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“Por Conta do Destino” (“Heights”), de Chris Terrio. [download: filme]

HeightsEm Nova Iorque, um jovem advogado, sua noiva fotógrafa, a mãe desta – uma atriz de fama e renome -, um jovem ator de teatro alternativo e um escritor britânico vão lidar, dentro do espaço de um dia, com problemas e conflitos que há muito vem ocultando e que, de algum modo, vão alterar o curso que suas vidas tomava.
A revelação de um maço de cigarros escondido pelo personagem de James Marsden, ao ser questionado por sua noiva se haviam jogado todos fora, não é feita no início de “Por Conta do Destino” sem intenção. O que a princípio pode parecer algo sem importância, na verdade sintetiza a principal substância destilada no argumento do longa-metragem: as mentiras, ou melhor ainda, as verdades que escondemos dos que nos rodeiam e principalmente de nós próprios. Os motivos para tanto não são difíceis de se imaginar, e vão sendo revelados aos poucos na trama de cada personagem: alguns o fazem para manter uma vida de aparências, outros para sustentar para si a ilusão de uma vida que não é a sua, outros ainda o fazem para ter alguma felicidade, mesmo que insuficiente, e um dos personagens o faz por todos os motivos citados. Apesar de procurar embricar estas tramas entre todos os personagens, a preocupação da roteirista Amy Fox não é em momento algum estabelecer desvendamentos surpreendentes, reviravoltas mirabolantes ou direcionar a história para possibilitar o encontro entre todos na sequência final do longa-metragem – artifício dos mais recorrentes em filmes cujas tramas são entrecruzadas. O roteiro, baseado em peça de teatro de sua autoria, tem como objetivo tornar esta procissão de revelações e de relações, executada em poucas horas, o mais próximo possível da ordinariedade.
As soluções planejadas pelo diretor Chris Terrio, como a predileção pelo posicionamento mais estático da câmera sutilmente cambaleante, a trilha sonora quase inexistente, que resume-se à alguns acordes de guitarra, e a fotografia e cenografia naturalistas contribuem muito para tornar os rumos tomados pela trama como acidentes da casualidade, aproximando a natureza destas “fatalidades cotidianas” com aquelas que ocorreram ou possam vir a ocorrer em nossas próprias vidas. O elenco afinado com o tom dado a história pela direção e pelo argumento, também responde por parte da tarefa, atingindo com as atuações comedidas o nível exato de verossimilhança exigida para os personagens, para seus comportamentos e suas reações. Porém, o maior mérito de ter conseguido alcançar essa tonalidade realista na história cabe mesmo à dois elementos contidos no argumento de Amy Fox. O primeiro seria o fato de ela escolher misturar no roteiro acontecimentos de diferentes naturezas – os que são obra do acaso com outros que não se configuram como mera coincidência -, o que faz com que a dinâmica deles soe mais realista. O segundo seria a o cenário destas tramas entrelaçadas de desilusões e recomeços, New York. Se por um lado a palpabilidade daquelas relações a acontecimentos casuais do roteiro parece ser pouco natural num universo humano tão gigantesco, por outro é justamente essa densidade populacional, com todas a sua redes infinitamente interligada de relações, que torna isso plausível.
Por não ter se apoiado ostensivamente em artifícios técnicos e estilísticos para construir um caráter diferencial imediato e por não explorar de forma polêmica as temáticas que aborda, “Por Conta do Destino” acaba como um longa-metragem menos pretensioso, e até sensivelmente mais sólido, do que aqueles de mesma natureza que tanto fizeram sucesso de crítica e público nos últimos anos. É provavelmente por isso que o filme tenha passado tão despercebido e ignorado quando do seu lançamento – infelizmente, muitas vezes esse é o preço que se paga pela simplicidade.
Baixe o filme utilizando os links a seguir e a legenda proposta.

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legendas (português):
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7 Comentários

  1. MLN MLN

    P.S: Muito boa a resenha! Parabéns pelo olhar apurado!

  2. MLN MLN

    Acabei de ver… tenho que admitir que me angustiou muitissimo o modo como é retrada a farsa q vivia o noivo… muito bem descrita aqui (alguns o fazem para manter uma vida de aparências, outros para sustentar para si a ilusão de uma vida que não é a sua, outros ainda o fazem para ter alguma felicidade, mesmo que insuficiente).
    Que sociedade hipócrita nós vivemos?!?

  3. Gus Gus

    Oi,

    Um filme excepcional. Ganhei o dia! Obrigado! Abraço!

    Gus

  4. Zé

    Lembro que tinha uma locadora aqui perto de casa (fechou, pra variar) cujos donos eram um casal gay. Por conta disso, eles viviam me indicando filmes com temática gay (dou tanto assim na cara? ahahah!) e esse foi um deles.

    Não achei nada de atípico nessa produção. Prefiro a Glenn Close agora em Damages, já viu? Seriado com roteiro e suspense bons. 😉

    • Na verdade, o filme não é nada assim excepcional, mas como ele prima pela simplicidade num gênero no qual os filmes que se destacam atualmente são tudo menos simples, eu acho que vale a pena ser conferido. Além do que se trata de um longa-metragem com atuações sóbrias e um roteiro sólido que não apela pra transformar um dos temas que aborda no seu principal atrativo – por sinal, você pode notar que eu evitei fazer referência ao fato de que o filme tem uma sub-trama gay, ao contrário do que fez aquele casal gay da extinta locadora a qual você frequentava. Porque, convenhamos: uma das coisas mais esterotipadas na vida cultural dos gays é assistir, apreciar ou indicar algo somente porque tem alguma relação com a homossexualidade, né – e sempre acho fim de carreira alguém achar, seja viado ou não, que para um gay só aquilo que reflita sua condição sexual é o que interessa na sua vida.
      Sobre Damages, eu já ouvi falar sim da série. Até quero ver, mas como já estou assistindo uma quantidade razoável de seriados, vou ter que deixar para depois.

  5. Pedroamos Pedroamos

    Olá Gio, gostaria de dizer que gostei muito da resenha e que acompanho o blog sempre que possível. Só por curiosidade: como você fica sabendo de filmes que não chegam ao Brasil? Até!

    • Bem, eu sou um maníaco por cinema – entre outras coisas – e por isso eu estou sempre me informando sobre o assunto, seja vasculhando a internet ou não. Eu costumo bisbilhotar o imdb.com, que é a possivelmente a mais rica e atualizada fonte de informações sobre o assunto (não por um acaso o site figura ali nos links da barra lateral do blog) – só esse site já deixa qualquer um bem em dia com o que anda sendo produzido e lançado. Contudo, a internet é bem mais do que um site apenas e, sendo assim, fóruns e blogs também ajudam muito.
      No entanto, eu já fui estive bem mais “updated” com o que se anda fazendo em cinema e música, infelizmente – é fácil notar pela frequência reduzida de postagens no blog, né? Culpa de quem? Do trabalho, obviamente. Isso, e alguns outros compromissos com os quais eu me dedico com muito mais boa vontade, acaba prejudicando o bom andamento da minha fome cultural. Mas, deixa estar – e gente sempre arranja um jeito, né?

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