolia das composições da banda, que espalha-se sobre as melodias calcadas nos fundamentos mais básicos do pop/rock (a saber, guitarra, baixo e bateria, com apoio de teclados e piano), também tem efeitos, já que concede às músicas certa similaridade com a música produzida na década passada, a exemplo das faixas “Digital Hearts”, que com o tropejar sem erros da bateria e com os cadenciar gracioso do baixo e guitarra remetem à alguns dos singles marcantes de bandas como o INXS, e “Ms. Bell’s Song (Radio Wars Theme)”, que lembra um pouco os irlandeses do The Cranberries no vocal em plena harmonia com a vibração metálica do violão, na delicadeza dos acordes singelos do piano e na grave discrição do baixo, ressaltado na breve ponte melódica da canção. Porém, é a faixa “Golden Web” que evoca boa parte da identidade do rock noventista já na partida da canção pela conjugação de um beat sorumbático e de claps e pianos esparsos e dramáticos, e ainda mais quando o vocal cristalino de Stein duela gentilmente com o dedilhar na guitarra, para então fundir-se em um lirismo encantador com as sintetizações lançadas como a fragância de um perfume sutil na atmosfera da melodia.
Apesar da referência contida nestas canções tornar-se cada vez mais lugar-comum dos grupos da atualidade (o que faz sentido, uma vez que esta é sua herança mais imediata), a banda australiana não o faz arriscando perder sua própria identidade, já que preserva o tempo todo a mistura da sonoridade ao mesmo tempo crispante e plácida que resulta na ambiência sedutora que flui nas suas melhores composições. Porém, dificilmente, como indica o nome do disco, a banda vá com isso recuperar a maravilhosa guerra de algum tempo atrás que fazia a beleza das estações de rádio. Primeiro porque a banda está só começando e hoje em dia a carreira de qualquer grupo musical pode ser tão efêmera quanto uma tormenta de verão; segundo, porque as rádios estão tomadas por toda uma sússia do mais variado lixo musical, inclusive de uma horda de “artistas” sugando o quanto podem do que deu certo na última década. Isso, contudo, não é motivo para não dar crédito aos quatro australianos. Ouça o disco sem medo, pois os sinos de Stein e seus companheiros estão longe de soar como um pastiche da música da época.

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Justine Electra – Soft Rock. [download: mp3]

Justine Electra - Soft RockA australiana de nascença e alemã de criação Justine Electra foi uma das estréias européias das mais elogiadas em 2006. Ainda assim, ela permanece quase uma completa desconhecida, mesmo na internet e nos circuitos mais indies, onde o último grito alternativo nunca passa despercebido. Estranho, já que ela é uma compositora inventiva e sofisticada, como podemos perceber pelos variados estilos das melodias presentes em Soft Rock: enquanto “Fancy Robots”, em que a cantora clama pela vinda de robôs imaginários, é uma balada pop/rock com vocal adocicado, violão de coloração folk a programação eletrônica – que preenche todos os espaços restantes da canção – que deixam um gosto de anos 90 no ouvido, “Blues & Reds”, onde a cantora reclama de um papagaio de pirata que vive à sua sombra, tem nos seus ruídos e estalos low-fi, samplers de gaitas e violões abafados algo de blues e de country e “Calimba Song”, por outro lado, radicaliza ao utilizar unicamente o instrumento que lhe dá nome para a melodia de uma canção que fala sobre as amarguras da paixão. Mas os ímpetos mais experimentais, que não se resumem à “Calimba Song”, conseguem deixar espaço o bastante para outros em que a audácia foi um pouco mais balanceada.Em “Killalady”, com guitarra de acordes minimalistas e espaçados, saxofone de notas graves e vocais que constrastam o sensual e apaixonado ao fundo com o suave e resignado no primeiro plano – e recorda o momento em que surge a paixão mas não deixa de citar coisas que irritam as garotas – e “Autumn Leaves” que alterna delicadamente, com a ajuda de texturas hipnóticas no violão e na programação eletrônica, um verso quase mântrico com um vocal melancólico onde momentos doces do passado, intensamente marcados pela alternância sazonal, ganham vida, Justine Electra consegue desenha melodias que unem a ânsia avant-garde com a linearidade harmônica menos intrincada.
A hibridez evidente de Soft Rock deixa claro tanto o desejo quase declarado da artista de ser enfileirada entre os últimos e mais genuínos representantes do que há de mais cult, quanto o potencial comercial que poderia ser mais explorado para a divulgação de Electra. Porém, não hã porque se iludir: as chances de Justine ganhar no mundinho mais antenado e sequioso pela experimentação a popularidade de uma artista como Björk são ínfimas. O mais provável é que ela atinja a mesma divulgação de artistas mais alinhados ao seu estilo, como a namoridinha do indie, a adorável americana Cat Power.
Baixe o disco utilizando o link a seguir e a senha para descompactar os arquivos.

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Toni Collette & The Finish – Beautiful Awkward Pictures. [download: mp3]

Toni Collette And The Finish - Beautiful Awkward PicturesA australiana Toni Collette tem tamanho carisma que, no início da carreira, mesmo em um filme que não tinha nada além de bonitinho – estou falando de “O Casamento de Muriel” -, chamou a atenção de público e crítica e ganhou impulso definitivo para ir muito além de sua terra mãe. E, a bem da verdade, tem sido sempre assim: mesmo em filmes pequenos ou algo rasos, Toni chama atenção com sua excelente performance. Apesar de ter dublado (ao lado de Rachel Grifftis) o clássico “Waterloo” do ABBA em “O Casamento de Muriel”, Toni tem, verdadeiramente, talento como cantora e compositora, e o álbum lançado no ano passado por ela e a banda que formou – Toni Collette & The Finish – está aí para servir de prova. Beautiful Awkward Pictures, segundo informação do próprio site oficial, é produto de composições aperfeiçoadas ao longo de dez anos, resultando em disco de sonoridade bastante concisa. Na faixa de abertura, “This Moment Is Golden”, em que Toni lista as sensações que se manifestaram ao encontrar sua grande paixão, o contínuo cadenciamento marcial da bateria, além do espaço que piano, guitarra e baixo vão ganhando de forma progressiva, mostra o quanto esse longo tempo de maturação das composições valeu a pena. Mas além de aperfeiçoar as composições complementares do disco, esse tempo também garantiu singles poderosos, como “Look Up”, onde letra e melodia entram em consonância perfeita: sonorizando os versos, onde Toni apresenta toda uma série de cataclismas resultantes de seu amor em conflito, foi composta uma melodia condizente com o tema, onde o vocal, o piano, a bateria, a guitarra e o baixo armam um crescendo intensamente lírico. O que já é o contrário da melodia feita para emoldurar os versos que refletem sobre uma profusão de desejos desencontrados em “Tender Hooks”: a harmonia mantém suas tonalidades praticamente inalteradas durante toda a canção, sem praticamente nenhuma presença de bateria – apenas violão, guitarras, baixo e vocal. Já para a ambientação dos versos que comentam a sedução irresistível dos cowboys na fabulosa “Cowboy Games”, a música tecida faz uma fusão destas duas características: a melodia base, ao cargo do piano, bateria e violão, é feita de uma mesma sequência harmônica continuamente repetida que, na metade final, vai sendo incorporada à uma harmonia insurgente, caracterizada principalmente pela intensificação da instrumentação, pela presença de uma orquestração de metais e por um vocal mais emotivo.
É evidente que os fãs de Toni vão prontamente se deliciar com o primeiro disco de Toni Collette & The Finish, mas mesmo quem não conhece ou não tem qualquer carinho especial pela australiana saberá reconhecer, ao ter contato com esse apanhado de canções tão cautelosamente arranjadas e afinadas, que estas músicas são fruto de uma artista cuja habilidade e sensibilidade musical, não é difícil reconhecer, são bastante apuradas. A única dúvida que Toni Collette deixa é se a sua ocupação no mundo do cinema vai mesmo tornar sua faceta musical um evento que se manifestará novamente só ao cabo de um bom número de anos – se ela voltar a se manifestar. E eu, como fã assumido, torço para que ela mantenha-se atuante tanto em um campo quanto no outro – pra mim, Toni Collette nunca é demais.

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