Natalie Mering, cantora e compositora americana nascida na Califórnia, mas criada na Pennsylvania, adotou o críptico e soturno pseudônimo Weyes Blood como sua alcunha musical, mas suas composições, na verdade, estão distantes de qualquer obscurantismo, muito pelo contrário: seu quarto e mais recente disco, Titanic Rising, é iluminado por um pop etéreo e melancólico, eventualmente tomado por euforias momentâneas, mas que nunca deixa de sustentar uma implacável placidez e contemplação. Tudo isso é facilmente perceptível nas faixas “Andromeda”, “Picture Me Better” e “Wild Time”: na primeira, o vocal sedoso, acompanhado por guitarra e sintetizações melosas, faz ser possível visualizar Natalie fitando um céu estrelado, com olhar resignado, enquanto canta impassível os versos de abertura; em “Picture Me Better”, o violão, orquestrações de cordas e vocal leves e singelos suscitam algo de Rufus Wainwright em sua fase mais contida; e em “Wild Time”, apesar de a melodia de guitarra, bateria e piano adensar-se, efusiva, à medida que a faixa avança, a atmosfera meditativa e serena persiste, continuamente realçada pelo vocal macio e celestial da cantora americana, mesmo entoando a tristeza de versos como “everyone’s broken now and no one knows just how we could have all gotten so far from truth”. Esse amálgama de encantamento e amargura, por sinal, se realiza por completo na melodia de “Something to Believe”, onde a guitarra e o cravo de toques cintilantes e o piano e a bateria delicadas servem como a moldura perfeita para que Natalie solte a voz, em versos como “instead of dropping the ball, I seem to carry so many”, e se entregue à canção, em uma balada tão apaixonante quanto as melhores dos suecos do Abba. Porém, ainda que esta melancolia contemplativa seja a malha básica da qual é composto o álbum, isso não quer dizer que não se possa encontrar Natalie em estado de absoluto gozo, como em “Everyday”, que lembra muito a dupla The Carpenters com seu instrumental e vocais de fundo em um arranjo radiante e jovial, mesmo servindo de trilha sonora para versos agridoces como “true love is making a comeback, for only half of us, the rest just feel bad”, ou mesmo como que tomada por um intenso delírio, como na atmosfera de devaneio quase místico de “Movies”, um esplendoroso desvario sonoro onde uma hipnótica base de sintetizações ondulantes vai aos poucos colocando os ouvidos em transe, até repentinamente lançar o ouvinte para a mais sublime ascensão com uma sequência de orquestração de cordas que cresce até desfazer-se no êxtase do arrebatamento – tudo isso em uma única faixa, sem nunca resvalar na cafonice um único instante que seja. É justamente aí que se encontra a grande qualidade de Titanic Rising: um disco de pop nostálgico elegante que transita entre a contemplação e a psicodelia, sem jamais soar kitsch.
Baixe: https://www.mediafire.com/file/ixb668law92nzf0/weyes-rising.zip
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