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Ok Go – Of the Blue Colour of the Sky (+ 1 faixa bônus). [download: mp3]

Ok Go - Of the Blue Colour of the SkyO hype e o conceito do “viral” são coisas que irritam como poucas – ao menos a mim. Se é o filme mais faladinho, o vídeo mais twittadinho, a banda mais conceituadinha no circuito alternativo ou na cadeia auto-declarada e auto-alimentada dos blogueiros mais badaladinhos da web, podem ter certeza que eu vou esperar muito tempo pra ver qual é a dessas coisas todas – isso se eu realmente me dispor a conferir. Essa foi a razão que levou meus ouvidos a realmente dar confiança à banda Ok Go só nas últimas semanas, anos depois de todo o burburinho gerado por conta dos clipes das canções “A Million Ways e “Here It Goes Again”, que agora sim verifiquei serem realmente muito bons. Naquela que foi uma das raríssimas oportunidades em que tentei embarcar no hype, confesso que até tentei espiar qual era a da banda na época de toda a falação gerada pelos vídeos. Baixei o disco Oh No só para ver que então a banda não me convencia mesmo – depois de apenas algumas poucas audições que não me arrebataram o álbum ficou empoeirando até ser devidamente eliminado da minha bliblioteca de mídia. Só fui voltar meus olhos para os quatro rapazes americanos no meu ciclo mais natural de descoberta e experimentação: vi a capa do novo álbum em uma online store britânica que sempre visito, achei o nome do disco tão interessante quanto a imagem e assim despertada minha curiosidade, resolvi ver qual era a do Ok Go desta vez.
Of the Blue Colour of the Sky ainda sofre do mesmo mal que me afugentou da banda nos discos anteriores. Músicas como “End Love” e “Before The Earth Was Round” não me dizem coisa alguma, soando um tanto anêmicas e repetitivas. A melodia da primeira não é um completo desastre, mas as suas feições algo atonais soam ásperas nos ouvido; já a segunda apresenta no vocal distorcido por sintetização e nas suaves farpas eletrônicas vapores do que há de mais aborrecido nos conterrâneos do The Flaming Lips. E me parece que a banda de Wayne Coyne inspirou ainda outros momentos deste álbum, já que as duas últimas faixas do disco também emanam uma suave psicodelia semelhante à das composições do Flaming Lips. Nelas, porém, o resultado é bem mais favorável: “While You Were Asleep”, consegue soar muito mais agradável com a sua tecitura delicada de sintetizações suaves em uma melodia quase sonolenta pontuada por “claps” e bateria preguiçosos com alguma percussão ocasional, encerrando-se em ruído que some rapidamente e conecta-se aos acordes solitários e breves de piano que introduzem “In The Glass”, que prossegue em uma espécie de sequência melódica, mas em um ritmo consideravelmente mais ligeiro e com uma instrumentação mais farta composta por um orgão sustentado em acordes longos e nervosos, bateria, baixo e sintetizações em uma cadência um tanto hipnótica. As várias camadas de vocais que ecoam sem vergonha ao longo de “Back From Kathmandu”, junto com a bateria, percussão e violões de acordes secos que sofrem alterações cíclicas em sua síncope firme atravessada por guitarras, orgão e sintetizações pontuais também dão à esta canção algumas feições do que a banda que criou Yoshimi Battles The Pink Robots já fez de melhor.
Mas o que há de realmente fabuloso em Of the Blue Colour of the Sky é influência de um outro artista, este ainda mais estranho e singular: o cantor e compositor americano Prince. As melhores e mais viciantes músicas do disco foram embebidas em elementos bastante característicos do cantor pop americano, indo da incorporação mais sutil à mais rasgada. “WTF?”, que abre o disco, emula o falsetto tão simbólico de Prince, que sempre cantou escorado em uma sensualidade quase tátil, mas os riffs escandalosos da guitarra que brincam com a cadência vibrante da bateria também são a cara de grandes hits de artista que já recusou-se até mesmo a ter um nome. A deliciosamente dançante “White Knuckles”, não apenas continua tirando proveito de uma infinidade de riffs e solos de guitarra caudalosos, mas também põe na dança uma programação eletrônica gingadíssima que convida a sacudir todas as partes do corpo e escancarar de vez acompanhando os versos sem receio. “I Wan’t You So Bad I Can’t Breath”, que pisa no freio com guitarras, baixo e bateria em uma melodia um tanto mais tranquila e lenta, não emula tanto o estilo de Prince, mas ainda incorpora algumas feições, como o vocal entrecortado por gemidos exasperantes. Em nenhuma destas músicas, porém, o vocalista vai tão longe quanto na espetacular balada “Skyscrapers”: vertando melancolia no orgão taciturno e jorrando sensualidade na sintetização de cordas, nos acordes da guitarra e na cadência lânguida do baixo e da bateria, a música conta com um Damian Kulash completamente tomado pelo espírito de Prince, exibindo todo o potencial de sua voz sem o menor sinal de vergonha de que seu cantar meio sussurado e seus gritos e gemidos ultra lancinantes soem como os estertores eróticos de um virgem sendo possuído sem piedade na sua primeira noite – se você acha que estou exagerando, ouça você mesmo. Tenho quase certeza que o teor assumidamente pop e o caráter um tanto lascivo destas canções deve ter assustado os fãs da banda, mas foi justamente esta nova trilha aberta pela banda americana que capturou a atenção dos meus ouvidos. Se a passagem não for apenas temporária ou se ainda outras, que levem a lugares ainda mais diversos, forem abertas, certamente que os rapazes do Ok Go vão conseguir surpreender gente até menos credúla do que eu. Vamos torcer!

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Goldfrapp – “Rocket” (single + 1 faixa). [download: mp3]

Goldfrapp - RocketE nesse mundão lindo de internet nem um dia se passa sem algo cair inadvertidamente na rede – algumas vezes até intencionalmente – e ser infinitamente multiplicado e distribuído. Alison Goldfrapp até pediu desculpas – precisa não, benzinho – no seu blog oficial, mas disse que o vazamento do single “Rocket”, parte do seu futuro novo disco, “Head First” não foi intencional e não poderia ser evitado. E é bom guardar as desculpas para os dias que virão, porque mais uma faixa, “Believer”, acaba de chegar aos ouvidos dos internautas. Mas, apesar de toda a nostalgia da dupla britânica, pessoas da contemporaneidade que ambos são já sabem muito bem que não adianta lutar contra a rede.
Falando em nostalgia, não saberia dizer se eles já foram mais nostálgicos, mas “Rocket” e “Believer” com certeza bebem na nostalgia dos anos 80: são tsunamis de sintetizações, toneladas de camadas de vocais e uma chuva de cintilações sonoras. “Believer” tem mais a cara dos trabalhos anteriores da dupla, e considero esta a mais fraca das duas, com uma música um tanto repetitiva, mas “Rocket” tem uma melodia pop que não faria feio combinada com aquelas dancinhas coreografadas bem soft dos musicais de cinema da época que cansamos de ver na Sessão da Tarde. Ouçam o início da faixa e me digam se Olivia Newton-John não mandou lembranças, disse que tá tudo muito “Magic” mas que essa coisa meio “Xanadu” da capa do disco é de propriedade dela? Falando na capa, mas me referindo à esta do single ao lado, eu sei que o glow nas mãos e nos pés é intencionalmente “photoshópico”, que esse raio só pode ter saído de algum canto de “Star Wars” e que essa paisagem parece ter sido retirada de uma das fases do jogo “Enduro” do saudoso Atari, mas a cereja do bolo é o combo pose de heroína de gibi + macacãozinho cor-de-rosa, heim? Isso tá bem “mamãe, acreditei!”

“Rocket” + “Believer” (clique!)

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Agradecimentos ao pelo toque no Twitter!

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“Anticristo”, de Lars Von Trier. [download: filme]

AntichristPsicólogo tenta fazer a esposa superar a perda do filho de três anos, morto por cair da janela do apartamento enquanto os dois faziam sexo. Para tanto, ambos se isolam na cabana de uma floresta chamada por eles de “Éden”. Uma vez lá, a relação entre os dois torna-se estranhamente perigosa.
“Anticristo”, mais recente filme do diretor dinamarquês Lars Von Trier, é o mais perfeito exercício de todas as suas idiossincrasias, tanto em estilo, quanto em conteúdo e também no efeito pretendido sobre o espectador e a crítica. Isso, porém, não quer dizer que este seja o seu melhor trabalho: é justamente pelo diretor ter se aplicado tanto em derramar suas obsessões cinematográficas que cada um destes componentes foi subvertido em um empreendimento marcado por falhas.
Primeiramente, no que tange ao estilo, “Anticristo” é um apanhado das técnicas experimentadas por Von Trier em sua carreira. A direção de fotografia de Anthony Dod Mantle e a condução das cenas do próprio diretor combina e contrasta o apuro visual de filmes como “Europa” com o naturalismo à la Dogma 95 de “Os Idiotas”, a filmagem ao mesmo tempo intimista e livre oriunda de “Ondas do Destino” com aquela cuidadosamente planejada, presente em sequências de “Dogville”, a montagem e edição abrupta e seca vista nos diálogos de “Dançando no Escuro” com a cautelosamente estudada e adornada, exposta novamente em “Europa”. Apesar de eu não poder afirmar que o resultado não seja homogêneo, muitas vezes o esmero é tão grande que subjuga a cena à técnica, o que potencializa a sensação de artificialidade. As sequências estilizadíssimas que abrem e fecham o filme, por exemplo, buscam conjugar uma atmosfera poética com tanto afinco que a beleza que ali se busca torna-se em boa medida intoleravelmente irritante. A cena que se segue pouco depois, com o passeio de Charlotte Gainsbourg pelo “Éden” retratado por uma fotografia que ressalta o obscuro da floresta e uma câmera lentíssima que objetiva ampliar a surrealidade e a sensação de suspense, é plasticamente fascinante e lembra muito o visual oniricamente perverso e sombrio do game e do filme “Silent Hill”, por exemplo, mas não obtém o efeito aterrorizante nem de um nem do outro.
Com referência ao conteúdo, muito se tem analisado e dissecado os vários elementos presentes nos diálogos e na narrativa de “Anticristo” para se chegar as possíveis significações do filme. Há quem veja uma alegoria que remete ao Gênesis bíblico, há os que enxergam o longa-metragem como uma expiação das próprias compulsões e crenças do diretor, apontando elementos que vertem misoginia, descrédito religioso e masoquismo físico e não-físico, outros já encontram uma representação moderna da perseguição secular às mulheres, há aqueles ainda que fundamentam-se na psicologia para encontrar ali um tratado da loucura, seus embricamentos e extensões enquanto mais alguns procuram no filme elementos de puro horror sobrenatural, apontando a natureza como personificação e também influência do mal. E existem até mesmo os que consideram que o filme congrega muitas destas interpretações conjuntamente. Pessoalmente, eu acredito que de fato há muitos destes diferentes significados sendo trabalhados de forma combinada em “Anticristo”. Observe-se, por exemplo, que o uso do símbolo do feminino na grafia do título do filme aponta a personagem de Gainsbourg como representação do mal, mas isso tanto pode fazer refêrencia ao contexto que interpreta o mal como derivado do mundo natural e presente nas mulheres por serem os seres mais intimamente relacionados à demanda natural, como à interpretação mais psicológica e realista, apontando-a como portadora de uma forma extremamente nociva e traçoeira de insanidade. O sobrenatural e surreal também não pode ser desprezado, já que ele é simbolizado no comportamento bizarro dos animais da floresta, mas eles se manifestam na interação que o personagem de Willem Dafoe tem com o mundo natural ao seu redor, o que dá espaço para interpretá-lo tanto no contexto de vítima como no de agente de toda esta perturbação, seja ela sobrenatural ou efeito de delírio. Pode-se até mesmo enxergar à ambos, ele e sua mulher, como portadores deste mal (sobre)natural, visto que ela comenta também conhecer algumas destas manifestações. No entanto, apesar de intrigante, a polissemia semântica não consegue atingir nível suficiente de densidade e de sustentação, diferentemente do que acontece no enredo metafórico de “Dogville” e “Manderlay”, as duas partes até agora produzidas da trilogia “Terra de Oportunidades”, fazendo o espectador de “Anticristo” sair da sala com a sensação de que faltou alguma coisa. Fosse incrementada uma das possíveis instâncias de significado, ou mesmo removida alguma delas, e talvez o filme ganhasse mais impacto no seu caráter semântico.
Quanto as reações obtidas pelo filme, muito se tem falado, para o bem e para o mal de “Anticristo”, e isso não é novidade alguma. Deixar espectadores chocados, irritados ou mesmo enojados também é notícia velha em se tratando de Lars Von Trier. Não é de hoje que os filmes do diretor despertam tais reações na platéia – e muito disso é vontade confessa de Von Trier, é bom dizer. Muitos dos seus filmes anteriores também levantaram, em considerável medida, o mesmo tipo de reação onde quer que fossem exibidos. Por isso, alguns podem pensar que “Anticristo” seja o mais violento e cruel dos filmes de Lars Von Trier, e de certa forma, realmente é. Porém, penso que a questão não é simplesmente o fato do filme ser provavelmente o mais explicitamente violento, mas se era necessário que ele fosse explicitamente violento. Aliás, é preciso entender do que se trata o termo “explícito” neste filme antes. Ao contrário do que se possa pensar, o explícito aqui é bastante pontual: algumas cenas são realmente gráficas, mas diferentemente da impressão deixada elas são muito poucas, bastante breves e não tem qualquer paralelo com o espetáculo de carnificina do chamado cinema “torture porn”, o que faz as poucas vozes que declararam o parentesco de “Anticristo” com este gênero repulsivo serem fruto de um julgamento equivocado. Apesar disso tudo, confesso não entender a necessidade de sua presença. Por qual razão Von Trier fez questão de focar sua câmera na mutilação e em atos sexuais explícitos simulados e, diga-se, também não simulados, este, por sinal, exibido em close, com requintes de estilização e embelezamento em pouco mais de um minuto de filme? Chocar a platéia parece ser a única motivação. Mas o efeito teria sido muito mais profundo e indelével pela sugestão destes atos – nem preciso citar exemplos, os grandes marcos da história do cinema se encarregam disso. Como estão, por mais breves e poucas que sejam as cenas de violência e sexo desnecessariamente explícito, seu efeito me parece o exato oposto do que se tentou obter. Elas destoam, deixando um estigma um tanto barato no longa-metragem. Por mais que se discuta, se fale, se debata sobre a polêmica do conteúdo, são estes artifícios visuais supérfluos a primeira coisa que qualquer pessoa vai lembrar ou comentar.
“Anticristo” fica assim como o maior deslize até esta altura da filmografia de Lars Von Trier. Como os demais filmes do dinamarquês, há elementos intrigantes e fascinantes no longa-metragem, porém, o esmero excessivo que se converte em puro maneirismo visual produz um ruído na narrativa que só faz tumultuar e diluir o seu efeito, ironicamente desperdiçando a riqueza dos recursos técnicos e não-técnicos ali aplicados. Um exemplo é o belo trabalho de interpretação dos dois únicos atores de seu elenco, que perde grande parte de sua força ao sofrer constantes interferências dos excessos que o subjugam. Esta falta de limite e de considerável foco do longa-metragem é provável que seja fruto do estado perturbado em que ainda se encontrava o cineasta, recém-saído de uma de suas intensas crises depressivas. Penso que o mais sensato seria o diretor ter aguardado o completo reestabelecimento de sua capacidade criativa, algo que ele mesmo confessou não possuir suficientemente durante a produção do filme – só assim ele teria o discernimento necessário para notar que suas obsessões pessoais e artísticas encontravam-se num ponto por demais incensado.

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legendas (português):
http://legendas.tv/info.php?d=a0012bcdaf0620f0483bf7dc2e807e26&c=1

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“A Fita Branca”, de Michael Haneke. [download: filme]

A Fita Branca - Das Weisse BandEventos violentos, que ocorrem de forma infrequente, começam a perturbar a paz de uma vila de agricultores situada nas propriedades de um barão na Alemanha de 1913.
“A Fita Branca” marca o retorno de Michael Haneke à Europa depois de sua breve passagem pelos Estados Unidos para refilmar, cena por cena, seu próprio filme “Violência Gratuita”. Ganhador do Prêmio de Melhor Filme no Festival de Cannes do ano passado – cujo júri foi presidido pela fabulosa atriz Isabelle Huppert, que já trabalhou duas vezes com o cineasta – e do Globo de Ouro de Filme Estrangeiro há poucos dias atrás, este novo trabalho apoia-se nos fundamentos técnicos e narrativos que são a marca mais visível do cinema de Haneke: a frieza impassível na condução das cenas, os enquadramentos distantes, as longas tomadas, a imobilidade das câmeras, a completa ausência de trilha sonora e a fotografia impecavelmente naturalista de Christian Berger realçam ainda mais o realismo já bastante intenso do roteiro do diretor austríaco. A história, que destrincha bem ao modo David Lynch a corrupção, os segredos obscuros e a violência que se escondem por trás da cortina moralista de boa parte de uma comunidade de camponeses alemães, vem de modo geral sendo interpretada por apenas um viés temático. Boa parte da imprensa, e mesmo de resenhas produzidas na internet, consideram o argumento de “A Fita Branca” como um prenúncio ou uma analogia do nascimento do fascismo e sua derivação-irmã, o regime fascista alemão, o nazismo. Isso não deve ser considerado um erro, pois é claramente um dos significados inerentes à história: não apenas o tempo em que ela é situada coloca as crianças da vila como prováveis adultos da era nazista, e portanto perpretadores de suas inúmeras atrocidades, como a própria situação vivida por elas e em grande parte por elas executada pode ser interpretada como representação de toda a nação alemã na alvorecer do nascimento do nazismo e de sua política de pilhamento e de terrorismo genocida. Porém, em se tratando do cinema de Michael Haneke, limitar o escopo da análise à uma única interpretação é sempre uma abordagem simplista. O diretor dificilmente concentra seu olhar crítico em apenas uma possível instância. Seu texto normalmente guarda em si mais de uma possibilidade interpretativa, mesmo que desenvolva apenas uma narrativa – ao contário do que acontece, por exemplo, em “Código Desconhecido”. Neste caso, a leitura nazista que se faz do argumento de “A Fita Branca”, seja na variação mais literal ou simbólica, é apenas o sentido mais aparente.
Descolando-se de eventos históricos específicos o olhar lançado sobre o roteiro, o longa-metragem ganha no mínimo mais três prováveis leituras, todas com contornos mais atemporais e ainda mais universais. A primeira interpretação aproxima-se da dinâmica de uma parábola, mas concede à ela função inversa ao emprego que lhe é comumente conferido: nesta ótica o argumento do cineasta europeu põe em cheque não apenas a eficiência de uma educação calcada em rígidos preceitos religiosos, mas questiona a legitimidade das aplicações de sua crença e dogmas, afirmando que seus princípios podem servir para fomentar e justificar o preconceito e a perversidade talvez de modo até mais eficiente do que para promover a propagação da caridade e do amor. Na segunda temos ainda uma relação com sistemas políticos: visto como representação do autoritarismo e, de um modo geral, de regimes ditatoriais, o filme de Haneke mostra que a repressão e controle determinados pelos detentores do poder traz como consequência inevitável o florescer traiçoeiro do terrorismo – não por um acaso as vítimas deste ou são agentes da classe repressora e detentora do poder (como o médico da vila) ou personagens que personificam a alienação à esta realidade (como o pobre garoto no final da história). Na terceira, mais aproximada de uma fábula sombria e hiper-realista, a violência, o sadismo, a inveja e o desprezo subreptícios ao comportamento e personalidade das crianças da vila podem ser vistos exatamente como o que são: manifestações puras e simples do mal. Lida deste modo e considerando-se a irreversibilidade desta feição cruel nos personagens, algo que fica claro do início ao fim do filme, a história do diretor austríaco declara a condicionalidade do sujeito à sua natureza e a impossibilidade de revertê-la – a fita branca, atada aos braços das crianças para lembrá-las da pureza que deve ser conservada, de nada serve justamente porque não há e nunca houve nelas qualquer pureza a ser preservada.
Porém, apesar do realismo pessimista ser o tom preponderante, Haneke admite uma fagulha de esperança – e não podia ser diferente, de outro modo ele não estaria sendo realista. A cena em que o garotinho oferece, com toda candura e inocência, o pássaro que cuidou com tanto zelo para aplacar a tristeza do pai é profundamente emocionante e imensamente simbólica – tanto o personagem do pai, mesmo com toda a sua incapacidade em expressar com ternura e delicadeza o amor à seus filhos, quanto o próprio público sentem lágrimas acumulando-se nos olhos e o peso da impotência diminuir sobre seu corpo ao verificar que o mundo não está completamente entregue à mesquinharia, perfídia e crueldade. São momentos como este, aparentemente simples e sem muita relevância, que autenticam com sua enorme carga significativa a legitimidade do verdadeiro cinema, dos grandes filmes e dos melhores diretores.

legendas (português):
http://legendas.tv/info.php?d=c577140977580285fe6eb720faf4cb65

Parte 1:
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Parte 2:
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OBS: legendas em inglês já embutidas nas duas partes.

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Bat For Lashes – Two Suns (Special Edition). [download: mp3]

Bat For Lashes - Two SunsLançado em abril do ano passado, Two Suns, segundo álbum de Natasha Khan, mais conhecida pelo pseudônimo Bat For Lashes, demora um bocado a entrar em acordo com os ouvidos de quem se aventura pelas suas faixas. À excessão de uma ou duas músicas, todo o restante do disco sofre um processo lento de apreciação, que no meu caso levou meses. A primeira impressão, que perdurou até há pouco, era de que este álbum era muito inferior ao primeiro disco da artista britânica. No entanto, depois de deixá-lo de lado todo este tempo, dei a Two Suns uma segunda e mais atenta rodada de degustação sonora, e então mais faixas foram revelando seus encantos ocultos. Durante estas novas sessões de apreciação do disco, me dei conta de que o fator que motiva esta indiferença inicial é efeito da construção obtusa das melodias, que iniciam com harmonias um tanto opacas, geralmente capitaneadas por sintetizações que tem algo de atonal. “Glass”, por exemplo, abre o disco, mas nem por isso consegue se sobressair prontamente para o ouvinte com sua percussão que faz uma sucessiva evolução em densidade e volume enquanto baixo e orgão acompanham solicitamente a melodia e sintetizações cristalinas e cintilantes tomam o refrão da música como uma repentina chuva de verão. Também por conta do seu trecho inicial, “Daniel”, que nasceu da fascinação de Natasha quando adolescente pelo personagem de mesmo nome do filme “Karatê Kid”, só vence a apatia depois de cautelosas audições, que assim descortinam a beleza presente tanto no vocal e vocalizações ao mesmo tempo doces a amargurados quanto no beat e programação de ares nostálgicos e lúgubres cortados pela ondulação luminosa de um violoncelo.
Mas o personagem interpretado pelo ator Ralph Macchio não é o único que serviu de inspiração à Two Suns. Além de aproveitar este ícone da cultura pop dos anos 80 para suas novas composições, Natasha Khan achou por bem dar vazão à uma criação própria neste disco, criando assim Pearl, personagem que representa o lado mais negro de sua personalidade, cujo materialismo e agressividade se opõe diretamente ao misticismo e espiritualidade que caracterizam a artista. As referências às duas diferentes forças estão presentes por todo o disco – que não por um acaso foi batizado de Two Suns -, mais elas estão mais explícitas especialmente nas faixas “Siren Song”, “Pearl’s Dream” – claro -, “Two Planets” e “The Big Sleep”. A primeira, em cujos versos Natasha afirma que seus romances são a certa altura sempre destruídos pelo surgimento da personalidade agressiva e predatória de Pearl, apresenta uma melodia na qual o silêncio ressaltado pelo vocal da artista e acordes de piano mergulhados em plácida emoção são revertidos em uma harmonia assinalada pela intensa dramaticidade da percussão em pulso bem marcado e da bateria e piano que impregnam na música uma atmosfera de pleno frenesi. “Two Planets”, que retrata claramente a luta de Pearl em tentar sobreviver e sobrepujar a personalidade predominante, está impregnada de um caráter ritualístico, que vai desde a percussão que abusa do compasso tribal, passando pelas palmas constantes até o cantar em tom emergencial. “Pearl’s Dream”, o clamor da personagem por aquilo que acha que é de seu direito – a vida -, faz o diabo com a programação de beats para, juntamente com a percussão e os vocais perfeitos de Natasha, construir um crescendo fabulosamente épico e espetacularmente dançante. E “The Big Sleep”, dueto da cantora com Scott Walker, fecha o disco e a jornada de existência de Pearl em uma melodia profundamente bela produzida tão somente por um piano de coloração enormemente etérea e intensamente triste e por suaves sintetizações que agregam um tom sutilmente fúnebre ao réquiem de Pearl, que declara nos versos sentir esvair suas forças enquanto descobre que é a hora de despedir-se definitivamente – com o perdão do trocadilho barato, mas é realmente uma pérola de beleza sem igual.
Apesar de eu algumas vezes gostar de manter um certo caráter de atualidade nas resenhas produzidas no blog, procurando não atrasar muito os textos sobre filmes e discos que estão sendo lançados, coisas como Two Suns mostram como é importante deixar que elas sigam o seu próprio ritmo. Tivesse eu feito a resenha quando lançado o álbum para tentar manter esta feição up-to-date no seteventos.com, certamente ela estaria marcada pela impressão negativa que persistiu até poucos dias atrás. Ainda bem que eu já não tenho mais essa pretensão para o blog. O objetivo aqui, já há algum tempo, é estudar as coisas sem pressa para analisá-las com o detalhamento necessário e suficiente – sem também pecar por exageros, porque isso aqui não é uma tese de doutorado – e não ser o blog “antenadinho”, pontuando os últimos lançamentos. Desse modo, a análise é produzida com muito mais legitimidade, trazendo aos olhos e ouvidos o que vale a pena ser mostrado ao público – seja para desnudar suas qualidades ou seus defeitos – com mais propriedade. E assim foi com este novo-velho álbum do Bat For Lashes, que por isso renasceu nos meu ouvidos de um modo que eu já não pensava que aconteceria, exigindo, assim como a pobre Pearl, o seu direito a existir na minha seleção de discos favoritos.

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“A Última Noite”, de Don McKellar. [download: filme]

A Última NoiteNas últimas horas da existência do planeta, vidas de anônimos que encaram e se preparam de diferentes modos para o destino final da Terra são cruzadas em uma Toronto que se divide entre o caos e a tentativa de manter a normalidade.
O pressuposto do argumento original do ator e cineasta canadense Don McKellar para sua estréia no comando do set de filmagens é lugar-comum do cinema catástrofe arrasa-quarteirões hollywoodiano, mas seja por conta da restrição orçamentária – algo visível na falta de apuro técnico, como se percebe na direção de fotografia – ou por ter sido sua intenção já desde o início, ao invés de colocar o impacto visual da tragédia concebida pelo seu argumento como principal (senão o único) atrativo, o evento é utilizado apenas como provocador do desvendamento do lado humano do acontecimento pela revelação do comportamento de alguns personagens frente ao fim inevitável da sua existência e de toda a humanidade. Esta abordagem que apoia o filme em seus elementos não-técnicos bebe direto na fonte do cinema independente, já versado na estratégia de explorar um microcosmo de pessoas inseridas em um dando evento como analogia representativa de toda a humanidade, mas isso não é garantia alguma de sucesso na empreitada – pelo contrário, o esforço todo pode desaguar em um filme tão insípido e raso quanto aquele que se escora puramente nos seus efeitos visuais. Em filmes que seguem esta concepção, é a composição de personagens interessantes que injeta nas produções o interesse necessário, e este é um elemento certamente presente em “A Última Noite” – a breve porém enormemente inusitada declaração de uma personagem periférica, uma senhora que já está nos seus 70 anos, ao ouvir o corriqueiro lamento sobre como morrer é cruel para crianças, por terem vivido tão pouco, é um exemplo do tom inusitado presente na composição dos personagens no roteiro. São, porém, duas outras idéias que compõe a narrativa que concedem ao filme seu particular status de interesse. Primeiro, a decisão de retratar na história não somente as últimas horas de existência da Terra, em um cataclisma que tem hora precisa para acontecer, mas delinear um evento irreversível do qual a humanidade tem conhecimentos prévio há muitos meses – esta idéia em particular é o trunfo do processo que revela o que há de mais oculto nos personagens ou que reafirma as características já visíveis de seu comportamento. Não de modo independente, mas como um processo paralelo e derivado da idéia anterior, o evento assim descrito constrói uma inversão peculiar do conceito que fazemos de comportamentos e situações normais e coerentes: diante do fim irreversível de tudo que existe, preocupações prosaicas, antes relevantes, como a atenção à dieta alimentar ou à prestação de serviços essenciais, tornam-se singularmente bizarras e extravagantes, enquanto o extravasamento de condutas inconsequentes, libertinas e anárquicas passam a ser um padrão compreensível, mesmo que muitas vezes ainda seja condenável.
Os elementos da narrativa de “A Última Noite” mostram que Don McKellar tem franca capacidade para a composição de idéias curiosas, quando não bastante surpreendentes, na composição de um roteiro original, mas não há elementos suficientes na administração dos aspectos técnicos nem no desempenho do elenco para afirmar em Don McKellar um talento nato para a direção. Com isso, o diretor acaba por desperdiçar aspectos que, se bem administrados, serviriam para alçar seu filme para um maior status de excepcionalidade. Contudo, as boas idéias existentes na história por ele criada ainda concedem ao seu filme o conhecido charme do cinema independente.

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Me pegue, me mexa, me agrade, me amasse, Cody Shore!

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Todo mundo já sabe da minha perdição por aquele moço canadense de quem falo tanto que prefiro nem mencionar mais o nome, mas o meu coração é tão vasto quanta as paisagens da Ásia – os biomas são variados e o espaço serve à muitos. Não fosse assim, eu não teria sido um entusiasta dos belos modelões do The Boy. É, digo isso no passado mesmo, porque na atual conjuntura, ainda mais depois do ocorrido – quem visita o blog sabe -, não tem como você ficar entusiasmado com o site. Temos que admitir. Ao menos por hora…
…o The Boy morreu.
Viva a DNA.
Sim, porque se o site de ensaios brasileiros parece estar selecionando seus modelos em verdadeiros encontros às escuras, a revista australiana DNA está mostrando um senso de seletividade mais apurado. Basta visitar o site oficial da publicação e espiar as capas de cada uma de suas edições mensais para conferir que na maior parte das vezes o escolhido faz jus à honra. Isso, claro, é resultado do trabalho de “mineração” dos editores da publicação: pelas newsletters semanais e pelos posts ocasionais do blog do site da revista percebe-se que o staff da publicação mantém o olhar atento, constantemente vasculhando o que se apresenta para encontrar homens que causem impacto. Embora isso exija esforço e dedicação, não é algo assim tão difícil de manter. E deve-se lembrar que a publicação australiana apresenta mais de um modelo a cada edição mensal impressa – nem estou falando nos vários modelos apresentados no site semanalmente -, enquanto o The Boy se contenta oferecendo apenas um. Coisa sacrificante ficar procurando homens lindos de morrer, né, equipe do Terra? Oh! Quão pesairosa é esta ingrata e árdua tarefa de buscar homens belos detentores de acachapantes doses de sex appeal e charme! Esse pessoal deve ganhar adicional de insalubridade no pagamento, com certeza.
E aí que deste modo a equipe incansável e esperta da DNA, fazendo a varredura de praxe no trabalho dos infindáveis fotógrafos com sites na web, sempre topa com um sujeito que atiça os sentidos. O que mais me chamou a atenção ultimamente foi um cara que figurou em uma sessão de fotos de um tal Simon Le, um moreno de uma beleza, magnetismo sexual e virilidade muito bem conjugados que inspiram coisas impronunciáveis – melhor assim, pra manter o nível dos posts. A produção das fotos não é lá coisa digna de nota, mas o modelo em compensação é um estouro: um rosto perfeito de garotão que te um “quê” de bad boy, esplêndidos olhos azuis, um corpo malhado na medida certa onde destaca-se o peitoral com dois mamilos petulantes e um, digamos, “pacote frontal” capaz de causar comoção religiosa nos domínios divinos – amém!
Este desatino em forma de homem atende pelo nome de Cody Shore e tem, vejam só, apenas 21 anos. Conheço pessoalmente alguém que ao vê-lo logo diria, “muito guri!”. Perguntaria eu: “era pra considerar isso um defeito?”
Sabendo bem que a juventude de Cody passa muito longe de ser um problema, a equipe da DNA tratou logo de garantir o rapaz para a penúltima capa da revista no ano, tentadoramente trajando-o com não mais do que algumas sunguinhas em um ensaio de swimwear no maior clima “me pega porque tô facinho no clube de verão” que usa como setting a piscina de um clube atulhado de homens com o mesmo tipo de traje mínimo. O belo ragazzo surge na capa dividindo espaço com mais um modelo, e no ensaio das páginas da revista ainda aparece outro. O moreno de expressão sempre doce e pelugem delicada distribuída pelo peitoral, que atende pelo nome de Michael, é sem dúvidas bastante atraente, mas para azar dele e do outro rapaz, ambos só servem para adornar a presença incandescente do loiraço, já que a atenção – a minha, ao menos – é raptada pela beleza estúpida de Cody.
Engraçado como demorei a me dar conta de que se tratava do mesmo rapaz do ensaio de Simon Le, já que em sua versão de pele bronzeada e com o cabelo ligeiramente maior e tingido de loiro ele fica um bocado diferente de sua morenice de pele branquinha e cabelo bem curto que é sua sedutora feição original. Apesar de eu preferir ele moreno, o Cody loiro da DNA Pool Party é também muito, muito atraente (afinal, basta olhar qualquer foto que você sente vontade de se arrastar, e arranhar e agarrar os cabelos, o peito, o pijama, os pés ao pé da cama, não?), e ao menos pra mim soa ligeiramente mais gay – e nisso ele acabou me lembrando outro loiro. Nesse caso loiro mesmo, não fruto de produção. Claro que isso pode ser só coisa da minha cabeça de tarado pornógrafo, mas o fato é que ao iluminar o dia mais do que os raios do sol ao abrir um sorriso (pouco aproveitado pela DNA, diga-se) e ser clicado de perfil, ele me lembra vagamente um ator pornô dos mais clássicos nos anos 90 – é bem sutil mesmo, e só nessas duas situações que eu citei, mas lembra. Já fiz esse joguinho aqui uma vez no post de Tiago Botega, e foi bem divertido, por isso vou fazer uma segunda edição pra já. Mas dessa vez vou dar uma dica: então, qual ator pornô americano da produtora Falcon o Cody Shore deliciosamente loiro lembra? Fui bonzinho porque essas dicas deixam a tarefa mais fácil do que roubar doce do Stephen Hawking (que maldade!). Favor deixar as suas apostas do Quiz Cody Shore aí na caixa de comentários – mas já vou dizendo que eu duvido que alguém acerte.
E Feliz Natal, porque o álbum com as fotos do Cody Shore no Picasa é o meu humilde presentinho! A medida que novas fotos surgirem vou adicionando por lá. É eu sei, eu sei: sou mesmo um amor! Quem quiser enviar presentes em agradecimento, favor embalar os rapazes com cuidado pra não sofrerem avarias no trajeto. De preferência anglos, claro. Não que eu vá recusar os outros, mas os anglos tem um espaço particular na minha vida, no meu apartamento, no meu quarto, na minha cam…enfim!

PS: estava com saudades de escrever estes textos mais leves que me dão o direito de falar bobagem sem preocupação. E eu ainda me dou ao luxo de colocar citações culturais – alguém descobre a música do verso no título? Talvez a DNA ofereça agora a inspiração que o The Boy estava falhando tanto em oferecer, mesmo antes do imbróglio com o jurídico do Terra. Azar deles. Eu – e suponho que vocês também – posso achar inspiração em tantos outros cantos, porque homem bonito só parece faltar no site do Terra mesmo.

Update 27/12/2009 – 13hs22min: ou o Quiz não animou ou ninguém nesse blog tem conhecimento enciclopédico em termos de pornografia. Quanto acanhamento, heim? Como eu já previa, ninguém provavelmente tem a mínima idéia de quem se trata, então até amanhã decido se coloco a resposta ou não.

Update 11/01/2010: O Quiz Cody Shore finalmente teve seu acertador há alguns dias – demorei a atualizar com as respostas, desculpem! Pra quem não lê os comentários – FAIL pra vocês -, onde a resposta foi apresentada, vou colocar aqui a resposta.
Ken Ryker: ator pornô da produtora Falcon que lembra Cody Shore (resposta dada por Little J, que ainda sugeriu um outro o qual Cody lembra, o Jeremy Penn).
“Tô Voltando”: música cujo verso foi citado no título do post, em versão da cantora Simone gravada no seu disco Pedaços, lançado em 1979 (esta ninguém acertou).

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“Somersault”, de Cate Shortland. [download: filme]

SomersaultApós criar desentendimento com a mãe ao ser flagrada flertando com o namorado desta, garota adolescente abandona o lar e viaja para uma região gelada da Austrália tentando obter ajuda de um rapaz que conheceu há algum tempo. Ignorada por ele, a jovem tenta se estabelecer no local, e acaba conhecendo pessoas que a ajudam, entre elas Joe, pacato filho de um fazendeiro.
Filmes que tratam das desventuras de personagens adolescentes, pela própria natureza do tema, muitas vezes já contam do princípio com um problema considerável: lidar com dramas que não raro pecam por um maior interesse ou maior profundidade por conta da imprudência natural e recorrente que acompanha esta fase da vida. Porém, se o argumento não prima por buscar um diferencial, algumas vezes a personalidade do protagonista pode incorporar o interesse necessário para quebrar o estatuto bastante prosaico dos dramas juvenis. Foi exatamente isto que a diretora Cate Shortland tentou projetar para a história de seu longa-metragem de estréia. Ocorre que, para seu azar, a solução funciona contra e não a favor de sua história.
É a partir do conflito que abre o filme e introduz a personalidade enormemente inconsequente da sua jovem protagonista que a diretora almeja estimular o surgimento de uma relação de empatia do público com sua personagem. O problema é que ao desenvolver no seu roteiro a trajetória desta e melhor ilustrar o seu comportamento, a empatia não ameaça surgir em momento algum do desenrolar da história: a diretora insiste na reafirmação do modo leviano com que a personagem lida com as pessoas, particularmente com o sexo oposto, fazendo uso – as vezes de modo sutil, em outros nem tanto – do magnetismo de sua juventude e beleza para obter favores alheios, pincelando nestes alguns lampejos de um estado de consciência das conseqüências do seus atos, mas prossegue sem obter sucesso durante toda a duração do filme, conseguindo apenas despertar a mais completa indiferença do espectador com relação ao estado de desorientação e falta de rumo que a vida de sua protagonista tomou – seria melhor angariar e repulsa do púbico, mas a apatia deste com a história e sua protagonista é tamanha que nem isso acontece. Provavelmente já prevendo esta possibilidade, Cate Shortland tenta amenizar o desapego do espectador pela protagonista e sua história ao mergulhar a encenação de seu roteiro em uma aura de constante poesia, contando para tanto com a ajuda de um diretor de fotografia extremamente competente, de uma trilha sonora delicada e de uma edição esperta. Esta armadilha estética funciona em alguma medida, mas por mais inventiva e competente que seja, nenhuma maquiagem faz milagres – pelo contrário, em casos como estes, ela só deixa ainda mais patente o seu disfarce um tanto sórdido.
Para não dizer que não há nada de bom na película, a única coisa digna de nota em Somersault é a presença sutilmente charmosa de Sam Worthington, atual nova aposta de Hollywood: o ator australiano, mesmo com o pouco que lhe foi dado, consegue algo que a sua contraparte feminina no filme não consegue, mesmo com todas as estripulias de seu personagem: obter razoável atenção e simpatia do público com a composição discreta de um jovem que tem algo de arredio, introspectivo e de afetivamente confuso – é só quando Sam entra em cena que o filme ganha os olhos do público em algum nível. Contudo, o longa-metragem é bem mais que o ator australiano, e infelizmente isso não é uma vantagem – talvez se invertesse a equação e se concentrasse no outro lado da história, a de Joe, as chances de êxito pudessem ter sido maiores. Do jeito que está, Somersault não é se não o diário da experiência limite de uma adolescente que sequer sabe se é uma transgressora ou não, o que acaba resultando na potencialização da já confusa experiência juvenil – pode até soar encantador para alguém nesta idade, mas qualquer pessoa com vinte e tantos anos já tem maturidade afetiva suficiente pra achar que até um documentário sobre a interessantíssima vida dos flamingos da savana africana soa mais fascinante.

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Portishead – “Chase The Tear” (dir. John Minton). [download: mp3 + vídeo]

Portishead - Chase The TearPra quem ficou dez anos afastado do estúdio, a animação dos membros da banda Portishead em lançar um novo disco para não deixar o seu último lançamento tão solitário é um tanto surpreendente. Segundo declarações de Goeff Barrow, o sucessor de Third pode chegar aos ouvidos do público ainda no decorrer do próximo ano. Mas os fãs mais inquietos em obter material inédito da banda podem matar a vontade até lá degustando o aperitivo liberado pela banda esta semana, a faixa “Chase The Tear”, possível candidata a integrar o tracklist do futuro novo disco.
Lançada como single digital com toda a renda da venda revertida em doação para a organização Anistia Internacional, a canção percorre os mesmos caminhos traçados em Third: sobre uma base em loop que sutilmente sofre graduais e cíclicas mudanças de tonalidade, sem nunca alterar o hipnótico pulso de ritmo rigoroso, os membros da banda lançam intervenções ocasionais de guitarra e sintetizações enquanto Beth Gibbons libera os versos da música com o vocal mais emblemático do trip-hop mundial. Curiosamente, foi só ao escutar esta nova canção que me dei conta do quanto essa recente predileção do Portishead por bases de cadência mais curta, cíclica e repetitiva, inaugurada em Third, guarda alguma semelhança com composições mais minimalistas e um tanto preguiçosas do Radiohead – basta lembrar de “Idioteque”, por exemplo. Obviamente que se tratam de grupos de estilos consideravelmente distintos, mas não há como negar que desde o disco lançado em 2008 que algumas semelhanças podem ser mesmo encontradas entre Portishead e Radiohead além dos seus nomes – engraçado que só agora notei que o estilo sofrido e amargurado é compartilhado entre ambos os vocalistas das duas bandas.
Um vídeo bastante simples também foi produzido para acompanhar o lançamento do single, filmado em preto e branco pelo diretor John Minton e retratando Beth Gibbons, Geoff Barrow e Adrian Utley aparentemente simulando em conjunto o processo de produção e interpretação da canção em estúdio – interessante notar como o vocal de Gibbons reflete-se em sua postura retraída e introspectiva ao cantar, bem como o estilo sempre casualíssimo da banda no uso dos trajes e na condução de sua performance.

Portishead – “Chase The Tear” (mp3)

Portishead – “Chase The Tear”: Youtube (assista)download

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Ariana Delawari – Lion of Panjshir. [download: mp3]

Ariana Delawari - Lion of PanjshirComo a maior parte das coisas na internet, chega uma hora que você acha uma utilidade pra tudo e acaba simpatizando com os serviços, até alguns que causam pré-irritação por conta do hype. Vejam só que coisa: eu cheguei a repudiar blogs – faz muito tempo, obviamente. Agora foi a vez do Twitter. Minha implicância com o serviço era pública – falei sobre isso em um post há alguns meses aqui no seteventos.org -, mas eu decidi que era hora de tentar encontrar a graça do serviço – e acabei encontrando. Foi vasculhando perfis aqui e acolá, tentando entender a dinâmica da coisa toda, que dei de cara com o Twitter de David Lynch. Sim, o próprio, o lendário criador de algumas das coisas mais estranhas da TV e cinema americanos. O fato por si só já despertou meu interesse, mas acabei ficando um tanto desanimado ao ver que o lado místico do diretor o fazia postar mensagens do gênero no seu perfil. Mas como muitos fazem no serviço, David solta uma ou outra dica nas suas mensagens, e resolvi clicar e conferir uma delas, sobre Ariana Delawari, uma cantora cujas feições denunciam uma herança meso-oriental e, descobri depois, que foi apadrinhada pelo diretor e teve seu primeiro trabalho financiado pela produtora de Lynch.
Ariana, que já se apresentava em shows há algum tempo, era antes conhecida pelo pseudônimo Lion of Panjshir, termo que servia de nome de guerra – literalmente falando – a um estudande de engenharia afegão que se tornou um dos maiores heróis do país ao liderar a resistência contra o exército soviético na tentativa de invasão destes ao Afeganistão e que, anos depois, foi assassinado dois dias antes da ocorrência dos ataques de 11 de Setembro. Durante a produção deste seu primeiro disco, a artista trocou o papel exercido pelo pseudônimo, adotando-o como o título do trabalho, atitude que sinaliza a presença de uma inevitável carga política no álbum. Mas apesar de que as referências aos imensos problemas enfrentados pela sua terra-mãe acabem sendo relevantes e funcionem bem nas canções, é o seu caráter sonoro que desperta a atenção. Partilhando tanto da influência ocidental quanto da herança afegã, Ariana apresenta e funde no seu primeiro disco as diferentes identidades musicais das duas culturas, compondo tanto canções que pertencem à uma quanto à outra, bem como criando melodias multi-culturais, que misturam elementos destas e até de outras culturas. As feições woodstockianas de “San Francisco”, introduzida com a placidez melódica do folk que logo reverte-se em uma música onde as guitarras tropejam acordes ligeiros para acompanhar a bateria cuja cadência segue um transe imutável, transpirando uma sonoridade que remete a trilhas do cinema faroeste enquanto Ariana guia os versos em um cantar revestido de tenacidade e audácia são certamente fruto de toda a carga musical que a artista recebeu em sua criação nos Estados Unidos. Também descendem da tradição ocidental o piano de registro grave e baixo e as cordas e sopros que florescem em meio a melodia de “We Live on a Whim”, assim como a melancolia e abandono despertados pela vocal e pelos acordes entre esparsos e ligeiros de “We Came Home”, canção que fecha o disco. Já “Laily Jan” pertence de corpo e alma à sua ancestralidade afegã, pois não apenas é cantada na sua língua de origem mas exibe todas as colorações da música tradicional do país, com direito à toda sorte de instrumentos típicos encadenciados em uma melodia folk-étnica. Com a introdução climática de um rabab que vai aos poucos ganhando a companhia de contínuos acordes de cítaras e dilrubas e a percussão hipnótica das tablas em um crescendo de densidade melódica e rítmica, “Singwind” também partilha do espírito musical do país asiático, porém recebe um sutil tempero ocidental ao ter seus versos cantados em inglês na bela voz da cantora. E é exatamente ao fazer uso da feitura mais multi-cultural de sua personalidade que a cantora acaba construindo o momento mais inspirado do disco, “Be Gone Taliban”. Com uma melodia enormemente imagética, a canção mistura o efeito ritualístico do conjunto de instrumentos afegãos com o dinamismo cinematográfico do arranjo de cordas exasperantes e do cantar repleto de emoção, pontuado por cânticos de feições religiosas. O resultado é uma música de atmosfera intensamente épica e de coloração fascinantemente luminosa.
Se a empreitada musical de Ariana tiver proseguimento, haverá ainda um bocado a ser lapidado e agregado no seu trabalho com as melodias, já que por vezes elas soam obtusas e opacas, porém os momentos mais frutíferos deste seu primeiro lançamento comprovam seu talento e perícia em criar canções exuberantes e sedutoras para os ouvidos. Basta apenas a ajuda do tempo e o auxílio de um produtor mais experiente e versátil para que a artista encontre o foco e consiga buscar e aliar o melhor das culturas tão diversas que convivem dentro dela própria.

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