Acho que todo mundo gosta de descobrir por conta própria algum novo artista. E foi passeando por uma das muitas lojas online de música que me deparei com a capa do debut da britânica Ren Harvieu, cujo nome soa ao mesmo tempo enigmático e atraente. A foto da capa não é o tipo que te chame a atenção imediatamente, já que não há nada de muito especial ou particular em sua concepção, mas é justamente por ela não revelar muita coisa que eu experimentei ouvir alguns trechos. A (boa) surpresa só não foi maior do que a (péssima) descoberta de que essa menina de apenas 21 anos poderia nem estar aqui para ver seu disco de estréia sendo lançado: no início do ano passado, pouco depois de terminar de gravar este disco, Ren tive sua coluna vertebral seriamente atingida – e foi sério mesmo, ela teve fratura exposta nas vértebras – quando um amigo, ao fazer um salto, caiu acidentalmente em cima de suas costas enquanto ela o observava fazendo acrobacias em cima de um muro. Ela sobreviveu, mas internada por meses em um hospital e sendo operada por diversas vezes, ouviu da equipe médica que suas chances de voltar a andar eram ínfimas. Incrivelmente, porém, a garota melhorou, mas até hoje ainda vive um processo de melhora e adaptação, o que não a impediu de retomar com toda a gana a carreira que nem bem tinha iniciado. Essa força que superou as poucas expectativas nesse episódio horrível é notada facilmente no timbre firme de sua voz, que apoiada pela elegância das composições e a qualidade da produção dão à Ren Harvieu a mesma solidez que grandes nomes do pop e pop/rock tiveram em suas estréias. A primeira faixa, “Open Up Your Arms”, não economiza esforços, e com reverberações de guitarra e um arranjo de cordas esfuziante faz a abertura preparando o terreno para entregar à voz magnética da cantora a melodia grandiosa e cintilante. O nível continua alto na faixa seguinte, “Tonight”, recheada de backing vocals alinhados com os arranjos de metais e de cordas que voleiam com desenvoltura para emoldurar o cantar preciso da artista britânica. “Walking in the Rain”, mais à frente, não diminui em nada as ambições espetaculosas da cantora, inflando os ouvidos com cascatas de arranjos orquestrais muito bem colocados na companhia de piano, violões, bateria e vocais em uma melodia que sussura “anos 70? nos ouvidos, e no fim do disco a dupla “Summer Romance” e “Love Is A Melody” surgem como baladas com o equilíbrio perfeito entre os elementos que são a tônica por todo o disco, deixando evidente a possibilidade de serem lançadas como singles e o evidente e lamentável risco – que, por favor, ninguém me ouça – de Ren Harvieu ser “pasteurizada” ao ter as canções vitimadas como trilha sonora de novela. Em “Twist the Knife”, apesar do violão e da guitarra escondidos com destreza e velocidade, é a amargurada submissão afetiva do refrão “she won’t love you like I do” e o belo lamento das cordas que dão o tom da melodia e a fecham de modo emocionante. A guitarra tem o seu quinhão maior de atenção em “Dancing on Her Own”, farfalhando alegre com um riff vibrante que introduz e pontua a canção que é talvez a mais alegre do disco.
Menos ostensivas em suas intervenções orquestrais e razoavelmente menos afogadas em camadas de backing vocal, as faixas “Through the Night”, com um piano singelo, e “Forever in Blue”, onde destaca-se um violão melancólico, deixam mais visível a interpretação da cantora, revelando que esta é mais baseada em um domínio bastante preciso da técnica vocal do que na liberdade da emoção. É uma abordagem artística menos arriscada e mais confortável, mas deve-se lembrar que este é apenas o primeiro disco da cantora e, convenhamos, por tudo o que ela já sofreu sendo ainda tão jovem, em riscos ela já está versada para uma vida inteira.
http://www.mediafire.com/file/sz8dc8na3k4bw22/harvieu-night.zip
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