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Tag: rock alternativo britanico

Isaac Gracie (LP) e Close Up – Looking Down (EP) [download: mp3]

Acabei conhecendo Isaac Gracie através do vídeo do seu single “The Death of You & I”, e apesar do o clip não ir muito além do clichê mais batido possível do rock, com o jovem músico britânico destroçando tudo o que vê pela frente, é impossível não ficar impressionado com a voz ao mesmo tempo macia e potente do jovem dândi. A canção, por si só, também é irresistível, com bateria e guitarras que transitam entre um bolero tépido e o ardor de um rock furiosíssimo onde o jovem britânico solta sem receios a sua voz potente. O disco homônimo que contém a canção, porém, ainda guarda outras belas canções. “Terrified”, a faixa de abertura onde o cantor inglês expõe seus temores de não corresponder as expectativas de alguém que ama, adiciona na família de instrumentos um piano de toques suaves que banha a linda voz de Isaac de modo – perdão do trocadilho – gracioso. “Last Words”, logo em seguida, é uma balada com vocais de fundo e orquestrações que acolchoam os acordes melancólicos do violão do jovem músico que canta sobre alguém que, depois de abusar de sua sorte, pergunta-se como pode ter se permitido chegar à este ponto. Logo depois de “Running On Empty”, gostosa faixa de ritmo acelerado, na tradição do pop/rock inglês, temos “Telescope”, onde o cantor, com vocal, violão e pianos sofridos e bateria bem marcada, canta sobre um amor que percebeu não lhe fazer bem, e do qual agora que se desfazer. “That Was Then”, com uma melodia triste e bem ritmada da guitarra, baixo e bateria sobre a voz em tom penoso de Isaac, investe ainda mais em romances disfuncionais em letras como “she says I’ll never understand, begging me to let her go, if you never lose, will you ever know how to be a better man”. Em “When You Go”, o violão de sutil cadência matinal constrói um lamento que casa perfeitamente com as letras sobre mais um amor disfuncional. Amores despedaçados também são tema de “Silhouettes Of You”, onde o violão e a vocalização de fundo do refrão são a base para um crescendo instrumental da bateria e guitarra que incrementa o flagelo vocal de Isaac. Algumas faixas mais à frente, fechando o disco, a música de “Reverie” alterna entre a prece sorumbática da guitarra, percussão, piano e vocais abatidos e a pujança sonora em sua sequência final, em um deslumbrante despertar melódico.


Porém, se a tônica do LP de estréia é de uma melancolia cálida, Close Up – Looking Down, o EP lançado no final do ano passado, reúne canções mais ritmadas, com uma energia pop/rock que o cantor e seu produtor aparentemente decidiram resguardar em grande parte do disco de estréia. “Show Me Love”, uma faixa clássica do gênero com um andamento rápido da bateria e guitarra acompanhando um vocal mais solto e intenso do cantor britânico, deixa isso claro já na abertura do EP, ainda que a faixa seguinte, “Broken Wheel”, desacelere um pouco com sua harmonia mais cadenciada do violão, percussão e piano sobre um vocal que conserva o mesmo vigor da faixa anterior. “No, Nothing at All” é a faixa mais bem estruturada do disco, onde a guitarra e a bateria bem compassadas preparam-se para um refrão onde ganham uma maior densidade instrumental que lembra os inesquecíveis hits das rádios FM do início dos anos 90. “You Only Live Once”, cover de uma faixa do The Strokes calcada nos alicerces do rock, conclui o pequeno compêndio musical desacelerando o ritmo com a parceira perfeita entre guitarra, bateria e vocal em uma versão mais contemplativa, mas que também convida o corpo a embalar-se em seu compasso manso e sereno.
É uma grata surpresa ainda encontrar bons e jovens artistas interessados em desnudar seus sentimentos e devassar seus corações ao ritmo do velho, bom e insuperável rock. O filão mais popular da música mundial, aquele que ganha todos os holofotes, está tomado por artistas cujo trabalho se assemelha tanto a ponto de você não encontrar algo que os diferencie, num pastiche sonoro que parece ter sido fielmente elaborado pelos produtores baseados em algoritmos que apontam inequivocamente aquilo que vai capturar a atenção da massa de ouvintes, mas o rock sobrevive, ainda que ele esteja discretamente alojado lá na mesa do canto da cafeteria, calma e pacientemente degustando um café, esperando todos aqueles que tem bom gosto e inteligência sentar em sua mesa para apreciar a sua companhia.

Baixe (Isaac Gracie, LP, 2018): http://www.mediafire.com/file/h9itucp2kq5za07/gracie.zip

Ouça (Extended Edition, inclui 3 faixas do EP):

Baixe (Close Up – Looking Down, EP): https://www.mediafire.com/file/s8towi6llyssbfx/gracie-up-down.zip

Ouça (faixa “You Only Live Once”):

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Sol Seppy – The Bird Calls, and Its Song Awakens the Air, and I Call (EP) [download: mp3]

Se você acha que Fiona Apple é a mais reclusa e obtusa artista que se conhece é porque nunca ouviu falar de Sol Seppy. Pra se ter uma idéia, seis anos se passaram desde The Bells of 1 2, o imensamente belo álbum solo de estréia de Sol Seppy, e desde então, a única coisa que a talentosa artista concedeu ao público foi uma faixa (“I Am Snow”) para a compilação Love Cartier (que conta, inclusive, com uma canção da atriz francesa Marion Cotillard), lançada em 2008. E, diferentemente da cantora americana, que deu toneladas de entrevistas para o lançamento neste ano do seu álbum, até hoje muito pouco se viu, leu ou ouviu da cantora britânica de origem grega (seu nome verdadeiro é Sophie Michalitsianos) que não fosse suas músicas. Até mesmo fotos da moça não passam de alguns punhados que se encontra na internet. Apresentações ao vivo e vídeos? Esqueça são ainda menos numerosos que imagens. Ao que parece, a artista trabalha no seu ritmo, sem se preocupar com a frequência de lançamentos estabelecido como padrão pela indústria da música ou com a panacéia de ritos necessários para se chegar ao conhecimento púlico ou para mantê-lo. Por conta disso, só fiquei sabendo há poucos dias que a cantora deu o ar de sua graça em fevereiro deste ano para lançar um EP de apenas três faixas. Parece pouco, mas para o seu público, sedento há anos por alguma de suas composições tão singulares, já é motivo suficiente para se comemorar. As três canções foram nomeadas de forma que compõe um verso, “Part of/ Music/ Live in Me”, o que já indica a sua semelhança na tonalidade melódica: todas lidam com não mais do que piano, violão e violoncelo para tecer as harmonias delicadas, etéreas, difusas e distantes que marcaram a maior parte das composições do disco de estréia da britânica. De uma melancolia não propriamente triste, mas reflexiva e contemplativa, as faixas são pontuadas e atravessadas por silêncios profundos e tão significativos quanto a própria melodia, o que permite ao vocal sempre calmo e terno, que por vezes ecoa longínquo e abissal e em outras familiar e reconfortante, elevar-se sob a frágil tecitura musical que lhe serve de acompanhamento. A única coisa ruim que fica do lançamento deste pequeno EP (além da capa, que resolvi ignorar e criar outra um pouco mais interessante) é a impressão de que com ele a profundamente talentosa artista se dará por satisfeita por mais um longo período sem lançar qualquer outra coisa. Vamos torcer para que isto não passe de uma impressão e tenhamos logo uma fantástica surpresa reservada para breve.

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Birdy (+ 3 faixas bônus e 2 versões acústicas) [download: mp3]

Birdy

Birdy, também conhecida como Jasmine Van de Bogaerde, não tem a arte no sangue apenas por ser filha de uma exímia pianista. Quem é cinéfilo, já percebe algo no sobrenome: a garota é sobrinha-neta do já falecido ator Dirk Bogarde, de clássicos absolutos como “Morte em Veneza” e de filmes ousados e obscuros como o “O Porteiro da Noite”. Talvez daí venha a melancolia e a imensa capacidade emotiva do vocal da garota. Graças à este dom, Jasmine pode vestir uma cuidadosa seleção de faixas pinçadas do rock indie e alternativo dos últimos dez ou quinze anos – contando para tanto com a ajuda de um punhado de produtores musicais experientes da atualidade – em uma abordagem sensível que alterna delicadeza e exuberância.
Como não poderia deixar de ser, já que foram imenso sucesso na internet e até mesmo utilizadas como trilha de seriados de TV, estão presentes no debut os singles que a trouxeram ao conhecimento do público na web, como “Skinny Love”, onde apresentou seu piano triste enquanto exibia toda a extensão do seu vocal doce e macio, “Shelter”, que além do piano tão dramático e amargurado quanto o esplêndido vocal de Birdy traz sutis sintetizações etéreas, e “People Help The People”, fabulosa versão que com bateria, guitarra, baixo e violoncelo acompanhando o piano mostrou que a menina se sai tão bem dividindo seu brilho com uma banda quanto na solidão do estúdio com seu piano. Por falar na banda, na abertura do disco, quando é removida de “1901” toda a verve brejeira e lo-fi das guitarras da versão original da banda Phoenix em detrimento de um andamento lento comandado por piano e bateria que dá direito à quem ouve a música de realmente apreciar toda sua beleza, percebe-se ali alguns vapores de Fiona Apple. A impressão não é um equívoco condicionado pelas várias semelhanças físicas, artísticas e de situação entre as duas mulheres: um dos músicos convidados, e que surge nesta primeira faixa, é o baterista Matt Chamberlain, que já trabalhou com a reclusa e idiossincrática cantora e compositora americana. Mas mesmo com uma produção de ponta e produtores consagrados, Birdy consegue instaurar em sua música ares de artista independente, como em “White Winter Hymnal”, do Fleet Foxes: o pulso mecanizado da percussão sob os acordes singelos no piano e as várias camadas de vocal sobreposto de Birdy emulam parte da atmosfera algo artesanal da versão da banda, mas investe-se aqui em uma maior simplicidade melódica, tão cativante quanto a original. Nas faixas “Young Blood” e “Terrible Love” há um polimento melódico ainda mais vigoroso: na primeira, saem de cena as guitarras e apazigua-se a multitude de sintetizações, características da versão feita pelo The Naked and Famous, para que a melodia reverbere em um todo mais homogêneo onde acordes de guitarra e teclados cintilam e vibram sobre uma programação mais leve, tudo de modo a não atrapalhar a interpretação equilibrada da britânica; na segunda, é mantido o crescendo melódico, mas ao invés das guitarras e o vocal blasé da banda The National que roubam tudo o que podem de Joy Division e The Smiths, há a voz incomparavalmente mais emotiva de Birdy, seu piano singelo e uma orquestração de cordas que laceia o esplendor sentimental desta versão.
Mas está completamente equivocado quem possa pensar que começar a carreira com um disco de covers é uma decisão que revela a opção pelo caminho mais fácil. Com a ajuda de uma boa trupe de produção e um afiado sentido melódico consegue-se aperfeiçoar muito músicas que não aproveitavam todo o seu potencial melódico, mas o desafio torna-se bem mais complexo e ousado quando se tenta reconstruir em uma nova versão o mesmo impacto de uma canção que já exibia todo o fulgor de sua melodia, exatamente o caso de “Comforting Sounds”, fabulosa já na sua primeira versão dos dinamarqueses do Mew. Como refazer toda a grandeza resplandecente do solo melódico das guitarras originais sem perder a singularidade do elemento emocional da primeira versão? Parece mesmo uma tarefa ingrata. Contudo, a menina e sua equipe, aqui lideradas pelo gabaritado produtor Rich Costey, sucedem e muito bem na missão: com Birdy derramando toda a alma nos vocais da canção e deixando espaço para que synths de orquestração de cordas refaçam o espetacular efeito maciço das guitarras na explosão melódica original, “Comforting Sounds” acaba sendo um dos covers mais belos do disco, imensamente emocionante e capaz mesmo de trazer lágrimas aos olhos. E ainda sobra ânimo e força para um delicado registro nos teclados da meiga “Farewell and Goodnight”, originalmente dos americanos do The Smashing Pumpkins, e até mesmo um aperitivo do que virão a ser composições originais desta garota-prodígio britânica, com a angustiada balada ao piano “Without a Word”. É uma estréia muito promissora, não apenas porque a garota de 16 anos prova que ainda surgem alguns artistas jovens que podem demonstrar mais maturidade e sofisticação do que cantores estreantes menos novos ou mesmo veteranos do rock e pop, mas pirincipalmente porque a menina revelou-se uma cantora segura de sua capacidade e com uma identidade que brota já com considerável consistência artística – mesmo que suas composições não frutifiquem futuramente em algo realmente proveitoso, fica a certeza de que na pior das hipóteses teremos uma interpréte das mais vigorosas da música da atualidade.

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Agradecimentos ao @rainervinicius pela dica dada há alguns meses! 😉

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PJ Harvey – Let England Shake (+2 faixas bônus). [download: mp3]

PJ Harvey - Let England Shake

Antes uma compositora de rocks inequívocos, mesmo quando flertando com outros gêneros, PJ Harvey deu em White Chalk, seu penúltimo disco, uma guinada musical de 180º com um compêndio de canções etéreas e nebulosas cujas melodias e vocais emanam uma densa atmosfera sobrenatural que não por um acaso foi corporificada nas sessões de fotos do disco como uma figura fantasmagórica com notáveis traços românticos mergulhada em uma ambientação gótica. A colaboração com o amigo John Parrish em A Woman A Man Walked By – a segunda oficialmente nomeada, já que Parrish participou da equipe de músicos na maior parte dos álbuns – retomou parcialmente a verve rockeira, mas a contaminação melódica iniciada em White Chalk foi retomada em parte das canções do disco e volta com força no seu mais recente lançamento, Let England Shake, convertida agora em um rock obtuso e consideravelmente experimental que por vezes resvala feio. Exemplo disso são os samplers – recurso utilizado pela primeira vez por Harvey – que interferem na semântica das músicas e nem sempre tem resultado homogêneo, como ocorre na cacofonia melódica entre o vocal frágil e alquebrado da britânica sobre a percussão, guitarra e órgão e o sampler abafado do reggae “Blood and Fire” em “Written In The Forehead” ou como acontece quando o sample tacanho do trompete marcial insiste em perfurar a progressiva comunhão rítmica entre guitarra, bateria e percussão base em “The Glorious Land”.
Contudo, se por um lado alguns engasgos ocorreram no percusso criativo do corpo harmônico de Let England Shake, impressiona e muito a perfeição no todo temático do álbum que é, sem dúvidas, o mais bem acabado até hoje neste quesito na carreira de PJ Harvey: no relato algo barroco do pesadelo vivido diariamente por soldados no front impresso na alternância entre os ecos de ira e lenta marcha sombria em “All and Everyone”, na impiedosa descrição da carnificina de um campo de batalha feita tanto na doçura celestial de “The Nightingale”, onde “heads on top of sticks were like angels” – uma espécie de parte 2 de “All and Everyone” encerrada com harmonia fúnebre do saxofone muito simular à da outra faixa – quanto no contraste com a melodia quase dançante e festiva de “The Words That Maketh Murder”, na narração do adeus à terra natal e às esposas dos soldados rumo à guerra que é sonorizada pela combinação das guitarras crispantes e da percussão enérgica em “Bitter Branches”, na precisa descrição do despertar para mais um dia de batalha no triste farfalhar das guitarras e na bateria que ressoa tão melancólica e sofrida quanto o vocal da artista no rock ao estilo clássico de Harvey “In The Dark Places” ou na poética descrição das sensações despertadas ao avistar as paisagens de Gallipoli, que foram cenário da famosa batalha da Primeira Guerra Mundial na etérea e onírica composição sutil entre violão, guitarra, órgãos, percussão e piano em “On Battleship Hill”, todos estes relatos e narrativas compõe um todo épico e pungente onde a artista afirma como a história, e consequentemente a identidade de sua terra e de seu povo foi sendo formada e erguida pelo envolvimento em sucessivos conflitos, guerras e batalhas. A Inglaterra de PJ Harvey é sim a terra natal amada, mas esse amor incondicional é atravessado pela amargura e sofrimento do belicismo, como bem Harvey canta no folk cinzento dos acordes de violão de “England”, e jamais fecha os olhos às mazelas que marcam as ruas e a cultura da pátria, como pode ser visto no frescor da cadência rock de “The Last Living Rose”, cuja melodia é coroada por metais em uma fanfarra acanhada.
Obra de uma artista cujo trabalho é alimentado por um imenso senso crítico e movido por uma insaciável inquietude musical que à  leva a sempre trilhar novos caminhos sem nunca deixar a bagagem das viagens anteriores para trás, esta ode à pátria e manifesto contra o belicismo humano resultou em um disco mórbido e melancólico de tonalidades cinzentas e encoberto por uma espessa névoa que por vezes parece soar impenetrável aos ouvidos, e isso faz todo sentido – converter em um relato musical realista os horrores e atrocidades incessantemente perpetuados pelo homem não poderia ter como resultado algo fácil e agradável, não é mesmo?

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Fyfe Dangerfield – Fly Yellow Moon (2CDs deluxe edition + 1 faixa extra) [download: mp3]

Fyfe Dangerfield - Fly Yellow MoonQuem ouve o primeiro lançamento solo de Fyfe Dangerfield e não simpatizou com o segundo disco de sua banda, Guillemots, chega a conclusão de que o cantor e compositor guardou o melhor de si para seu próprio disco – ou, ao menos, que aquilo que vinha compondo não se enquadrou no que a banda pretendia produzir em Red. Qualquer que seja a razão deste primeiro disco solo, eu só posso dizer que fico extremamente satisfeito em saber que Fyfe, ao contrário do que fez pensar Red, não perdeu nada da sua imensa capacidade de escrever canções que irradiam emoção, como vimos na estréia do Guillemots, Through The Windowpane. E mais em forma do que nunca, Fyfe vivencia em suas canções a mais completa plenitude da euforia amorosa – como no primeiro single do disco, “She Needs Me”, uma música cheia de versos diretos, como “I’m yours you can do what you like to me” e que não se contenta com pouco, explodindo em uma tsunami de arranjos orquestrais que acompanham incessantemente a marcação dada pelo baixo e bateria e a efusividade dos toques do piano e do vocal, e também “When You Walk In The Room” na qual, introduzida por um conjunto bem arranjado de distorções eletrônicas e alguns sussurros, Fyfe quase não cabe em si com seu vocal tão animado quanto as farpas de guitarra que saltam brilhantes entre a base contínua de piano e bateria que recheiam a melodia – assim como a melancolia silenciosa que o amor também acaba por trazer – visto na combinação de violão, cordas e vocal macio em “Dont Be Shy”, que suscita as melhores composições de Tanita Tikaram em Lovers In The City e Sentimental, na tristeza de “Barricades”, conduzida por um piano de acordes graciosos e um vocal que expira romantismo e elegância tanto quanto o belo arranjo de violinos que lhe serve de apoio, na suavidade dos acordes tranquilos ao violão e piano de “Livewire”, cuja percussão procura ser sutil para não interferir no encatamento da melodia, e em “Firebird”, que apesar de adotar o mesmo violão e piano em parceria com discretíssimo arranjo de cordas da canção anterior, os utiliza à imagem da graciosidade de cantigas medievais de amor luso-galegas.
Mas muito além de tornar possível que Fyfe trafegasse com desenvoltura entre alegria, mágoa e todas as suas gradações, a euforia amorosa exacerbada do artista britânico serviu como poderoso estimulante para a sua faceta de compositor: além das 10 faixas da primeira edição lançada do álbum, o rapaz escreve diversas faixas bônus, algumas versões alternativas e um cover. Destas, há a abissal beleza de “If I Was Lost”, guiada por guitarra, órgão e vocal distantes e manchados por uma consternação de partir o coração, a amargura do violão gélido, percussão quase surda e guitarras reluzentes de “Appreciating You” e o eletronismo cálido e riffs de guitarra de “Computer Game”, de uma simplicidade harmônica quase juvenil. São 13 canções a mais no total que geraram o relançamento do disco com 4 faixas bônus e uma terceira versão extra, em disco duplo. É muito amor nesse coração, é não seu Dangerfield? É sim, e só pra fazer cair por terra aquela minha velha teoria de que sofrimento é o elixir mais produtivo para um artista.

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Bat For Lashes – Two Suns (Special Edition). [download: mp3]

Bat For Lashes - Two SunsLançado em abril do ano passado, Two Suns, segundo álbum de Natasha Khan, mais conhecida pelo pseudônimo Bat For Lashes, demora um bocado a entrar em acordo com os ouvidos de quem se aventura pelas suas faixas. À excessão de uma ou duas músicas, todo o restante do disco sofre um processo lento de apreciação, que no meu caso levou meses. A primeira impressão, que perdurou até há pouco, era de que este álbum era muito inferior ao primeiro disco da artista britânica. No entanto, depois de deixá-lo de lado todo este tempo, dei a Two Suns uma segunda e mais atenta rodada de degustação sonora, e então mais faixas foram revelando seus encantos ocultos. Durante estas novas sessões de apreciação do disco, me dei conta de que o fator que motiva esta indiferença inicial é efeito da construção obtusa das melodias, que iniciam com harmonias um tanto opacas, geralmente capitaneadas por sintetizações que tem algo de atonal. “Glass”, por exemplo, abre o disco, mas nem por isso consegue se sobressair prontamente para o ouvinte com sua percussão que faz uma sucessiva evolução em densidade e volume enquanto baixo e orgão acompanham solicitamente a melodia e sintetizações cristalinas e cintilantes tomam o refrão da música como uma repentina chuva de verão. Também por conta do seu trecho inicial, “Daniel”, que nasceu da fascinação de Natasha quando adolescente pelo personagem de mesmo nome do filme “Karatê Kid”, só vence a apatia depois de cautelosas audições, que assim descortinam a beleza presente tanto no vocal e vocalizações ao mesmo tempo doces a amargurados quanto no beat e programação de ares nostálgicos e lúgubres cortados pela ondulação luminosa de um violoncelo.
Mas o personagem interpretado pelo ator Ralph Macchio não é o único que serviu de inspiração à Two Suns. Além de aproveitar este ícone da cultura pop dos anos 80 para suas novas composições, Natasha Khan achou por bem dar vazão à uma criação própria neste disco, criando assim Pearl, personagem que representa o lado mais negro de sua personalidade, cujo materialismo e agressividade se opõe diretamente ao misticismo e espiritualidade que caracterizam a artista. As referências às duas diferentes forças estão presentes por todo o disco – que não por um acaso foi batizado de Two Suns -, mais elas estão mais explícitas especialmente nas faixas “Siren Song”, “Pearl’s Dream” – claro -, “Two Planets” e “The Big Sleep”. A primeira, em cujos versos Natasha afirma que seus romances são a certa altura sempre destruídos pelo surgimento da personalidade agressiva e predatória de Pearl, apresenta uma melodia na qual o silêncio ressaltado pelo vocal da artista e acordes de piano mergulhados em plácida emoção são revertidos em uma harmonia assinalada pela intensa dramaticidade da percussão em pulso bem marcado e da bateria e piano que impregnam na música uma atmosfera de pleno frenesi. “Two Planets”, que retrata claramente a luta de Pearl em tentar sobreviver e sobrepujar a personalidade predominante, está impregnada de um caráter ritualístico, que vai desde a percussão que abusa do compasso tribal, passando pelas palmas constantes até o cantar em tom emergencial. “Pearl’s Dream”, o clamor da personagem por aquilo que acha que é de seu direito – a vida -, faz o diabo com a programação de beats para, juntamente com a percussão e os vocais perfeitos de Natasha, construir um crescendo fabulosamente épico e espetacularmente dançante. E “The Big Sleep”, dueto da cantora com Scott Walker, fecha o disco e a jornada de existência de Pearl em uma melodia profundamente bela produzida tão somente por um piano de coloração enormemente etérea e intensamente triste e por suaves sintetizações que agregam um tom sutilmente fúnebre ao réquiem de Pearl, que declara nos versos sentir esvair suas forças enquanto descobre que é a hora de despedir-se definitivamente – com o perdão do trocadilho barato, mas é realmente uma pérola de beleza sem igual.
Apesar de eu algumas vezes gostar de manter um certo caráter de atualidade nas resenhas produzidas no blog, procurando não atrasar muito os textos sobre filmes e discos que estão sendo lançados, coisas como Two Suns mostram como é importante deixar que elas sigam o seu próprio ritmo. Tivesse eu feito a resenha quando lançado o álbum para tentar manter esta feição up-to-date no seteventos.com, certamente ela estaria marcada pela impressão negativa que persistiu até poucos dias atrás. Ainda bem que eu já não tenho mais essa pretensão para o blog. O objetivo aqui, já há algum tempo, é estudar as coisas sem pressa para analisá-las com o detalhamento necessário e suficiente – sem também pecar por exageros, porque isso aqui não é uma tese de doutorado – e não ser o blog “antenadinho”, pontuando os últimos lançamentos. Desse modo, a análise é produzida com muito mais legitimidade, trazendo aos olhos e ouvidos o que vale a pena ser mostrado ao público – seja para desnudar suas qualidades ou seus defeitos – com mais propriedade. E assim foi com este novo-velho álbum do Bat For Lashes, que por isso renasceu nos meu ouvidos de um modo que eu já não pensava que aconteceria, exigindo, assim como a pobre Pearl, o seu direito a existir na minha seleção de discos favoritos.

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Arctic Monkeys – Humbug [download: mp3]

A meu ver, até Favourite Worst Nightmare e o show derivado de seu lançamento, a banda britânica Arctic Monkeys ainda se encontrava planando em uma atmosfera rock com algumas correntes de vento pós-adolescentes. Sem dúvidas que a música produzida pela banda naquele estágio de sua carreira já era de boa qualidade, porém por conter elementos típicos desse rock mais em voga, um tanto desenfreado e desnorteado, todas as suas composições partilhavam um ranço de semelhança esquizofrênica monotonal. Por consequência disto, não consegui deixar de duvidar se os rapazes ingleses seriam capazes de repensar esta musicalidade frenética, mas que muitas bandas preferem não abandonar por geralmente garantir-lhes um público cativo e uma boa recepção por parte da crítica. Felizmente, para minha satisfação, eu estava errado: Humbug, o novo disco do Arctic Monkeys, soa em praticamente todos os seus pormenores como o grito de maturidade da banda.
Produzido por Josh Homme – líder do Queens of the Stone Age – e James Ford – que também atuou no The Last Shadow Puppets, projeto paralelo do vocalista Alex Turner -, Humbug traz os quatro rapazes aventurando-se em terreno consideravelmente diferente daquele pelo qual estavam caminhando até então. As composições da banda soam agora bem mais elaboradas, grande parte delas com harmonias mais rebuscadas, mas que ao mesmo tempo fazem uso mais moderado dos atributos aplicados nas melodias. “Dance Little Liar” certamente é uma delas: a música, cuja letra passeia pelas suposições de um mentiroso convicto, é formada pelo fluxo suave e compassado da bateria, pelo baixo de surda sinuosidade, e pelos acordes assombrosos da guitarra que flutuam como a ondulação de um temerim impregna o ar com uma leveza volátil, mas vai aos poucos ganhando corpo e densidade até converter-se em uma harmonia sólida e crispante a partir da ponte melódica que toma a música de modo insurgente. Ainda dentro dos domínios da melodia, a introdução de um orgão Vox Continental ao elenco de instrumentos encorpa a sonoridade da banda com uma camada de rock punk-gótico, exatamente como se ouve em “Pretty Visitors”, que alterna entre a atmosfera orientada pelo órgão nebuloso e o andamento ligeiro e febril das guitarras, bateria e baixo em rascante delírio. Porém, das modificações apresentadas, o modo como Alex Turner utiliza sua voz é o que permanece nos ouvidos como registro mais caracteristicamente distintivo desta fase da banda: canções como “My Propeller”, com seus riffs graves e absortos das guitarras e com a bateria e o baixo em cadência soturna e traiçoeiramente hipnótica, e “The Jeweller’s Hands”, com a suave doçura dos toques ao piano e xilofone e da ambiência do acordes gentis da guitarra que pontuam discretamente o compasso marcial concedido pela bateria, produziriam um efeito completamente diferente se o vocal que as acompanham não fosse conduzido em um registro mais grave, brando e meditativo.
Mas esse novo caráter musical da banda não significa que não há espaço ou interesse em cultivar o seu já conhecido estilo, na suas várias modulações de agressividade rock. O cover de “Red Right Hand”, originalmente gravada por Nick Cave, tem guitarras, baixo e bateria velozes, perseguidos de perto pelo órgão que insiste em se fazer presente mesmo em uma melodia que recupera o tradicional estilo do grupo. Apesar de menos explosiva que o cover de Nick Cave, “Dangerous Animals” utiliza a dinâmica já comum na banda, com riffs de guitarra recheando ciclicamente a melodia em que um pulso semelhante ao de um sonar craveja uma obscuridade que só faz aumentar com o eletrizante solo de bateria, entrecortado por acordes de guitarra e pelo vocal ameaçador de Turner, elementos que em conjunto retorcem a harmonia antes de seu epílogo sonoro.
A mudança gerenciada pela banda e seus produtores foi sem dúvidas das mais inteligentes já produzidas no meio musical nos últimos tempos, já que ela foi feita de modo a preservar o que consolidou-se como o melhor na identidade musical da banda – suas melodias cheias de energia e vivacidade -, mas inserindo novas harmonias e elementos que subverteram sua essência em algo muito mais denso e consistente. É por isso que Humbug não surge como um disco importante apenas porque encorpou a identidade da banda, fortalecendo-a ainda mais, mas porque com ele o Arctic Monkeys mostra a tantos outros artistas e bandas de rock que isso pode ser feito sem soar como um ultraje para os ouvidos dos fãs.

Baixe: https://www.mediafire.com/file/w0w9xrmislgrv20/arctic-bug.zip

Ouça:

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Muse – The Resistance. [download: mp3]

Muse - The ResistanceToda vez que uma banda ou artista ensaia uma mudança de sonoridade isso não é feito sem causar certo desgosto em boa parcela dos fãs. Em parte, a banda britânica Muse já tinha vivido essa experiência com o disco Black Holes & Revelations, lançado em 2006, só que os shows da turnê do lançamento deste álbum foram aclamados pelo público e pela crítica, e desse modo o impressionante poder da banda ao se apresentar no palco fez com que os fãs frustados olhassem com mais carinho para o disco. Com The Resistance, álbum a ser lançado oficialmente dentro de algumas horas, o fato provavelmente vai se repetir em alguma medida, isto se ele não se apresentar com uma intensidade razoavelmente maior.
O novo disco mostra que os passos dados em Black Holes & Revelations não foram apagados desde seu lançamento; na verdade abriram caminho para que a banda trilhasse novamente espaços lá percorridos, sem medo de escandalizar alguns fãs ao misturar seu rock com elementos genuinamente pop. Sim, porque se alguns fãs até torceram o nariz ao ter o primeiro contato com “Supermassive Black Hole” e algum tempo depois descobriram a beleza descaradamente dançante e chacoalhante da canção, certamente eles já estarão preparados para “Uprising”, que conta com uma bateria bem marcada e uma camada generosa de riffs de guitarra acompanhados por palmas que alimentam a cadência da música e sintetizações que acolchoam a melodia, mas o que esperar da reação destes fãs ao ouvir a ousadia da banda em “Undisclosed Desires”, que joga o rock para escanteio e coloca em cena um pop com batida eletrônica, pizzicatos e vocais grudentos e algo rasos que remetem à uma mistura do synthpop poderoso do Depeche Mode com a rítmica rastejante do R&B da atualidade? Não é uma música fácil de se engolir, e deve-se admitir que considerando-se o panteão de composições da banda ela é realmente fraca, mas não deixa de ser uma música cativante e, por que não, realmente sincera.
Porém, o medo ou repúdio fica mesmo resumido à esta faixa, pois The Resistance é um disco com o rock da banda, sempre repleto de inferências sonoras épicas e grandiloquentes marcando presença com orgulho, como em “Unnatural Selection”, que nasce com um orgão cheio de fulgor messiânico, logo é assaltada por bateria, guitarras e baixo ferozmente ensandecidos e ondula com uma ponte sonora em que a melodia é desacelerada, ganhando tonalidades mais melódicas. Soa dramático? Mas essa é realmente a palavra que melhor define faixas como esta e “MK Ultra”, que além dos riffs incandescentes de Matt na guitarra e Chris no baixo e da energia e versatilidade de Dom na bateria, ainda conta com algumas sintetizações que complementam o estado de emergência sonoro da canção. “Guiding Light” preserva o imperativo sonoro com a bateria e baixo em pulso rompante contínuo e nos acordes da guitarra que variam entre o melódico e o rascante durante sua execução, mas o compasso nunca é acelerado, cultivando uma harmonia triste e suplicante. Por sua vez, a faixa título do disco, “Resistance”, vai mais longe, ou melhor, volta mais atrás: além de apresentar o trabalho fabuloso de Dominic na bateria e Chris no baixo, que se encarregam de construir uma base sincopadíssima para a melodia onde brilham acordes nostálgicos de piano e o vocal escandalosamente irretocável de Matthew, a música é introduzida e pontuada por uma sintetização fantasmagórica que remete ao trecho final da harmonia de “Citizen Erased”, uma das canções brilhantes do segundo álbum da banda, Origin of Symmetry.
Não é difícil de se observar, porém, que a marca mais estridente deste quinto disco de estúdio da banda britânica não é o tempero pop que se verifica na sua escala auditiva, mas as suas recorrentes referências à música erudita. Nesta categoria, primeiramente o que se encontra são as citações explícitas à obras famosas do gênero, contudo mesmo partilhando essa similaridade há variações no modo como isto é feito em cada representante deste grupo de músicas. Por exemplo, enquanto “I Belong To You/Mon CœurS’ouvre à ta Voix”, deliciosa faixa com sabor de música de cabaret pelo virtuosismo de Matthew no piano e pela interferência de um clarinete, se resume à referência mais simples por conta do interlúdio no qual o vocalista se rasga nos versos extraídos de uma ária da ópera “Sansão e Dalila” do compositor francês Camille Saint-Saëns, “United States of Eurasia ( + Colletral Damage)”, apesar de ser fechada por uma reinterpretação doce e terna de um dos Noturnos de Frédéric Chopin, não se contenta com pouco e se derrama em uma orgia sonora com variações melódicas bipolares que vão dos acordes no piano, vocais e suíte de cordas mais contemplativos até uma explosão faraônica de guitarras, baixo, bateria, vocais e orquestração de cordas ultra-dramáticos ebulindo reminescências que vão desde óperas-rock emblemáticas até composicões para o cinema como a trilha de Maurice Jarre para o fabuloso “Lawrence da Arábia, do diretor David Lean. Porém a banda não se resume à citar clássicos, ela também quis compor os seus. E assim é que a peça sinfônica “Exogenesis Symphony” foi escolhida para fechar o trabalho como o grandioso monolito que sintetiza a essência deste disco. Dividida em três partes – “Overture”, “Cross-Pollination” e “Redemption” – e estendendo-se por quase 14 minutos, a peça é iniciada com arranjo de cordas e sopros que criam uma ambiência esvoaçante que ganha a adição dos instrumentos do trio britânico e do vocal quase transcendental de Matthew Bellamy, sucedida por orquestração que é capitaneada por um solo dedilhado com maestria ao piano que logo é promovido à um rock glorioso e revertido novamente à instrumentação que introduziu a sequência e é fechada com uma serena harmonia guiada por um piano de colorações tristes como o de Beethoven em “Moonlight Sonata” que se desdobra em uma melodia orquestral com vocal emocionante até recrudescer novamente para o piano de matizes pastorais, enormemente plácido e gentil.
The Resistance pode soar excessivo com sua multitude de referências e estilos se sucedendo ou sobrepondo a cada faixa e certamente vai servir como a tão desejada munição para que os detratores, uma vez mais, gritem de modo sensacionalista e panfletário o seu discurso já batido e ultrapassado de como a banda é falsa por não fazer mais do que emular sonoridades alheias – como se estas bandas de rock não devessem tudo o que fazem aos precursores do gênero, como Beatles, Led Zeppelin e Pink Floyd -, mas os fãs sensatos do Muse já aprenderam a ignorar a perseguição apaixonada – que, ora vejam, por isso mesmo soa muito mais como mera dor de cotovelo – dos que enxergam a banda através deste prisma distorcido e se deixam conduzir pelo rebuscamento sonoro do trio britânico, arrebatados pelo universo cada vez mais extenso de suas criações ricas em “sons e visões” – pedindo aqui licença à David Bowie, cânone a quem toda banda e artista que está na ativa deve reverências – cujas influências e referências são assumidas sem qualquer vergonha, ao contrário de grande parte dos nomes do rock atual, que ao serem confrontados por estes senhores magníficos teriam que confessar, constrangidos, nunca tê-lo admitido.

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Aproveite para baixar os outros discos da banda clicando na tag “muse” ou nos “posts relacionados”, logo abaixo. Como o primeiro disco não possui uma resenha nos arquivos do blog, o link para download fica a seguir.

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Florence + The Machine – Lungs (4CDs: Deluxe + Special Box Edition). [download: mp3]

Florence and The Machine - LungFlorence Welch disse que deseja que sua música desperte sentimentos fortes em quem a ouça, como a sensação de atirar-se de um edifício ou de ser capturado para as profundezas do oceano sem qualquer chance de prender a respiração. Parece um tanto exasperante, para não dizer presunçoso, mas é este tipo de sensação que se tem ao ter contato com as criações de Florence + The Machine, a banda encabeçada pela artista britânica. Nela, Florence dá vazão à todo o seu impressionante furor artístico, que mistura melodias vistosas, repletas de complexas camadas sonoras à letras poéticas, em sua maioria enormemente metafóricas. O elemento que dá liga a estes ingredientes saborosos é o seu vocal, utilizado pela garota em todas as suas possíveis matizes e variações de volume, não raro emitido em gritos longos e possantes. A substância obtida desta receita é uma música sofisticada e vibrante que tem a mesma identidade idiossincrática e indefinível de artistas como Kate Bush, a Björk intimista de Vespertine, My Brightest Diamond e Bat For Lashes.
Porém, mesmo sem saber exatamente como definir as criações desta artista britânica devido à sua mistura de gêneros, se há algo que se pode dizer ser recorrente em grande parte das músicas deste seu primeiro disco é o uso extenso de uma percussão escandida com força numa síncope potente e bem marcada, concedendo às canções uma atmosfera algo ritualística. Os acordes agudos do banjo e da harpa em “Dog Days are Over”, o volumoso uso de vocais em “Rabbit Heart (Raise It Up)” e “Drumming”, o piano de toques esparsos e dramáticos e as sintetizações salpicadas em “Howl”, a harpa cheia de calor em “Cosmic Love” e o orgão e o arranjo orquestral salpicado de pizzicatos de “Blinding” chegam todos acompanhados de uma bateria e percussão que não se escondem na canção, ao contrário, mostram-se em toda sua glória, usurpando os ouvidos sem qualquer receio e emitindo uma quase imperativa necessidade de sacudir o corpo.
Mas não há erro em afirmar, no entanto, que as criações de Florence e sua máquina partem de bases rockeiras. Tanto “Kiss With a Fist”, na qual a cantora declara que um amor recheado de socos e pontapés é melhor que amor nenhum, “You’ve Got The Love”, cover de uma canção gospel que prega que o amor divino existe mesmo nos tempos difíceis, e o cover “Girl with One Eye”, apesar de sua sutil camada country, exalam a fragrância mais emblemática do gênero: uma fartura de múltiplos riffs de guitarra assaltando a melodia ou preenchendo todos os espaços possíveis. Mas mesmo neste disco tão repleto de canções fabulosas, “Bird Song”, faixa bônus da versão deluxe do disco que igualmente pertence à faceta mais nitidamente rock da artista, ainda consegue se elevar em meio as que acompanham como a música mais brilhante do lançamento: iniciando com alguns versos a capella, logo acompanhados por uma guitarra melancólica, a melodia vai alternando um crescendo de momentos reflexivos com outros repletos de ira até explodir em uma orgia sonora sem economia nos vocais, no arranjo melódico e no sentimento que jorra como lava do Monte Vesúvio ao desenhar metaforicamente nas letras a consciência arrependida de alguém como o cantar de um pássaro delator. E é assim, expelindo suas emoções sem receios de soar vibrante, urgente e épica, mas também nunca renegando o direito de soar delicada e gentil quando deseja que Florence + The Machine traz para o rock alegorias em sons e versos que enfeitiçam o espírito e hipnotizam os sentidos dos ouvintes, exigindo com toda propriedade seu lugar na seleta galeria de músicos que conseguem encobrir suas composições em erudição e sofisticação e ainda preservar o seu caráter potencialmente acessível. Sim, Florence Welch é mais uma daquelas artistas que dificilmente se contenta em soar comedida ou simples, porém o abundante requinte com o qual suas composições são impregnadas permitem que nossos sentidos captem apenas a sua fervente e quase primitiva beleza.

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Kasabian – West Ryder Pauper Lunatic Asylum (+ 2 faixas bônus). [download: mp3]

KasabianOlhe bem para a capa do novo disco da banda britânica Kasabian. Olhou? Agora leia bem o título ali em cima. Não custa repetir: West Ryder Pauper Lunatic Asylum. Até alguém com meio cérebro percebe que com este novo lançamento os rapazes resolveram se aventurar no filão da música conceitual e experimental. A bem da verdade, a sonoridade não é assim tão experimental, diria que é ainda bem linear, e o conceitual não vai tão longe, fica tão somente na capa do disco – imagem sobre a qual, por sinal, já falei antes em um post no meu outro blog -, onde os rapazes se fantasiam com o intuito de melhor ilustrar a insanidade dos pacientes da instituição psiquiátrica que inspirou o título do disco e também se resume à algumas declarações de Sergio Pizzorno e Tom Meighan, que garantem que as canções foram imaginadas como trilha sonora de algum filme avant-garde como “A Montanha Sagrada” , de Alejandro Jodorowsky – essa sim uma obra experimental e conceitual com todas as idiossincrasias a que tem direito. Nem é preciso parar pra pensar muito pra se dar conta de que, na verdade, o disco é mais uma tentativa de atrair uma aura cult à banda, e eu já devo ter dito por aqui que tudo o que é intencionalmente cult acaba nunca atingindo o seu objetivo – ou seja, ser cult -, ao menos não de um modo que soe natural. No entanto, mesmo tendo-se conhecimento de que tudo está encoberto por boas doses de pretensão, isso não impede de reconhecer que, sim, West Ryder Pauper Lunatic Asylum é um disco com uma boa quantidade de belas canções compostas pela banda.
Começando pelo começo, “Underdog” é um single típico da banda, misturando muito bem os riffs arfantes de guitarra e do vocal sempre britanicamente petulante de Tom Meighan com uma batida que bebe direto no gargalo da cadência ligeira do trip-hop. Mas é a sacolejante “Fast Fuse” que consegue de fato embriagar a bateria na síncope acelerada da música eletrônica, compondo com os acordes precisos da guitarra e do baixo, com o vocal aos brados de Meighan e com os vocais de fundo de Pizzorno uma melodia hipnoticamente dançante. “Take Aim” entra em ação logo em seguida, e apresenta o flerte da banda com elementos orquestrais, como mostra a introdução triste, algo fúnebre, feita de um arranjo de sopros e cordas e acompanhada por um violão e baixo que respiram latinidade e infectam a bateria com o mesmo ar ibérico. “West Rider Silver Bullet”, que surge um pouco mais a frente, também experimenta com elementos orquestrais, mas o faz de outro modo: a canção, que inicia com uma breve narração feita pela atriz Rosario Dawson, usa ostensivamente um arranjo cortante de cordas para pontuar dramaticamente a música, que incorpora baixo e violão em um andamento que remonta as trilhas sonoras de filmes clássicos de faroeste – Ennio Morricone sendo o criador de algumas das mais emblemáticas composições para o gênero.
Esta, por sinal, parece ter sido uma obsessão do Kasabian neste disco, visto que “West Rider Silver Bullet” não é a única canção que suscita as composições que ficaram no imaginário popular como trilha para paisagens áridas e empoeiradas do meio-oeste norte-americano. “Thick as Thieves” assume a empreitada sem receios, invocando no seu banjo, bateria, vocais e violões todo o tracejado do estilo e a melodia de “Fire” prossegue forte nesta mesma toada, investindo no violão, no baixo e na bateria de inconfundível fragrância western, ainda que as guitarras do refrão destoem para um leve perfume oriental.
Mas como o álbum foi gestado com as pretensões artístico-conceituais em mente, não poderia faltar canções que respondessem à este propósito, e “Secret Alphabets”, a meu ver, seria a que melhor materializa a idéia: desda a introdução de vocais e pratos reverberando brevemente, passando pela melodia de andamento algo minimalista, guiada pela bateria e temperada por uma sintetização contínua e por econômicos acordes de guitarra, até o fechamento conduzido por cordas e um teremim ameaçadores, tudo procura conjugar uma atmosfera de estranheza e mistério que imagina-se ser a dos filmes experimentais que inspiraram os membros da banda neste lançamento. Mas se o cinema experimental foi fonte de inspiração para o Kasabian de West Ryder Pauper Lunatic Asylum é devido ao poder exercido pela música da época sobre este cinema, e que também é palpável neste disco, haja visto que a balada “Happiness” escancara suas influências, contando com a sempre infalível beleza de um coral gospel armado de suas vozes e palmas acompanhando a melodia que, claro, vai sem medo transitando pelo blues, o que dá um evidente “Beatles touch” à canção. É claro que essa música, e pra ser sincero, o disco como um todo não é diferente de um sem número de outros tantos que já ouvimos por aí, mas se por um lado a banda se acomoda copiando fórmulas consagradas, ao menos deve-se reconhecer que o Kasabian o sabe fazer muito bem.

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