Little Dreamer, disco de estréia de Beth Rowley, inglesa de loiríssimos cabelos cacheados vistosos, tem faixas que enveredam por caminhos distintos, algumas vezes mesclando várias referências – há algo de soul e rhythm & blues, muito de blues com generosas doses do estilo gospel, algo de um pop nostálgico. Pra ser bem sincero, a maior parte dos gêneros musicais por ela explorados, isolados ou em combinação, normalmente não me inspira qualquer atenção, porém vez por outra o carisma do músico consegue transpor as limitações pessoais. E é com a graça e o charme que impõe à essa fusão de estilo em suas composições e covers que permeiam o disco que Beth consegue angariar a simpatia do ouvinte, mesmo que, aqui ou ali, cometa um resvalo qualquer no caminho – como é o caso da canção “So Sublime”, onde bateria, guitarra, piano e orgão, lacejadas pelo vocal afetuoso e adocidado de Beth, tentam resgatar o charme gostoso do inofensivo pop-setentista americano, mas conseguem mais é tecer uma melodia pop animadinha, mas um tanto quanto apagada e aborrecida.
Contudo, os acertos pagam o troco dos erros com uma folga considerável. O primeiro deles é a versão de de Beth para “Nobody’s Fault But Mine”, canção gravada por Nina Simone que ficou popular na regravação da banda Led Zeppelin: com guitarra, orgão, piano e bateria elegantemente tristes compondo o arranjo blues e um vocal inspirado da bela loirinha inglesa, a melodia, que já soava formosa, é cravejada de emoção com a participação de um coro gospel de andamento lento e consternado na metade final da música. Mais à frente, duas faixas sustentam os melhores momentos do álbum formando um conjunto pop requintado e delicioso: o single “Oh My Life”, abusa do sax que percorre toda a melodia sedutora da bateria, piano e guitarra, com direito até à um solo na ponte sonora, além do vocal da garota, que se mostra potente na canção, e não muito depois a faixa “You Never Called” recorre à semelhante companhia, criando uma cadência bem arranjada entre piano e bateria, com a inserção discreta mas importante de alguns acordes de guitarra e orgão, além de apresentar ainda o mesmo sax em participação ocasional e bem-vinda no refrão da canção. Por sua vez, as faixas “Almost Persuaded” e “When The Rains Came” garantem ao gospel a sua parte no que de melhor há em Little Dreamer: a primeira com uma música que explora a emoção fazendo uso unicamente de piano e vocais, com alguns suspiros do orgão ao fundo, enquanto a segunda puxa a influência para a atmosfera típica de um hino religioso com as clássicas e irresistíveis palmas e o orgão indefectível de toques expansivos e alegres. E são três covers que, cada um ao seu modo, na cadência certeira do pop, soam marcantes no ouvido de quem aprecia a estréia de Beth: o dueto de Beth com Peter Wilson, conhecido pelo pseudônimo Duke Special, em “Angel Flying Too Close”, preenche os ouvidos com uma melodia delicada e terna, feita de toques cálidos na guitarra, orgão e vibraphone, além de sopros graves mas suaves e do vocal intensamente sensível de ambos os artistas; o cover de “I Shall Be Released”, de autoria de Bob Dylan, tempera a melodia plácida com um pouco de reggae de cadência charmosa e animada; e a faixa bônus, uma revisão de “Be My Baby”, clássico dos anos 60, suaviza os contornos pop da canção preservando a sua doçura ao focar-se apenas no vocal de Beth e seu coro de apoio e em um discreto contrabaixo manejado com parcimônia.
Deve-se lembrar que é um terreno minado e difícil este em que Beth Rowley se embrenhou: a garota é boa e sua música seduz, mas ainda que explore campos mais vastos e diversos, inevitavelmente esta sua sonoridade trafega pelo estilo de Amy Winehouse e suas inúmeras contrapartidas, estilo este que já virou moeda corrente no mundinho da música e, assim, vai ser bem pouco provável que seu nome se torne realmente popular dentre as ínúmeras aspirantes à mais nova estrela em um terreno que já virou lugar comum. Paradoxalmente, é justamente por ser uma aspirante que seu trabalho soa mais fresco e interessante do que aquele que já foi ostensivamente laureado por crítica e público.
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Conheci a Beth pelo Dekko, que comentou aí em cima. Me apaixonei por Oh My Life e vim buscar mais um pouco.
Gostei do post e do aviso aos incautos. Concordo que ninguém merece ler miguxismo fora do Orkut.
É um lindo disco mesmo. Mto boa voz e as faixas tão bem escolhidas. Antes de ler seu texto, já tinha vindo à minha cabeça Nina Simone. Não acha que a voz dela parece bastante com Eva Cassidy?
Abraço
Olá, adorei esse album da Beth Rowley, nunca tinha ouvido nada dela e arriscar pq as músicas q vc recomenda no blog são sempre boas… nãos ei se lembra mas já escrevi alguma coisa sobre a Camille (music hole).
Mas esse cd da Beth Rowley é ótimo, So Sublime eu amei, assim como Oh My Life, I Shall Be Released, Beatiful Tomorrow,…
Quando escutei Angel Flying to Close cheguei a pensar q era o Rufus Wainwright cantando com ela, mas logo pecebi q não era, 🙂 mas seria interessante um dueto dos dois, não acha?
As atrações musicais que você divulga e comenta no blog sempre me surpreendem e na maioria das vezem me encantam. E essa cantora, que muito dificilmente conheceria por outra fonte, combinou demais comigo.
Abraços.