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Tag: rock alternativo europeu

Petra Jean Phillipson – Notes On: Love. [download: mp3]

Petra Jean Phillipson - Notes On: LoveNotes On: Love teve um gestação de oito anos. Pode parecer muito, pode soar como um exagero, mas a simplicidade nem sempre é fácil de se atingir. E, no caso específico deste disco, a simplicidade, o cuidado e o apuro na composição da sonoridade do disco são seus diferenciais. É esse trabalho tão criterioso que faz com que as canções compartilhem uma identidade similar, mas ao mesmo tempo soem diferentes – o que torna sua analise um tanto difícil.
“Independent Woman”, que declara em seus versos a dinâmica e as agruras de uma mulher sem lar e sem rumo certo, por exemplo, chama a atenção com sua sonoridade seca, de guitarra, violões e bateria que mantém uma ritmica constante, além dos vocais anasalados e altivos. Em “I Want The Impossible”, em que Petra lista seus desejos impossíveis, alucinados e luxuriosos, por sua vez, é a suavidade obscura, possível graças à guitarra de acordes agudos, ao bandolim arrepiante e ao violão quase surdo ao fundo, que salta aos ouvidos. “Billy Steaks”, sobre uma mulher que lamenta que seu amante esteja casando com outra, poderia bem ser uma canção do Led Zeppelin, tamanha a semelhança do vocal de Petra e da atmosfera criada pela instrumentação, particularmente o violão e a gaita. Já “I’m Lying”, cujas letras falam sobre uma mulher que tenta sustentar-se sã sem o seu amor e tem vocais e guitarras sorumbáticas e melancólicas, com bateria e frugalidades suavíssimas, quase inaudíveis, soa como um country cantado por uma Janis Joplin bem mais sutil e sóbria. “Play Play”, sobre a busca de algo que não reside no meio cosmopolita e no urbano, que começa igualmente sorumbática, porém mais soturna, graças aos acordes agudos recorrentes da guitarra, logo é tomada, no refrão, por uma melodia mais doce e instrumentação levemente mais intensa. A última faixa, “Cradle Of Your Smile”, é a mais intensa entre todas, no que tange a melodia, onde Preta Jean compôs um punk rock gracioso, sem a visceralidade simbólica do gênero. Nela, o vocal de Petra é mais delirante e sexy, conciliando, de uma só vez, amor e luxúria delicados mas também gritantes e urgentes. A música, especificamente, tem tonalidade dark, reforçada pelo trecho cheio de sussuros indistintos e sobrepostos, e conta com guitarras distorcidas e ruídos abafados ao fundo. O resultado é uma canção que cairia como uma luva para sonorizar, de maneira esplêndida, uma sequência perturbadora e intrigante de um filme de David Lynch.
O disco de estréia desta cantora e compositora americana, valeu todo o tempo e o esforço empregados. Petra Jean Phillipson buscou, todos esses anos trabalhando neste disco, uma produção que sentisse como sua e que lhe dissesse algo. E esse saldo final, que decifra dores e anseios amorosos, musicados de maneira obscura, delicada e lúgrubre, em canções que guardam em si semelhanças mas que apresentam diferentes nuances de uma mesma temática e atmosfera, era o que a artista tanto perseguia. Só tormara que a artista, que já anunciou estar planejando seu segundo disco, leve bem menos do que oito anos para sentir que seu próximo disco está no ponto.

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Damien Rice – 9 (+1 faixa bônus). [download: mp3]

Damien Rice - 9Damien Rice, o cantor e compositor irlandês, tem auxílio constante da mesma equipe de músicos desde a sua estréia, o que fez seu trabalho ser, não-oficialmente, resultado do empenho de uma banda, e não de um artista solo. A participação crucial e ininterrupta de Lisa Hannigan no vocal e da violoncelista Vyvienne Long dedilhando o violoncelo, por exemplo, corroboram esta caracteristica de Rice. Ainda assim, todo o esforço e comando criativo é dele, e é exatamente isto que nos impede de nomear este grupo como uma banda. Isso chega mesmo a ser palpável ao escutar suas canções: sente-se com facilidade que a unidade algo melancólica e irascível delas é resultado da personalidade arredia e meio porra-louca de Damien Rice. 9, seu segundo álbum, não fica atrás de O no paralelismo das sensações de vigor e tristeza. “Me, My Yoke And I”, é a música do disco que retrata com mais clareza esse aspecto: os vocais bradam continuamente versos abstratos, uma imagem pujante da revolta, melancolia e fúria afetiva, onde guitarras e bateria trabalham em uma melodia de digressões e distorções robustas de volume intenso. Semelhante em estrutura melódica também é “Rootless Tree”, que utiliza violão, violoncelo, baixo, bateria e guitarra, sendo que estes dois últimos avolumam-se ainda mais no refrão, assim como o vocal maciço de Rice. Na letra, o cantor exige que os erros antes cometidos sejam esquecidos por sua amada, e que ela permaneça junto à ele, mesmo que o fator que os una seja o ódio.
A intensidade na mudança de atmosfera e humor melódico é a marca maior das composições de Damien Rice. Em “Elephant” temos uma bela amostra disto: a música, que quase ganhou o título “The Blower’s Daughter Part 2”, é feita de dois momentos instersectos: de início temos uma melodia mais acústica, silenciosa e sofrida, à base de violões e violoncelo discreto, para então estravasar-se em um climax de instrumentação e vocais mais encorpados. Nos versos temos um homem que confessa seu sofrimento para a mulher que o abandonou, afirmando que mesmo a lembrança dela, que ainda persiste como uma presença dolorosamente palpável quase física, deve acabar. Mesmo com esse temperamento difuso de suas canções, há espaço para climas consistentes. “Sleep Don’t Weep”, onde vemos um homem que confessa sua fragilidade e declara que seus dias foram feitos apenas de dor, possui uma persistência na melancolia suave do violão, piano e vocais de Damien e Lisa, ganhando logo a companhia de bateria, violoncelo e orquestrações ainda mais graciosas.
Esse caráter tão difuso, por mesclar melodias resignadas e ternas com momentos de exaltação e cólera, sustentando ao mesmo tempo uma coesão lírica e sonora tão potente é que faz de Damien Rice ser um músico tão insólito no cenário mundial – auxiliado igualmente pela sua fobia aos excessos da fama e da popularidade.

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Jenny Wilson – Love and Youth. [download: mp3]

Jenny Wilson - Love and YouthA sueca Jenny Wilson cantou, compôs as músicas, tocou todos os intrumentos e também produziu o seu disco de estréia, Love and Youth. Jesus, mais indie e alternativa do que isso só uma banda da Sibéria que toque berimbaus. Porém, não se assustem: ela fez tudo isso porque sabia que tinha cacife para tanto. Love and Youth é um disco de canções pop/folk que não te surpreendem de imediato, mas que vai construindo o seu espaço devagar no ouvinte. Duas faixas do disco, “Let My Shoes Lead Me Forward” e “Bitter? No, I Just Love To Complain”, se destacam por dividirem a mesma tônica nas letras e melodias: liricamente, ambas as canções falam sobre a resistência e a recusa em seguir regras e princípios – a primeira o faz ao recusar o que aprendemos em convívio durante nossa vida, a segunda concentra-se em recusar de modo sarcátisco e irônico os padrões estabelecidos pela indústria da música -; com relação a música, as duas apresentam uma ambiência pop mais animada, baseada em programação eletrônica variada dos teclados, e um vocal em falsetto durante toda a faixa. Mas a unidade da maior parte das músicas no disco é indicada pelo título do álbum, que não é puro acidente: o tema dominante são as desventuras juvenis, bem como o amor, sempre sob o ponto de vista sarcástico da compositora. Aí se encaixam o pop-rock baseado em guitarra e bateria ligeiras de Love and Youth, que em suas letras descreve com enorme apuro o universo escolar e seus personagens sempre marcadamente caricaturais, o folk-rock de violão e guitarra macios de “Common Around Here”, que narra os rituais de comportamento que fazem os jovens serem aceitos em grupos distintos, e a balada de programação eletrônica e guitarra tristes de “Those Winters”, que trata de um jovem que, aparentemente, é surrado pelas crianças da vizinhança. Contudo, Jenny não ocupa-se tão somente do mundo das amarguras juvenis – há bem mais do que isso em Love and Youth. Em “Would I Play With My Band”, balada de linda suavidade, baseada em programação de tecitura delicadíssima no teclado e em acordes rápidos e sutis de guitarra e violão, uma mulher pergunta-se sobre os caminhos que teria percorrido caso seu grande amor não tivesse morrido. Por outro lado, “Love Ain’t Just a Four Letter Word”, que tem melodia baseada em piano, guitarra, teclado e bateria de acordes e toques graves, breves, mínimos, fala de maneira irônica sobre os efeitos que o amor tem na personalidade de um apaixonado.
Love And Youth só é compreendido pelo ouvinte a medida que ele põe atenção nas letras, entendendo que a artista mostra enxergar o mundo por um viés irônico hiper-sensível. A partir deste momento, qualquer pessoa começa a se apaixonar por esse compêndio de agruras juvenis e amorosas, permeado com falsettos repentinos e meio estriônicos – sempre estriônicos, eu diria.
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Kasabian – Empire. [download: mp3]

Kasabian - EmpireEssa banda inglesa, com dois lançamentos de estúdio até o momento, faz um indie-rock superlativo, cujas canções tem melodia quase “over” de tão agitadas: é difícil encontrar um espaço vazio na música da maior parte das faixas. Vemos isso no modo quase incômodo como é explorada a programação eletrônica nas velozes e hipnóticas “Apnoea” (sobre uma revolução popular que almeja acabar com a opressão produzida pelos governantes) e “Stuntman” (que chama os soldados de “dublês”, devido à maneira como prontamente substituem os que já morreram lutando em uma guerra). No entanto, é a fusão de programação eletrônica e indie-rock que faz a tônica do álbum, já que a maior parte das canções foi feita dentro desta concepção harmônica. “Empire” (canção de teor esnobe, que canta os excessos de alguém por quem não temos muito apreço, bem como os nossos próprios), “Shoot the Runner” (que trata em suas letras, de maneira até algo ofensiva, de como os governantes deixam-se tomar pelo sentimento ilusório de supremacia, esquecendo-se que tudo é passageiro e fulgaz, até mesmo o poder) e “Last Trip (In Flight)” (que fala sobre um homem que, de maneira fatalística e inconsequente, tenta conquistar o amor de alguém já comprometido), as três primeira músicas, são um exemplo disso: todas tem instrumentação rock incansável e nervosa, onde guitarras, baixos e bateria são manipulados de maneira explosiva, com um vocal britanicamente arrogante e petulante e uma programação eletrônica profusa e sutilmente saudosista. Embora estas faixas tenham um equilíbrio na sua energia e profusão melódica, outras apresentam um destaque específico dentro da música. É o caso de “Me Plus One” (uma canção que fala sobre uma paixão mal-sucedida e doentia), cujo destaque fica para os acordes econômicos e minimalistas da violão durante toda a melodia e também para a programação eletrônica visivelmente inspirada na música árabe, e de “Sun Rise Light Flies” (que fala sobre o efeito anestésico de um domingo de sol sobre os males que nos afligem) cuja programação eletrônica, que se utiliza de guitarras distorcidas para forrar o fundo da melodia e criar ainda um loop fabuloso de alguns poucos acordes, invade a imaginação do ouvinte como o sol do amanhecer. Por outro lado, “By My Side” (que aparantemente trata dos efeitos de conflitos bélicos sobre as relações humanas ) mostra um Kasabian mais contido, que procura construir a luminosidade da fusão de programação eletrônica e rock com menos pressa e avidez. Porém a última canção do disco, “The Doberman” (que trata de um homem desiludido com a condição do mundo em uma Londres não menos caótica), é isoladamente o destaque absoluto do álbum. A música sustentaria o disco inteiro sozinha, com sua melodia que trabalha um crescendo contínuo de vocais, violões e guitarras algo tristes e bateria acústica marcante, até explodir em um devaneio latino-rocker, cheio de palmas e backing vocals múltiplos.
É bem verdade que tamanha profusão sonora possa estressar os ouvidos do ouvinte, mas também é verdade que a banda faz isso com enorme maestria: mesmo soando cansativo às vezes, Empire é um disco de energia contagiante, irrefreável do início ao fim.
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PJ Harvey – Stories From The City, Stories From The Sea. [download: mp3]

PJ Harvey - Stories From The City, Stories From The Sea

PJ Harvey - Stories From The City, Stories From The Sea
O penúltimo disco de canções inéditas da rockeira britânica PJ Harvey surpreendeu tanto crítica como público, já que ambos consideraram este o álbum com maior apelo comercial lançado pela artista até o momento. Muito além disso, Stories From The City, Stories From The Sea é um disco que prima pela homegeneidade, tanto narrativa quando melódica: no primeiro aspecto, é um disco repleto de canções agitadas, vertendo energia com sua sexy sonoridade punk-rock, mesmo nas poucas músicas mais contemplativas do disco; com relação ao segundo aspecto, o disco lida tematicamente com personagens algo desajustados, que vivem a vida de forma inconsequente e hedônica, em um cotidiano urbano cheio de luxúria e desventuras por vezes fatalísticas. Em cinco canções do disco – que conta com a participação do vocalista do Radiohead, Thom Yorke, em uma de suas faixas – este universo desenfreado e meio underground é abordado de maneira exuberante. Na primeira delas, “Big Exit”, toda a energia do projeto é resumida: para adornar a letra, que retrata o momento em que um casal de criminosos é cercado pela polícia, uma verborragia de guitarras acolchoa a melodia totalmente “rocker” da canção, enquanto Harvey entoa os versos em brados poderoros, o que transforma a música em um hino dos porra-loucas de plantão. A letra de “Good Fortune” ainda mostra um casal de párias sociais mas, ao contrário da anterior, retrata a consciência de uma hedonista que sabe que vive o momento mais intenso de sua vida ao lado de seu namorado, sonhando em viver ao lado dele as peripécias e perigos que viveu o famoso casal de ladrões Bonnie and Clyde. A música é hipnótica e cíclica, usando guitarras, bateria e baixo de maneira farta. Em “Kamikaze”, que conta com mais um vocal dissonantemente glorioso de PJ Harvey, baixo e guitarra são dedilhados de maneira inquieta e ansiosa, até atingirem um nervosismo hiperbólico junto com a bateria, quando quase repentinamente a canção é encerrada. Na letra primorosa da canção, Harvey traveste-se em uma guerreira audaciosa que encontra-se cercada por um exercíto de kamikazes – pilotos suicidas japoneses – prontos a atacá-la. “This Is Love” é uma canção de amor à maneira PJ Harvey de ser: nela, a cantora confessa o desejo de despir o seu amante e explorar o sexo como se não existisse outro dia. A melodia é sexy e angustiante, produzida aos custos de uma bateria esmurrada, baixo e guitarras em tons graves e pigarreantes. Entre as músicas mais tranquilas do disco, “We Float”, que fecha o álbum, é o destaque absoluto. Na música, com base em bateria suave e piano de acordes graves mínimos, o vocal da cantora soa menos delirante, mais sossobrante e reflexivo, alternando entre tons graves e ligeiramente mais agudos, partcularmente no refrão. A letra reflete mais uma vez sobre amantes que vivem sem destino, perdidos no ambiente urbano.
Artista de personalidade inquieta, inventiva e mutante, PJ Harvey procura sempre produzir discos de diferentes identidades, que se distinguam sonora e liricamente: depois de versar sobre o sofrimento e a fatalidade, utilizando-se do obscurantismo e minimalismo eletro-rock de “Is This Desire”, a cantora quis buscar o inverso, compondo, à sua maneira, canções cujos arranjos transbordassem luxo e beleza e falassem sobre viver o amor e o prazer de maneira mais inconsequente e despreocupada – isso tudo mantendo intacta a característica comum à todos o seus projetos: a intensidade sonora e narrativa.
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Thom Yorke – The Eraser. [download: mp3]

thom_yorkeMesmo não sendo fã da banda Radiohead, gostando apenas de algumas poucas faixas de seus álbuns, resolvi arriscar ouvir The Eraser, o álbum solo do vocalista da banda. Foi uma boa idéia – mesmo o disco não se revelando estar entre as minhas preferências, há ali um projeto sonoro bastante coeso e faixas bem acima da média.
O disco inicia com a idiossincrasia da faixa título do álbum que, como a maior parte das faixas do disco, é essencialmente eletrônica. O sampler de um piano repete-se continuamente ao fundo, enquanto ruídos intencionalmente sujos encorpam a base da canção e sobrepostos pelo vocal anasalado de Yorke, que ao mesmo tempo segue e foge da limitada melodia. Na parte final da canção a base eletrônica é re-sampleada e ganha um ruído abafado ainda maior, sumindo aos poucos e deixando o cantarolar baixo do cantor para encerrar a música. A letra trata dos jogos de aparência, as traições e segundas intenções que integram ambos os lados de uma relação afetiva. Logo depois temos “Analyse”, um dos pontos altos do disco, com letras que falam sobre a insistente busca humana de um sentido maior na vida que, geralmente, deixa os que travam esta busca mais confusos do que antes de terem a iniciado. A melodia é bem menos minimalista e seca do que a anterior: os acordes do piano ousam ser mais melódicos e emotivos, acompanhados por uma base eletrônica complementar constante que, apesar de bastante sincopada, complementa estranhamente bem a beleza do piano e vocais fabulosamente sensíveis de Thom Yorke. “The Clock”, a faixa seguinte, tem baixo bem mercado e um loop curto constante, feito à base de ruídos eletrônicos e samplers hiper-minimalistas de guitarra e de percussão. O vocal de Thom aparece em várias camadas diferentes pela melodia, que no âmbito geral produz uma sensação de desconforto urbano pós-moderno. A letra, como indica o título da canção fala do tempo, mas dentro do espaço da relação afetiva e das ilusões e desejos dentro delas construídas. “Skip Divided” é a canção em que Yorke menos utiliza os seus famosos falsettos, preferindo cantar com uma voz menos empostada e mais natural. Funciona muito bem dentro da melodia de tons noturnos, recheada de eletronismos obscuros e vocais de fundo distorcidos e redistorcidos que, de tão bruxuelantes, me lembram as melhores passagens da inspiradíssima trilha sonora de Wojciech Kilar para o filme “Drácula”, idealizado por Francis Ford Coppola. Na letra, Thom Yorke disseca a dor, agonia e descontrole doentios que a simples visão e proximidade de alguém por quem nos apaixonamos pode despertar. “And It Rained All Night” inicia com uma miríade de ruídos eletrônicos que se entrelaçam em uma espiral sonora, até serem estranhamente sobrepostos pela acústica de baquetas de bateria sendo batidas uma contra a outra. O loop das baquetas prossegue continuamente, enquanto surge na música mais um riff marcante do baixo e um teclado que lembra o som de um temerim, algo claramente inspirado em filmes de terror e suspense cheios de soturnas figuras alienígenas – loops e samplers sujos de ruídos indistintos ou de guitarras deformadas também perfazem a melodia delirante da canção. A letra contribui na preservação do clima perturbardo da melodia, falando sobre uma noite de sono perdida por um ruído incômodo de chuva, o que abre espaço na mente cansada para ser tomada por delírios de Nova Iorque ser completamente alagada por águas torrenciais – faixa de clima mórbido interessantíssimo. “Harrowdown Hill” é outra canção que se destaca no álbum, apresentando um baixo (ou guitarra?) de presença forte na música, funcionando quase como uma bateria, cujos acordes dedilhados se repetem ciclicamente durante toda a canção. Sonoridades sobressalentes são construídas pelos loops minimalistas que complementam a base da canção e também pelo constante orgão de leve variações melódicas, que potencializa a sensibilidade do vocal de Yorke e produz uma pausa na sequência final, acompanhada brevemente por acordes espaçados e adocicados de piano que deixam o ouvinte suspenso na melodia por alguns instantes. Yorke declarou que sua letra foi baseada na morte de David Kelly, o cientista que derrubou, usando provas e estudos, as motivações britânicas – e consequentemente americanas – para a invasão do Iraque. Mas, analisando a revelia deste dado, pode-se dizer que a letra trata do desejo humano de fuga e de revolta diante da confusão e desprezo sobre as individualidades e sentimentos.
The Eraser não compraz ainda uma sonoridade que grade em extremo, nem faz seu criador passar muito mais notado por aqueles que nunca o tiveram como preferência. No entanto, o disco revela que Thom Yorke é capaz de modificar a sua idiossincrática veia criativa para atingir uma outra parcela de público sem, no entanto, colocar em risco a identidade musical criada com tanto esmero e afinco à frente da banda Radiohead. É um grande mérito já que, algumaa vezes, projetos solo descambam para algo sem novidade alguma, servindo apenas ao propósito de apaziguar o ego de uma artista que se sentia tolhido ou pouco livre para expressar-se.
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Sim, eu já tinha postado este álbum por aqui. No entanto, tinha feito isso sem escrever uma resenha. Me dei ao direito de refazê-lo, agora que o escutei com cuidade e avalei. (Re)Aproveitem.

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Thirteen Senses – The Invitation. [download: mp3]

Thirteen Senses - The InvitationJá fui mais radical e tive uma pré-disposta implicância com bandas de rock que pertencem ao chamado “indie”. Porém, já faz alguns longos meses que meus ouvidos se abriram para uma experimentação ainda maior – e isso vem acontecendo cada vez mais, a medida que o tempo passa: deve ser porque estou ficando velho. O fato é que esta abertura e permitiu encontrar bandas muito boas, como o Death Cab for Cutie – cujo maravilhoso último disco já tratei aqui no blog – e o Thirteen Senses. Iniciantes no ramo, os ingleses desta banda conceberam um álbum de estréia que agrada em cheio à qualquer fã de música alternativa ou independente, algo que assemelha-se à maior parte dos artistas que pertencem à este grupo mas que, ao mesmo tempo, tem uma identidade bem clara.
O álbum começa com o single “Into the Fire”, cujo destaque dentro da melodia vai para o piano de acústica maravilhosa, mas que trabalha belamente junto com a bateria ritmada mas suave e a guitarra de acordes sobrpostos e bem planejados. O vocal de Will South vai junto com a harmonia, alternando entre o delicado e o mais exaltado – apesar de que sua voz nunca deixa de ter algo de sussurrante e aveludado. A letra é suavemente poética, composta de versos que incentivam e desafiam. “Thru the Glass” tem introdução que inicial lenta, com bateria distante e guitarras algo lamentosas, mas que logo ganha ares mais agitadas, com entranda de acordes mais rascantes de múltiplas guitarras e bateria mais forte. A melodia alterna entre estes momentos mais intensos e algo mais suave, acompanhando o vocal, muitas vezes em falsetto, de Will South. A letra trata dos ímpetos e desejos repentinos que nos trazem uma vontade de fugir e fazer algo inesperado, que não faríamos normalmente – é realmente uma canção linda. “Gone”, que trata de nossas ilusórias tentativas de provocar uma mudança que, já sabemos, não ocorrerá. Os violões e a guitarra da introdução são bárbaros e – só agora me vem à mente, vejam só – lembram algo do The Cranberries, com seus acordes esparsos e melancólicos. A bateria tem cadenciamento encorpado mas sempre delicado e o vocal de Will está perfeitamente entrosado com a melodia triste e algo arrependida. “Do No Wrong” tem uma letra poética muito bem trabalhada, e trata, em seus versos de revolta e inconformismo. O vocalista põe um cantar ainda mais suave e aveludado do que o utilizado até o momento, o que combina com o dedilhar absolutamente transcendental das guitarras ao fundo e o piano, a bateria e as guitarras, que compõem a harmonia principal da canção, apresentam-se mais encorpados durante o refrão. Resignação é a tematica dos versos meio episódicos da belíssima “The Salt Wound Routine”, que investe em bateria suavemente “rocker”, piano de acordes dramáticos, guitarras que acompanham a melodia e orquestração de cordas ao fundo, que amplia o sentimento de conformismo. “Saving” prossegue no poetismo contemplativo que trata novamente de conformismo, agora também com uma sensação que mistura fracasso e desistência. A música é baseada em piano e bateria de melodias cadenciadas, com guitarras e baixos acompanhando, e um epílogo melódico solo no piano fechando a canção. Tristeza e sentimento de resignação diante da incapacidade de ir além é o que nos traz as letras de “Lead Us” – já diz o título: alguém nos guia, não somos nós que tomamos a frente e desbravamos o caminho. A melodia utiliza com imensa beleza o piano e as guitarras, de acordes dedilhados que se destacam na música. “Last Forever” fala de um amor mas que sempre sobrevive, mesmo sacodido por alguns contratempos, e tem uma melodia que investe em uma bateria mais incorpada e guitarras mais profusas, além de um vocal um pouco mais alto no refrão. “History”, composta de versos de amor curtos, traz na sua melodia a partiicpação de um teclado à frente da melodia da música, que inicia-se com ele, tranquila, e ganha corpo com a entrada da guitarra de acordes rápidos e da bateria de cadenciamento rápido, ainda que suave. Porém logo a música volta a trafegar em uma suavidade guiada pelo teclado e por guitarras de acordes esparsos. “Undivided”, que traz versos que tratam de amizade e despreparo diante das situações na vida que nos desafiam, tem melodia muito bem trabalhada, com uma intodução baseada em acordes silenciosamente dramáticos no piano, e que ganha intensidade com o uso da bateria, guitarras e baixo, tão logo encerra-se o vocal. Em seguida temos a melodia de consistência suave e triste de “Angels and Spies”, com vocal lento e melancólico, e onde o piano e as guitarras quietas ganham a companhia da bateria somente na sua metade final. A letra sobre algum sentimento de complacência e alívio, diante do fim da sensação de confusão e do sofrimento que se impunha ainda há pouco. “Automatic” belíssima, fecha o disco com sua letra intensamente poética e música baseada no vocal sofrido e em acordes meio lentos e espaçados do piano e da guitarra, ganhando uma mudança melódica em sua parte final, onde os acordes do piano, mais adocicados, e a guitarra de acordes mais exaltados, intensificam a melancolia.
O disco de estréia desta banda, originária da mesma Cornwall que hoje é a casa de Tori Amos, tem a beleza complacente e algo transcendente de bandas como Death Cab for Cutie, e em alguns momentos lembra um pouco Keane, provavelmente devido à incidência do dramatismo produzido pelo piano. É sem dúvidas uma banda promissora, cujo trabalho tem a mesma qualidade da banda de Ben Gibbard, bem como compartilha com esta as letras intensamente poéticas e a melancolia sempre onipresente. É de ouvir vezes seguidas, ainda mais se for aproveitando uma caminhada descalço em uma praia ao entardecer.
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PJ Harvey – Is this Desire? [download: mp3]

PJ Harvey - Is this Desire?PJ Harvey (redução de Polly Jean Harvey) é uma cantora e compositora britânica magnífica, e em cujas composições a artista costuma entregar-se completamente. Entre todos os seus discos lançados até o momento, sem dúvidas o idiossincrático Is This Desire? foi o disco no qual a cantora mais derramou-se em vocais e instrumentação. O álbum foi uma fuga repentina do rock seco e cru, com vocais entoados geralmente em tons graves, predominante nos disco anteriores, para algo bastante diverso: ruídos de sonoridade suja, produzidos eletronicamente, piano, baixo e guitarras distorcidas são a tônica melódica deste disco sombrio e repleto de fobias.
“Angelene” abre o álbum e faz parte das canções mais calmas e acústicas dele: um piano triste, guitarras e baixos em acompanhamento e bateria cadenciada constroem a moldura para o vocal largadamente rock de PJ Harvey, que canta sobre as falsas esperenças e as ilusões de uma vida menos degradante de uma garota de programa. “The Sky lit up” tem letras que celebram uma noite de atos irresponsáveis, ou simplesmente desplanejados e cuja sonoridade revela a primeira das canções em que foi construída uma melodia repleta de ruídos eletrônicos retalhados, com bateria sintetizada feita de samplers e loops cíclicos, tudo compondo um conjunto melódico esplêndido, de tons repressivos e negros. O vocal de PJ Harvey é intenso e repleto de curvas tonais de graves e agudos, particularmente no ápice final da canção. “The Wind” alterna declamações sussurradas e vocais agudos, sob harmonia primordialmente sintética composta por loops, baixo, guitarra e bateria de sutilezas soturnas e com alguma frugalidade dark pontual. A letra fala sobre uma dama de espírito e personalidade algo mediavel, cheia de ingenuidades românticas, tentando aplacar seu sofrimento e solidão afetiva isolando-se em uma colina a escutar o soprar do vento. Aprimorando ainda mais a temática dreprê-underground, “My Beautiful Leah” trata em seus versos curtos da busca de um homem pela sua amante desaparecida, ao que parece, há meses. A base é primordialmente sintetizada, toda construída com eletronismos sujos, batida repetitiva e pratos pontuais que intensificam o desespero custusamente controlado do eu lírico das letras. O vocal de PJ Harvey permanece a totalidade da canção em um tom baixo, inseguro e sofrido. “A Perfect Day Elise” conta, de modo episódico, o ato criminoso ocorrido no calor do desespero de um homem rejeitado – é uma das melhores que conheço em termos de rock, ao mesmo tempo intensamente poética e realista. A melodia é um primor punk-rock, composta de loops e samplers de cadência forte, ruídos sujos pontuais e vocais intensos, modificados por uma filtragem eletrônica, o que intensifica a atmosfera de romance fadado à fatalidade e à desgraça – se um dia eu dirigisse um longa-metragem, estejam certos que uma das opções para fundo do crédito de abertura seria esta música. Pra lá de melancólica e depressiva, “Catherine” narra o interminável lamentar de um homem que sofre por amor, na sua inconsolável dor de cotovelo. A melodia permanece o tempo todo na mesma toada, construída com uma programação de teclados minimalistas e com vocal diferenciado de PJ Harvey, sofrido e suplicante. Essa é mais canção que mostra a impressionante capacidade que a cantora compor vocais tão diversos de uma canção para a outra, parecendo mesmo outra pessoa a guiar as letras – e isso não é, de forma alguma, competência exclusiva de pós-produção da canção. “Electric Light” prossegue no tom dark-minimalista, explorando mais uma melodia de base eletro-acústica, com silenciosos ruídos sintetizados acompanhados por uma batida de cadência repetitiva e letras breves, mais de complacência amorosa. Em “The Garden” temos, ao que parece, a exploração episódica de um romance gay, já que os protagonistas da letra são dois personagens masculinos. Mesmo que a analogia de homossexuais com seres alados divinos seja, para mim, algo absolutamente cafona e de mal gosto, os versos são sofisticados e apresentam o episódio em conformidade com a temática do disco. A melodia utiliza um orgão sutil ao fundo, sob bateria e loops encorpados, bem como belos acordes dramáticos de piano que pontual com classe e melancolia a melodia de quando em quando. O título da próxima canção, “Joy” é de um sadismo e ironia absolutos, visto que as letras que exploram e falta de esperança de uma mulher e sua imobilidade diante das desgraças da vida são tudo, menos contentamento. A música completa o tom opressivo das letras, sendo quase que inteiramente construída em programação, com profusão de loops sujos, soturnos e macabros, e tendo como ápice o vocal desigual de PJ Harvey, que assemelha-se ao extertor de sofrimento de um condenado. “The River” é outra canção de desilusão e incompatibilidade afetiva, novamente apresentando belos versos de tonalidades poéticas – nada mais literário do que transpor ao ambiente que cerca os personagens a variação de seus emoções e a intensidade da sua dor. A melodia é lindíssima, baseada principalmente em um piano de acordes perfeitos, de andamento triste e arrependido, com bateria discreta e alguma sonoridade sintética ao fundo. “No Girl So Sweet” apresenta em sua temática mais um romance marginal, fadado mais a trazer dor do que alegria aos amantes, com músicalidade marcante, de loops intensos, bateria acústica forte e guitarras muito bem compostas, que complementam o tom gritante do vocal distorcido de PJ Harvey. Finalmente temos a faixa título do disco, que surpreende ao despir-se quase inteiramente do eletronismo e priorizar uma musicalidade mais simples e sensual, baseada em bateria, um baixo de acordes fantasticamente esparsos e vocal lento e preguiçoso da cantora. A letra fala sobre mais um casal refletindo sobre o estado de seu relacionamento desigual.
Apesar de Is this desire? flertar com ruídos e sonoridades compostas sinteticamente, o produto final tem mais alma rock do que se poderia imaginar. Isso é resultado de uma produção muito bem planejada, que priorizou a utilização de experimentações apenas dentro do exigido. De musicalidade sofisticada e temática que explora romances marginais despedaçados pela confusão e imaturidade emotiva de seus personagens e pelas fatalidades da vida, este é um dos melhores álbuns de rock que já tive a sorte de ouvir e se faz obrigatório para entender a trajetória desta artista complexa e inovadora que é a britânica PJ Harvey – mais do que obrigatório para fãs de música. Baixe já o disco utilizando o link e senha abaixo.

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The Cardigans – Gran Turismo. [download: mp3]

The Cardigans - Gran TurismoGran Turismo é um álbum bastante rítmico, mas sua essência é algo seca, fazendo o uso mínimo de acústica – há total ausência de orquestrações dessa ordem aqui -, ou mesmo transformando os intrumentos que tem esta sonoridade num som mais chapado. Isto não é, de forma alguma, uma crítica. A banda The Cardigans construíu no seu álbum de 1998 melodias sincopadas idiossincráticas: assim como o The Cranberries no seu álbum de estréia, difícil achar uma ourtra banda que tenha feito um disco com uma identidade tão própria como este quarto lançamento da banda sueca.
O disco abre com a maravilhosa “Paralyzed”, que em seus versos fantásticos descreve de maneira precisa como o amor é um sentimento que devassae e desestrutura a realidade de quem o atravessa – o verso “This is where your sanity gives in and love begins” é simples, mas absurdamente efetivo. A melodia é a outra faceta fantástica da canção: como na maior parte do disco, é concebida uma batida seca e fugaz, que mistura o sintético e o acústico, e obtem-se uma base sincopada irresistível. A guitarra aqui servem de fundo harmônico, mesmo em sua construção minimalisticamente distorcida, e são usadas para dar apóio ao vocal totalmente cool de Nina Persson. “Erase/Rewind” continua com bateria sincopada, mas traz as guitarras mais para frente na harmonia, além de alguns acordes de violões e teclados que agora fazem o papel de fundo que a guitarra fazia na faixa anterior. Como sinaliza o título, a música traz versos simples que falam sobre a mudança de planos sobre aquilo que afirmamos. “Explode” tem letras e vocais de melancólia e desesperança afetiva, apesar do companheirismo também confesso nelas. A música, em si, compõem-se em uma balada linda, com bateria desnudada de acústica me primeiro plano e novamente com as guitarras – pra lá de sonoramente metalizadas – compondo um acompanhamento da emotividade do vocal de Nina, particularmente no refrão. A próxima faixa, “Starter”, tem breve introdução de teclados nostálgicos e deixa mais visível a mistura de bateria acústica e eletrônica, trazendo as guitarras de riffs breves no refrão e acordes levemente esparsos no restante da melodia. As letras falam sobre como as ações do passado persistem em exercer sua influência e mostrar-se presentes mesmo quando decidimos deixar tudo para trás e ensaiar um recomeço. “Hanging Around”inicia-se com um ruído sintetizado mínimo, e logo mostra os acordes deliciosos da guitarra e apresenta a bateria bem composta e com som propositalmente abafado. Não faltam também frugalidades esparsas na percussão e nos teclados e baixos, onde tudo acaba se misturando – bem ao gosto da banda – na parte final da melodia. As letras tratam de como, as vezes, tentamos mas não conseguimos compor uma identidade e acompanhar quem amamos – um dos meus versos preferidos deste disco está nessa música: “I hang around for another round until something stops me”. Em seguida temos “Higher”, linda balada repleta de suaves vocais de fundo, que ajudam a montar o painel de tristezas amorosas e da tentativa de elevação das letras. A melódia da canção se baseia em instrumentação sutil, com guitarra e baixo de acordes leves e espaçosos, bateria minimalista e teclados de apoio. “Marvel Hill” tem versos simplísticos que falam sobre como sempre buscamos algo só para nos sentirmos insatisfeitos e desejar muito mais. A melodia é uma das mais idiossincráticas do disco, fazendo uso eventualmente estranho de melodias secas, metálicas e algo “sujas” da guitarra e dos teclados e com uma bateria eletrônica mais evidente sobre a acústica. “My Favourite Game” é o grande hit do disco, merecidamente: a música, que tem letras de fúria e revolta amorosa, tem melodia pop/rock irresistível, com um riff certeiro de guitarra que pontua a música, bateria acústica muito e bateria sintetizada que incorpa muito bem a sonoridade da canção – o ápice rock do álbum. “Do You Believe” tem apenas 8 versos, que questionam as crenças ingênuas do amor, mas é tremendamente deliciosa em cada um deles. Guitarra, baixo e bateria acústica/sintetizada encorpam a sonoridade cadenciada que introduz a música e surge toda vez que some o vocal de Nina Persson; um orgão ao fundo faz o acompanhamente das letras nos momentos mais tranquilos, quando a vocalista entoa os versos em tom de descrença. “Junk Of The Hearts” é mais uma balada linda da banda, onde violões dão o ar da sua graça para adoçar a melodia desta música algo melancólica – isso praticamente no fim do álbum -, acompanhando o bela trabalho da bateria, baixo e teclados, que ajudam a compor o cenário de tristeza, e que ganha força com riffs mais viçosos de guitarra no refrão. O vocal de Nina é triste e afetuoso, transmitindo com precisão o lamento afetivo que compõem as letras. Por último temo “Nil”, uma pequena peça instrumental concebida toda com o teclado, cuja melodia é calma e algo depressiva – é linda e, com certeza, renderia ainda mais com um vocal de Nina em tom baixo.
Com certeza, depois do sessentista Life e do pop/rock de First Band on the Moon, a banda inovou ainda mais o seu trabalho com esse álbum, jogando pela janela a indentidade que, à época, a crítica musical construia da banda, vista como um grupo de musicalidade composta basicamente por uma nostlagia pop festiva dos anos 60. É certo que mesmo os discos anteriores tratavam do sofrimento amoroso, mas em “Gran Turismo” a banda começa a fazê-lo com sinceride emocional, transmitindo nas melodias exatamente a dor que se encontra nas letras. O disco foi um marco no trabalho de composição da banda, influenciando definitivamente tudo o que seria feito posteriormente. É obrigatório para qualquer pessoa que queria conhecer, a fundo, esta fantástica banda sueca.
Sendo assim baixe o disco pelo link a seguir e utilize a senha para extrair os arquivos. Bom proveito!

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Muse – Black Holes and Revelations (+ 1 faixa bônus). [download: mp3]

Muse - Black Holes & RevelationsCom a liberação na internet do primeiro single do aguardadíssimo novo disco da banda britânica Muse, um verdadeiro furor discursivo tomou de assalto as comunidades dedicadas ao trio. A sonoridade de “Supermassive Black Hole” assustou os fãs mais ferrenhos, angariando o ódio destes e a simpatia dos mais despreocupados. No entanto, a suspeita de ambas as “facções” que rapidamente se formaram era quase idêntica: o novo disco da banda mostraria um Muse bem diferente daquele adorado e conhecido pelos fãs.
Agora, depois de semanas de bate-boca e ofensas mútuas, o álbum vazou na internet – para variar – e as expectativas amainaram: há traços que diferenciam Black Holes & Revelations dos álbuns anteriores do Muse, mas nada que transforme radicalmente a identidade da banda.
Apoteótica a música da banda prossegue sendo, como podemos conferir na faixa de abertura, “Take a bow” e também em “Exo-Politics”, “Assassin” e “Soldier’s Poem”, todas faixas que assemelham-se pela mensagem política – algumas mais sutis e mais citacionais, outras mais explícitas – , que se abre universalmente contra o belicismo e a manipulação da opinião pública sem apresentar, contudo, qualquer tipo de pedantismo engajado – é Muse no seu melhor, com letras trabalhadas sem nunca esquecer que é, acima de tudo, música. Porém, os delírios de derramamento amoroso do trio britânico continuam firmes e fortes, como se pode ver no amor impossível de “Hoodoo” – balada espetacular, com a típica virada melódica da banda, à maneira da música erudita, com orquestração farta de pianos em apoteose e cordas épicas -, na dependência desmedida da bárbara “Map of the Problematique” – com sequências em que a bateria se faz deliciosamente preponderante – na emoção nada contida de “Invincible” – onde contribuem a bela introdução de teclado arranjado como um orgão e a bateria em tom marcial -, no embevecimento romântico de “Starlight” – de harmonia fulgurante, com teclados nostálgicos e bateria sincopada – e no amor nevrálgico de “City of Delusion” – com energizantes riffs de guitarra e o vocal intenso e delirante de Matthew Bellamy.
Apesar da identidade da banda fazer-se presente, ela se mostra-se intensamente mesclada com sonoridades que podem apresentar inspiração mais difusa em algumas faixas – como nos teclados da faixa de abertura, “Take a bow” – e bem mais clara a algo assumida em diversas outras. A música de identidade forte do The Mars Volta, por exemplo, pode ser reconhecida no sutil apeado latino dos acordes do violão, do ritmo da bateria e metais de “City of delusion”, na guitarra e baixo grave e profundo de “Hoodoo”, e na força que estes tem em “Knights of Cydonia”, com seu refrão de vocais sobrepostos. Além da referência à esta banda, de história mais recente no cenário musical, algo do pop contagiante do Depeche Mode do fim dos anos 80, do gostoso Europop que fez tanto sucesso à época, também é adotado em “Starlight”, música de melodia pop-rock fenomenalmente esfuziante e luminosa e, principalmente, na faixa “Map of the problematique” – com um arranjo perfeito no ritmo ensaiado e sincronizado entre bateria, guitarra, baixos, teclados e também no excelente uso que Matthew Bellamy faz de seu vocal.
Em tempos de copa do mundo, podemos conferir que a atitude de tecer críticas ao trabalho de quem idolatramos, tendo contato com uma fatia tão ínfima do trabalho que seria desenvolvido – já que todo o furor crítico inicou-se com apenas uma canção do novo disco do Muse e, no caso da seleção brasileira, tendo disputado apenas uma partida -, pode ser bastante imatura, uma vez que, na verdade, a crítica antecipou-se à apropriação daquilo que se objetiva analisar. Aqui estamos então, com um belo disco do trio britânico, vigoroso e com alguma sutil renovação, que acabou desmotivando todo o bate-boca insensato e, no futebol, nos preparando para a segunda disputa, amanhã, de nossa seleção. É esperar para que o resultado do desempenho dos atletas brasileiros seja tão inspirado, genuíno e animador como o do trabalho do Muse.

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