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seteventos Posts

My Brightest Diamond – A Thousand Shark’s Teeth [download: mp3]

Com boa antecedência, vazou o segundo e tão aguardado disco de Shara Worden, conhecida pelo pseudônimo do seu projeto musical, My Brightest Diamond. Os que esperavam mais da beleza incessante de Bring Me The Workhorse vão se sentir enormemente satisfeitos: A Thousand Shark’s Teeth prossegue desbravando os mesmos caminhos do álbum de estréia, levando ao rock alternativo pitadas consideráveis de influência erudita. Em “Black & Costaud”, por exemplo, a influência foi distribuída em todos os aspectos da canção: as letras reproduzem um episódio da ópera “L’enfant et les sortilèges” de Maurice Ravel, os vocais, trabalhados sobre filtros que pluralizam seu dramatismo, exibem-se gloriosamente teatrais, assim como o arranjo da música, feito de sopros, violinos e todo um sortilégio de instrumentos eruditos organizados em lufadas melódicas rascantes e que divide espaço com a guitarra isolada em toques curtos e graves ao fundo. E assim é em todo o disco, com algumas canções mergulhando de cabeça no erudito – como em “If I Were Queen”, que lembra os momentos mais acústicos e reflexivos de Björk em Homogenic devido à sua melodia elaborada sobre cordas, em tons docemente graves, que oscilam momentos silenciosos e efusivos – enquanto outras exploram a influência de forma suave, em parceira com o rock requintado de Shara – como em “From The Top Of The World”, onde a guitarra e baixo, com seus acordes, e a bateria, com seu compasso, abrem o caminho na melodia para intervenções de cordas e sopros, e como no rock potente de “Inside A Boy”, com bateria, guitarras e baixos verborrágicos e famintos, duelando seu espaço com o vocal e orquestração inquietos da música.
Porém, não há momento no disco de beleza mais avassaladora do que a testemunhada em “To Pluto’s Moon” e “Bass Player”: na primeira, a melancolia melódica exuberante de cordas, harpas e uma cornucópia de intrumentos musicais homegeniza-se à tristeza da bateria, do baixo e de uma guitarra de acordes graves e sofridos que, por sinal, é a responsável pelo brilhante minuto e meio final da música, feito apenas de seus riffs rascantes, sobrepostos de modo fenomenalmente dramático; na segunda, baixo, guitarra, bateria, marimba e sutis orquestrações de sopros e cordas introduzem uma música de tênue sensualidade que ganha força descomunal na sua metade final pela intensificação dos acordes de toda a instrumentação em um crescendo melódico fabuloso que, quando e onde quer que você esteja, anestesia o tempo e o mundo ao seu redor no momento em que você o escuta.
O que mais impressiona, depois de testemunhar a beleza inexplicável de A Thousand Shark’s Teeth, é se dar conta que o projeto foi inteiramente gestado por Shara: não bastasse ser dona de um vocal intensamente emocional, profundo e extenso, a garota ainda compõe as melodias e letras sofisticadíssimas, bem como se encarrega pela produção e pelos arranjos irretocáveis de todas as canções do disco, mostrando que talento ela continuar a ter de sobra, em todos os aspectos da produção musical. Depois disso tudo, só resta dizer que, neste ano, pouquíssimos lançamentos tem chances de se equiparar a transbordante criatividade deste aqui. Provavelmente, o novo álbum de Camille Dalmais venha tomar um pouco do espaço deste ano para si, mas quais são as chances de aparecer algo que supere estes dois discos? Então, que venham os coadjuvantes de 2008: Shara, uma vez mais, mostrou que não basta ser excelente – tem que ser exuberante.

Baixe: https://www.mediafire.com/file/gixuto79q4i8da2/bright-shark.zip

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“A Professora de Piano”, de Michael Haneke. [download: filme]

Erika, rígida professora de piano de um conservatório vienense que mora com sua mãe, se vê cada vez mais enlaçada por um músico, também pianista, que insiste em tentar conquistá-la. É quando cede as investidas do rapaz, e revela suas preferências sexuais nada ortodoxas, que Erika perde o controle que até então tinha sobre sua vida íntima.
A primeira vista, “A Professora de Piano”, filme do austríaco Michael Haneke, parece centrar-se em investigar o sexo e a extensão de suas perversões através dos desejos da personagem Erika – resultado de mais uma interpretação esplêndida, já nos mínimos gestos e olhares, da elegante atriz francesa Isabelle Huppert. No entanto, quem já conhece a voracidade e visceralidade costumeira de seus filmes de crítica político-social já sabe de antemão que seria errado pensar que Haneke se contentaria em construir com seus personagens um compêndio do sexo fetichista – isso seria puro reducionismo. Baseando seu roteiro no livro de Elfriede Jelinek, o diretor vai mais fundo, escavando a superfície daquilo que decidiu explorar e procurando analisar, dentro desta temática, as consequências do cruzamento de personalidades e expectativas desencontradas: o envolvimento de Erika, mulher culta e sisuda, plenamente consciente de suas “peculiaridades” sexuais, com um rapaz que além de confundir a solitária discrição com que ela mantém sua intimidade com uma espécie de frigidez secular, ainda por cima se mostra narcisista, o que o torna incapaz de compreender o prazer que não seja fruto do uso de seus atributos físicos. Esse desafortunado envolvimento leva Erika à uma relação que pode trazer tudo, menos à satisfação dos seus desejos. Antes uma mulher razoavelmente equilibrada e inteligente, ao quedar-se apaixonada por Walter – encarnado por Benoît Magimel, perfeito como um sedutor nato -, Erika não apenas deixa sua percepção ser encoberta pela ingênua idéia de que este era o homem que tanto esperava e que compreenderia bem seus desejos, mas também dá vazão ao seu desequilíbrio, algo que, logo no início do longa, já é sugerido nos conflitos com a mãe – Annie Girardot, que dosa bem o misto de carinho e censura maternos – que sente algo de incomum na filha. É através da instabilidade gerada por essa abertura de Érika para um parceiro que ela não nota estar longe do adequado para satisfazer suas idiossincrasias sexuais que Haneke ilustra o cerne do argumento de seu filme: a idéia de que para alguém que obtém prazer no sexo de modo tão complexamente incomum, a vida afetiva e sexual, via de regra, torna-se um campo absolutamente minado de ilusões, frustrações e armadilhas. Assim, para Erika, diante da dificuldade de achar o seu “oposto complementar”, infelizmente, o mais saudável era mesmo manter a velha rotina construída para satisfazer e alimentar seus fetiches de modo solitário.

Baixe/assista através dos seguintes links:
Baixar (com legenda): @acervododrive (Twitter)
Disponível em: Mubi

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“Lost”: 4ª temporada (1° ciclo) [sem spoilers].

Lost - Quarta Temporada: Primeiro CicloE encerrou-se nesta quinta-feira, com a exibição do oitavo episódio, o primeiro ciclo do quarta temporada do seriado americano Lost. Os indícios sobre a temática das histórias e o novo artifício utilizado nos episódios derradeiros do terceiro ano tomaram forma e se estabeleceram na nova temporarada: o flashforward, recurso que, de forma inversa ao flashback, revela como se apresenta um personagem específico em um ponto no futuro, foi ostensivamente utilizado em três dos episódios e parcialmente utilizado, dividindo espaço com o já consagrado flashback, em mais um deles. As revelações feitas nos flashfowards tem implicação direta tanto sobre o “momento presente” dos personagens, antecipando eventos e mesmo o destino de alguns deles dentro de um futuro próximo na realidade presente da ilha, quanto sobre um futuro mais distante, revelando conflitos de alguns personagens com relação à fatos ocorridos e seu desejo de fazer algo para solucionar tais conflitos.
E por falar em flashback, eles não foram descartados, mas seu conteúdo e sua razão de ser – como eu já previ no texto sobre minhas impressões da terceira temporada -, foram reformulados: muito mais do que revelar eventos do passado dos personagens antes de seu contato com a ilha, servindo ao propósito de esclarecer ou deixar mais nítidos traços da personalidade e comportamento destes, agora o flashback serve mais ao propósito de trazer esclarecimentos sobre histórias que tem direta relação com a realidade da ilha e das quais já temos conhecimento, conectando ou elucidando suas implicações nos eventos presentes – presente este que, de certa forma, pelo advento dos flashforwards e sua antecipação do futuro dos personagens dentro e fora da ilha, passou a tomar também a forma de um passado.
Quanto ao desenrolar dos eventos em si, os produtores e roteiristas resolveram começar a por em prática suas idéias sobre fatos que intrigam os fãs até hoje, como a relação da ilha e de seus ocupantes com o mundo exterior à ela, explorando consideravelmente dados sobre seus efeitos tanto em quem a deixa quanto em quem tenta entrar nela, efeitos estes que interferem na concepção de tempo e no livre arbítrio dos indivíduos. No entanto, apesar de que algumas das revelações tenham sido confirmadas como verdadeiras, o velho prazer de ludibriar os personagens, e por consequência confundir o espectador, não foi abandonado: a equipe de roteiristas, apesar de mostrar o contato da tripulação da misteriosa expedição que se aproximou da ilha no fim da última temporada, faz com que este contato traga informações desencontradas e dúbias sobre quem enviou tal expedição e sobre quais seriam seus principais objetivos.
Mas sempre há a possibilidade de um resvalo no desenvolvimento do argumento, não? O maior deles – talvez o único até o momento – tem sido a solução encontrada para explicar e levar à frente a informação dada na última temporada sobre o “outro” vôo Oceanic 815 encontrado no fundo do mar, que pode vir a ser um problema difícil de ser driblado no futuro da série – ainda há chances de atenuar seus efeitos, mas há sempre, também, o risco de que os produtores reforcem e “alimentem” o equívoco, o que simplificaria e descredibilizaria sensivelmente o argumento do seriado.
Com relação aos personagens, ainda é cedo para dizer se algum dos “novos” participantes da trama vai realmente ser “promovido” ao elenco fixo da história, mas meu palpite é que, até o momento, nenhum deles tem, na sua essência e desenho, importância para tanto. Já alguns dos personagens mais veteranos de Lost, apesar de prosseguirem firmes no destino do seriado, cederam lugar no desenvolvimente das histórias principalmente para aqueles que surgiram a partir do fim da primeira temporada – em particular para Desmond, graças a mais um episódio de dinâmica sensacional, e Benjamis Linus, que mesmo não tendo um episódio próprio, seja com flashback ou flashfoward, marcou presença demonstrando sua importância e influência, bem como suas astuciosas táticas, em um bom número deles. A exceção entre os veteranos fica com Michael, que foi reinserido na série de modo extremamente eficiente, ganhando um episódio que elucidou seu rumo depois de ter abandonado a ilha, no fim da segunda temporada.
Agora é aguardar até o dia 24 de Abril, quando a série retoma a história do ponto em que parou e promete, inclusive, segundo boatos, abordar o passado de um dos personagens que permanece ainda como um dos mais misteriosos e intrigantes. A espera é dura, mas se serve de consolo, vamos lembrar que este ano ela vai ser bem menor do que na terceira temporada – minhas unhas agradecem.

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Portishead – Third. [download: mp3]

Portishead - ThirdDepois de um longo hiato de dez anos, a mais emblemática banda de trip-hop, o Portishead, retoma a sua carreira lançando o seu terceiro disco de estúdio, apropriadamente entitulado Third. O disco, que vazou na web no início deste mês, tem sido avaliado pelos fãs como fruto de um Portishead bem mais experimental, cujas letras e melodias soam menos melancólicas e sofridas do que nos dois álbuns anteriormente lançados. Depois de ter cautelosamente apreciado o disco um número razoável de vezes, posso afirmar com toda a tranquilidade que esta não é a minha impressão de Third. Canções como “Plastic”, programada sobre um loop em que bateria e demais ruídos apresentam um crescendo breve e firme e finalizado por uma bateria esmurrada de modo esquizofrênico, e “Threads”, que sustenta, ao fundo, uma nota aguda de violinos do início ao fim, apresentando também uma bateria e baixo que alternam uma cadência exausta com outra que, no refrão, transforma a exaustão em vigorosa ira, ajudam a desfazer tal impressão, pois trazem as mesmas letras um tanto depressivas, a mesma morbidez obscura e o mesmo vocal amargurado que os fãs da banda já mapearam, nos seus mínimos detalhes, nos dois registros anteriores da banda. Mas há sim alguns elementos novos neste Portishead dez anos envelhecido.
A diferença que se mostra mais visível no primeiro contato com o disco é a influência do trabalho mais famoso da vocalista Beth Gibbons fora do Portishead, lançado na exata metade do hiato da carreira da banda: “Deep Water”, com seu banjo country-folk, seu coro de tom grave, porém de tonalidade doce e plácida, e “The Rip”, que na sua metade inicial baseia sua melodia em um violão gentilíssimo, acompanhado por um vocal distante, algo atemporal, tem os traços inconfundíveis do folk sereno e nostálgico de “Out of Season”, parceira de Beth Gibbons com Paul Webb.
Mas é só depois de algumas apreciações mais atentas que o elemento distintivo que foi classificado como “experimentalismo” pelos que se apressaram a comentar o disco mostra contornos mais definidos: de algum modo, a essência sonora de algumas canções compostas pelo Portishead em Third tem bem menos densidade do que aquela presente em Dummy, disco de 1994, e em Portishead, de 1997. Em faixas como “Machine Gun” e “We Carry On” prevalece uma programação que focaliza-se em uma gama menor de fontes sonoras, que tende a trabalhá-lhas em samplers e loops de variação menor, mais curta e mais repetitiva, o que acaba por produzir uma monotonia melódica um tanto cansativa, algo um tanto distante das bases mais elaboradas, estudadas, rebuscadas e de instrumental mais moderadamente variado das composições dos dois primeiros discos – e ambas as canções só se sustentam mesmo pela interferência de programações adicionais: na primeira, pela introdução ocasional de uma programação com uma guitarra de riffs matadores e uma bateria mais encorpada e sólida; na segunda, pela sintetização mais intensa que surge sobre a base seca e suja, bem no minuto final da faixa. No entanto, em uma música esta abordagem mostrou que pode mesmo resultar em algo que agrade mais os sentidos: a base sonora de “Nylon Smile” tem mais apelo aos ouvidos, produzindo uma cadência hipnótica e homogênea, parceira ideal dos acordes leves, lentos e esporádicos da guitarra e das vocalizações macias, levemente sensuais de Gibbons no fundo da melodia.
Apesar de um ou outro equívoco na concepção de algumas faixas, Third tem músicas suficientemente boas para recolocar o Portishead no mundo da música, um lugar bem diferente daquele em que a banda lançou o seu segundo e, até então, último álbum de inéditas. Nesta realidade que se apresenta, na qual bandas modestas, muitas vezes quase “caseiras”, ganham notoriedade cada vez mais rapidamente, mesmo bandas consagradas como o Portishead, um ícone incontestável do estilo que ocupa, tem que mostrar serviço e um interesse sincero pelo seu público e pelo seu próprio trabalho. Afinal de contas, há sempre o risco – hoje mais do que nunca – de ser colocado em segundo plano até mesmo pelos fãs mais fiéis, seduzidos por artistas um tanto mais prolíficos e menos displicentes com sua produção musical.
Baixe o disco utilizando o link a seguir e a senha para descompactar.

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“Ryan Reynolds em momento pós-fitness” ou “Se decidir fazer surpresa deixei as chaves embaixo do xaxim” (com licença de Vanessa da Mata)

Observem esta foto e contem comigo quantas coisas boas vemos nela.
1. Ryan Reynolds.
2. Ryan Reynolds com um Ipod no bolso (tá, é um shuffle – um nano, como o meu, é bem mais bacaninha)
3. Ryan Reynolds com um figurino despojado (portanto, fácil, fácil de tirar).
4. Ryan Reynolds com um capacete (o que expande o contexto da foto para “Ryan Reynolds muito, muito sexy em cima de uma moto”)
5. Ryan Reynolds voltando da academia (certo, isto não é possível de ver na foto, mas não custa situar o contexto e elucidar que este homem, pouco antes de ser clicado, estava exercitando aqueles braços fortes, o peitoral proeminente, os ombros enormes, as costas largas…uhm, tá. Eu paro).
6. Ryan Reynolds, com roupa impecável, voltando da academia (well, a coisa boa está na conclusão depois de observar isto: ou ele não sua ou ele trocou de roupa…depois de tomar uma ducha por lá…não sei porque, mas desconfio que, quando ele foi molhar o corpinho, todo mundo na academia perdeu subitamente o interesse pelos exercícios e sentiu uma tremenda vontade de lavar demoradamente as mãos, conferir se o rejunte do azulejo estava bem alinhado, constatar a limpeza do recinto, devidamente acompanhados por fiscais sanitários, também muito interessados na inspeção, anotar cuidadosamente as belas tonalidades das louças do toalete para, com certeza, comprar louças nos mesmos tons para a futura reforma no banheiro de casa, assim como tantas outras coisas que só poderiam mesmo ser feitas naquele exato momento…)

E bem, fazendo de conta que eu não sei que ele é um dos homens perfeitos pra mim, olhem só quantas coisas temos em comum:
a) ele não gosta de música ambiente de academia e prefere ouvir sua própria música no iPod enquanto malha. Eu também!
b) ele usa calça em tons pastéis. Eu também!
c) ele usa boné. Eu não uso agora, mas já usei muito – adolescência, sabe? Dá pra contar como algo em comum? Então tá: eu também!!

Depois de constatar quão numerosas são as coisas que temos em comum – tá, ok, exagerei…isso é muito pouco! Nós praticamente fomos feitos um para o outro! -, só resta me aprontar e esperá-lo acompanhado das alianças e do padre. Claro, vou tratar de alertá-lo pra não cometer o erro de pegar um vôo com escala em Congonhas – porque ou ele chega (bem) atrasado ou eu fico viúvo antes mesmo do casamento. Aí não, né?

Ah! Pegue a foto original, além de outros dois cliques desse monumento, logo abaixo:

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“Onde os Fracos Não Tem Vez”, de Joel e Ethan Coen. [download: filme]

No Country For Old MenUm homem, praticando caça no deserto, se depara com uma série de carros e pickups abandonadas em meio a desolação. Ao aproximar-se encontra diversos cadáveres e descobre uma enorme quantidade de heroína. Após questionar, sem muito sucesso, um moribundo que sobreviveu ao tiroteio, ele acha, não muito longe, uma valise com 2 milhões de dólares – parte da transação mal-sucedida.
Sem ter muito medo de parecer estar desmerecendo o trabalho de Joel e Ethan Coen, pode-se afirmar que a grande “sacada” do longa-metragem “Onde os Fracos Não Tem Vez” é, na verdade, obra do escritor Cormac McCarthy, e algo previamente idealizado por ele já nas linhas, por ele compostas, no seu livro homônimo: muito além da competência tanto na construção do realismo palpável da história, perpassada de ironia e humor muito sutis, quanto na composição da idiossincrasia do taciturno assassino Anton Chigurh – que orienta sua conduta e a sorte de suas vítimas na noção de que toda e qualquer circunstância é determinação inquestionavelmente necessária do destino – a grande idéia está na relação de contraste existente entre a abordagem realista dada a trama e a essência insólita da personalidade de Anton Chigurh, o único personagem que realmente se destaca nesta trama feita praticamente apenas de personagens periféricos – é no contraponto existente entre as abordagens destes dois componentes, um deles interno ao outro, que torna a trama do livro, e consequemente do filme, realmente interessante. Mas, se por um lado esse mérito é fruto de idéias de autoria de Cormac McCarthy, por outro a sua narrativa guarda razoável similaridade com o cinema que fez Joel e Ethan Coen tão famosos, tornando o trabalho de adaptação para o dupla de diretores, roteiristas e produtores um passeio em um parque de diversões cujos brinquedos eles já experimentaram tanto – como muito do que compõe o estilo dos diretores já estava presente na história, arrisco supor que bastou aos irmãos manter o foco da adaptação fiel à atmosfera da trama criada por McCarthy para que o roteiro estivesse apto à ser encenado. Porém, um filme não se resume ao seu roteiro, e no que tange aos seus outros aspectos, a competência também se fez presente: com relação a direção de fotografia, Roger Deakins potencializa a aridez do deserto tanto na sua escura gravidade noturna quanto na sua ofuscante luz diurna; no campo da trilha sonora, o compositor Carter Burwell dá espaço à crueza das situações com sua trilha surda e quase inexistente; e no trabalho de direção propriamente dito, os Coen mantém as mãos bastante seguras, coordenando os elementos que dispunham de modo firme o suficiente para transpor fielmente a narrativa para as telas – o que deve ter incluído as diretrizes certeiras para Deakins e Burwell na condução de suas respectivas tarefas.
Mas e quanto ao elenco?
Bem, como eu disse acima, a trama de “Onde os Fracos Não Tem Vez” foi construída de forma que praticamente não há protagonistas a conduzindo solenemente, mas apenas um punhado de coadjuvantes que a guiam de forma algo colaborativa, quase nunca dividindo a mesma cena. Desse modo, o equilíbrio entre os atores, com boas atuações, mantem-se constante, porém, Javier Bardem, ganhando o papel de Anton Chigurh, ganha nítido destaque frente aos outros, em grande parte devido à própria natureza do personagem, em outra devido ao seu trabalho que é sim competente ao compor um homem de aspecto opressivo e grave que, ao mesmo tempo, transparece à sua afeição ao sarcasmo sutil, mas que pertence àquela gama de atuações que, não é difícil perceber, não exigem muito do ator.
“Onde os Fracos Não Tem Vez”, muito mais do que um filme de personagens é um filme que põe seu foco nas consequências dos atos perpretados por estes, ilustrando de modo argucioso como a ação mais corriqueira pode mudar o rumo pensado por estes personagens para as suas vidas. Mesmo com “Fargo” e “Ajuste Final” ainda ocupando o posto de momentos mais brilhantes de suas carreiras, este novo filme reaproxima os irmãos Coen do cinema cheio de sagacidade e de discreta morbidez do qual tinham se afastado tanto depois de seguidas incursões cinematográficas reprováveis e sofríveis – e não foi tarde para que os Coen percebessem que os fracos realmente não tem vez no cinema.
Baixe o filme, já legendado em português, utilizando os links a seguir.

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Keren Ann. [download: mp3]

Keren AnnKeren Ann, jovem pertencente aquela seara de artistas europeus multi-étnicos que está cada vez se tornando mais comum, tem já uma discografia considerável, mesmo tendo iniciado sua carreira apenas neste novo século. Seu mais recente álbum é um trabalho onde a elegância e simplicidade são sugeridas já no contato mais imediato e superficial com o disco: tanto a ausência de título para o trabalho, que se contenta em levar o nome da artista, quanto a fotografia escolhida para ser a capa do álbum, uma bela mas discreta imagem da cantora e compositora em tons predominantemente claros, conseguem transmitir a idéia de um disco despido de quaisquer ambições que ultrapassem seu objetivo mais visível, a sinceridade das emoções. E é justamente nelas que a linda morena, de olhar sedutor, altivo e misterioso, conquista o ouvinte. Faixas como a balada “In Your Back” – onde o violão de leve pesar, a orquestração de cordas de inspirada ternura na ponte da canção, e a programação suavemente cintilante abrem caminho para que a voz cheia de mágoa de Keren materialize-se com maciez imediata -, a sutil “The Harder Ships Of The World” – que, ornada por violão, guitarra, piano e programação serenas, compara as turbulências e o destino de um romance à uma jornada àrdua que parece sem rumo e fadada ao fracasso – e a plácida “Where No Endings End” – onde o arranjo delicado e cuidadoso composto de violão, flauta, piano, guitarra e orquestração de sopros e cordas breves e eventuais ambientam a letra que fala sobre um amor que fatalmente encontra seu fim – sucedem em cativar os ouvidos ao expor sentimentos sem muitos volteios, de modo franco. Músicas de cunho pop mais animado também ganham seu posto no disco da artista de origem indo-européia que nasceu em Israel mas que cresceu na França – como “Lay Your Head Down”, uma canção que fala sobre a entrega completa ao amor e que traz um arranjo farto feito de guitarra, baixo, bateria, gaita, orquestração de cordas e sampler de palmas que entra parar intensificar a vibração positiva da canção, principalmente na sua metade final -, assim como há espaço na ambiência mais reflexiva do disco para um momento ácido e lânguido – caso de “It Ain’t A Crime” que, com vocal sensual de Keren, traz as impressões do que parecer ser uma garota de programa sobre o comércio da luxúria em meio à toques firmes na bateria e nas guitarras rascantes. De brinde ainda temos “Liberty”, canção que tanto em sua melodia – feita de toques tépidos no piano, acordes adocicados no violão, orquestração suavemente reluzente de cordas e algum sopro e o backing vocal etéreo posto sobre sussurros indistintos e brandos -, quanto em sua letra “emula” a atmosfera das composições de Björk para o seu disco Vespertine. Esse é sem dúvidas um disco para se ouvir refastelado no sofá, saboreando de modo tranquilo e preguiçoso o inabálavel gosto de Keren pelas melodias pacatas e pelos romances bem ou mal-aventurados.
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Fernanda Takai – Onde Brilhem os Olhos Seus (+ 1 faixa bônus). [download: mp3]

Fernanda Takai - Onde Brilhem os Olhos SeusNão consigo achar o Pato Fu interessante. Não que eu odeie a banda, é mais uma sensação de tolerável indiferença: de passagem por algum lugar, não me incomodo em ficar ouvindo o som deles, mas jamais me disponho a tentar gostar de seu trabalho. Porém, um episódio recente angariou minha atenção para algo relacionado à banda mineira: descompromissadamente bisbilhotando a Saraiva Iguatemi em companhia de uma amiga, passei pela prateleira de lançamentos e me chamou a atenção o empacotamento elegante de um disco, que logo vi ser o primeiro álbum solo de Fernanda Takai – e, diga-se, só descobri naquele momento que ela tinha se arremessado em uma aventura destas. Olhando a lista de faixas, percebi logo que as composições não pareciam ser de sua autoria e foi então que dei atenção a música ambiente da loja: coincidentemente, era justamente Fernanda Takai cantando a penúltima faixa do disco. Me impressionei de imediato com o que parecia ser uma produção cuidadosa e muito delicada, e tratei logo de fazer um “bookmark mental” instantâneo para, chegando em casa, catar o disco e avaliá-lo.
Posso afirmar sem receio que Onde Brilhem Os Olhos Seus, por contar com a participação efetiva de dois outros membros da banda na produção do álbum e nos arranjos das músicas, é mais um side-project do Pato Fu do que propriamente um disco solo de Fernanda Takai. E no disco, Fernanda e seus companheiros regravam canções do repertório de Nara Leão com arranjos que muito pouco lembram a sua roupagem samba/bossa clássica – a exceção mais evidente fica por conta das faixas “Insensatez”, que ganhou uma versão linda e emocionante de Takai, mas parece nunca conseguir fugir do poderoso estigma do violão e do vocal nostálgico, e “Odeon“, que ainda remete ao chorinho gracioso de Nara -, vestindo-as em um pop/rock que as cobre de um manto brilhante, de textura nobre e macia. As músicas “Diz que fui por aí” – guiada por um piano elegante, conta com bateria suave e cheia de categoria, com farpas de uma guitarra tristonha e vocal dulcíssimo -, “Com Açúcar, com afeto” – que ganhou as cores luminosas e resplandecentes de um pop/rock feito de acordes de guitarra e baixo certeiros, teclado de toques ternos, e bateria de cadência firme e sutilmente ligeira – e “Descansa Coração” – que tem como companhia do teclado, da bateria, do violão e do baixo, este último responsável pela espetacular introdução pulsante, a esplêndida adição de um cravo cuidadosamente dedilhado – são todas abordadas nessa musicalidade que soa mais fluorescente e contemporânea. Duas faixas, contudo, ganham uma identidade mais afastada do que se convém imaginar tanto de Nara quanto de Fernanda e sua trupe: “Canta, Maria” ganhou traços sacros, devido à tristeza da programação etérea, que sintetiza a sonoridade cristalina de sinos e orgãos, e “Ta-hi” surge revestida em um silêncio no qual a programação quase cósmica e o cravo intensamente metálico criam uma ambiência dramática fabulosa.
Ao invés do caminho usualmente trilhado por bandas e cantores ao se debruçarem em projetos paralelos, que se divide entre se afastar da sua sonoridade oficial, pisando em terrenos mais estranhos, ou de adotar a sonoridade herdada das canções selecionadas, quando se trata de um projeto de regravações, Takai e companhia decidiram que o melhor era, no conjunto das canções do disco, aproximá-las daquilo que eles sabem melhor fazer – pop e rock, claro. E mesmo que vez ou outra alguma música do disco possa soar chata, os melhores momentos de Onde Brilhem Os Olhos Seus deram chance à Fernanda e seus comparsas do Pato Fu de se por à frente dos holofotes do pop/rock brasileiro mais elegante e culto, colocando os barbudos chatinhos do Los Hermanos bem sentadinhos na arquibancada para assistir à tomada desse palco, sem estardalhaço, bem à moda mineira, com a sensibilidade pop, a classe e, principalmente, a naturalidade que Marcelo Camelo e sua cria não conseguem obter, já que são muito mais afeitos ao uso de todo um exército de artíficios um tanto quando pedantes.
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“Pai e Filho”, de Alexander Sokurov. [download: filme]

Otets I SynAleksei, jovem que serve às forças armadas, vive sozinho com seu pai há muito tempo. Acostumados a rotina da companhia mútua e nutrindo uma relação de muita proximidade e carinho, ambos começam a sofrer por sentir que, devido a suas ocupações, podem ter que se separar.
Mesmo que Alexander Sokurov o negue, assim como a intencionalidade disto, o longa-metragem “Pai e Filho” é um filme essencialmente ambíguo. A priori, a aparência dos protagonistas do filme, ambos jovens e fisicamente atraentes, acaba por desassociá-los e muito do retrato de pai e filho, assim como a intimidade física de sua relação, repleta de carinhos e olhares mútuos insistentemente intensos e demorados, reforça ainda mais esta impressão inicial. Porém, através das poucas falas dos personagens, logo passamos a identificá-los realmente como pai e filho, o que, somado ao contato físico tão íntimo entre ambos, deixa uma conotação incestuosa desta relação. Esta interpretação, é bom ressaltar, foi a adotada por boa parte da crítica e público, e que causou um certo rebuliço nos círculos do cinema de arte. Sokurov, no entanto, não tardou a repudiar prontamente tal interpretação, afirmando que o homoerotismo e incesto do filme existem somente na mente doentia de quem os anunciou. E esta visão destituída de qualquer traço sexual não é feita sem embasamento: de fato, no decorrer do filme, é possível, sem muito esforço, formular a interpretação de que essa relação mais próxima do que se casualmente vê é fruto do comportamento arredio dos dois protagonistas, que isolam o cotidiano de sua relação do contato de qualquer pessoa externa à este relacionamento, procurando tornar sempre mínima a interferência e participação de alguém “estranho” à “simbiose” que construíram – tanto o pai quanto seu filho acabam por afastar, hora de modo consciente, hora inconsciente, amigos e romances para preservar a intensidade construída desde cedo nesta relação. Porém, mesmo que se escolha adotar uma ou outra interpretação, a ambiguidade permanece, insistente, por mais que se encontre ali traços de uma relação incestuosa, e por mais fundamentada que seja a opinião do diretor contra esta interpretação: a verdade é que apesar de que não há concretamente algo que torne sustentável a possibilidade de uma relação incestuosa, tampouco esta relação é destituída do caráter erótico, caráter este que se faz intensamente presente graças as escolhas e a abordagem feitas pelo diretor. E esta dualidade intrínseca ao teor da relação entre Aleksei e seu pai, que confunde, desmancha e, consequentemente, despreza os limites da definição usual do que seria uma relação de pai e filho puramente fraternal de uma outra que se mostra, ao menos, mais erotizada, que é a questão central de “Pai e Filho”, tornando este o longa-metragem mais tematicamente ousado de Sokurov – se não for o mais ousado que já foi feito sobre o tema.
Baixe o filme utilizando os links a seguir e a senha para descompactá-lo.

OBS: links funcionais mas não testados.

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“Cachorrinho de sorte” ou “Enrique Murciano: me adote!”

Enrique Murciano, sem camisa, molhadinho, jogado na grama, com cara de “oie!”, com seu filhote de Bernese Mountain Dog?
Ai, meu sais minerais! Ai, minha intolerância a lactose! Isso é muito sexy! E imensuravelmente fofo.
Isso é mais fofo do que um zoológico todinho só com filhotes de Bernese.
Tá, eu exagerei. Isso aí é muito pouco! É bem mais fofo do que um Edifício Copan inteiro tão, mas tão abarrotado de ursinhos Knut que eles estariam jorrando pelas janelas – e não se fala mais nisso.
Reparem na cara de feliz do cachorrinho. Agora olha para o dono do petiz. Entendeu essa expressão de pimpão do safadinho?
Confesso uma invejinha nada branca do pulguento: que vida boa essa de ser inocentemente carregado junto ao dorso nú do senhor Murciano, em meio a afagos e carinhos, não?
Ah, quão doce e erótica pode ser a vida de um simples cachorrinho – juro que até vejo Walt Whitman rolando de inveja no seu túmulo.
Depois de ver isso, vou aproveitar que é tempo de Carnaval e encomendar uma fantasia de Bernese para a Rosa Magalhães já!
Agora com licença que eu vou ali na janela gritar de revolta e incomodar a vizinhaça.

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