Jovem professora universitária de história viaja de navio com a filha, saindo de Portugal, com o objetivo de alcançar a Índia, onde seu marido, piloto de aviação, a aguarda para que juntos aproveitem suas férias. No caminho ela apresenta para a filha diversas cidades e algumas de suas estórias, ao mesmo tempo que em cada parada que o navio faz ganhamos um novo personagem daquele país em questão.
O diretor português Manoel de Oliveira concebe uma obra de elementos interessantes em “Um Filme Falado”: ao mesmo tempo que eles fazem a qualidade do filme também integram igualmente os seus defeitos – ou seja, os pontos positivos dos aspectos do longa também são os negativos, sob um outro ponto de vista. Usando como mote a viagem da professora universitária de história e sua filha cuiriosa, o diretor faz paradas em diversas cidades de diferentes países, ao longo do trajeto do navio, revelando fatos históricos curiosos, mitos e lendas de alguns de seus pontos turísticos. É delicioso acompanhar esta viagem, admirando belíssimos cenários do Mediterrâneo e Oriente Médio, constatando algumas de suas curiosidades, mas numa certa altura do longa-metragem isso fica demasiadamente cansativo, pelo seu caráter excessivamente didático que, por sinal, ocupa mais da metade do longa-metragem. Os dialógos entre os demais figuras do filme, de diferentes nacionalidades, é curiosamente engendrado por cada personagem em sua língua materna – fato reconhecido pelos próprios -, o que lhe concede uma atmosfera cosmopolita e erudita. Porém, o conteúdo das conversas, apesar de relevante, acaba logo caindo num certo pedantismo, uma intelectualização e filosofar que pesam demais e tornam as cenas arrastadíssimas, desnecessariamente lentas. A sequência final, baseada em uma ótima idéia, é realista, visto que surge de maneira inesperada, sem qualquer pista sobre a possibilidade disto poder ocorrer. No entanto, também fica algo díspare e perdida no filme, sendo finalizada de forma muito apressada, quase desinteressada – Manoel de Oliveira poderia ter planejado este prólogo de forma mais cuidadosa, planejada e dedicada, sem prejuízo de perder o caráter realista do fato e sem colocar em risco a atmosfera autoral e artística do seu longa-metragem.
Ao cabo da expectação, conferimos que Manoel de Oliveira produziu um fillme relevante, mas que acabou prejudicado pelos excessos do cineasta, que tornou assim seu filme bastante cansativo, mesmo para espectadores treinados, tolerantes e pacientes. É um filme a ser visto, como a maior parte dos longas que vem da Europa, mas que não apresenta muitas razões que justifiquem de ser lembrado entre os seus filmes preferidos.
Mês: dezembro 2006

Esta banda canadense, onde três dos quatros integrantes são irmãos, nunca obteve o sucesso que tanto almejou. O seu country-rock, suave, sutil e econômico mantém sua identidade quase intacta até hoje, e atingiu a perfeição no álbum “Lay it Down”, lançado em 1996. Este é um disco de difícil análise, por um motivo muito simples: as músicas mantém um estilo muito homogêneo, com os mesmos vocais macios de Margo Timmins e cujas melodias utilizam praticamente a mesma instrumentação e estrutura. No entanto, há algumas ligeiras diferenças nas melodias de algumas canções, com a destaque sutil para algum dos intrumentos utilizados. As guitarras, por exemplo, ganham uma tonalidade muito compacta, discreta e organizada, sem um mínimo de rebeldia, mesmo quando utilizada de maneira mais vistosa em “Something More Besides You” (que traz questionamentos sobre o amor que sempre esperamos encontrar, e se paramos de buscar algo a mais mesmo quando o encontramos) e na canção que a sucede, “A Common Disaster” (que mostra a altivez de uma mulher segura de que conquistará quem tanto deseja, mais cedo ou mais tarde). Na música-título do disco (cujos versos falam brevemente sobre uma estória de desgraças e resignação), temos a utilização episódica de irresistíveis riffs comportadinhos de guitarra, ao mesmo tempo que amplia-se ainda mais a quietude sonora que é a maior identidade do grupo. “Speaking Confidentially” (com versos repletos de metáforas e comparações muito bem compostas, retratando sentimentos de ódio, revolta e confusão) tem como seu diferencial a bateria mais claramente ritmada, cuja sonoridade foi trazida mais para o primeiro plano da melodia, assim como também destaca-se por utilizar de maneira mais ostensiva um arranjo de cordas que incrementa – e muito – a canção. No entanto, a homegenidade sonora predomina no disco, como podemos conferir nas clássicas baladas suaves e delicadas, que é uma das coisas que a banda faz de melhor. Exemplos disso são “Hold on to me” (que traz em seus versos o comportamento algo indiferente que as pessoas, por vezes, adotam no amor), “Lonely Sinking feeling” (com letras fabulosas, que revelam, atraves de diálogos e pensamentos de dois namorados, o eterno sentimento de confusa insatisfação que nos abate quando atingimos aquilo que mais almejamos no amor) e “Musical Key” (em cujas letras imensamente tocantes Margo canta, utilizando a tradição musical como mote, sobre lembranças doces da convivência com seus pais em sua infância). Porém, apesar do comportamento caráter conservador do trabalho da banda – o que, em nenhum momento, se configura como defeito -, ela ainda conseguiu perpretrar alguma ousadia, como podemos conferir na canção “Come Calling” (que fala sobre um casal cujo relacionamento amoroso está em suspenso) que tem duas versões de diferentes melodias mas com a mesmíssima letra: as versões “His Song” e “Her Song”. A primeira é a versão que retrata os sentimentos de arrependimento do homem, com melodia mais agitada e rápida, e a segunda transmite com exatidão a melancolia e sofrimento pelo qual passa a mulher, com sua música triste, quieta e lenta. Fechando o disco, e preservando o ritmo melancólico, da faixa anterior, temos “Now I know”, canção de curta duração cujo destaque na melodia fica para o violão e em cujas letras resume-se, em poucos versos, o âmago do que é sofrer.
“Lay It Down” é um disco de audição fácil, que mantém em seu todo uma textura tranquila e algo contemplativa, feito para ser escutado seguidamente no mesmo dia, desfiando nas audições cada detalhe elegante dentro das ligeiras diferenças melódicas das canções. Baixe já o disco utilizando o link abaixo e a senha para abrir o arquivo.
ifile.it/2dokwp7/junkies_-_lay.zip
senha: seteventos
Deixe um comentárioImagino já ter dito aqui no blog que Paul Thomas Anderson é melhor diretor de videoclipes do que de filmes. E sem dúvidas o vídeo de “Save Me”, de Aimee Mann é uma prova cabal do fato. O curta apresenta a cantora, classuda e algo blasé, em diversos cenários de sequências do filme de Anderson, “Magnólia”, contando inclusive com a presença silenciosa dos atores – até Tom Cruise está lá – travestidos em seus respectivos personagens. O vídeo é simples, mas combina bem com a música gostosinha de Aimee, e acaba mostrando que a idéia era ótima para um vídeo musical mesmo, mas para um longa-metragem não – mas o diretor insistiu na idéia pelo jeito, já que “Magnólia”, depois de ver este vídeo, surge apenas como uma versão extendida do clipe de Aimee Mann. Deixe o filme e prefira o vídeo – economiza-se mais de uma hora!
Baixe o clipe utilizando este link.
É mais do que verdade afirmar que tenho enorme ignorância no que se refere ao trabalho da banda irlandesa U2. Deles tenho conhecimento de poucas músicas de toda a carreira, algumas de suas origens, outras mais recentes. Mas esse ignorância confessa tem uma razão de ser: o único disco da banda que conheço integralmente é Zooropa, de 1993. Infelizmente, tentei começar a conhecer U2 no trabalho mais desafiador de sua carreira, e isso acabou gerando uma enorme frustração e desinteresse com os outros álbuns. Ouso declarar, dentro de minha ignorância, que tive o azar de começar com o melhor disco da banda, um dos únicos que ouvi até hoje que apresenta sete faixas fabulosas, consecutivamente.
A primeira delas é a soturna faixa título do disco. “Zooropa”, conta com fantástica introdução soturna, à base de piano e guitarras em solos dramáticos e distantes, e entre ruídos difusos e retrabalhados, registros de vozes captadas, vocais manipulados, samplers e loops de guitarras e eletronismos diversos, Bono Vox canta versos que celebram, de maneira irônica, o progresso da Europa pelo uso e aplicação da tecnologia. “Babyface”, maravilhosa canção de amor confesso à uma ninfeta, apresenta Bono cantando em vocal duplo, com sua voz natural e outra em meio-falsetto, com um delicado tilintar eletrônico e diversas guitarras de sonoridade distorcida e rústica ao fundo, tudo devidamente acompanhado pelos loops e samplers algo espaciais que invandem todas as canções do álbum. “Numb”, com letra repleta de versos que censuram tudo que possa ser imaginado, traz uma exceção na discografia da banda, já que o vocal à frente da melodia, em tom recitado, é o do guitarrista The Edge, com versos cantados em falsetto por Bono ao fundo e outros vocais difusos. A música inicia com uma percussão minimalista e samplers de acordes cortantes de guitarra. A medida que avança a bateria vai sendo encorpada e a canção ganha exponencialmente mais ruídos indistintos, até virar um caos sonoro, guiado pelo vocal genialmente blasé de The Edge. Voltando à crítica tecnológica, em “Lemon” a banda fala sobre como o homem, ao alterar a sua vida com a o avanço tecnológico, esquece as coisas mais simples que almeja. O vocal em completo falsetto de Bono Vox guia a música, e é acompanhado pela sua própria voz multiplicada e coberto pela melodia cuja base é toda feita em samples sôfregos, loops hipnóticos e bateria compassada. “Stay (Faraway, So Close!)” foi tema de “Tão Longe, Tão Perto”, a sequência do idolatrado “Asas do Desejo” do diretor alemão Win Wenders. A música é uma das primeiras, depois de quatro faixas, a deixar a guitarra soar seus acordes com naturalidade. Apesar da estrutura clássica, uma espetacular melodia triste e pesairosa cantanda por Bono sem medo de deixar brotar a sua emotividade, a base de samplers retorcidos prossegue ao fundo, com mais descrição. A letra retrata um cotidiano de eventos imutáveis, tão automatizados que nos torna insensíveis e já não nos afeta mais. “Daddy’s Gonna Pay for Your Crashed Car” apresenta introdução opressiva, lembrando um pomposo hino militar, que logo é suplantado pela mistura agitada de reverberante bateria acústica e programação eletrônica de loops agitados e nervosos. Bono solta seu vocal com ironia e muita vontade em boa parte da música, o que coincide com as letras que falam sarcasticamente sobre a tentativa de independência de alguém que não consegue se livrar dos cuidados paternos. “Some Days Are Better Than Others” é feita de versos perfeitos que encantam o ouvinte na primeira audição ao listar inúmeras situações e sensações positivas e negativas em nosso aparentemente interminável cotidiano. Da mesma forma que as letras, a melodia captura logo quem a escuta, com seu baixo gingado e deliciosos loops de riffs de guitarra que surgem no refrão da música, seguida por programação eletrônica fantástica.
Não sei se foi sorte ou azar, apenas sei que Zooropa satisfaz com folga a minha vontade de ouvir U2. Da forma como se encontra hoje, considerada fenomenal, altamente politizada e inteligente até por uma pedagoga ignorante que mal sabe o que é música, duvido que a banda consiga produzir algo tão excitante musicalmente quanto esse maravilhoso universo de canções irônicas e tristes, iluminadas por um eletro-rock espetacular – em grande parte graças ao toque pós-moderno da produção de Brian Eno. Eu não reclamo – tenho meu Zooropa aqui a meu dispor, satisfatoriamente alimentando com louvores a minha paradoxal nostalgia futurista.
Baixe o disco utilzando o link e senha abaixo para abrir o arquivo.
senha: seteventos.org
http://d.turboupload.com/d/1282406/youtoo_zoo.zip.html
Deixe um comentárioNa Espanha da Guerra Civil, uma garota fascinada por contos de fada acompanha a mãe grávida para o campo, onde viverá na companhia do padrasto, um capitão do regime fascista de Franco. Lá, em meio a insurgência dos rebeldes contra o regime ditatorial, a truculência de seu padrasto e a gravidez de risco de sua mãe, a menina Ofélia descobre um labirinto cujo habitante é um fauno, que afirma ela ser muito mais do que já imaginou na sua vida.
Guillermo del Toro é mexicano, mas tem visível predileção por criar estórias ambientadas na terra que colonizou seu país natal. Foi assim que ele ganhou fama com “A Espinha do Diabo”, um filme que misturava atmosfera de horror com um fundo político, e cujo argumento fazia de crianças as protagonistas do longa-metragem. Em “O Labirinto do Fauno”, del Toro volta a seguir igualmente a fórmula que lhe consagrou: este filme é em parte uma fábula, em outra um filme de horror-suspense, e em outra ainda um drama político. Todas estas facetas de gênero estão embricadas no argumento, fazendo desta, portanto, uma fábula que não almeja o público infantil. Decorre-se daí alguns defeitos e igualmente as qualidades do filme. No caráter negativo eu diria que o fato de ser em parte uma fábula atrapalha consideravelmente e gera os dois maiores problemas do longa-metragem. Por ser basicamente uma fábula é que a construção dos personagens não vai muito longe, muitas vezes resumindo-se aos estereótipos mais planos: o vilão é cruel, sanguinário e insensível como ninguém, e os “mocinhos” da trama são bons ao ponto de fazerem mal apenas quando necessário, sempre de forma justificada. A faceta política do filme, por consequência disto, fica um tanto óbvia, resumindo-se a pintar o regime do ditador Franco como o inferno que todos já sabemos de pronto ser, e a revolução popular como a tão idealizada solução para esta situação. Longe de mim fazer qualquer elogio a ditadura, mas a guerra é bem mais complexa que isto – mesmo a civil, como nossos tempos bem nos mostram. Por outro lado, justamente por ser um filme tão hibrído, é que isso possa ser justificado, sob outro ponto de vista: pode-se dizer também que os horrores e a maldade constrastam tanto com a bondade devido ao filme ser centrado na mente ingênua de uma criança, ainda acostumada e enxergar a vida sob a ótica do preto e branco. Dentro de uma fábula, mesmo uma meia-fábula para adultos como esta, não há muito como fugir da construção mais plana do bem e do mal, já que elas se baseiam nesta dicotomia. Um segundo aspecto interessante é o fato do roteiro de del Toro trabalhar o tempo todo com a ambiguidade, sem revelar se o aspecto fabular da estória é verdadeiro ou apenas uma enorme ilusão da mente criativa de Ofélia – há pequenos detalhes durante o longa-metragem que deixam o público sem saber o que pensar, visto que eles tanto negam quanto afirmarm ser tudo verdadeiro. Além do mais, as ótimas atuações do elenco, cenografia e direção de arte primorosa, suspense muito bem sustentado, os belos enquadramentos da câmera na sequência inicial e final, a trilha sonora soberba e emocionante e a estória sensível fazem, no conjunto, toda a qualidade do filme.
Considerando-se as avaliações da crítica como exageros – há desde “o filme do ano” até afirmações de que esta é “a obra-prima de del Toro” – e levando em conta os aspectos intrínsecos da fábula tanto como defeitos ou qualidades deste longa-metragem multi-gênero, há de se concordar ainda assim que este é um filme acima da média, tanto por possuir as caractérísticas já conhecidas do cinema de del Toro – o uso de sequências de violência gráfica bastante explícita, mistura de gêneros competente e visual onírico – quanto por ter conseguido o que poucos cineastas conseguem: ter sido bancado, em parte, pelos Estados Unidos, para produzir um filme que fala sobre eventos não-americanos utilizando uma língua outra que não a inglesa. E isso só já é um ponto muito positivo – para o cinema como um todo.
“Song 2”, “Tender” e “Music Is My Radar” são as minha músicas preferidas da banda britânica Blur – que, mais uma vez, declaro não ser um enorme fã. Esta última, inclusive, tem um vídeo bacanérrimo, na linha futuro-retrô meio “Os Jetsons”. Enquanto a banda está prostrada em um vão no meio do palco de um talk show, depois do apresentador ter declarado o advento dos comerciais, dois grupos de dançarinos – um de mulheres e outro de homens -, vestidos com trajes preto e branco que lembram pilotos de motocicleta estilosos, entram no palco e fazem uma apresentação cuja coreografia por vezes é bastante síncrona e em outras consideravelmente desigual. Durante tuda a apresentação, que ocorre ficcionalmente para a platéia durante os comerciais, somos apresentados episodicamente aos bastidores do programa e à resposta intencionalmente desinteressada da banda e do apresentador. É o vídeo perfeito para a fabulosa música que é a única inédita da coletânea lançada pela banda há alguns anos. Baixe o vídeo utilizando o endereço a seguir.
http://www.collider.com.au/webclips/blur_musicismyradar_large.mov
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