Casada com um homem que acomodou-se como o fotógrafo dos catálogos de peles vendidas pelo seu pai rico, Diane Arbus sente-se um tanto cansada não apenas de servir como assistente no trabalho do marido, mas de seu desinteresse sexual por ela, apesar dele sempre a tratá-la com carinho e amor. É na chegada de um vizinho misterioso que Diane começa a considerar mais seriamente seu desejo de desprender-se desse cotidiano de afazeres domésticos e aparências.
Ao alugar o filme dirigido por Steven Shainberg, imaginei ser o longa-metragem uma biografia tradicional sobre a fotógrafa americana Diane Arbus. Se o subtítulo do filme – “Um retrato imaginário de Diane Arbus” – não tivesse sido excluído no lançamento brasileiro, as duas principais características que lhe retiram o caráter de biografia tradicional poderiam ser deduzidas já no momento em que se lê o nome do longa: primeiro, em “A Pele” não temos o registro da vida e trabalho da fotógrafa Diane Arbus, mas apenas o da transformação daquela mulher, até então conformada com sua vida familiar e seu cotidiano “engomado”, naquilo que viria a ser a fotógrafa atraída pelo que mais destoante poderia sua câmera registrar; segundo, este é, como informa o subtítulo, um registro de uma formação imaginária, razoavelmente fantasiosa, da mulher Diane Arbus para a grande artista – alguns dos acontecimentos e personagens do filme – caso do Lionel Sweeny de Robert Downey Jr., principal personagem do filme junto com Diane – foram criados no longa para, segundo a concepção de Shainberg, melhor ilustrar para o público a transição sofrida por Arbus. E aí é que está o grande problema: a abordagem ficcional de Shainberg, com o intuito de potencializar a essência daquilo que ocasionou a transformação de Diane – a sua atração pelo “freak”, o estranho, o incomum – deixa tudo o que circunda Diane Arbus com aspecto artificial: não apenas a relação entre Diane e Lionel não consegue convencer suficientemente como convence menos ainda a forma como Diane quis inserir seus estranhos amigos no círculo de sua família – o modo como ela quis tornar isto possível soa, ao contrário do que se pretendia, tão pouco natural quanto o contraste pretendido pelo diretor, apoiado por seu diretor de fotografia, entre o cotidiano asséptico, formal, “clean” e previsível da dona de casa com a sua atração pelo incomum, pelo marginal, pelo imperfeito e pelo deslocado socialmente. Talvez, atendo-se mais à realidade dos fatos da vida da fotógrafa, seu interesse pelo que foge à regra comum se tornaria mais crível, mas provavelmente se tornaria menos peculiar também. Da forma como foi concebido, “A Pele” não consegue ser natural na pretensão de capturar a gênese da visão nada ortodoxa que a artista teria em sua fotografia, compondo um retrato muito artificial do que pertence à esfera da “comum” quanto do “incomum” – ao contrário das imagens concebidas por Diane, que conseguia capturar tanto o ordinário dentro daquilo que normalmente não se enquadraria como tal quanto o incomum naquilo que, aparentemente, é aceito como ordinário.
Baixe o filme utilizando os links a seguir.
OBS: links funcionais mas não testados.
CD 1:
http://d01.megashares.com/?d01=8e7f14e
CD 2:
http://d01.megashares.com/?d01=1f3a348
legenda (português) [via legendas.tv – necessário registro]:
http://legendas.tv/info.php?d=8d6f822ee6f8715c96287b1d360a202a&c=1