Vendo o casal de cantores americanos que compõe a dupla Mates of State fazendo biquinho na capa do seu disco de covers, a impressão mais imediata não é exatamente relacionada à um sentimento de confiança e credibilidade, mas a sensação que acompanha esta, de que o disco envereda descaradamente pelo pop rasgado, não está errada – e a foto escolhida não tenta esconder isso, pelo contrário. Vencendo, porém, a resistência deixada por essa impressão, o público vai descobrir que as versões elaboradas por Jason Hammel e Kori Gardner, que entraram também pela primeira vez na produção do lançamento, concedem às faixas uma jovialidade extraordinária e um clima de contentamento irrefreável – é quase herético, por exemplo, o modo como o melancólico folk-country de Tom Waits em “Long Way Home” foi subvertido sem pudor em uma faixa festiva, literalmente um “yeah-yeah-yeah” esfuziante recheado de riffs caudalosos de guitarra e salpicado por trompetes gloriosos, ou então como em “Son Et Lumiere”, faixa-intro do primeiro álbum do The Mars Volta, trocou-se guitarras por pianos e teclados, revertendo a escalada de suspense original em um trotar delicado que lança-se ao sabor do arranjo de metais e backing vocal celestial. Fleetwood Mac também foi alvo dos pombinhos em “Second Hand News” que teve a sua aura upbeat não apenas preservada, mas consideravelmente ressaltada no arranjo que borbulha sintetizações crispantes e toques cálidos nos teclados. Em “Love Letter” a dupla se livrou da belíssima orquestração de cordas e do piano da versão original e, inevitavelmente, substitiu o vocal imponentemente melancólico de Nick Cave por um dueto que investe em um registro mais calmo e adocidado, acompanhando a melodia crivada de órgãos de tonalidades tão confortantes quanto uma morna noite de primavera. “Technicolor Girls”, de autoria de Death Cab for Cutie, teve a sua simplicidade acústica transposta para um pop de irresistível delicadeza marcado pelo lirismo do backing vocal que pontua brevemente a canção e pela meiguice dos teclados e xilofones que espocam por toda a música. Abrindo o disco, “Laura”, música dos californianos da banda Girls, e fechando-o, “True Love Will Find You in the End”, do compositor marginal Daniel Johnston, também ganharam banhos melódicos que, em ambos os casos, só fez bem as músicas: a primeira perdeu todo o ranço de banda indie da esquina e vestiu-se em scratches de disk jockey e teclados e sintetizações redondinhos, ganhando até direito a um gracejo do casal na letra da canção; a segunda teve o caráter embaçado de folk-rock-gravado-em-K7-Basf magneticamente apagado pelo beat pop saltitante e pelo ukelele e piano elétrico de acordes afetuosos da dupla.
Por uma contradição que so é possível no tempo das facilidades da hiperconectividade, o pop de ontem é o alternativo de hoje e, assim sendo, música como essa que a dupla fez seria em outras épocas muito mais popular por conta desta despretensiosa autenticidade que afasta qualquer menção à profundas – e infundadas – ambições artísticas, coisa tão em voga nos top-ten de MTVs e estações de rádio de hoje em dia. Mas não existe drama: essa mesma hiperconectividade é responsável por esse infindável mundo de opções que temos hoje pra nos salvar dos embustes pop que nos atacam sem piedade – porque, convenhamos, leituras histórico-sociológicas em videoclipe dirigido por uma diva fashionista é uma coisa difícil de engolir.
senha: seteventos
sabe que me lembrou os meninos do pomplamoose? bom, comentei com meu pai agorinha pouco do disco e ele disse que não dá pra dispensar um cover de fleetwood mac, hahah. ele é fã.
baixarei logo menos. abraços (:
Acho que seu pai vai gostar porque é fiel ao estilo original 😉