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Tag: pop brasileiro

Fernanda Takai – Onde Brilhem os Olhos Seus (+ 1 faixa bônus). [download: mp3]

Fernanda Takai - Onde Brilhem os Olhos SeusNão consigo achar o Pato Fu interessante. Não que eu odeie a banda, é mais uma sensação de tolerável indiferença: de passagem por algum lugar, não me incomodo em ficar ouvindo o som deles, mas jamais me disponho a tentar gostar de seu trabalho. Porém, um episódio recente angariou minha atenção para algo relacionado à banda mineira: descompromissadamente bisbilhotando a Saraiva Iguatemi em companhia de uma amiga, passei pela prateleira de lançamentos e me chamou a atenção o empacotamento elegante de um disco, que logo vi ser o primeiro álbum solo de Fernanda Takai – e, diga-se, só descobri naquele momento que ela tinha se arremessado em uma aventura destas. Olhando a lista de faixas, percebi logo que as composições não pareciam ser de sua autoria e foi então que dei atenção a música ambiente da loja: coincidentemente, era justamente Fernanda Takai cantando a penúltima faixa do disco. Me impressionei de imediato com o que parecia ser uma produção cuidadosa e muito delicada, e tratei logo de fazer um “bookmark mental” instantâneo para, chegando em casa, catar o disco e avaliá-lo.
Posso afirmar sem receio que Onde Brilhem Os Olhos Seus, por contar com a participação efetiva de dois outros membros da banda na produção do álbum e nos arranjos das músicas, é mais um side-project do Pato Fu do que propriamente um disco solo de Fernanda Takai. E no disco, Fernanda e seus companheiros regravam canções do repertório de Nara Leão com arranjos que muito pouco lembram a sua roupagem samba/bossa clássica – a exceção mais evidente fica por conta das faixas “Insensatez”, que ganhou uma versão linda e emocionante de Takai, mas parece nunca conseguir fugir do poderoso estigma do violão e do vocal nostálgico, e “Odeon“, que ainda remete ao chorinho gracioso de Nara -, vestindo-as em um pop/rock que as cobre de um manto brilhante, de textura nobre e macia. As músicas “Diz que fui por aí” – guiada por um piano elegante, conta com bateria suave e cheia de categoria, com farpas de uma guitarra tristonha e vocal dulcíssimo -, “Com Açúcar, com afeto” – que ganhou as cores luminosas e resplandecentes de um pop/rock feito de acordes de guitarra e baixo certeiros, teclado de toques ternos, e bateria de cadência firme e sutilmente ligeira – e “Descansa Coração” – que tem como companhia do teclado, da bateria, do violão e do baixo, este último responsável pela espetacular introdução pulsante, a esplêndida adição de um cravo cuidadosamente dedilhado – são todas abordadas nessa musicalidade que soa mais fluorescente e contemporânea. Duas faixas, contudo, ganham uma identidade mais afastada do que se convém imaginar tanto de Nara quanto de Fernanda e sua trupe: “Canta, Maria” ganhou traços sacros, devido à tristeza da programação etérea, que sintetiza a sonoridade cristalina de sinos e orgãos, e “Ta-hi” surge revestida em um silêncio no qual a programação quase cósmica e o cravo intensamente metálico criam uma ambiência dramática fabulosa.
Ao invés do caminho usualmente trilhado por bandas e cantores ao se debruçarem em projetos paralelos, que se divide entre se afastar da sua sonoridade oficial, pisando em terrenos mais estranhos, ou de adotar a sonoridade herdada das canções selecionadas, quando se trata de um projeto de regravações, Takai e companhia decidiram que o melhor era, no conjunto das canções do disco, aproximá-las daquilo que eles sabem melhor fazer – pop e rock, claro. E mesmo que vez ou outra alguma música do disco possa soar chata, os melhores momentos de Onde Brilhem Os Olhos Seus deram chance à Fernanda e seus comparsas do Pato Fu de se por à frente dos holofotes do pop/rock brasileiro mais elegante e culto, colocando os barbudos chatinhos do Los Hermanos bem sentadinhos na arquibancada para assistir à tomada desse palco, sem estardalhaço, bem à moda mineira, com a sensibilidade pop, a classe e, principalmente, a naturalidade que Marcelo Camelo e sua cria não conseguem obter, já que são muito mais afeitos ao uso de todo um exército de artíficios um tanto quando pedantes.
Baixe o disco utilizando o link a seguir e a senha abaixo para descompactar os arquivos.

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Tribalistas. [download: mp3]

Tribalistas (album)

Tribalistas (album)Que grande idéia: juntar Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte para produzir um trabalho pensado como um conjunto, algo que diferiria das participações anteriores de cada um em seus trabalhos solo. O nome do disco só potencializava ainda mais esta possibilidade: Tribalistas. Era realmente algo que aguçava o interesse, uma grande possibilidade na música brasileira. O problema é que a coisa ficou só na possibilidade mesmo. Fora duas ou três canções, todo o resto é construído com letras tão impressionantemente pop-imbecis que dá vontade de colocar o CD no microondas na potência 10. Vai explodir o aparelho? Ah, não tem problema…se o CD for junto você já sai ganhando. Vamos parar e observar algumas pérolas da composição tribal: “ja sei namorar, já sei beijar de língua agora só me resta sonhar” – blergh! – “eu gosto de você e gosto de ficar com você meu riso é tão feliz contigo o meu melhor amigo é o meu amor” – alguém tem uma pistola automática? – “mary mary mary cristo cristo cristo cristo mary” – alguém tem um lança-morteiro? Não bastasse o alto-nível da composição de letras a sonoridade ainda surpreende (mal, é claro): ouça o disco inteiro e me diga se não é verdade que ele é quase integralmente feito de canções de ninar. Nossa, Xuxa não teria feito melhor! Se os três queriam, realmente, fazer um disco composto em grande parte por canções de ninar ou em tom delicado, quase infantil, deveriam ter escutado o álbum Universal Mother, de Sinead O’Connor. Este sim é um disco dedicado a crianças, mas (importante), por não ser dirigido a esse público, traz as canções mais belas, delicadas e melancólias sobre o amor à elas que já ouvi em toda minha vida. Provavelmente o melhor disco dela. E não essa estupidez que esses representantes da música semi-alternativa-mas-super-produzida fizeram.
Os três participantes desse embuste deveriam ser processados por falsidade ideológica, porque a mim eles não convencem de que se trata de música tribal. Mas isso vai ficar só na minha vontade mesmo. Como a humanidade é feita de cerca de 80% de idiotas acéfalos, o disco foi um grande sucesso. Que lindo. Enquanto isso as vacas do mundo inteiro vão dormir mais tranquilas agora que temos o disco dos Tribalistas. Ou será por isso que fomos supreendidos por um surto de febre aftosa??? Suicídio bovino? Vejam como lixo cultural pode fazer mal a saúde! Até a animal!
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