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Categoria: musica

críticas e comentários sobre CDs de música.

Ane Brun – “Two In This Story” (single) [download: mp3]

ane brun - two in this story single

Cinco anos depois de lançar dois discos em sequência em 2020, After The Great Storm e How Beauty Holds The Hand Of Sorrow, a cantora norueguesa Ane Brun prepara um novo álbum, do qual já temos o primeiro single, “Two In This Story”. Contando com a ajuda dos jovens produtores Anton Engdahl e Christian Nilsson, a artista construiu uma canção graciosa e melancólica para refletir sobre uma experiência pessoal recente: guiada pela cadência serena da drum machine e enfeitada por uma afável programação de teclados e sintetizações inspirada nas melodias refinadas de Bryan Ferry na década de 80, Ane entoa um canto suave e meigo sobre uma amizade de longos anos que descobriu ser uma farsa – uma grande frustração da qual resultou esta faixa encantadora.

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Ane Brun – “Two In This Story” (single) [mp3]

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Tanita Tikaram – “This Perfect Friend” (single) [download: mp3]

tanita tikaram - this perfect friend single

Depois de 9 anos que foi lançado seu último disco, Closer To The People, a britânica the origem filipina Tanita Tikaram retorna em outubro deste ano com um novo álbum chamado Lair: Love Isn’t a Right, cujo primeiro single, “This Perfect Friend” foi liberado esta semana: sobre uma música doce e algo triste, que é introduzida por um piano delicado, bateria sutil e acompanhado por violoncelo que preenche a melodia de expectativa, Tanita se pergunta quem seria este “amigo perfeito” que seria capaz de ao mesmo tempo acalmar e perturbar seu espírito? A música prossegue, com os instrumentos unindo-se a um auspicioso violino para compor uma ponte melódica fulgurante que conclui com um piano repleto de suspense.

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Tanita Tikaram – “This Perfect Friend” (single) [mp3]

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Abstract Crimewave (feat. Lykke Li) – “The Gambler” versão do album e Yttling Jazz Remix [single] [download: mp3]

abstract crimewave lykke li - the gambler yttling jazz remix

Colaborando com Joakim Åhlund e Björn Yttling (produtor dos seus três primeiros discos e mais conhecido por sua banda Peter, Björn & John) no projeto Abstract Crimewave em 2024, a cantora sueca Lykke Li cedeu sua voz ao vibrante single “The Gambler”, faixa do disco The Longest Night. A canção descaradamente dançante, originalmente calcada nos esfuziantes sintetizadores e teclados e nos riffs ecoantes de uma guitarra que desejaria ser um piano, teve nos últimos dias liberada uma versão alternativa que se despoja inteiramente de suas vestes radiantes e recobre-se em trajes bem mais intimistas: introduzida por toques adocicados ao piano e conduzida por uma percussão delicada sobre a qual o timbre cálido e aveludado da voz de Lykke Li pode ser apreciado em sua completitude, a melodia ganha uma estrela inesperada quando o xilofone, que se continha discretamente ao fundo, revela-se em incontida destreza, roubando inteiramente o cartaz da canção em uma jam session delirante, o que faz jus inteiramente ao “jazz” incluído no título do remix.

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Abstract Crimewave – “The Gambler” (feat. Lykke Li) (versão do álbum e Yttling Jazz Remix) [mp3]

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Noel – “Silent Morning” (single) [download: mp3]

noel silent morning single

Entre os hits populares que tomaram as rádios FMs no final da década de 80 e inícios dos anos 90 com certeza se encontra “Silent Morning”, o único single de sucesso do cantor americano Noel Pagan, conhecido apenas como Noel, e que foi lançado em 1987. O artista de origem latina, mas nascido em New York e criado num dos distritos mais pobres e conturbados da metrópole, o Bronx, é um dos precursores do gênero chamado na época de “freestyle”, que na verdade se tratava de um pop dançante com batida viciante e fartura de sintetizadores. Apesar de não se tratarem de composições que se destacavam pela inovação, é inegável que eram dotadas de melodias infectantes e irresistíveis. Além do inconfundível synth pulsante que introduz a canção e se tornou sua assinatura mais evidante, a vibrante batida sincopada que compõem sua base e a fartura de iluminuras eletrônicas que a pontuam manifestam com clareza as inspirações do gênero, entre as quais inegavelmente estão as eufóricas composições dos britânicos do Depeche Mode na época.

Baixe: Noel – “Silent Morning” (single) [mp3]

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The Edge & Sinéad O’Connor – “Heroine (Theme From Captive)” (Single) [download: mp3]

the edge and sinead o'connor - heroine single

No agora distante ano de 1986, em sua primeira empreitada profissional relevante, a irlandesa Sinéad O’Connor uniu-se brevemente a um conterrâneo seu para ajudar a compor e dar voz a canção tema de um filme até hoje pouco conhecido: Captive, longa-metragem dirigido por Paul Mayersberg que o também irlândes The Edge, então já reconhecido como o guitarrista da banda U2, escreveu em co-autoria com o compositor Michael Brook. Introduzida por uma perseverante harmonia de cordas ao teclado e sobreposta por um vocal mais contido e precoce da cantora, que aparentemente ainda não havia amadurecido o canto marcante e ousado que surgiu já no seu primeiro disco, a faixa é pontuada pelos característicos acordes atmosféricos e reverberantes da guitarra de The Edge, que formaram a identidade de sua banda naquela década, e claro, uma bateria que se avoluma na sequência final da melodia, produzindo a sonoridade tão singular da musicalidade pop e rock dos saudosos e excepcionais anos 80. Apesar do obscuro filme sobre o sequestro da filha de um magnata não ter obtido êxito de público e crítica, ao menos serviu para registrar a gênese musical da cantora cujo talento e voz excepcionais, infelizmente, perdemos em 2023.

Baixe: The Edge & Sinéad O’Connor – “Heroine (Theme From Captive)” (Single) [mp3]

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HotKid – “Rip It Into Pieces” (single) [vídeo, download: mp3]

hotkid rip it into pieces single

Inicialmente uma dupla, agora um trio, a banda canadense HotKid costuma centrar suas composições ao redor das cordas de guitarras – muito por influência da adoração da líder do grupo, Shiloh Harrison, por elas. E é por isso que no seu single “Rip Into Pieces”, lançado em 2011, o instrumento se apresenta de modo tão proeminente, em riffs fartos e alucinantes que são heroicamente acompanhados por uma bateria igualmente frenética e densa. Shiloh também não se envergonha de colocar toda a potência do seu vocal, externado a plenos pulmões e pontuado por berros desvairados de pura energia rockeira, para coroar a extravagante melodia. O videoclipe que acompanha o single segue a mesma toada insana, com uma cornucópia de sobreposições de imagens e cores, luzes estroboscópicas, câmeras lentas e aceleradas, explosões e muita fumaça cenográfica – moderação e comedimento, definitivamente, são conceitos inexistentes para esta banda!

Baixe: HotKid – “Rip It Into Pieces” (single) [mp3]

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Sharon Van Etten & The Attachment Theory [download: mp3]

sharon van etten and the attachment theory 2025

Ao longo de todos os anos de sua carreira, mesmo acompanhada de uma banda de apoio, a americana Sharon Van Etten sempre encarou seus esforços musicais de modo isolado de sua banda, assumindo a autoria de todos os discos ao lado de seus respectivos produtores. Em 2025, porém, isso mudou: em seu novo álbum liberado há poucas semanas, Sharon quebra esta tradição e credita sua banda, chamada The Attachment Theory, como sua parceira criativa.
Isso, no entanto, não mudou certas aspirações artísticas que a artista vem carregando consigo. Sharon continua bebendo em fontes sólidas do rock alternativo, particularmente o sutil experimentalismo eletrônico de PJ Harvey na virada do milênio. É o que podemos observar na canção de abertura, “Live Forever”, onde Sharon, acompanhando uma hipnótica harmonia de sintetizações sob uma bateria sincopada, entrega-se em um fervor quase religioso, repetidamente se indagando “who wants to live forever?” como um mantra cujo significado tenta penosamente alcançar. Influências do trabalho da britânica também podem ser observadas na faixa seguinte, “Afterlife”, escrita em homenagem a um jovem amigo falecido: buscando confortar seu sofrimento, a cantora suplica “tell me I’ll be fine doin’ what I like” em um canto emocionado sobre uma bateria ritmada e camadas de sintetizadores luminosos. Mais a frente no disco, uma inquietação sonora ainda maior pode ser observada na vibrante “Southern Life (What It Must Be Like)”, onde bateria, baixo, guitarras e programação de sintetizadores comungam com o vocal carregado de constrição monocórdica para elevarem-se em um delírio synth-rock espiralante. Em contraste, “Fading Beauty” apresenta uma melodia marcada por um contínuo pulso intangível e instrumentação esparsa sobre a qual o falsete entorpecido de Van Etten canta digressões sobre a beleza e efemeridade da vida.
Há, contudo, momentos no disco nos quais podemos reparar referências mais distantes. Nisto se encaixam “Trouble”, cuja melodia narcoléptica traz no compasso volátil da bateria e nos acordes lânguidos do baixo o odor inconfundível do goth-rock oitentista, e “Idiot Box”, que com seu crescendo nos riffs consistentes na guitarra e na bateria em adensamento melódico manifesta aspirações da encarnação de uma Cat Power possuída pelo espírito do New Wave – uma composição tão peculiar que definitivamente merece ser apreciada.

Baixe: Sharon Van Etten & The Attachment Theory [mp3]

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Onuka – “Zenit” (Single) [download: mp3]

Single lançado em 2019 pela banda ucraniana Onuka, e que mais tarde seria incluído no álbum Kolir, de 2021, “Zenit” ficou conhecida pelo público gamer em 2023 na cerimônia do (infame) Game Awards ao ser usada como trilha para o teaser de anúncio do game Kemuri, o primeiro projeto da carismática desenvolvedora japonesa Ikumi Nakamura no estúdio que fundou depois de abandonar o posto de diretora criativa do jogo Ghostwire: Tokyo, game do estúdio japonês Tango Gameworks, que por sua vez também teve mudança repentina de curso – toda essa longa história, por si só, é digna de um artigo só seu. Por mais bizarro que possa parecer, a faixa da banda do leste europeu caiu como uma luva para sonorizar o dinamismo e arrojo visual e artístico do videoclipe desse game totalmente oriental – talvez porque a icônica harmonia frenética que introduz a canção, apesar de produzida em uma solpika, flauta tradicional da cultura ucraniana, soa inequivocamente asiática. A percussão encorpada e a orquestração de metais densa, onde se sobressaem trompas, trompetes e especialmente o retumbante ressoar da trembita, outro tradicional instrumento ucraniano de sopro, compõe a melodia incontestavelmente cinematográfica cuja letra idealiza uma relação quase transcendental com o mundo natural.

Baixe: Onuka – “Zenit” (Single) [mp3]

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Orville Peck – Bronco [download: mp3]

Orville Peck, ruivo sul-africano radicado nos Estados Unidos, é conhecido por cobrir parte do rosto com máscaras algo carnavalescas, um recurso que denota algo de pretensioso, e assim seria normalmente premiado com a plenitude da minha indiferença. Junte a isso suas doses (perdão pelo trocadilho) cavalares de country, e seria quase uma total certeza que ele não passaria pelos meus ouvidos. No entanto, quando acidentalmente (ou não) o “deus” algoritmo atirou um dos seus discos na minha frente, resolvi arriscar, inicialmente movido por uma curiosidade mórbida – e confesso que sua música não ofendeu minhas sensibilidades sonoras.
Dono de uma voz ao mesmo tempo possante e virtuosa, o rapaz consegue cavalgar galantemente pela herança country americana ao mesmo tempo que desvencilha-se razoavelmente da cafonice provinciana que normalmente envolve o gênero, embalando-o em uma delgada embalagem rock. “The Curse Of The Blackened Eye”, segunda faixa do disco Bronco e que retrata um homem tentando cicatrizar os traumas de um relacionamento abusivo, é uma amostra disso: a percussão sutil e elegante, adornada por um baixo sedutor e acordes discretos no violão e guitarra, encanta pela sua simplicidade melancólica. Em “Iris Rose”, uma ode tocante a sua falecida avó, o cantor pega seu banjo para fazer companhia a bateria e aos violões em um canto emotivo, que no refrão derrama-se na instrumentação volumosa e na abatida ternura do trompete para adornar seus versos comoventes. Em seguida uma gaita distante e etérea introduz a tônica nostálgica da power ballad “Kalahari Down”, em cuja melodia o cantor não economizou em orquestração de cordas para andar ao lado da bateria e violão que sonorizam as letras que evocam a sua juventude nos subúrbios e paisagens áridas da África do Sul.
Nem tudo são lamentos, porém: “Bronco”, a faixa título do disco logo chega em compasso acelerado, trazendo vapores do Elton John mais entusiástico nas guitarras sinuosas e na bateria acelerada que recheiam as letras que insinuam um paralelo entre o entusiasmo de um cowboy em um rodeio e o inevitável jogo de quem aposta sua sorte em um flerte. Já em “Trample Out The Days”, os violões se unem com jovial energia a bateria e ao baixo no refrão para que Orville possa deixar de lado suas memórias e sua origem para narrar o seu desejo de tirar o máximo do que sua vida na nova terra, a Califórnia, pode lhe oferecer – e ao que parece, ele parece estar conseguindo, já que ele utiliza a vigorosa melodia compassada de “Any Turn” para relatar o frenesi da sua rotina com sua banda na estrada. O disco se encerra com um dueto com Bria Salmena na balada “All I Can Say”, onde guitarras, violão e bateria servem de fundo ao lamento de alguém que prepara-se para abandonar uma relação que já sabe ter perdido o rumo. Orville Peck, contudo, tem talento suficiente para não perder o seu – desde que abandone artifícios pueris como o da máscara para revelar sem receios o seu trabalho promissor.

Baixe: Orville Peck – Bronco [mp3]

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The Cranberries – In The End [download: mp3]

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É algo difícil não sentir que os versos “do you remember, remember the night, at a hotel in London”, que abrem In The End, álbum que marca o fim da banda irlandesa The Cranberries, estão de alguma forma associados, como uma espécie de presságio do acontecido, com a estúpida fatalidade que tirou a vida da vocalista Dolores O’Riordan em um hotel em Londres. Mas sabe-se que, na verdade, a impressão não passa de uma daquelas bizarras coincidências da vida, e seria tolice permitir que isso interferisse na apreciação das canções do modo como foram idealizadas por Dolores neste álbum que foi finalizado pelos membros restantes da banda (os irmãos Noel e Mike Hogan e Fergal Lawler). Assim pode-se aproveitar devidamente a melodia agitada da bateria sempre firme de Fergal e da guitarra e baixo fluídos dos irmãos Hogan em “It’s All Over Now” tanto quanto se pode desfrutar plenamente o vocal sofrido de Dolores e a melodia sutilmente apoiada por orquestração de cordas, que versa entre a melancolia resignada e a aflição amargurada, em “Lost”.
Dissipada a perturbação, é possível distinguir melhor os acertos e erros do disco – e estes, felizmente, são poucos. É o caso de “A Place I Know”, que figura entre os equívocos por desperdiçar os toques reluzentes no violão que introduzem a canção com um refrão tedioso e sem brilho, e de “Crazy Heart”, faixa promissora que acabou escondida por trás da melodia e vocal apagados – dentre todas as faixas, é a única que deixa realmente nítido que os vocais são fruto de uma sessão de demos e que, provavelmente, este jamais teria sido selecionado como a versão final para a canção.
Mas foi justamente ao se utilizarem de material vocal que não foi originalmente concebido como o definitivo para as canções que Noel, Mike, Fergal, e o produtor Stephen Street conseguiram demonstrar toda a qualidade musical da banda irlandesa, em um excepcional exemplo de competência, devoção e amor pela música. O resultado deste esforço notável são as faixas “Wake Me When It’s over”, que traz vocal e violão em afinada sintonia e refrão denso, recheado com a sonoridade da guitarra e da bateria, “Catch Me If You Can”, com uma intro encantadora que apresenta um piano fugaz e distante, logo solapada por uma melodia envolvente com vocal, orquestração de cordas e bateria carregadas de emoção, e “Summer Song”, que cativa já nos primeiros instantes pela luminosa harmonia entre o vocal de Dolores e a instrumentação posteriormente concebida pelos seus amigos e companheiros de banda.
Inevitavelmente, a agridoce e melancólica faixa-título foi escolhida para fechar o disco e, consequentemente, a carreira da banda irlandesa: “take my house, take the car, take the clothes, but you can’t take the spirit”, canta Dolores com vocal delicado e gracioso sobre violão, baixo e bateria serenos. Os versos talvez soem um pouco piegas, mas a verdade é que, embora o The Cranberries chegue ao seu fim, o “espírito” desta banda – sua sonoridade única e inimitável – jamais vai perecer.

Baixe: The Cranberries – In The End [mp3]

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